Transcrição EP #63 – Decolonizando a filantropia

Roberta: Cada vez mais a gente ouve falar de iniciativas sociais com foco específico em mulheres, na população negra, nos povos indígena e LGBTQIA+. E que bom, né? Com o aumento do grantmaking, ou seja, da doação de organizações para projetos de outras organizações, a gente vê ganhar mais espaço a discussão sobre para onde vão essas doações, como elas são decididas. Mudar a forma como praticamos a filantropia pode estar relacionado a esse movimento cujo nome ainda é novo pra muita gente: decolonização. O que significa decolonizar o nosso olhar? E como a filantropia pode dar uma verdadeira volta de 180 graus se passar a atuar mais com essa visão? Hoje a gente vai receber aqui o Cássio Aoqui e a Jéssica Gonçalves, da ponteAponte, para conversar mais sobre isso.

 

Roberta: Eu sou Roberta Faria

 

Artur: Eu sou Artur Louback

 

Roberta: E decolonização da filantropia é o tema de hoje no…

 

Arthur e Roberta: Aqui se Faz, Aqui se Doa!

 

Roberta: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do Infomoney.

 

Artur: Hoje a gente vai falar de um assunto que é bastante complexo e até por isso eu já digo aqui que somos especialistas nele. É um tema ainda pouco debatido fora do ambiente acadêmico, mas que tem começado a surgir nas conversas sobre filantropia. A gente se insere nesse contexto. A gente não vem da acadêmia com os conhecimentos que o Cássio, nosso especialista de hoje, por exemplo tem.

 

Roberta: Bom, voltando então, vamos tentar deixar esse conceitos mais simples no curto espaço de tempo que temos aqui. Para começar, você deve tá já deve estar imaginando, decolonização tem sim a ver com colonização. Geralmente, na língua portuguesa, a gente usa o prefixo -des pra dar o sentido contrário a uma palavra. Por exemplo: ligar, desligar; arrumar, desarrumar; fazer, desfazer. No caso do nosso tema de hoje, tem a ver com contrário também. E aí você que está nos ouvindo pode perguntar: então por que decolonial e não descolonial?

Bom, as duas palavras são utilizadas pelos estudiosos do tema. Você vai encontrar ambas por aí, mas descolonial se contrapõe ao conceito de colonialismo, enquanto decolonial diz respeito ao conceito de colonialidade.

 

Artur: Aí você deve estar se perguntando: mas qual a diferença entre colonialismo e colonialidade? Vamos lá: o colonialismo foi aquele período entre os séculos 15 e 19, marcado pelas grandes navegações e a dominação de novos continentes, especialmente pelos europeus. O Brasil, por exemplo, foi disse descoberta, mas na verdade invadido, dominado, colonizado nesse período. Ali se estabelecia uma relação de superioridade e exploração dos colonizadores sobre os colonizados. Metrópole sobre a colônia. Podemos dizer, então, que o colonialismo se refere ao processo e ao sistema colonial em si, e que a descolonização aconteceu a partir do momento em que as colônias passaram a ser independentes – pelo menos na teoria.

 

Roberta: Pois é, a independência muitas vezes acontece no papel, mas na prática a dominação não era só das terras: quem chegava impunha seus costumes e, consequentemente, desvalorizava a cultura e os saberes locais.  E isso se impregnou de tal forma que, mesmo quando esses lugares deixaram de ser colônias, esses os países seguem vivendo baseados em uma estrutura de poder que vem herdada dessa época, e que mantém padrões como o racismo, o machismo e o eurocentrismo.

Então, tentando resumir, decolonizar seria desconstruir esses padrões, conceitos e perspectivas impostos pelos colonizadores aos povos colonizados.

 

Artur: Bom, acho que a gente deu o primeiro passo no entendimento. E pra ajudar a gente a dar mais um passo nessas definições, vamos chamar a nossa querida Rafa Carvalho, que vai contar pra gente como surgiu essa história de pensamento decolonial.

 

Rafa Carvalho: Oi, pessoal! Bora lá que hoje a aula é em dose dupla!

 

Não vou trazer só um, mas dois termos que estão bastante relacionados entre si quando a gente fala de decolonização, que é o tema do episódio de hoje. São eles: pensamento decolonial e colonialidade do poder.

 

Vou começar falando do Walter Mignolo, que é semiólogo argentino, que já estudou bastante o pensamento decolonial. Ele diz que esse conceito tem sua origem a partir do século XVI, por meio de lutas, ações e resistências contra os padrões de poder que existiam naquela época. E isso de alguma maneira foi tratado por diversos pensadores nos séculos seguintes. Mas já trazendo pros nossos tempos, no século XX essa ideia ganhou mais corpo com um grupo de três estudiosos, um tunisiano e dois martinicanos, quem ficaram conhecidos como a “tríade francesa”. Eles se tornaram porta-vozes no campo da ciências sociais de povos colonizados e se juntaram a um conjunto de autores que já vinham estudando o pós-colonialismo. O que dá para dizer , pessoal, é que o pensamento decolonial não é bem um conceito, mas uma forma de pensar, é um olhar que a gente tem que ter para entender melhor e mudar as relações de poder que ainda existem entre os povos. 

 

Faz sentido? Então vamos continuar! 

 

Por volta dos anos 70, outras correntes e grupos de estudos surgiram nessa linha, vindos da Índia e da América Latina. E um dos principais nomes do pensamento decolonial é o sociólogo e teórico político peruano, chamado Aníbal Quijano, que já vai fazer a gente entrar em nosso segundo conceito, porque foi ele que criou o termo “colonialidade do poder”. E esse conceito se refere ao padrão de controle nas relações políticas e econômicas entre os povos, baseado numa hierarquia étnico-racial. O Aníbal Quijano escreveu um texto nos anos 2000, intitulado “Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina”, e nele o autor fala sobre como a América foi importante para o desenvolvimento de uma mentalidade onde os europeus (brancos) eram superiores a outras raças e etnias, e como esses europeus tinham poder de colonizar as outras terras, sempre  com ideias de progresso e de civilização. Ou seja, gente, a colonialidade do poder quer dizer quer dizer que acabou o período colonial, mas não só na teoria, porque a colonização ainda tá aí. Isso continua no nosso jeito de pensar, na nossa forma de ser e de fazer as coisas.

Embora esses estudiosos não tenham tratado especificamente de filantropia e de cultura de doação nos seus estudos, eles servem como um ponto de atenção. Quando você for fazer uma doação de que forma você pode dar um giro na maneira como a gente doa, tendo em vista essa perspectiva decolonial? Vale o pensamento e a reflexão! 

Eu sou a Rafaela Carvalho e toda semana ajudo a desvendar um termo que é importante sim para a cultura de doação. Até mais!

 

Artur: Uau! Muita informação! Obrigado, Rafa! E a Rafa levantou a bola pra gente cortar aqui, trazendo mais um termo bastante usado quando falamos desse assunto. Desde os anos 1990, uma rede de pesquisadores e ativistas se dedicou a definir e avançar no conceito do Aníbal Quijano, e a partir daí surgiu o termo “giro decolonial”. Que a gente vai ouvir algumas vezes aqui, principalmente na entrevista. A ideia do “giro decolonial” é justamente promover uma virada, uma transformação, um redirecionamento na forma como a gente pensa e age.

 

Roberta: Isso mesmo, Artur. E essa mudança deve acontecer tendo em vista sete aspectos coloniais que, segundo o Quijano, ajudaram a criar um padrão mundial de poder. Ou seja, temos que sair de um padrão que é: eurocêntrico, capitalista, cristão, machista, racista e homofóbico.

 

Artur: Além da colonialidade do poder, hoje em dia também se fala em colonialidade do saber e do ser. A colonialidade do saber diz respeito à negação ou invisibilidade do conhecimento produzido pelos países colonizados, que são considerados inferiores intelectualmente. Já a colonialidade do ser está relacionada à inferioridade atribuída àqueles grupos que foram silenciados, oprimidos e colocados à margem da sociedade, como os negros, índios, pessoas com deficiência, mulheres e LGBTQIA+.

 

Roberta: E como isso tudo também pode ser aplicado à filantropia? Ano passado, quatro organizações não-governamentais globais lançaram um documento chamado “​Time to Decolonise Aid​” ou tempo de decolonizar a ajuda. Após consultar mais de 150 ativistas, ​​acadêmicos, jornalistas e tomadores de decisão, essas organizações reuniram uma série de recomendações para promover a decolonização da filantropia. Entre elas estão: ​reconhecer que o racismo estrutural existe; incentivar conversas sobre poder com doadores e comunidades; eliminar termos como “beneficiários” e “capacitação”; ​contratar equipes mais diversas; investir nos conhecimentos indígenas e em pesquisadores locais.

 

Artur: E pra gente poder se aprofundar mais nesse assunto a gente conversou com quem tem estudado isso aqui no Brasil. Uma vozinha que vocês já conhecem que é do Cássio Aoqui, de quem a gente é muito fã, das pessoas que mais admiro no nosso setor de impacto social e trouxe a Jéssica Gonçalves e ambos são da ponteAponte. O Cássio é sócio-fundador e a Jéssica é coordenadora de projetos. A ponteAponte, uma consultoria com foco em qualificar o investimento social, ampliando seu impacto positivo.

 

Roberta: Cássio, Jéssica, sejam muito bem-vindos ao nosso podcast!

 

Jéssica: Obrigada pelo convite. Me sinto muito honrada em fazer parte dessa conversa tão essencial para a filantropia do Brasil.

 

Cássio: Oi Roberta e Arthur! Muito bom estar aqui com vocês de novo, podendo trocar e aprender juntos.

 

Roberta: Para gente para começar eu vou pedir para vocês contarem rapidamente sobre os estudos que vocês tão fazendo sobre filantropia decolonial que é um tema ainda bastante novo por aqui

 

Jéssica: Perfeito. Então vou começar. Aí eu quero pedir de licença, né para começar a minha fala me apresentando. Então eu sou Jéssica, sou uma mulher negra de 31 anos. Nasci moro na zona norte de São Paulo, iniciei minha vivência no setor social aos 16 anos, né? Quando eu fui uma jovem apoiada por uma organização social chamada Cidade Escola  Aprendiz e depois migrei para trabalhar. Aí na minha trajetória profissional, já tive do lado do financiador, então trabalhei um tempo numa organização que apoia outras organizações, com repasse de recursos diversos não somente financeiro. E hoje eu atuo como coordenadora de projetos aqui na ponteAponte. Bom então eu acabei de apresentar a monografia para banca, né, para obtenção de um novo título de especialista em projetos sociais e organizações de terceiro setor.

E aí eu tive a satisfação também de ter o Cássio, como professor avaliador da minha banca, então foi um desafio apresentar para um professor e também pro meu chefe. Então imagine vocês! Enfim, a monografia investiga a importância do apoio de entidade de filantropia e investimento social privado às organizações sociais de base para o desenvolvimento dos seus territórios. E aí eu trouxe esse recorte olhando pra Zona Norte de São Paulo e a partir disso, dessa discussão, eu faço em cima do princípio da prática decolonial do campo. Esse é um resumão.

 

Cássio: Eu sou o Cássio. Tô aqui com meus 42 anos. Eu sou homem segundo o IBGE, eu sou amarelo, cis, sou homossexual casado com Matheus, pai da Nina, suas três Patinhas. E agora estou em processo de adoção. Eu sou nascido e criado lá na Casa Verde, na Zona Norte de São Paulo, fruto da escola pública do pré até o doutorado. Hoje eu falo do lugar de sócio fundador da ponteAponte, onde eu estou como diretor executivo e foi a partir de vivências muito reais e concretas mesmo e muitas reflexões críticas que a gente por meio de acertos erros na ponteAponte começou a estudar conceitos como de filantropia decolonial. Eu também sou professor de inovação social, né? E no meu doutorado, eu tô pesquisando a sociedade civil atual a partir das mais diversas correntes e narrativas disputantes também entre elas a da pós colonialidade daí que eu chego aqui hoje

 

Arthur: Bom, em um artigo que você escreveram sobre o tema, né para rede filantropia junto com a Letícia Cardoso. Vocês definem a filantropia decolonial como. Aí eu vou botar aspas aqui “aquela essencialmente ativamente antirracista, feminista, antipatriarcal. Não heterormativa realmente inclusiva por parte de todos os envolvidos, mas ainda uma filantropia que combata o racismo epistêmico e valorize os conhecimentos e saberes do Sul Global. Também uma filantropia de pensamento fronteiriço”. Eu queria que vocês falassem um pouco mais sobre essa questão do Sul Global, né? Que é um conceito que não é todo mundo que conhece e da questão das Fronteiras quando a gente fala em descolonizar a filantropia.

 

Cássio: Maravilha. Acho que a primeira coisa então destacar o conceito Global, né? E ele existe em anteposição ao norte Global. Digamos assim, né? Eu particularmente eu gosto de precisar o Atlântico Norte e o entorno que é esse locus quando a gente fala de hegemonia, de Ocidente. Para mim quando a gente tá falando de decolonizar a filantropia a gente parte de encontrar essa filantropia original desse Sul global que vai valorizar essas experiências que a gente tem aqui.  Então, por exemplo, aqui na América Latina, a gente tem muitos antes muito antes da invasão Européia, milhões de povos originários vivendo por aqui, depois a gente foi o grande laboratório a serviço do trabalho escravizado. A ideia é como é que a filantropia pode e deve levar em conta toda essa trajetória esse percurso histórico, nesse sentido também quando a gente fala de pensamento fronteiriço, de um cara que chama Mignolo  vem o conceito, não tem muito a ver com as fronteiras de países como a gente poderia imaginar. O Mignolo  quando ele fala de pensamento fronteiriço ele fala muito dessa resistência às ideologias da modernidade, por exemplo conservadorismo, o colonialismo é por isso que aí a gente fala de uma filantropia que seja antiracista, que seja antepatriarcal, feminista, que seja realmente inclusiva, né? Essa que é a importância de mudar a forma como a gente pensa e pratica a filantropia hoje.

 

Jéssica: Perfeito. Só queria que somar um pouco nessa fala do Cássio e trazendo esse ponto da filantropia antiracista, feminista, antipatriarcal, que vocês trouxeram aí que a gente abordou no artigo. E aí queria só ilustrar falando, né sobre um programa, o Elas Periféricas, que é realizado pela Fundação Tide Setubal, em coordenação com a ponteAponte que também tenho a satisfação de coordenar junto com a equipe aqui. Então só né para trazer essa ilustração, o Elas é um programa que apoia diversas iniciativas liberadas pelas mulheres negras, cis, transgêneras que tem atuação em todo território nacional e nesse programa a gente tá olhando para potência interna, né? Nosso território. A gente tá olhando para esses saberes dessas mulheres negras. A gente tá falando de potencialização. Então é algo que vem só do programa que traz, mas a gente também olha porque ela tem de melhor e também para agregar ao programa, ao processo formativo, a gente tá olhando para os saberes de cada uma da organização. Sempre valorizando e celebrando essa diversidade territorial, temática e geracional dessas iniciativas. Então acho que é um pouco desse caminho também que a gente acredita para a filantropia que a gente possa decolonizar os saberes, como o Cássio trouxe, que a gente possa valorizar reconhecer as nossas potencialidades interna quanto pessoas, individuos, como território.

 

Roberta: A gente tem no Brasil um modelo de filantropia que já nasce com essa perspectiva Colonial porque vem das Missões religiosas daquele período e até hoje, quando a gente quando a gente olha a maior parte das organizações grandes no Brasil são internacionais vindos do Atlântico Norte e também quando a gente olha para as Fundações, né empresariais, as grandes organizações de terceiro setor assim que tem essa origem já na elite econômica intelectual cultural financeira. Enfim, tudo a gente não tem como evitar assim, né olhar pra nossa filantropia e ela é o oposto de tudo isso. Ela é branca, hetero normativa, patriarcal e tudo mais, mas a gente levar em conta a etimologia da palavra filantropia que significa justamente amor à humanidade a gente pode dizer que antes da colonização já tinha filantropia aqui dos povos indígenas originais. O Ailton Krenak costuma falar isso, né? Que já existiu algum socialismo no Brasil é dos povos indígenas que tudo compartilham pelo bem da comunidade e como isso e toda influência depois da africana se insere na filantropia brasileira hoje ou deveriam ser inseridas. O que a gente tem para aprender com esse Sul Global ou não, vocês podem falar um pouco mais sobre isso.

 

Jéssica: Vou puxar um pouco aqui trazendo um ponto aqui para mim foi bem caro. Quando eu tava fazendo a minha pesquisa para o meu TCC, que foi encontrar na literatura essa origem da filantropia antes da invasão Portuguesa. Então a gente já parte desse ponto que a literatura começa a falar da filantropia num período colonial e ignora tudo que vem antes, da invasão portuguesa. Ignora o fato de existir povos originários. E aí é isso, né? O amor à humanidade já era praticado com o cuidado, com a doação do tempo, troca de recursos, bem viver coletivo. Isso se a gente for olhar no pé da letra é filantropia também, E aí trazendo também aí o Ailton Krenak,  que você trouxe na sua fala. Aí ele disse também que o amor à humanidade é insociável a terra, da natureza, por isso podemos associar o estabelecimento de uma relação genuína entre indivíduo, a terra que nos cerca e a ideia de viverem em comunidade. Então eu acredito que uma das formas de inserir tanta cultura indígena e africana dentro da nossa filantropia é primeiramente reconhecendo.

 

Cássio: Eu concordo plenamente. Como eu disse antes, eu acho que é fundamental a gente resgatar e valorizar as formas de ser, de pensar e de poder do Sul Global. Então fala filantropia decolonial, como você mesma disse, Roberta, é um paradoxo em si, se a gente leva em conta que a filantropia aqui no Brasil, tal como ela vem sendo praticada nos últimos cinco séculos, ela é um projeto colonial. Ela chega com as Caravelas, com a Igreja Católica,  mas a gente precisa reconhecer toda essa história, todo esse processo anterior e posterior inclusive, de pós colonialismo aí após a invasão digamos assim, então. Agora o que é importante a gente saber é que tudo isso está imbuído na nossa mentalidade de todas, todes, todos aqui. São séculos de história de uma filantropia que vem sendo praticada de uma forma. Só que não significa também que não tem movimentos fronteiriços, de resistência, que buscam trazer novas abordagens, olhares, novos paradigmas. Inclusive para essa filantropia atual eu posso aqui dar de cabeça, a filantropia por justiça social. Tem um trabalho magnífico, diversas membras que fazem parte dessa rede trabalham nessa perspectiva de pós colonialidade, de giro decolonial, dentro desse conceito de justiça social. Eu acho que é assim que a gente vai inserindo nesse movimento aí da brasileira o giro decolonial.

 

Arthur: Gente segunda última edição do World Giving Index de 2021, houve uma mudança no perfil das nações que mais doam no mundo nesse passado recente. No lugar da das principais economias ocidentais, o mundo antigo as grandes economias da Europa,  Estados Unidos entraram no top 10 Nações como Indonésia, Quênia, Nigéria, os três primeiros lugares. Vocês acham que isso já é um sinal dessa mudança da decolonização, num nível global da filantropia e emendando vocês acham também que tem uma mudança do perfil da filantropia colonial mais assistencialista e tal, para um novo modelo mais aqui a gente costuma falar as ONGs mais profissionais e tudo, que tem um plano mais complexo de ação do que simplesmente aquela visão do rico dando esmola pro pobre ou cuidando do pobre. Isso é um sinal de decolonização também?

 

Jéssica: Vou pegar aqui a primeira parte. Então, acho assim esses números, eu dei uma olhadinha também na pesquisa, mas eles estão associados muito diretamente com esse contexto pandêmico que a gente tem vivido nesses últimos anos. Então esses países também que de terceiro mundo, que escalaram nesse ranking é porque os outros países que historicamente lideravam, eles tiveram um declínio. Então a pesquisa também aponta que, por exemplo, a Austrália, o Reino Unido, enfim, eles tiveram esse declínio por conta, do lockdown. Então tem isso  também. E aí também tem outro dado interessante que vale ressaltar, que o Brasil ele vai na posição 54 desse ranking. Que ele sobe 14 posições. Então de 2018 para 2021, a gente tem aí uma subida de 14 pontos do Brasil nesse ranking. Nesse contexto também avassalador que a gente tá vivendo de pandemia que impactou enfim diretamente economia para a população, sobretudo de alta vulnerabilidade social. Então não sei porque quando eu vejo esse número eu não sei se eu consigo associar diretamente ao giro decolonial ou também celebrar tanto essa mudança de generosidade, que essa pesquisa aponta dos países, porque a gente tá vivendo esse momento tão doloroso que a pandemia, que tá efetuando diretamente essas nações de alta vulnerabilidade social, né? Não sei se o Cássio compartilha da mesma visão.

 

Cássio: Bom. Realmente sem estudos eu não poderia afirmar claramente, mas eu tenho uma percepção ali até empírica por ter viajado por alguns desses países que talvez tenha aí um forte diferencial também de religião. Pelo menos a Indonésia é o maior país muçulmano do mundo, eu acho que a Nigéria, eu também tenho uma percentual maior de pessoas muçulmanas, enfim. Então eu acho que tem outras variáveis, que podem estar relacionadas aí a esses dados. Precisariam investigar melhor e casando aí com a segunda pergunta, que você fez, Arthur, eu acho que sim, eu sou muito otimista e sempre acho que a gente tá no movimento de aprendizado contínuo então mesmo que seja Inicial. Acho que você ponderou muito bem quando você traz a palavra Inicial não diria que hoje a gente tem consolidado uma forma de filantropia decolonial no Brasil. Talvez em um lugar do mundo assim, sinceramente. E tudo isso porque a gente vive nessas camadas de incoerência de inconsistência, não é 0 ou 1 né? Não é essa binariedade. Por exemplo, durante a covid que Jess trouxe agora, a gente viu muito movimento de boa intenção, mas com um forte recrudescimento da assistência, que foi fundamental, o Brasil voltando pro mapa da fome nos últimos anos, enfim situações muito complexas acontecendo e a forma como foi feito. Talvez em decorrência da urgência. Talvez em decorrência da falta de reflexão crítica até do tempo para isso muitas vezes foi bastante colonizador.

O exemplo que eu sempre trago é o das cestas básicas. Que muitas vezes não se ponderou, será que as famílias querem essa cesta pronta, eu por exemplo não gostaria daquele pacote de açúcar refinado em específico. Enfim, cada um tem a sua forma de se alimentar de escolher. Aí depois surge depois do cartão que viabiliza a pessoa até autonomia de no mercado local, então gera renda para economia local e ela escolheu o que ela quer. Tem e tinha regra se podia ou não bebida alcoólica e tudo mais. Isso já é uma visão mais decolonial de uma forma bem prática do que você chegar a distribuir uma cesta básica sem perguntar se é o que as pessoas querem, consome sem ter essa emancipação, essa autonomia. Então acho que isso aconteceu muito durante esse período da covid. E o último ponto só que eu ressaltaria essa questão de filantropia mais profissional. E aí a gente tem que tomar muito cuidado quando a gente tá falando de dar um giro decolonial na filantropia, o que que a gente tá chamando de profissional. Muitas vezes o que a gente tá chamando de profissional vem dessa perspectiva que até em anteposição ao giro decolonial na filantropia é chamada de filantrocapitalismo, que essa visão mais de Capitalismo, de Manhattan mesmo, de mensuração, retorno sobre investimento social.

Então, são visões, são paradigmas não Tô aqui para julgar. Eu acho que todas as formas inclusive são super válidas e importantes pra gente causar mudança social, mas quando a gente fala de uma filantropia ou organizações da sociedade civil mais profissionais dentro do giro decolonial a gente tem que pensar se a gente tá colocando uma lógica de mundo que vem justamente de uma forma colonizadora e essas outras formas de fazer, por exemplo, saber dos povos originários, não poderiam ser alternativas a isso. Não sei se deu para entender um pouco desses conflitos, essas disputas que surgem

 

Roberta: Perfeito. E no Brasil, agora, mudando um pouquinho de assunto a gente tem acompanhado esse debate crescente sobre a importância da diversidade que virou uma palavra de ordem em todos os setores, na filantropia, na economia, na cultura, enfim hoje, qualquer evento é imediatamente questionado: está faltando uma mulher negra, está faltando uma pessoa com deficiência. Enfim, tem uma muito mais atenção para isso pro que antes era normalizado. Esse debate em si, já caracteriza de certa forma um início desse giro decolonial por aqui. E eu queria que vocês falassem da importância da utilização da terminologia para identificar essas ações. Acaba que banaliza algumas palavras assim. Por diversidade quando é apropriada pela publicidade, pelas empresas, ela pode acabar perdendo a sua importância, o seu real significado e daqui a pouco talvez aconteça a mesma coisa com quando a gente fala decolonial. Então isso enfim que eu gostaria que vocês falassem mais sobre isso.

 

Jéssica: É um ponto que eu gostaria de ressaltar, dessa questão da diversidade que realmente como você bem trouxe está sendo muito utilizado em publicidade e tudo mais, mas eu acho que é importante a gente olhar um pouquinho mais a fundo e não romantizar  tanto. Porque de fato já é um primeiro passo giro decolonial. É, mas eu acho que não basta que é o que a gente muito vê, as organizações que falam ou até que apoiam outras organizações que trabalham com diversidade. Usa-se muito isso na publicidade, nos posts, mas que na verdade não olha para dentro de si.

 

Roberta: Exatamente, né dentro de casa, não fez isso, né? Não tem liderança.

 

Jéssica: Exatamente. Então eu queria provocar e falar sobre essa questão da diversidade. É quanto que é importante olhar para dentro de casa, olhar  principalmente seu quadro de funcionário, e questionar: o meu discurso tá fazendo jus ao que eu prego, condiz com a minha realidade institucional. Aqui, eu tô tendo e fomentando diversidade de raça, gênero. Território é super importante. Entender que essa é uma questão estrutural, então a gente tá falando aí como o Cássio bem trouxe, de séculos. Enfim, de mesmas pessoas ocupando os mesmos lugares. E a reflexão tem que ser feita em todas as áreas e em todos os níveis, desde aqueles do chão, que estão aí na no dia a dia, até aqueles que estão no topo, que só vai lá e coloca a caneta na mão e que toma decisão. Então em todos os níveis, a gente tem que olhar para dentro de casa e fazer essa reflexão. Então eu queria tirar um pouco a diversidade desse lugar que é só para se ver e estar no Instagram, entendeu? Mas que realmente acontece do lado de dentro

 

Cássio: E eu também acho que a Jess disse tudo. Acho que a diversidade é um dos primeiros e mais relevantes passos mas não é o único e ela precisa ser praticada de fato dentro dessa mentalidade de giro decolonial, já que a gente tá falando de decolonizar filantropia. Então, desde que essa diversidade venha de fato para resistir a essa colonialidade do poder, do saber, do ser. E a gente tem iniciativas que são absolutamente relevantes aí que são voltadas à diversidade que contribuem para esse giro decolonial na filantropia. Lembrei aqui de um exemplo que acabou de ser lançada a lente preta para avaliação da equidade racial. Então é um manifesto de avaliadoras e avaliadores negros, e eles trazem, por exemplo, a importância de onde parte o olhar da avaliação de quem disse que se tá bom não e se esse olhar não é inclusivo, se esse olhar, por exemplo, não é antiracista, senão vem de avaliadoras e avaliadores negros, por exemplo, tem um viés. Então acho que essas iniciativas vão contribuindo pra gente ir tecendo a narrativa de mudar a mentalidade da colonialidade.

 

Arthur: Perfeito, gente! Papo maravilhoso. Temos que falar mais sobre isso em outro episódio a gente continua, porque agora a gente vai encerrar aqui e vai para a Rodada Relâmpago. O Cássio já fez a Rodada Relâmpago uma vez, quando ele veio aqui muitos episódios atrás, mas vai fazer de novo porque muita coisa mudou de lá até aqui, né? Vamos lá gente.

 

Jéssica: Vamos lá, beleza?

 

Roberta: A gente vai fazer cinco perguntas e vocês respondem com a primeira coisa que vier a cabeça. Jess primeiro e o Cássio depois. Combinado. Qual foi a sua doação mais recente?

 

Jéssica: Bom, eu sou adepta às campanhas de financiamento colaborativo e a minha doação mais recente foi para apoiar uma amiga que passou num processo para estudar Cinema, em Cuba, mas não tinha recursos e aí fez essa campanha. E aí eu apoiei para ajudar a viabilizar esse sonho, esse projeto de vida de uma mulher preta periférica que consegue chegar nesse lugar e não pode ser impedida por conta de recursos. Então essa foi a minha doação mais recente

 

Cássio: A minha vai ser logo que acabar o podcast. Prometo que tá aqui na minha listinha de to do que é para uma organização que chama a Scholars at Risk, que procura apoiar acadêmicos, pesquisadores em prol da liberdade de pensar, de questionar e compartilhar ideias e tem muitos muitos acadêmicos sendo perseguidos na Ucrânia. Descobrir recentemente essa rede e fiquei bastante interessado em conhecer. Fui estudar como era e agora quero fazer essa doação hoje inclusive.

 

Arthur: Qual é a vossa causa do coração?

 

Jéssica: A minha causa do coração é sem dúvida a questão racial.

 

Cássio: A minha é Direitos Humanos.

 

Roberta: O que vocês doam que não é dinheiro?

 

Jéssica: Acho que tempo, escuta, acho que é importante. Faça alguns processos de conversar com algumas organizações que eu conheço para, enfim, trocar um pouco dessa experiência do dia. Veio também da comunicação como eu falei anteriormente eu sou formada em comunicação, eu já fiz bastante mentoria com a organizações do setor para falar um pouco sobre isso.

 

Cássio: Eu vou com a Jess aí. A escuta é o que eu mais faço de doar.

 

Arthur: Agora a gente tem aqui um Desafio que é. Imagino que vocês convençam bastante gente a doar. Queria que vocês contassem aí como que vocês fazem isso? Qual é o argumento matador , aquele que vocês usam primeiro para para conquistar?

 

Jéssica: Eu acho que vem um pouco dessa linha do que eu disse anteriormente. Que doar não é somente recurso financeiro. Acho que tá muito atrelado a isso, dinheiro. Meu discurso é um pouco esse: você tem muito mais. Não precisa ter ali monetariamente, mas você tem escuta. Você tem tempo. Então coloque isso a favor. Se doe em primeiro lugar

 

Cássio: Eu uso do muito argumento do Propósito. Os meus ancestrais chamam isso de ikigai, de encontrar esse lugar aqui dentro da gente, que nos preenche mais plenamente. Então um exemplo muito claro foi com o meu marido que não tinha o costume de doar e ele atua em prol de causas LGBTQIA+ e foi por aí que eu comecei. Comendo pelas beiradas. Ele começou a doar para algumas organizações, casas que recebem pessoas trans, por exemplo. E hoje ele já vai doando. Bacana ver que isso realmente vai sendo incorporado no nosso jeito de ser, de fazer.

 

Roberta: Agora eu vou colocar vocês numa situação difícil que é citar uma organização ou projeto que vocês admiram ou apoiam, para fazer aqui o merchan delas. Difícil, tem que escolher!

 

Jéssica: Eu vou falar então numa organização chamada Bem Comum, que atua aqui na Zona Sul de São Paulo. É uma organização que trabalha com crianças e jovens em situação de abrigo, que foram destituídas da família, estão em situação de alta vulnerabilidade social. Então eles trabalham no processo de contato, com educação para estimular, inspirar esses jovens a alcançarem seus projetos de vida. Então sempre focado na educação. Uma organização que eu tenho muito carinho. Já tive a oportunidade de estar junto também apoiando de várias formas. E aqui eu gostaria de falar para todos ouvintes também conhecesse.

 

Cássio: É difícil mesmo. Já pensei em vários, mas como é só uma. O Top of Mind, eu vou falar do Potências Periféricas. Que hoje eu sou Conselheiro. É uma rede de coletivos periféricos, não é institucionalizado, bem horizontal e que vem para discutir o acesso a recursos nas periferias e fomentar uns aos outros coletivos de uma forma bem de apoio e suporte mútuo. Inclusive muito em breve o potências vai abrir uma campanha de arrecadação continua. Então, agradeço a todas e todos que puderem doar e compartilhar aí com a gente

 

Arthur: Gente muito bom. Sem palavras para agradecer. Uma aula mesmo hoje. Já convido vocês a quando vocês quiserem voltar, a casa de vocês. Muito obrigado por trazer esse tema aqui pra gente

 

Jéssica: Obrigada. Só quero agradecer também. Falar que adorei fazer parte dessa conversa. Fiquei honrada pelo convite e por aprender mais um pouco Cássio que eu admiro tanto, conhecer vocês. Obrigada.

 

Cássio: Eu também agradeço muito. Fico muito feliz de poder compartilhar também. Tô aprendendo o dia a dia. Não me considero nada especialista no tema. E todas as reflexões vocês me trouxeram aqui já vai ficar latente ao longo de todo dia. E aí eu aproveito que a gente tá organizando na ponteAponte, no dia 3 de maio, um seminário sobre Confiança na Filantropia, que é uma palavra fundamental quando a gente fala de promover um giro decolonial. E a gente acha que ainda tá num nível muito abstrato e esse seminário vai propor uma ferramenta de trabalho. Todo mundo aqui que doa, que faz filantropia possa utilizar de forma aberta e refletir sobre como essa relação que você tem em termos de confiança com os donatários e as donatárias. Convido todo mundo a participar!

 

Roberta: Muito bom.

 

Arthur: Excelente, excelente!

 

Roberta: Tema para outro podcast. Muito bom, querida. Obrigada gente.

 

Roberta: Caramba demais esse papo, né? E é uma alegria pra gente poder trazer aqui pro podcast um assunto, como o Cássio falou, não é novo e ele existe desde sempre, mas que só agora está sendo trazido à luz pro público em geral, e é fundamental pra gente dar um novo passo e avançar na maneira como a gente faz filantropia.

 

Artur: Com certeza, Roberta! Assim a gente vai ajudando a plantar mais sementinhas do bem no pensamento das pessoas. E por falar nisso, chegou a hora da gente conhecer a dica de hoje da Duda Schneider, na coluna Merchan do Bem! O que que você traz pra gente hoje, Duda?

 

Duda Schneider: Oi gente, eu sou a Duda Schneider, esse é o nosso quadro Merchan do Bem. Tô muito feliz em contar que a dica de hoje foi uma indicação de um dos nossos ouvintes. É a marca de moda consciente chamada Euzaria, a marca social baiana, nasceu em 2015, com a intenção de resgatar o pertencimento e o valor do ser, além do ter. Demais né?! Além de pensar em toda a cadeia de produção com muito amor e responsabilidade, a venda de cada produto também contribui com a garantia de um dia de aula para um jovem protagonista através da parceria com o Instituto Aliança. O projeto é super completo e você pode acompanhar de perto e conferir todos os detalhes no site do Euzaria, www.euzaria.com.br, além de claro garantir a sua peça da moda por lá e contribuir com o projeto. Já são mais de 42.000 pessoas impactadas pela marca que faz um trabalho muito próximo realizando os eventos de entrega da doação e junto com a doação, eles também levam carinho e atenção, além de todos os detalhes do projeto eles também divulgam as histórias dos beneficiados lá pelo site. Por hoje é isso pessoal! Espero que tenham gostado e se você também tem uma dica para compartilhar com a gente manda no nosso Instagram, nas nossas redes sociais aí que a gente vai ficar super feliz. Até a próxima.

 

Roberta: Obrigada Duda e para concluir aqui o nosso Episódio a gente falou antes da entrevista sobre o relatório “Time to decolonise aid” e eu queria trazer aqui, antes da gente encerrar, a fala de um dos participantes da consulta que gerou o documento. Ele diz:  “Para aqueles que são mais impactados pela violência, ‘decolonizar a filantropia’ é produzir conhecimento, diagnosticar problemas e encontrar soluções. Já para quem está no poder, significa reconhecer e desaprender padrões de dominância e sair da zona de conforto material, emocional e até física, seguindo a liderança daqueles que são mais impactados pela violência e pela injustiça”.

 

Artur: Pois é, para cada problema sempre existem dois pontos de vista ou vários, né? Então é importante também pensar isso na hora de definir um conceito. Eu gosto de episódios como esse, discussões como essas, principalmente porque a gente mexe nas bases em que as coisas estão estabelecidas e se elas não estão bem estabelecidas, por muito tempo a gente partiu do pressuposto que as coisas são como são e algumas coisas não podem mexer. E aí, a gente está vivendo uma primavera maravilhosa, apesar de muitos problemas que a gente tem enfrentado, mas dos jovens questionarem as bases que estão estabelecidas.

 

Roberta: Para mim, a principal mensagem dessa conversa é que a gente precisa se assumir como parte do problema. Tá em tudo né? A visão colonial. Quando eu penso, que por mais que a gente faça um trabalho bem intencionado no terceiro setor, aqui dentro do Instituto MOL, e dentro da Editora MOL, quando você pensa nesses detalhes, assim: quantas organizações que a gente apoia que são do Sudeste? Quantas que tão em outros territórios? quantas que são lideradas por pessoas dentro desse padrão branco, heteronormativo, homens? Palavras que a gente usa como beneficiários, apoiados, atendidos, tem toda uma escolha de palavras que precisa ser repensada e a gente usa elas porque elas são as palavras padrão que as pessoas entendem para explicar o trabalho que a gente faz, mas são as palavras corretas para essa nova visão de mundo? Enfim, acho que a gente tem que se enxergar humildemente. Que por mais que a gente trabalhe no terceiro setor com as melhores das intenções para erradicar as injustiças e encontrar um mundo de mais igualdade, a gente tem que se reconhecer como parte da situação, dos problemas, dos privilégios, e pensar o que podemos fazer para mudar cada pequena ação do dia a dia. Olhar para nossos conselhos, projetos, bancas e editais e ver se eles estão sendo diversos como deveriam ser. Olhar para essas organizações como um pensamento apoiadas e parceiras com pensamento mais de horizontalidade, o que ainda é difícil quando a gente fala das relações com dinheiro. enfim, acho que é a grande lição aqui é de humildade e de repensar quanto eu estou contribuindo para esse problema e o que eu posso fazer pra mudar.

 

Artur: Por hoje é isso pessoal, mas o papo, como sempre, continua nas nossas redes sociais. Segue a gente lá no Instagram, @institutomol, e no LinkedIn. Semana que vem a gente volta! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do Infomoney. Esse episódio teve produção da Mônica Herculano. Belo trabalho, Mônica, parabéns. O roteiro final e direção são de Vanessa Henriques, arte da Glaucia Ribeiro, do Instituto MOL. As colunas são de Rafa Carvalho e Duda Schneider, da Editora MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!

 

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