Transcrição EP #81: Tendências da filantropia em 2023

ROBERTA: Salve salve nação, doadora! 
Está no ar o seu podcast preferido sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior.

Aqui, você fica por dentro sobre as conversas do momento na filantropia com informações, pesquisas e entrevistas com importantes personagens desse setor no Brasil. Tudo de forma clara, tranquila, objetiva e sem lero-lero. Eu sou a Roberta Faria,

 

ARTUR: E eu sou Artur Louback. E semana, sim, semana não, você vem aqui com a gente em um novo episódio, com informações para te inspirar a doar com propósito, com consciência, com o coração. Afinal,

 

ARTUR E ROBERTA: Aqui se faz, Aqui se Doa

 

Trilha podcast

 

ROBERTA: Olá, estamos de volta! Estavam com saudades?

Ai, a gente também, mas como vocês notaram, a gente não deixou vocês completamente sozinhos nessa nossa pausa. Vocês ouviram a nossa série, Descubra sua Causa? Ela está aí no feed, logo abaixo desse episódio. São 10 programas curtinhos sobre cada uma das causas do nosso teste Descubra sua Causa. Cheio de vozes inspiradoras de representantes de ONGs e de ativistas que vão te deixar muito emocionado, vale a pena ouvir.

 

ARTUR: E depois de duas temporadas com 80 episódios de trabalho, hein? Ô aqui tem trabalho, viu, gente? A gente tá retomando aqui a nossa terceira temporada com algumas mudanças. Algumas você já notaram, a primeira que eu já citei na abertura do programa, é que agora a gente tem novos episódios semana, sim, semana não. Afinal você vai notar que a gente tem mais conteúdo e já adiantando temos aqui um novo quadro, o “Pra Saber Mais”, em que a gente traz dicas para estender a conversa durante a semana. Você vai precisar de mais tempo para a explosão que a gente vai fazer na sua cabeça. E vocês notaram também outra coisa que é a nova identidade visual belíssima, linda, da nossa ilustradora Gláucia Ribeiro, talentosíssima…

Enfim, vocês vão curtir aí algumas novidades que a gente tem, mas uma coisa que não muda são os papos relevantes e as entrevistas fundamentais que a gente tem com o pessoal aqui do meio da filantropia, da cultura de doação.

E para dar as boas-vindas a 2023 a gente abre a temporada falando sobre tendências da cultura de doação. A gente vai bater um papo com a Ana Flávia Godoy cofundadora da rede Conexão Captadoras. Mas antes eu queria que a Roberta desse, assim, um spoilerzinho. Roberta, que é uma grande figura do setor, né? Quais são as promessas para esse novo ano.


ROBERTA: Bom, como tudo mais na vida, a filantropia, o setor da cultura de doação e o terceiro setor também são influenciados pelo contexto econômico-social, as mudanças na cultura de comportamento, etc. Então a cada ano a gente tem aí uma tentativa de previsão de futuro, olhando esse grande contexto para tentar dizer quais são as tendências do que vem por aí, claro que é exatamente um exercício de futurologia, então, às vezes a gente erra 100%, mas de vez em quando a gente acerta… e para fazer esse episódio nós consultamos vários relatórios nacionais e internacionais, para entender e selecionamos o que faz sentido para a realidade brasileira e, buscar quais são as tendências com o maior potencial de nos apoiar nos desafios, que a gente sabe não são poucos, não só neste ano, mas como em qualquer ano.

Bem, em comum de todos os relatórios que a gente consultou a gente pode citar alguns temas. Um é a criação de fundos para emergências, porque as emergências estão cada vez mais frequentes, especialmente com as mudanças climáticas. Isso é um baita desafio, como lidar a cada dia com um novo desastre?

Outro ponto é o uso da Inteligência Artificial na comunicação, na automatização de processos, algo que está mexendo com todos os setores de todos os mercados.

 

A gente pode falar também de um tema que está em todas, que são as carteiras digitais, para facilitar as doações no mundo que, cada vez mais, não tem boletos, não tem dinheiro em papel e não tem nem cartões de crédito de plástico.

E ainda nesse caminho digital, a gente tem que falar da importância da segurança de dados num mundo, onde mesmo com regras para cookies, como a gente viu o ano passado, em publicidade digital com as LGPDs da vida, discussões sobre regulação das redes sociais, ainda assim é muito frequente o vazamento de dados e o incômodo também do cidadão digital com o quanto a gente está exposto o tempo inteiro, na internet.

Quero falar um pouquinho, Artur?

ARTUR: não, eu acho que você pode continuar, nosso decano aqui…

ROBERTA: Bom, a gente pode citar também um tema recorrente que é o uso da rede LinkedIn para captação de recursos e para relacionamento com doadores pessoa física e jurídica. E esse tema, rendeu tanto pano para manga que a gente vai fazer um episódio especial sobre isso nessa temporada. 


Outro assunto que está em alta é a volta dos eventos físicos no formato híbrido. Não só presencial, mas também juntando com digital para se adaptar às mudanças de estilo de vida dos doadores, que vários deles podem não estar mais fisicamente, no mesmo local que a organização. 


E ainda nesse mundo digital, a gente tem o chamado Game for Good, que é o uso dos E-sports, dos videogames, dos jogos online para promover eventos beneficentes e arrecadação de recursos.

E temos ainda um tema maior, mais filosófico e muito importante para conversar que é a de decolonização da filantropia e que vai exigir cada vez mais coerência entre a doação feita ou recebida e as práticas de doadores e também das organizações do terceiro setor para quebrar a lógica capitalista, racista, elitista, machista, capacitista,  etc, que ainda está fortemente presente na forma como a filantropia se organiza,  mesmo tendo as melhores das intenções.

 

ARTUR: Bom, só uma coisa que humildemente gostaria de falar, que é um pouco de um território que eu domino e circula mais um pouquinho, e que tá no relatório do IDIS: prestação de contas. Algo que, em tempo, está sendo cada vez mais criticado e exigido das organizações, principalmente muitos casos associados a esses Fundos Emergenciais. As organizações estão precisando se dedicar mais aos seus relatórios de prestação de contas e buscar as soluções como no IDIS, que trabalha ali com o padrão SROI de prestação de contas. Isso está sendo cada vez buscado e exigido, para tangibilizar o uso dos recursos, né?

E tem também a chamada crise do curso de doação. Assunto que tá tirando o sono de muita organização. Se você não sabe o que é isso ainda, a gente explica: se o custo de vida da população aumenta, as pessoas têm menos recursos para contribuir com causas sociais, com suas causas do coração, né? Seguir menos o coração quando bolso aperta muito, e, ao mesmo tempo, para as organizações fica mais caro promover ações de aquisição de doadores.

 

Nas tendências publicadas pela revista Forbes americana, a crise econômica e os esforços que as organizações têm feito para manter suas bases de doadores apontam para a importância das Fundações Privadas, que podem ser uma força estabilizadora nesses momentos de muita flutuação do mercado. Ou seja, quando fica muito caro para as pessoas doarem, dada a crise econômica, é fundamental o papel das Fundações Privadas e das grandes empresas para equilibrar essa conta. Ou seja, a filantropia vinda das grandes empresas é sempre importante, mas mais ainda nesses momentos de crise do custo de doar.  Afinal, muitas das Fundações, das grandes empresas ou das grandes famílias tem renda baseada, ou em Fundos filantrópicos que se beneficiam dos momentos de juros altos, dos momentos de ativação do rentismo ou tem a renda advinda de empresas privadas. E crescem, junto com os lucros.

ROBERTA: Ainda nas publicações estrangeiras, a Charist Digital aponta para as doações flexíveis como uma tendência, e é exatamente o que o nome diz: doações livres de regras que permitam aos doadores que alterem e mudem os valores e a recorrência daquela doação a depender das circunstâncias, de forma simples, muitas vezes em um clique.

 

E, em um mundo onde a uberização do trabalho é crescente, é preciso se adaptar a falta de renda fixa estável dos doadores, como foi possível em gerações passadas, proporcionando aí oportunidades mais constantes e acessíveis para doar.

Outra coisa são as constantes mudanças sociais, com novas causas chegando à luz e novas emergências toda hora, que também pedem mais possibilidades de contribuir de acordo com o calor do momento.

ARTUR: E por falar em emergências, as tendências apontam não só as estratégias para lidar com a crise econômica, mas chamam a atenção também para crise ambiental e todas as suas consequências. A Johnson Center for Philanthropy, organização norte-americana que publica anualmente dados sobre o setor filantrópico, trouxe em seu relatório “11 tendências da filantropia de 2023”, um alerta sobre o que eles chamam de filantropia do desastre. 


Os eventos climáticos extremos, estão cada vez mais recorrentes, parece cada vez mais certo que estão associados às mudanças climáticas. Então a tendência é que sigam acontecendo, se avolumando e sendo cada vez mais recorrentes, não só lá fora, mas aqui no Brasil. E a gente tem um exemplo mais recente no litoral norte de São Paulo, agora de 2023, que demandou uma grande mobilização da sociedade e do poder público para mitigar os estragos provocados nas vidas de centenas de famílias.

A questão é: como uma organização pode estar, ao mesmo tempo, preparada para emergências, mas não perder de vista sua estratégia de longo prazo e como os grandes doadores, como empresas, os grandes Fundos, organizam sua estratégia de doação sabendo que vão ser cobradas a comparecer mais incisivamente nesses momentos de crise de emergência? Será que a permanência dos Fundos Emergenciais, como a gente viu durante a pandemia, é um caminho, é uma tendência? A gente vai falar mais sobre isso na entrevista do episódio com a Ana Flávia.

ROBERTA: E não tem como falar em tendência sem falar em tecnologia, que sempre está aí trazendo novidades e possibilidades. O Chat GPT e suas muitas variantes foram um dos assuntos mais falados no começo desse ano e já tem até material para ensinar as organizações do terceiro setor a tirar mais proveito dessas ferramentas. E ela é uma possibilidade para automatizar processos e para produzir mais conteúdo, com menos gasto de tempo de recursos. O que é sempre essencial, a gente sabe como as estruturas são pequenas e sobrecarregadas.

Tem também, ainda nesse universo da tecnologia, as carteiras digitais que facilitam tanto a entrada quanto a saída de recursos com agilidade. A gente tá falando, é claro, de PIX, de pagamento por aproximação, de transferência de dinheiro por WhatsApp, de cashback digital social, de investimentos digitais com impacto positivo e muitas outras possibilidades da digitalização bancária. Além, é claro, dos já conhecidos botões de doação. Enfim, aplicativos como os aplicativos de delivery, de bancos e marketplaces, que deram tão certo que a expectativa agora é ver esse recurso se tornar padrão em qualquer e-commerce, aplicativo ou serviço,  adicionando sempre a experiência do consumidor a essa camada ESG, essa facilidade de doar sem grandes fricções e, claro, sem sair do bolso das empresas, porque quem doa é o consumidor.

ARTUR: E ainda falando de tecnologia, uma tendência interessante que aparece em vários os relatórios é o chamado Game for Good, que para gente que é mais tiozinho, isso nada mais é do que uma forma de arrecadação de doações por meio dos jogos online, né? Esses jogos acabam arrebanhando uma comunidade grande de jogadores que podem optar por acrescentar esse fator filantrópico nesse conjunto de pessoas que estão ali reunidas por um interesse em comum. E há várias experiências de comunidades de gamers que adicionaram botões de doação nos seus streams ou que pedem doações nos seus canais. E eu lembrei aqui de outra coisa que não tem a ver com a nossa geração, mas que é bem interessante, que foi um episódio que a gente teve aqui sobre uma fã do BTS que falou sobre o movimento de filantropia associada ao K-POP, né?

Todos eles muito bem-vindos e é uma tendência bem interessante.

ROBERTA: Enfim, são muitos temas então a gente recomenda que você fique com a gente nessa temporada, porque o que a gente não falar hoje, a gente vai falar nos próximos episódios. E agora vamos chamar a nossa entrevistada. 

 

Eu conversei com a Ana Flávia Godoy, que é cofundadora da Rede Conexão Captadoras, que reúne as captadoras de recursos mulheres, maioria no setor, e um grande grupo. Ela também é consultora Sênior do Fundo Baobá e da AFG consultoria, que presta serviços aí para diversas organizações do terceiro setor no Brasil.

 

ROBERTA: Oi Ana. Tudo bom querida? Que prazer ter você com a gente hoje aqui nesse primeiro episódio de 2023 do nosso podcast querido. 

 

ANA FLÁVIA: Obrigada, Roberta! É um prazer muito grande estar aqui com vocês. Me sinto muito honrada e com uma expectativa grande por essa nova edição, por esse novo momento do podcast, e fico muito feliz de estar aqui com você mais uma vez. Tomara que a gente possa aí contar um pouquinho da nossa visão, e das nossas expectativas para 2023. A gente tá olhando para captação de recursos, para filantropia, para as organizações sociais, para a superação dos desafios, o que a gente enxerga, para esse ano e pros próximos tempos.


ROBERTA: Perfeito Ana. A gente sabe que as questões financeiras e a crise do curso de doação não poupam ninguém, né? Nem o país, nem o bolso do nosso doador. O custo de vida tem sido um dos principais motivos de preocupação, né? A gente vê a inflação subir, diminuir o ganho real das pessoas menores, e óbvio que isso atrapalha o planejamento do próprio doador ou de quem vai doar. E fica como desculpa, que nem sempre é desculpa, às vezes é uma necessidade real também de não poder doar por falta de dinheiro mesmo.  Como isso vai afetar o trabalho e/ou tem afetado o trabalho na captação de recursos? E quais as possíveis estratégias para a gente lidar com esses desafios?

ANA FLÁVIA: O que tem acontecido muito claramente é que cada vez mais a gente tem que trabalhar muito mais para alcançar a meta que a gente se coloca, né?
Eu acho que a meta financeira, digamos, né? Uma necessidade financeira de você manter a sua causa, sua missão viva, ela permanece a mesma. Ou ela se amplia independente da queda ou não das doações dentro das organizações sociais por conta desse momento que você descreveu. Então, o que eu acho que tem acontecido e, na verdade, o que tem acontecido e a estratégia que as organizações têm feito e adaptado, é ampliar e diversificar suas fontes de financiamento.
Cada vez mais então olhar para as perspectivas que antes não se olhava e olhar para inovação, olhar para a tecnologia, olhar para outras formas de captação que não eram tradicionalmente contempladas por aquela organização. E muitas vezes, efetivamente, o trabalho tem sido ampliado muito mais do que você trabalhava.
Ou seja, hoje você trabalha mais para alcançar, talvez da mesma maneira, né? Então hoje você tem um trabalho muito maior de prospecção de busca de novos doadores, você tem um trabalho muito mais ampliado, porque o ticket tem se reduzido, né? 


Então, aquela a captação que você poderia fazer você teria um valor, né? Hoje você teria uma redução efetivamente por conta desse cenário todo e por conta do cenário que se coloca. Então, eu vejo um trabalho muito mais ampliado diante disso.

Acho que aquela velha máxima que a gente sempre fala, ela cada vez mais se torna mais urgente para as organizações, que é se profissionalizar a captação. Ela não é um caminho paralelo da organização, ela é um meio, ela é o core de realização, ou seja, ela precisa estar dentro do planejamento estratégico daquela organização, ela precisa ser a realidade para que de fato a missão alcance, né?

 
Costumo dizer que ela é a ponte necessária para que a missão aconteça. Então, ela não pode ser pensada paralelamente a toda discussão programática ou a toda discussão de realização da sua missão, ela precisa na centralidade do planejamento estratégico da organização. 

 

O que muda claramente é o tamanho do esforço. Cada vez mais ele precisa ser maior, então o tamanho, por exemplo, também aquelas organizações são capazes de quanto. Quais são as pessoas e os times dedicados efetivamente a captação? Qual é o tempo de dedicação? A gente tem conversado muito com as organizações das consultorias e nas formações sobre qual é o tamanho do time dedicado exclusivamente ao tempo da prospecção e do relacionamento e da manutenção dos doadores, né? Eu acho que essa é a grande questão que a gente sempre discutia e o tempo atual se coloca que isso se torna cada vez mais urgente,


ROBERTA: A gente tem visto como perspectiva para 2023 também, a ideia da diversificação dos Fundos Filantrópicos. Nas suas mais diversas formas, fundos temáticos, fundos emergenciais, fundos patrimoniais que eles demonstram. Enfim, uma nova forma de financiamento recorrente. Como você vê essa tendência?  É um modelo que ainda deve ganhar mais força no Brasil? 

 

ANA FLÁVIA: Essa gestão colaborativa e os fundos filantrópicos que são essa união da destinação de patrimônios para fins de interesse público têm realmente ganhado cada vez mais força. Tanto na modelagem dos Fundos temáticos, quanto dos Fundos emergenciais, que ganharam vitrine e muita importância durante a pandemia… E os fundos patrimoniais, que são essa visão de financiamento de longo prazo de uma organização, de uma causa, de uma missão. 

 

ROBERTA: Inclusive com grana internacional, né? Que agora tem uma perspectiva da gente do Brasil voltar a fazer parte da economia mundial com uma posição melhor do que passou nos últimos quatro anos. O Fundo Amazônia voltar a receber dinheiro da Europa é uma amostra disso… a gente de repente voltar a receber recursos que passaram os últimos anos longe por conta das questões políticas no Brasil…

 

ANA FLÁVIA: Totalmente. A captação internacional, ela tem voltado a ter bastante expressividade nesse sentido, inclusive as fundações americanas ou até europeias que nos últimos tempos tinham perdido o interesse em financiar as causas sociais no Brasil tem de fato visto com outros olhos voltar a apoiar o Brasil nesse sentido né? Mas sim, esses atores internacionais estão de fato olhando para essas modelagens e como uma modelagem que tem uma segurança financeira e jurídica muito importante. Então vejo como uma perspectiva, sim, de crescimento, mas eu vejo com muito cuidado, porque tem um grande aceno nessa questão, na minha visão, que são as organizações, para que elas possam de fato ter maturidade. No fundo patrimonial elas precisam ter uma saúde financeira para isso, né? Tanto patrimonial, ele fala da sua sustentabilidade financeira de longo prazo, ele fala do amanhã, ele fala de uma rentabilidade. E primeiro lugar ele fala de um custo de captação de longo prazo, né?  Então você tem toda uma estruturação do fundo, uma captação que você olha, pelo menos, por alguns anos até que você estrutura efetivamente o fundo. E você precisa de uma saúde financeira no hoje para você falar do amanhã. Os financiadores perguntam muito sobre isso nas reuniões de captação: “Mas como é que tá o seu hoje? Você tem condições de estar pensando no fundo do patrimonial?” Porque o fundo patrimonial não é para salvar o seu orçamento do mês seguinte.

 

ROBERTA: De forma nenhuma. Ele é intocável, né? Tem que estar muito estável para poder viver de renda…

 

ANA FLÁVIA: Exatamente, Roberta. Então, os financiadores que entendem dessa modelagem ou quando vocês explicam essa modelagem, eles compreendem. Eles vão te fazer essa pergunta. E mais do que nunca a gente volta para ao que falei anteriormente, que é o profissionalismo, a estruturação e entendimento da captação no centro do seu planejamento. Você tem essa saúde financeira? Se sim, está tudo bem você investir e olhar para o seu amanhã, porque é disso que a gente fala o tempo todo: para você investir numa sustentabilidade de longo prazo. Então tá certíssimo isso. Mas, além disso, tem os próprios financiadores em fundos temáticos ou fundos emergenciais para causas emergenciais como tem acontecido e acredito que vão acontecer. Ainda mais pelas crises que têm vindo pela pelas últimas chuvas no Brasil, pelas crises das mudanças climáticas, enfim que são os financiadores se unindo também em fundos, aplicando recursos para apoio. Então, sim. É uma tendência que está acontecendo, mas mais do que nunca para você aplicar para esses pontos, de novo: como você se posiciona estrategicamente como um parceiro ideal para receber recursos, né? Então acho que é uma tendência super forte, é uma tendência que está puxando a régua do que já deveria estar acontecendo há muito tempo, que é essa centralidade da captação no planejamento da organização.

 

ROBERTA: Ana, outro ponto que a gente viu, praticamente todos os relatórios é a questão da equidade racial. Da diversidade, da inclusão de modo geral, como um ponto de interesse tanto pro terceiro setor, quanto para os financiadores, as organizações… Têm avançado nesse aspecto? Em criar projetos mais inclusivos, em conseguir tá sendo mais fácil captar recursos para essas causas? Você acha que isso está acontecendo de fato? Ou tá só no discurso ainda?

ANA FLÁVIA: A visão que eu tenho é que está acontecendo de fato. A equidade racial precisa ser a grande força motriz de mudança. A gente tem uma dívida histórica e a gente precisa olhar para isso de forma muito séria, profunda e estratégia. Então eu tenho trabalhado, por exemplo, junto ao time do Fundo Baobá desde 2019. Então, desde o assassinato do George Floyd nos Estados Unidos, que a gente vê essa mudança e esse fluxo financeiro vindo muito claramente, mas, ao mesmo tempo, o que a gente discute muito, e a vinda do Giovanni Harvey como diretor-executivo do Baobá e antes, com a Selma Moreira, também como diretora-executiva, as funções eram muito claras: como é que esse dinheiro vem com profundidade de mudança, né? Como esse dinheiro vem apoiar? Pelas causas, movimentos, organizações, pessoas, lideranças?  Ele vem com profundidade de mudança clara?  Mudança do doador, mudança na mentalidade, na forma e na execução também do seu modo operante não pode ser só para aliviar consciência ou para cumprir um termo de acordo, né? E tem que vir acompanhado, desse trabalho interno também, né? A gente tem muitas conversas e que se eu falar que eu só tô reproduzindo Giovanni, mas o racismo só muda de lugar. Ele fala isso para o nosso time sempre, o Giovanni sempre tem falas poderosíssimas, assim de ensino para o nosso trabalho e o quanto a gente precisa ser esse movimento de mobilização de recursos, mas para muito além de mudança na sociedade efetivamente. Então, muitas vezes para que a gente possa ser essa mudança sistêmica, a gente vai ter que saber falar não para o dinheiro. Algumas vezes esse dinheiro não vem com olhar de mudança. A gente vai ter que saber falar não. E o Fundo Baobá é o fundo hoje, sem medo de dizer isso, é, enquanto um fundo de captação de recursos efetivamente, ele é uma das melhores performances financeiras hoje no Brasil em termos de captação. Ou seja, que prospecta, que vai atrás, e a gente tem, inclusive, dito não para muitas oportunidades de parcerias que chegam, porque elas não vêm com esse olhar de mudança efetivamente.

ROBERTA: Incrível isso! E isso é tema para outro episódio. Queremos saber mais sobre isso…


ANA FLÁVIA: Muito difícil aprender a falar sobre isso, mas a gente fala, a gente aprendeu a falar. Mas tem uma outra coisa, que há dois anos vi em uma discussão nos Estados Unidos, mas pouco ainda no Brasil, mas agora eu tô vendo no Brasil e a gente na Conexão Captadoras. A gente tem muito intuito de provocar isso, né? Ontem, no Dia Internacional das Mulheres, a gente colocou o pé internacional. Foram 200 e poucas pessoas na nossa movimentação internacional, de todos os países e uma das coisas que lá fora se discute muito é que a gente precisa aprender a discutir diversidade, inclusão, equidade racial, não é só na nossa área programática, mas na nossa governança. Ela no nosso dia a dia. Então, assim como as organizações estão olhando isso também dentro da sua governança? A gente está se desafiando muito. Por exemplo, na nossa governança, como a gente olha para a diversidade de pessoas, de pensamentos, de raça, de tudo dentro de quem governa as organizações? Essa é uma discussão que há uns dois anos eu via nos Estados Unidos, e eu praticamente não vi aqui no Brasil, né? Acho que um protagonismo que a gente pode ter na Conexão é trazer essa discussão de fato. Porque eu quando falo organizações, eu falo das organizações como um todo, né? Acho que nas empresas essas coisas já acontecem, mas quando as organizações do terceiro setor, nesse sentido, eu acho que a gente precisa olhar para dentro também, porque como a gente já tem esse olhar na nossa área programática. Como é que a gente olha também nas equipes de captação, no nosso conselho, nas equipes programáticas, como é que a gente consegue ter esse olhar diversos também para garantir uma mesa diversa também com quem governa e pensa a causa, né? Acho que é um pouco isso.


ROBERTA: Perfeito, Ana! E falando de outra tendência… é impressionante a velocidade com que as novas tecnologias têm chegado e se instalado no cotidiano, né? Nesse começo do ano não se falou em outra coisa além da Inteligência Artificial escrevendo textos, criando imagens, fazendo vídeos… uma coisa que parecia impossível dois anos atrás e que rapidamente vai se aperfeiçoando. Em que pontos você já vê a filantropia usando novas tecnologias para aprimorar processos dentro do setor, reduzir custos? Isso chega a mais pessoas, está acompanhando essa mudança no mundo lá fora ou ainda estamos muito presos aos modos tradicionais de fazer as coisas? O que você acha?

 

ANA FLÁVIA: Você vai me fazer pensar muito sobre o tema… e quem sabe discutir mais sobre isso. Eu queria falar muito empiricamente sobre a minha visão e não dando uma visão mais institucional… Mas bora lá, eu acho que a gente ainda tem muito a avançar aqui no Brasil, na minha visão, sabe?  Quando a gente perceber isso pode avassalar a gente sem a gente estar preparado para isso. Eu não sinto que a gente está se preparando, mas é um pouco a minha visão, então, talvez eu possa estar me sentindo fora do debate ainda das tecnologias, mas eu acho que isso está vindo como uma tendência muito forte, por exemplo, quando eu fui na última vez aos Estados Unidos, tinha uma coluna da conferência só sobre tecnologia e todas as tecnologias de realidade virtual ou então, por exemplo, experiência da doação fazendo óculos de realidade virtual, né para saber como a causa por dentro. E quando cheguei aqui, as organizações estavam muito distantes desse debate. Sinceramente a gente precisa descer esse debate no Brasil, pro Brasil profundo e olhar para isso. E eu tenho medo desse tema avassalar as organizações profundas, sérias que estão ali na base realizando transformação social e que sejam de fato atropeladas por isso. Então, será que é a nossa responsabilidade levar esse debate a elas ou prepará-las, ou como isso de fato está sendo pensado? Você me fez refletir sobre isso… E, ao mesmo tempo, pensar que temos um Brasil onde cai a chuva e a gente perde conexão na Internet. Tem muita coisa para resolver nesse meio de campo, mas acho que trazer esses grandes especialistas para debater com a gente. E especialistas que eu falo é das organizações sociais mesmo, que já estão usando e que já tem isso no seu dia a dia e que incorporaram. Como é que isso aconteceu? Como é que isso acelerou os processos de captação? Acho que você provocou, como a gente tem acesso a esses especialistas que estão lá fora e que estão usando? Acho que poderia ser uma grande forma de apoiar e de despertar esse insight de quem faz e porque, se a gente fala o tempo todo aqui a gente faz adaptação e a gente aprende na troca com outro. Então, porque não proporcionar esse momento de troca para aprender com quem tá fazendo né?

ROBERTA: Mais um episódio aí para gente fazer também aqui. Bom, voltando ao modo tradicional de fazer as coisas, um dos grandes baques da pandemia foi essa longa pausa nos eventos presenciais e que sempre foram essenciais para a captação de recursos. Seja naquela organização pequenininha que faz a festa junina na igreja e dali tira boa parte do seu recurso, seja pras grandes organizações que faziam lá seus jantares, né? Chiquérrimos, leilões, etc. Agora que os eventos retornaram, você vê alguma mudança em relação a eles? O presencial já vem sendo reinventado, está mais valorizado, por que as pessoas estão com saudade? Ou não? Agora precisa ser híbrido? Precisa fazer mais para atrair as pessoas a sair de dentro de casa, né? Tem alguma ideia que você tenha visto por aí, que seja boa de juntar o presencial e o digital? Ou vai continuar sendo tão importante assim para as estruturas de captação ou realmente a força maior vai migrar para o digital. O que você acha?


ANA FLÁVIA: Então, a gente no Brasil não tem uma pesquisa. Aliás, o terceiro setor precisa muito de pesquisa ainda, né? De olhar os nossos números pra poder ter dados concretos para não falar muito empírico e pouco concreto… Então, eu vou falar do meu sentimento aqui e acho que as pessoas que estão ouvindo podem até ter uma experiência diferente…É, o híbrido. A realidade está sendo híbrida. Tem do retorno, tem o desejo do retorno.  As formas de retorno tem tido sucesso, sim, porque as pessoas têm o desejo de se reunir, o desejo de, então, por exemplo, quem tem um programa de embaixadores, quem tem programa de doadores, que não se encontravam…Tive hoje uma reunião como organização que eu faço consultoria que a gente tem o programa de embaixadores e até então estava programado uma reunião, um workshop com eles online e o pessoal solicitou presencial. Então, assim eles querem o presencial, eles pediram esse encontro, eles pediram esse momento que também tem mais custos, né? Enfim também tem Impacto assim, mas bem ou mal também facilita o relacionamento, o engajamento mais do que a gente sentia… Ao mesmo tempo, teve organizações que eu trabalho ao longo da pandemia, foram umas duas ou três, que a gente inventou o processo do zoom mensal apresentando alguns beneficiários aos doadores. Também funcionaram, e vão permanecer. Outra coisa que também que eu acho que para mim, assim captadora de prospecção de empresas, eu acabei de voltar de Portugal de uma rodada de reuniões com captadores de Portugal e com algumas que estavam lá a coisa da prospecção é online já acontecia, né? E a gente sabe e todo mundo que trabalha na captação de empresas sabe que até 2019 captar com empresas era viajar para São Paulo, ponto. Não importava onde você estava.
E aí, uma coisa que a gente ganhou e ganhou é que eu acho independente das pessoas estarem voltando aos escritórios os escritórios híbridos que é conseguir negociar fechar e contratos pela internet, ou seja, conseguir fazer reuniões com as pessoas pela internet. Claro que tem um campo de confiança que precisa criar. Quem é a sua organização, que documentação você apresenta, que a apresentação você faz na organização, né? Como é que você está presente nas redes sociais ou no site para que tenha criação desse campo de confiança. Então eu tenho uma série de coisas por trás: quem é o seu conselho? Enfim, para também não é aquela ligação fria completamente não é? Não é isso, mas essa relação na internet ela veio para ficar, não são necessariamente eventos, mas é a prospecção online. Agora dos eventos, eu digo que é híbrido… agora para te falar de pesquisa, tem uma pesquisa nos Estados Unidos que fala que efetivamente: o híbrido é o melhor caminho. Se eu não me engano, 45% das respondentes dessas organizações disseram que os doadores desejam que o online permaneça por conta de reinvenção de modelo de vida. A vida se reinventou também para os doadores. O doador, pensando nas pessoas, na nossa vida e da vida também do doador, por exemplo, talvez ele esteja tendo mais tempo para família ou ter repensando modelagens. Ele tá trabalhando de casa, então, eu acho que é um pouco isso, Roberta. Ter a oportunidade do híbrido, porque as pessoas também estão ávidas pelo encontro. A gente, no Conexão Captadoras, desde que a gente nasceu sempre foi tudo online. E a gente está pensando entre 2023 o encontro presencial. Porque a gente teve dois momentos presenciais, em São Paulo e outro na Holanda, que foram fantásticos. A  percebeu que precisa fazer com que as pessoas se encontrem presencialmente com as aberturas que aconteceram né? 

ROBERTA: Ana, muito obrigada querida. O papo foi ótimo, nosso tempo passou voando, mas valeu a pena cada pergunta. Um norte bom para gente esperar dos próximos meses. Muito eles estão de casa para fazer né olhando para as nossas.

 

ANA FLÁVIA:  Ah, obrigada você, Roberta, pelo convite. A gente tem um desafio muito grande na Conexão Captadoras, então também fica um convite para você e para gente pensar mais assuntos em sinergia. Obrigada.

 

ARTUR: Excelente conversa para a gente abrir a temporada, né? Eu acho que é muito legal abrir com as tendências, a gente aponta para o futuro e tal.
Aquela aquele suspiro de esperança, né, com algumas coisas que a gente trouxe aqui e uma novidade que a gente tem também que aponta para o futuro é o nosso quadro “Pra Saber Mais”, porque ele vai falar o que a nossa audiência vai fazer nos próximos dias, que podem consumir, das coisas que a gente vai indicar aqui.


ROBERTA: Pois é, a gente escutou vocês, viu ouvintes? A gente fez pesquisas aí de sobre como foram as primeiras e segunda temporada e a gente entendeu que vocês queriam mais profundidade e menos frequência. Então é isso que a gente entrega agora, porque ouvinte pediu e a gente entrega. A gente vai fazer esses episódios, que são quinzenais, mas cheios de material extra para lição de casa, para se aprofundar no assunto, para se apoiar, né, em outros conteúdos para conseguir botar em prática o que você ouve aqui. E as indicações da semana vão começar com os relatórios do setor. Agora aqui do Brasil, que vão ajudar a desenhar os caminhos da cultura de doação para 2023. E tem o da ABCR, a famosa Associação Brasileira de Captadores de Recursos, que já passou aqui pelo podcast várias vezes e que destaca a relevância de temas como antirracismo, combate à fome, as mudanças climáticas e a educação dentro do terceiro setor. Este ano, também falou de formas de captação que estão em alta, apontando a importância de pensar fora da caixa para se encontrar novas fontes de recursos. Vale a pena você ler, o link está aqui na descrição do episódio.

 

ARTUR: Outro parceiro nosso IDIS, também lançou recentemente o documento “Perspectivas para filantropia no Brasil 2023”, com dicas aí para investidores sociais e para construir iniciativas bem sucedidas para inspirar novos investimentos no setor. O link também está aqui na descrição.

ROBERTA: E para quem lê em inglês ou não tem medo de enfrentar o Google Translate para traduzir, a gente vai deixar no blog do Instituto MOL, vários outros relatórios de tendências internacionais que a gente usou como referência para produzir esse episódio. Se você quiser conhecer mais das fontes.

 

ARTUR: Bom, já que a gente tá falando aqui das pessoas versadas no inglês, a gente tem uma indicação aqui que é sobre o Game for Good, que eu falei um pouquinho atrás aqui… que são os jogos para o bem ou alguma coisa assim. Um podcast, que é em inglês, que fala sobre essa tendência. Ele é produzido pela Sales Force e apresenta a forma de como os jogos online estão cada vez mais conectados com as causas sociais. Embora seja em inglês, o conteúdo também está disponível no YouTube e dá para botar legendas em português, a gente vai colocar aí na descrição do episódio o link. Entra lá que é bem legal.

 

ROBERTA: E, para encerrar, outra dica é conhecer um pensador da filantropia contemporânea que está sacudindo crenças e influenciando muita gente: o Edgar Villanueva, ativista da filantropia e autor do livro, ainda não traduzido para o português, Decolonizing Wealth, ou Decolonizando a Riqueza. O Villanueva é estadunidense, de ascendência indígena, e propõe uma verdadeira quebra na maneira como se faz filantropia, inspirada nas práticas dos povos originários norte-americanos.  Nas palavras dele, é preciso trocar a lógica capitalista imperialista de controle absoluto, das pessoas e dos processos, por uma nova visão baseada em confiança. Ele fala em filantropia regenerativa radical para reparar os males da colonização, mudar as narrativas sobre poder, e unir as pessoas pelo bem comum. Como diz a Joana Mortari, conselheira do Instituto MOL e cofundadora do Movimento Por Uma Cultura de Doação, que me apresentou o Villanueva, precisamos parar de falar apenas em doar mais, e questionar a qualidade das doações. O livro em inglês pode ser comprado no formato ebook na Amazon, mas a gente separou também uma lista de vídeos do Villanueva no Youtube, com legendas automáticas em português, para você conhecer melhor as ideias dele,

 

ARTUR: Bom, e outra forma de se manter informado sobre as tendências e discussões sobre a cultura de doação, é acompanhar este humilde podcast! Estamos preparando muitos temas quentíssimos para tratar nesta terceira temporada, e estamos sempre de olho nas novidades. 

 

ROBERTA: Vem muita coisa boa por aí mesmo! Então você que continuar aqui com a gente ainda vai ouvir falar muito sobre LinkedIn, eventos híbridos, produções culturais e outros assuntos que serão super relevantes para cultura de doação em 2023. Mas isso fica pros próximos encontros. E, enquanto você espera o nosso próximo episódio, aproveita para deixar a sua avaliação, um comentário aqui na plataforma de streaming e também nas nossas redes sociais. É @institutomol no Instagram e também no LinkedIn.

 

ARTUR: Então é isso! Tava com saudade até de falar os créditos, que é quase um trava língua.. Mas vamos lá! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior. Esse episódio teve produção do Leonardo Neiva. O roteiro final e direção são de Ana Ju Rodrigues e Vanessa Henriques, arte da Glaucia Ribeiro, do Instituto MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. 

 

RELATÓRIOS DE TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS CONSULTADOS PARA A PRODUÇÃO DO EPISÓDIO:

 

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