Transcrição EP #80 – Qual é a sua causa?

Artur: Diariamente, a gente escuta histórias lindas sobre o envolvimento de pessoas com determinadas causas sociais e como aquilo teve um impacto incrível na vida delas. Até por isso, muita gente pensa que é fácil saber pelo que lutar e que a causa já mora no coração, basta botá-la para fora. Mas, nós, que já atuamos há bastante tempo com o terceiro setor, sabemos que não é tão simples assim, né? 

 

Até porque encontrar uma causa para apoiar nunca é tão fácil quanto parece. Afinal, é um comprometimento quase pra vida toda. É como se você escolhesse uma profissão, algo que te conduz. Então não basta achar que um determinado assunto é relevante. A causa do coração tem que ser algo permanente na sua cabeça e no seu coração. 

 

É essencial saber como você vai se inserir nessa luta, de que forma ela vai se mesclar ao seu cotidiano. O nosso podcast hoje trata justamente dessa pergunta fatídica: Qual a melhor forma de encontrar uma causa do coração? Aliás, pra ajudar a responder essa questão, teremos aqui conosco hoje o Leandro Machado, que é cientista político e criador da CAUSE, uma consultoria que ajuda na gestão de causas em empresas e organizações.

 

Eu sou Artur Louback

 

Roberta: Eu sou Roberta Faria

 

Artur: E qual é a sua causa é o tema de hoje no… 

 

Jogral: Aqui se Faz, Aqui se Doa!

 

Artur: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações, da Ambev e divulgação do Infomoney. 

 

E o tema de hoje é uma coisa que a gente trata com frequência aqui no Instituto e também no podcast. Afinal, não tem como passar a atuar no terceiro setor sem de fato abraçar uma causa que tenha a ver com você e te motive a buscar doações e resultados.

 

Roberta: Foi no ponto, Artur! E acho até que o assunto é muito conectado com o que falamos em um dos últimos episódios. Pra quem não ouviu, a gente falou sobre a importância do jornalismo e da mídia para fortalecer a cultura de doação. E é um fato: quanto mais determinadas causas e organizações aparecem nas notícias, mais as pessoas se informam e se interessam sobre elas. É uma das muitas maneiras que a sociedade tem de formar um público mais engajado e com vontade de abraçar causas que são essenciais para tanta gente.

 

Artur: Disse tudo, Roberta! Não tem como falar na escolha de uma causa do coração sem citar a importância da informação e de uma boa comunicação da parte das instituições com o público.

 

Roberta: Também vale lembrar que a escolha de uma causa tem a ver com a formação de uma identidade, com a maneira como a pessoa vive e se coloca neste mundo. O que não significa que todo mundo já sabe assim de cara qual a causa mais adequada para si. A gente muda, evolui, amadurece e, coisas que são importantes em determinada época da vida, podem ser substituídas por outras. 

 

Até por isso, vale a pena dar uma fuçada em quais são as muitas possibilidades que existem hoje. Às vezes a gente tem uma causa e nem sabe o nome dela, quando descobre fala “É isso!”. Um material muito legal e super completo que saiu este ano é a lista da consultoria CAUSE, que traz 22 causas para observar em 2022. Ali tem questões que vão desde expectativa de vida e defesa da democracia até a crise climática. Recomendo fortemente ler o documento completo, que traz pontos importantes dentro desses temas, que estão mais relevantes no mundo hoje. 

 

Artur: Aproveitando que você trouxe o gancho da busca da identidade para encontrar uma causa, eu já começo a aterrizar no assunto. Uma das maiores motivações que as pessoas encontram na hora de buscar suas causas são as questões identitárias. Identidade de gênero, étnica, ou então grupos sociais que você tem seu lugar de fala, o seu lugar no mundo. E tudo isso tem a ver com o autoconhecimento e a busca por semelhantes, nessas trocas você descobre o que te move. 

 

Num país como o Brasil, onde mais da metade da população é negra, o racismo, assim como o machismo, infelizmente continua sendo uma questão inerente à sociedade. Mas ele também é cada vez mais discutido e enfrentado por ativistas e movimentos sociais que abraçaram essa causa.

 

Roberta: Quando se fala em cultura de doação, acho que um pouco da ideia é fortalecer um sistema que vai se auto alimentando, quanto mais pessoas se identificam com aquela causa, mais possíveis doadores ela tem. Nos Estados Unidos, um dos países que tem uma das culturas de doação mais fortes e desenvolvidas no mundo, a gente já vê um foco maior em iniciativas e áreas específicas, ou seja, as causas são cada vez mais nichadas.

 

Enquanto doações para instituições religiosas vêm crescendo pouco por lá, setores como educação, cultura e meio ambiente angariam mais e mais doadores. Isso aponta para duas coisas. Primeiro, para o fato de que as pessoas têm interesses cada vez mais amplos em um nível individual, e buscam causas e organizações que representam isso. E segundo, que isso está gerando uma gama incrível de oportunidades de doar e contribuir com causas diversas, o que também já está transformando esse panorama de doações. 

 

A gente vê que, quanto mais bandeiras são levantadas, maior a chance de as pessoas encontrarem uma causa do coração. E isso vale para quem tem pouco e pra quem tem muito. Ainda nos Estados Unidos, 24% das pessoas que possuem patrimônio de pelo menos um milhão de dólares integram o conselho de alguma ONG. 1 quarto dos milionários são de alguma ONG, isso não acontece no Brasil. 81% delas doam porque acreditam na missão daquela instituição. É essa paixão por um tema que faz com que o envolvimento com a causa seja contínuo, crie raízes profundas, e ajude a trazer mais recursos e visibilidade.

 

Artur: Bacana, Roberta. Esse é um dado muito expressivo, notamos que os grandes doadores brasileiros têm uma relação mais distante com as organizações que eles apoiam, talvez por ser algo muito novo ou pouco aprofundado. 

Mas, como falamos aqui de movimentos sociais, podemos chamar a Rafa Carvalho para explicar um pouquinho mais sobre isso para a gente. 

 

Rafa Carvalho: Oi pessoal, bora para o último glossário da temporada? Eu vou direto ao ponto. Apesar de terem objetivos e configurações muito diferentes entre si, o que dá pra dizer sobre movimentos sociais é que eles são grupos que se formam dentro de uma sociedade para trazer mudanças na maneira como ela funciona. Essas mudanças, que são promovidas sempre de forma coletiva, podem ser tanto em questões sociais, como o próprio nome já diz, ou mesmo políticas.

 

É difícil dizer exatamente quando e onde os movimentos sociais nasceram, até porque grupos que buscam promover mudanças na sociedade de uma forma ou de outra existem há bastante tempo. Alguns especialistas e historiadores apontam que os primeiros movimentos, da forma como conhecemos hoje, provavelmente nasceram lá no finalzinho do século 18, tanto com a formação de grupos políticos que acabaram levando à Revolução Francesa, em 1789, quanto com os abolicionistas no Reino Unido.

 

Mas também podemos apontar outros momentos importantíssimos ao longo da história recente em que os movimentos sociais estiveram para promover mudanças importantes. No século 19, eles acompanharam a luta das mulheres e do feminismo por igualdade. Apareceram também na virada do século 19 para 20 em várias partes do mundo, com a organização dos trabalhadores em sindicatos e na luta por melhores condições de trabalho. Na década de 1960, principalmente nos Estados Unidos, eles lideraram a batalha contra a segregação racial e pelos direitos da população negra. Mais tarde, acompanharam os LGBTQIA+ na luta contra o preconceito e por uma voz mais ativa na sociedade. 

 

Ou seja, os movimentos sociais estão aí há séculos, promovendo grandes mudanças na forma como a nossa sociedade age e olha para determinados temas. Ainda bem, né? É bom que todo mundo descubra sua voz e sua causa também. Eu sou Rafaela Carvalho, e toda semana eu ajudo a desvendar um termo importante para a cultura de doação. Até a próxima!

 

Roberta: Sempre bom saber um pouco mais da história e do contexto daquilo que a gente tá tratando, né? Obrigada, Rafa por essas informações preciosas.

 

Artur: Sim, Roberta! Informação nunca é demais. E, agora, conectando a parte teórica com a prática. É legal trazermos para a conversa uma sonora que gravamos com o Marcelo Vieira, mais conhecido como Marcelinho Protetor, ele atua desde a adolescência na proteção animal, pelos quais ele sempre foi apaixonado. O Marcelo fundou o Projeto Bichos do Gueto, um abrigo que trabalha com o acolhimento e adoção de cães e gatos, que hoje já abriga mais de 150 bichinhos. Vamos ouvir o que ele contou para nossa equipe sobre a conexão dele com os animais.

 

Marcelinho: Desde que nasci eu posso dizer que tenho um olhar para cães e gatos, animais em geral. Sempre, sempre, sempre, sempre gostei, mas uma coisa que todo mundo achava que era anormal. Minha mãe, meus parentes, minha irmã achavam anormal. 

 

Artur: Isso é que é amor pela causa e pelos bichinhos! Aliás, posso dizer, que a causa da proteção animal, pela qual eu tenho trabalhado bastante pela MOL, acho que seja a que gera maior paixão. Tem gente que dá a vida pelos animais, é inspirador e emocionante acompanhar. E o Marcelo também contou pra gente como foram os primeiros passos dele atuando pela causa, ainda bem jovem, apenas com 13 anos.

 

Marcelinho: Aos 13 anos de idade, eu já estava em São Paulo, cheguei aqui em 2000. Naquela época, sempre moramos em áreas mais periféricas, não comunidade, mas periféricas. Tinham muitos animais abandonados na rua, então eu fazia casinhas para eles. Minha irmã morava em Guarulhos, aí eu ia pra Guarulhos e tinha cachorro, eu tinha que dar comida, água, fazer casinha. A carrocinha ainda matava, que aí era um desafio com a carrocinha, que vai e tira bicho do Centro de Controle de Zoonoses, porque a gente não queria que matasse aquele animal. Porque matava, era permitido eutanasiar, matar os animais que eram recolhidos pelas ruas. 

 

Muitas vezes eu cuidei de animais lá dentro, tratei de alguma enfermidade dentro das minhas condições, possibilidades. Sempre envolvendo as pessoas, dando essa oportunidade, trazendo as pessoas também, ajudando de alguma forma. E foi aí, cara, que, quando eu me vi, estava já com cachorro em terreno, e aí os donos dos terrenos apareciam, e aí tinha que tirar os cachorros. Minha luta sempre foi essa, de recolher. E sempre trazendo pessoas, que não podem resgatar, mas podem contribuir dentro da sua possibilidade, abraçando a causa de verdade. 

 

Roberta: Que história ótima! No caso do Marcelo, ele identificou já muito cedo qual a causa com a qual ele se conectava e já decidiu seguir por esse caminho, mas nem sempre é assim, né? Acho que o mais tocante do exemplo dele é a gente ver o quanto uma ligação profunda e emocional com um tema impacta nessa decisão. Até por isso a gente fala em causa do coração, né, Artur? 

 

Artur: Unir sua intenção com seus sentimentos é um desafio e tanto, por isso existem profissionais e consultorias se especializando em ajudar organizações e pessoas a encontrarem as suas conexões, né, Roberta? 

 

Roberta: E, se você não teve a mesma sorte do Marcelinho de achar seu ativismo ainda muito jovem, você pode contar com a expertise de quem estuda métodos de encontrar a causa e atuar por ela. É o caso da CAUSE, uma organização que surgiu com esse objetivo de incluir as causas no centro das estratégias de marcas e organizações. 

 

E no centro da CAUSE a gente encontra o Leandro Machado, co-fundador, cientista político e professor de advocacy na Faculdade Getúlio Vargas. Além de cofundador e sócio dessa empreitada, ele também já passou por empresas como Natura, Shell e IBM, e ajudou a criar projetos super importantes como o #TemMeuVoto e o Movimento Agora!

 

Artur: Leandro, bem-vindo ao nosso podcast! Já que a gente está falando de como encontrar uma causa do coração, eu queria começar te fazendo justamente essa pergunta: Como foi que você percebeu a necessidade de ajudar outras pessoas – físicas ou jurídicas – a encontrarem suas causas, o que levou ao surgimento da CAUSE?

Leandro: Oi, Roberta! Oi para você que tá aí nos ouvindo nesse podcast, o último podcast dessa temporada, né Roberta? Tô super super orgulhoso e lisonjeado de ter sido convidado para aqui fazer o fechamento desta temporada exitosa do podcast até então. Obrigado.

 

É interessante essa pergunta, Roberta, porque eu acho que começa com a descoberta da minha causa, o que remonta a minha infância, pequenos momentos que marcam bastante. 

 

Eu nasci no Mato Grosso, ali na virada dos anos 70 para 80. Quando era criança, mais ou menos seis ou sete anos, quando o Tancredo Neves – para os novinhos que nos escutam, Tancredo foi o primeiro civil eleito Presidente da República pós-regime militar – o que rendeu uma grande festa. Um desses senadores era da minha cidade, Barra do Garças. O senador Rivaldo, ou Varjão, foi o primeiro senador negro. 

 

Ele era o cartorário da cidade, praticamente um coronel. Meu pai tinha um escritório do lado do cartório dele, então eu estava sempre por lá brincando. Quando Tancredo foi eleito, ele passou na cidade para agradecer o voto do Varjão, eu me lembro, vividamente, de entrar na sala – um menino em volta de vários homens – e o Tancredo me colocou no seu colo. Não lembro exatamente da conversa, só me recordo de achar ele baixinho. 

 

E, 45 dias depois dessa visita, ele morreu. Foi uma grande comoção nacional e isso então me marcou muito. Obviamente, eu não entendia todo esse processo, o que era regime militar, a importância do Tancredo ser Presidente da República e nem nada, mas tudo aquilo me chamou muita atenção para a política dessa maneira mais ampla, não da política só partidária, mas desse conceito de democracia, abertura democrática, de gente na rua se manifestando, pessoas chorando por um líder político…Foi uma das razões que me levou a fazer Ciência Política. Minha causa começa nesse momento.  

 

Roberta: A proposta da CAUSE tem tudo a ver com entender a vocação de uma empresa para defender algo e como essa causa vai entrar na estratégia da organização. Porque é um trabalho profundo de mergulhar nesse organismo para entender o que faz sentido e como agir, né? 

 

Mas e a gente pensa sempre que no fim das contas as empresas são um conjunto de CPF’s, são pessoas que vão tomar essas decisões. Tendo em mente a sua experiência trabalhando com as organizações, eu queria entender de onde vem a causa? Por exemplo, uma organização

 

liderada por uma mulher tem mais chance de se engajar numa causa feminista, ou um dos fundadores uma paixão por educação ou meio ambiente, isso vai transparecer mesmo que não tenha exatamente a ver com o produto daquela indústria, ou é algo que ainda é olhado de acordo com os que os clientes esperam, que os fornecedores exigem, o que o mercado está achando bom no momento. 

 

Enfim, como que a empresa consegue contemplar tudo isso ou ela consegue ter uma alma própria?

 

Leandro: Você chama de alma e nós chamamos de propósito da empresa. É realmente aí que tudo começa. Na CAUSA, Roberta, para descobrir a causa da empresa, nós olhamos seu propósito, ou seja, porque ela veio ao mundo – isso tem sim as digitais dos fundadores e do CEO atual -, qual problema ela quer resolver com seus produtos e serviços. 

 

Enfim, o propósito é impactado pelas lideranças e, partimos dele, para olhar ele e as demandas da sociedade neste momento. Como não tem como olhar para a sociedade como um todo, focamos nos stakeholders, ou o público, da empresa. De um lado, qual o propósito da organização e do outro quais as demandas dos stakeholders.

 

O propósito da empresa é mais perene, imutável, mas as demandas dos públicos são mais dinâmicas. Nessa interação a causa também pode mudar e ser aperfeiçoada. A gente acredita que uma boa causa para uma empresa defender é aquela que está no centro entre o propósito daquela organização e as demandas dos seus públicos naquele dado momento. 

 

Roberta: A gente sabe que, historicamente, o capitalismo tupiniquim tem suas variantes próprias e uma delas ia ser muito personalista, né? Na minha experiência de lidar com empresas e com causas não é incomum a gente chegar na empresa com um projeto e ouvir “Tem que doar para tal organização porque eu tenho uma conexão pessoal com ela” Seja, por exemplo, familiar ou uma experiência própria de vida. Vemos isso em empresas de todos os portes.

 

Ao mesmo tempo, acompanhamos a profissionalização de diretorias, com a questão do ESG, Conselhos e Índice de Sustentabilidade sendo medidos, enfim, as coisas tendem a se tornar mais profissionais, essas escolhas tendem a se tornar menos pessoais. Mas, aí a gente vê um outro lado que é o sofrimento de ter que abrir mão de causas, o que acaba acontecendo também na vida pessoal assim, né? 

 

Muitas vezes a gente fica paralisado por não saber por onde começar ou por querer ajudar todas as causas e não ter condições. Como você reconforta, seja uma organização ou uma liderança, sobre a questão das escolhas e da importância de definir um território?

 

Leandro: Entender qual é a sua melhor contribuição, onde há espaço, onde já tem demais, como você pode fazer a diferença, te ajuda a dizer nãos mais consistentes. 

 

Por outro lado, essa questão mais discricionária que você coloca eu acho que dá para acomodar. Se você faz esse trabalho de olhar para o propósito é óbvio que os fundadores têm as digitais lá e é óbvio que há alguma correlação. Boa parte do DNA da organização está com os fundadores. Você, que é um executivo e está nos ouvindo tem papel de acomodar as decisões de stakeholders importantes da organização. 

 

Roberta: Boa parte dos nossos ouvintes trabalham com captação de recursos, acho que você levantou um pensamento muito importante, Leandro. Se você capta recurso precisa fazer muito bem a lição de casa do que faz sentido para aquela organização, né? Nós vemos muita perda de tempo, correr atrás de empresas que tem já uma política muito definida do que vai apoiar ou não e ficar correndo atrás delas vai ser tempo perdido. 

 

São poucos braços para correr atrás de tantas coisas. Faz mais sentido ser mais assertivo  e correr atrás de quem tem a mesma causa que a gente, empresas que apostam na mesma coisa. 

Leandro: Sem dúvida. E, eu acho que tem ficado cada vez mais fácil de acessar essa informação, Roberta. A tecnologia avançou enormemente, há 15 anos atrás, nem todas as empresas divulgavam relatórios. Acessando esse conteúdo, hoje disponível, você já sabe de cara o que elas têm lá de destinação de recursos para os projetos e que tipo de projetos são esses. 

 

É muito difícil uma empresa que está aqui investindo há 5 anos em esportes do dia pra noite, que ela apoie um projeto de educação básica, por exemplo. É muito mais fácil que ela aposte em alguma coisa diferente dentro daquele nicho e geralmente essas informações também estão online. Cada vez mais as empresas têm feito editais, mas se não tem edital tem muita fonte de informação, inclusive pelas redes sociais, onde você pode pegar essas dicas e faz todo sentido você chegar lá na frente de um gerente de patrocínios ou de um diretor e já contar a sua história para eles conectada com a deles, né? Eu sei que vocês investem tal causa por isso eu venho aqui apresentar um projeto disso aqui. 

 

Roberta: Ótimo, Leandro. Para quem não sabe, o Leandro é autor de um livro excelente, que eu recomendo muito para todo mundo que é o “Como defender sua causa” Dentro do quesito, como usar a cultura de doação para defender sua causa, queria ouvir as suas recomendações para os nossos ouvintes. 

 

Leandro: Esse livro, Roberta, é parte desse esforço de compartilhar as ferramentas que eu fui adquirindo ao longo dos anos por ter estudado e trabalhado nessas áreas. Não só me relacionei, como ajudei a criar organizações do terceiro setor e fui – e ainda sou – parte de conselhos. Eu sempre via que as pessoas envolvidas nessa luta de causas no Brasil tem muito coração, mas tem pouco ferramental estratégico. É muito raro você encontrar informação de qualidade sobre como causar impacto. 

 

Nesse livro eu reflito muito sobre: partindo de uma coisa, como você pode gerar maior impacto? Na minha experiência, você pode gerar maior impacto transformando isso em lei, impactando políticas públicas. Ao longo do livro, eu detalho os 10 passos para você, a partir da sua causa, transformar ela em política pública, com cases de organizações brasileiras que eu trabalhei e de internacionais que eu estudei. 

 

O primeiro capítulo é justamente falando sobre como encontrar sua causa. Pessoas que eu conheço e admiro encontraram suas causas em momentos marcantes, às vezes especiais, às vezes trágicos. A primeira coisa é olhar para sua história, para aquilo que fez de você o que você é hoje, quais foram esses momentos definidores, e o que te levou até esse lugar que você tá hoje? Olhe o que te move da cadeira, te faz levantar para ficar angustiado ou agoniado ou querendo às vezes pegar um pelo pescoço de tanta raiva. Por exemplo, um animal sendo maltratado te dá vontade de tomar alguma atitude ou quando você vê alguém em situação de fome.

 

Isso é uma descoberta pessoal, mas esse é um dos ingredientes. Tem pessoas que já estão mais adiantadas nessa reflexão e já sabem a causa e a partir desse momento que você sabe a causa, eu acho que tem então esse gradiente de coisas que você pode fazer. Desde ser um ativista de sofá, que é algo que eu não recomendo e não gosto, mas espaço também, né? A participação digital precisa ser um mais. Eu acredito que tem muitas outras formas e aí eu trago algumas formas. 

Uma delas é a doação porque mostra o seu comprometimento, em valor, ou em tempo, seu tempo dedicado, mas, enfim você está se comprometendo, investindo naquela causa, isso é um é um grande passo. Você tem gente que cria ONG’s, muda a carreira, saí de empresa e vai trabalhar em ONGs como forma de defender a sua causa. Tem gente que lá dentro das empresas está defendendo a sua causa também, então a doação entra aí com essa maneira bem mais simples, mas ao mesmo tempo uma maneira que você efetivamente se compromete. A doação é uma porta de entrada para você conhecer mais aquela organização, se interessar mais por aquele tema e buscar mais informação sobre aquilo. 

 

Roberta: É como o voto, é algo que você tem que fazer de forma recorrente, consciente e por cidadania, não por caridade. Seu dinheiro ajuda você a ser representado porque não podemos estar sempre na linha de frente. Tem espaço para ativistas que vão deitar na frente do trator e para doadores que vão financiar essa luta.

 

Leandro: Exatamente. São essas histórias que eu trago. Ou você financia ou você se envolve trabalhando. Não precisa criar uma ONG, criar um movimento do zero, tem várias formas cada vez mais fáceis de você participar. 

 

O primeiro pensamento é ver o que te toca e te move, não é caridade, é por alguma coisa que você quer ver mudar. 

 

Roberta: Leandro, obrigada por essa conversa. Acho que você inspirou muita gente a encontrar uma causa, a doar e lembrar que esse é um ato político de apoio e ativismo e que pode terminar muito mais longe, mudando empresas, leis e o mundo. 

 

Falamos de muita coisa, mas ficou faltando a nossa rodada relâmpago.

 

Leandro: Vamos lá, vamos lá. 

 

Roberta: Qual foi a sua doação mais recente mais recente?

 

Leandro: Por incrível que pareça foi a compra de uma revistinha em uma farmácia. Acho que vocês já ouviram falar, foi a revista Sorria. 

 

Roberta: Muito obrigada pela sua o seu apoio. Qual é a sua causa do coração a democracia?

 

Leandro: Democracia. Hoje, ontem e sempre. É o sistema que efetivamente mais tirou as pessoas da tirania e opressão, trouxe prosperidade para as pessoas e garante que a voz das minorias e dos oprimidos sejam, de alguma forma, pelo menos ouvida.

 

Roberta: Me deu vontade de trocar a minha agora te ouvindo. 

 

Leandro: Não! Nós precisamos de gente em todas as causas. 

 

Roberta: O que você deu que não é dinheiro? 

 

Leandro: Meu tempo. Eu ajudo a mentorar. No momento, estou mentorando um candidato LGBTQIAP+ para Deputado Federal, e também um candidato para Harvard, que foi onde eu fiz o meu mestrado. Faço parte da associação dos alunos e ex-alunos de Harvard no Brasil e nós fizemos uma seleção de alunos para serem mentorados no processo de seleção, aqueles que não se “encaixam” no perfil da universidade, os fora de São Paulo, LGBTQIAP+, negros. Lá tem muito branco, principalmente os brasileiros que vão para lá, eu incluído. Eu estou ajudando o Rodolfo, um candidato LGBTQIAP+ do Nordeste.

 

Roberta: Leandro, cita uma organização ou um projeto um que pouca gente conhece, mas você admira/ apoia e mais gente devia conhecer

 

Leandro: Eu citaria uma organização que ainda pouca gente conhece que é a Oceana, é uma organização super bacana que trabalha, obviamente, com os oceanos.

 

Roberta: Por último, como temos muitos ouvintes captadores de recursos, como convencer alguém a doar? O que você diria para alguém que ainda não é doador porque essa pessoa deve doar?

 

Leandro: Persuasão dos ensinamentos, lá de Harvard, é conhecer a audiência, com quem você tá falando. Para quem você vai pedir? De onde essa pessoa vem? Que organização é essa? O que ela acredita? Quais os problemas dela? Se empenhe em conhecer a audiência.

 

A partir desse conhecimento se estabelece laços de similaridade, que é outra dica de persuasão. Em um patrocínio, você só vai conseguir oferecer boas contrapartidas se souber do que aquela pessoa está precisando. 

 

Roberta: Obrigado por esse papo! Volte sempre.

 

Leandro: Quero voltar, quero voltar na próxima temporada, não precisa ser no último não, mas quero voltar sim! Obrigado. Obrigado, Roberta. Obrigado todo mundo do grupo MOL, e obrigado, principalmente, você ouvinte que ficou até agora aí nos ouvindo. 

 

Artur: Uma honra receber o Leandro aqui, nosso parceiro em alguns projetos, que admiramos muito. 

 

Roberta: É, Artur, e quando você falou ali atrás que doar também é uma forma de ativismo, pensei aqui que a gente não pode excluir de maneira alguma da equação aquilo que a gente doa até indiretamente.

 

Artur: Belo gancho, Roberta! Tá falando dos produtos sociais, acertei? Então vamos ouvir qual novidade a Duda Schneider trouxe esta semana pra gente?

 

Duda Schneider: Oi gente, eu sou a Duda Schneider e esse é o quadro Merchan do Bem. Infelizmente, esse é o nosso último quadro, estamos aqui nos despedindo da temporada, mas ainda tem tempo de trazer mais uma dica. 

 

Os cadernos Acaia, criados pelo artista Elisa Bracher, que fundou o projeto a partir do seu ateliê e realiza atividades sócio educativas na zona oeste de São Paulo, a publicação refaz o percursos de duas décadas que levou ao desenvolvimento de um modelo próprio de educação e acolhimento baseado no fazer como forma alternativa de abordar o conhecimento e na escuta de qualidade.

 

Toda a renda arrecadada com a venda é revertida aos projetos educativos que atendem crianças e adolescentes da favela do Nove, da Linha e do Conjunto Habitacional Cingapura Madeirite, próximos da CEAGESP em São Paulo. Para adquirir as publicações e saber mais sobre esse projeto acesse www.acaia.org.br ou no Instagram @bateliescola.acaia. Espero que tenham gostado e até a próxima, pessoal!

 

Artur: A gente fala com tanta frequência de encontrar uma causa do coração que acho que não tinha um tema melhor pra encerrar essa temporada do nosso podcast. Já foram 80 episódios e esperamos que tenhamos muito mais. Vamos dar uma pausa depois desse, mas voltamos com tudo em breve para seguir na discussão. 

 

Primeiro tivemos o ótimo exemplo do Marcelo e como ele se envolveu com a causa animal, é um exemplo que, às vezes, a causa que escolhe. Depois, o Leandro veio mostrar como as empresas podem dar match com as causas que mais têm a ver com a identidade delas.

 

Roberta: Sim, e aproveito aqui pra falar sobre mais um importante projeto que está prestes a ser (re)lançado, que nos enche de orgulho e deu muito trabalho para fazer, mas a melhor maneira de encerrar o podcast é lançando ele, que é o Descubra sua Causa. 

 

Criado em 2018 pelo IDIS, o Descubra sua Causa é um teste online que aproxima as pessoas de causas sociais, incentivando a doação para organizações da sociedade civil e a realização de trabalho voluntário. Tipo Buzzfeed para descobrir qual ativismo combina com você. 


Em 2021, o IDIS firmou uma parceria com o Instituto MOL para reformular o teste e os resultados, entendendo a necessidade de atualizar o conteúdo de acordo com as transformações recentes da sociedade brasileira.


A nova versão do teste apresenta 10 resultados possíveis de causas e novas indicações de formas de engajamento (pessoas para seguir, livros e séries, ações para começar a agir hoje, entre outras). Uma vez que você descobre sua causa, você consegue continuar acompanhando ela, por newsletter e redes sociais. Um trabalho incrível e de muita pesquisa de toda a equipe. Nós temos a pretensão, não pequena, de ser como a astrologia, que, ao invés de perguntar o signo, vamos perguntar a causa; ao invés de ver o mapa astral, você vai ver a newsletter da sua causa e saber o que fazer e pensar sobre ela. 

 

Em breve você vai ouvir falar dele em nossos canais. Fiquem ligados. 

 

Artur: E, Roberta, para dar um gostinho. Qual é a sua causa?

 

Roberta: Artur, nesse teste nós colocamos 10 possíveis respostas, como um baralho de tarô, quase um oráculo. Eu tirei A Luta, que é a causa ligada a igualdade, luta por respeito e oportunidades para populações minorizadas, como mulheres, negros, LGBTQIAP+, refugiados, povos originários, enfim. Mas, eu tenho um ascendente importante na causa A Semente, que é voltada à proteção e cuidado das crianças.

 

Artur: Ah, não esquece de mandar lá no nosso Instagram @institutomol ou no nosso perfil do LinkedIn aquela história de como você encontrou uma causa pra chamar de sua! E, se você ainda não tá seguindo a gente, aproveita a deixa! Nunca é tarde pra começar! Vou te dizer, você vai encontrar muita coisa boa por lá!

 

Roberta: Infelizmente a nossa temporada já está chegando ao fim. Mas não estamos dando adeus não, é no máximo um até breve. Inclusive, se tiver sugestões de temas de episódio pras próximas temporadas ou estiver a fim de elogiar ou criticar nosso podcast, eu juro que a gente lê tudo e responde pra você. Basta mandar mensagem pro email contato@institutomol.org.br!

Artur: A gente vai encerrando por aqui, mas você fica de olho, viu, que logo mais a gente volta com uma nova temporada quentinha do Aqui Se Faz, Aqui Se Doa! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev. A produção é de Leonardo Neiva, o roteiro final e direção é de Vanessa Henriques e Ana Ju Rodrigues, e o design da Glaucia Ribeiro, do Instituto MOL. As colunas são de Rafaela Carvalho e Duda Schneider, da Editora MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!

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