Por Roberta Faria e Rodrigo Pipponzi*
Depois de um ano acompanhando a propagação do novo coronavírus e as ações adotadas em todo o mundo para conter o avanço da Covid-19, não resta dúvidas sobre o papel fundamental que a ciência ocupa em nossa sociedade. Se hoje temos a esperança de vacinar a população mundial, é graças aos esforços de pesquisadores e de massivos investimentos em pesquisa.
Apesar dessa demonstração prática da importância do conhecimento científico, ainda há muita desconfiança sobre o trabalho de estudiosos e cientistas, agravada pela disseminação de notícias falsas e conteúdo anticiência nos confins das redes sociais e aplicativos de mensagem.
Outra tendência que não ajuda o avanço do conhecimento é a falta de investimento. Produzir ciência custa caro, e exige uma injeção de recursos vigorosa e constante – por isso é uma área historicamente financiada com dinheiro público em todo o mundo.
Infelizmente, o que temos visto no Brasil é a ciência sofrendo historicamente com a redução de investimentos públicos. São cortes e mais cortes promovidos pelos governos estaduais e federal que ameaçam pesquisas e colocam o trabalho de cientistas em xeque. Com pouca verba para custear insumos, máquinas e pesquisadores, a gente se pergunta: o que será da ciência e da pesquisa no Brasil?
Uma alternativa tem sido a filantropia. Isso mesmo! A filantropia voltada para a ciência é bastante comum nos Estados Unidos e na Europa, onde existem incentivos fiscais e uma cultura de apoio – seja via parcerias, fundos compostos por doações de ex-alunos ou cobrança de mensalidades.
No Brasil isso ainda é uma novidade, mas a pandemia gerou um movimento raro de doações de empresas e pessoas físicas para o financiamento de ações e pesquisas de enfrentamento da Covid-19 no país. Várias universidades criaram estratégias para angariar recursos.
Foi o caso da Universidade de São Paulo, que lançou no início da pandemia o USP Vida, uma plataforma virtual que permite que empresas e pessoas físicas doem para linhas de pesquisa relacionadas à pandemia.
Nós conversamos com o vice-reitor da USP, Antonio Carlos Hernandes, em nosso podcast Aqui se Faz, Aqui se Doa, produzido pelo Instituto MOL em parceria com o Movimento Bem Maior. Ele contou que a campanha teve bastante sucesso, e que a meta de arrecadação, de R$ 5 milhões, está próxima de ser batida.
“Foi muito importante ver a disponibilidade não só das empresas, mas das pessoas físicas em entender a importância do financiamento para a pesquisa”, disse. Mais de 3.200 pessoas, muitos ex-alunos, fizeram doações em dinheiro para a iniciativa. Isso mostra que há, sim, espaço para filantropia científica no Brasil, desde que existam canais que facilitem e estimulem a prática.
Essa opinião é compartilhada pelo Paulo Almeida, diretor do Instituto Questão de Ciência, também ouvido no episódio. Ele vê nas iniciativas criadas por universidades durante a pandemia uma chance de começar a criar uma tradição de doação para a ciência.
“Se aproveitarmos o momento e mostrarmos que o dinheiro que foi aportado agora foi usado de maneira responsável, que teve resultado significativo, podemos começar a consolidar esse tipo de prática”, conclui.
*Texto publicado na coluna Razões para Doar, de Época Negócios, em março de 2021.