Por Roberta Faria e Rodrigo Pipponzi*
Em janeiro de 2020, uma carta aberta de Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, deu um recado simples e claro: o comprometimento com sustentabilidade e responsabilidade social são uma exigência para ter competitividade no mercado global.
Uma pesquisa de 2017 da Nielsen revelou que 81% dos consumidores acreditam que as empresas precisam colaborar com o meio ambiente e 49% estão, inclusive, dispostos a pagar mais por serviços e produtos sustentáveis. Seja por pressão do mercado ou dos consumidores, o fato é que as coisas estão mudando.
“O que está acontecendo agora é que se começou a pensar sobre o impacto na sociedade do ponto de vista de negócios. Então, as conversas são mais atreladas não só ao que a empresa faz do ponto de vista social, mas tudo o que ela realiza tem um impacto social e como ela endereça cada uma das questões”, afirma Jef Martins, diretor de comunicação e impacto social da agência de publicidade Leo Burnet, em entrevista ao podcast Aqui se Faz, Aqui se Doa, produzido pelo Instituto MOL e pelo Movimento Bem Maior.
O cargo de Martins, diretor de impacto social (ou CIO, Chief Impact Officer), chamou a atenção recentemente com o anúncio de um ocupante “real” da posição. O príncipe Harry, que rompeu com a monarquia inglesa, assumirá o cargo na BetterUp, uma startup do Vale do Silício que faz treinamentos voltados para a saúde mental e desenvolvimento pessoal. Nas últimas semanas, o Nubank anunciou a criação de uma diretoria global de ESG-Impacto, a ser comandada por Christianne Canavero.
A função pode não parecer tão nova, visto que há anos as posições de diretor(a) de sustentabilidade ou diretor(a) de responsabilidade social têm se proliferado pelo mundo corporativo. A diferença, segundo Martins, é que as discussões que envolvem a temática ESG (ambiental, social e de governança) hoje são vistas como estratégicas, e não como algo à parte, quase opcional.
Com um profissional dedicado a olhar para o impacto social de uma empresa — criando inclusive métricas e metas a serem alcançadas —, é possível ganhar consistência e qualidade na agenda sustentável. Isso agrada também ao consumidor, cada vez mais preocupado com a pegada ecológica e social de suas escolhas.
Para o diretor da Leo Burnet, essa tendência mostra que as empresas estão começando a entender que são agentes importantes para o funcionamento da sociedade, e que podem ser cobradas como tal.
“Minha função vem muito no caminho de contribuir para olhar a corporação de forma holística, pensar em todos os pontos de contato para dentro e fora da empresa. Como vamos casar o que a gente faz, o que a gente acredita e causar o melhor impacto social diante da nossa estratégia de negócios?”, conclui.
*Texto publicado na coluna Razões para Doar, de Época Negócios, em maio de 2021.