Transcrição EP#61 – Como ser influencer da doação?

Roberta: Cada vez mais, pessoas são impactadas por influenciadores digitais na hora de fazer uma compra. Entre 2020 e 2021, o mercado de influência cresceu 43% no mundo e, segundo a Forbes, deve chegar a 25 bilhões de dólares em 2022. De acordo com uma pesquisa da Nielsen, um anúncio feito por um influenciador é lembrado por 66% dos consumidores, enquanto anúncios tradicionais são lembrados por apenas 36% das pessoas. Mas será que só empresas podem se utilizar dessa estratégia? E se as organizações sociais começassem a se valer mais da fama e da credibilidade de influenciadores para divulgar sua causa e arrecadar recursos? Será que esse empenho todo vale a pena? Para ajudar a gente a falar sobre influenciadores no mundo das doações e sobre outras estratégias de arrecadação, recebemos hoje André Soler, fundador do projeto SP Invisível, e também conversamos com Ruy Fortini, fundador da Doare.

 

Roberta: Eu sou Roberta Faria.

 

Artur: Eu sou Artur Louback.

 

Roberta: E o poder dos embaixadores para arrecadar doações é o tema de hoje no…

 

Roberta e Artur: Aqui se Faz, Aqui se Doa!

 

Roberta: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do InfoMoney.

 

Artur: O assunto de hoje é o poder dos influenciadores nesse mundão sem porteira que é a internet. Há tempos as empresas utilizam o marketing de influência para vender seus produtos e conquistar clientes. Segundo pesquisa do Mediakix nos Estados Unidos, 71% dos profissionais de marketing dizem que os clientes conquistados com o marketing de influência são de qualidade superior aos obtidos com outros tipos de marketing. Já um estudo do Instituto Qualibest no Brasil mostrou que 76% dos internautas brasileiros já compraram algo ou utilizaram algum serviço indicado por um influenciador digital. E você, Roberta já comprou ou utilizou coisas dos seus influencers favoritos?

 

Roberta: É, acho que servem pros dois lados, né? Já comprei e divulguei coisas porque um influenciador mostrou e também já deixei de gostar de marcas porque influenciadores, de quem eu não gostava, estavam indicando.

Bom, realmente é uma influência muito grande. Para você ver como isso está consolidado no Brasil: o estudo “Quem Te Influencia”, da Youpix e da Mindminers, mostrou que 86% dos brasileiros afirmaram já saber o que essa expressão significa. Na verdade, agora “quando você crescer”, todo mundo quer ser influencer, né? é o que dizem os jovens…
E 44% dos entrevistados disseram que confiam na opinião dos influenciadores sobre produtos e marcas. O que faz a gente pensar se essa força desses marketeiros digitais poderia ser usada mais pelas OSCs brasileiras.

 

Artur: Roberta, muitas organizações sociais e entidades já usam personalidades em suas estratégias de divulgação, mostrando que as causas sociais podem e muito se aproveitar do poder dos influenciadores. Desde os anos 1960, por exemplo, a Unicef conta com embaixadores famosos que levam a missão da entidade pelo mundo. Atualmente, eles contam com o apoio de nomes de peso como Leo Messi, David Beckham e Serena Williams. No Brasil, atores como Bruno Gagliasso, que tá em todas, né? O mundo todo passa por Bruno Gagliasso, e Lázaro Ramos, que o mundo que não passa por  Bruno Gagliasso, passa por Lázaro Ramos, eles representam a Unicef também.

 

Roberta: E, nos últimos tempos, a gente viu muitas celebridades mobilizando suas redes de dezenas de milhões de fãs na internet em prol de uma causa. Em janeiro de 2021, quando o Brasil acompanhou assustado as notícias sobre as crises nos hospitais de Manaus, que não tinham oxigênio suficiente para os pacientes com Covid, muitos famosos fizeram doações e tentaram mobilizar seus fãs, como Whindersson Nunes, Paulo Coelho e Tatá Werneck.

 

Artur: Mas não são só as celebridades que podem influenciar pessoas a doar. Existe uma estratégia de arrecadação chamada peer-to-peer, ou entre pares, que se vale do poder de influência de qualquer pessoa disposta a apoiar uma causa, mesmo que ela não tenha milhares ou milhões de seguidores. É o famoso zap da família, que você dá uma boa dica e o pessoal embarca. E quem conta essa história pra gente é a Rafaela Carvalho.

 

Rafa CarvalhoOi, pessoal! Bora pra mais um glossário?

 

A doação peer-to-peer, ou doação entre pares, é um tipo específico de estratégia de arrecadação de doações e se vale do poder da internet e das redes sociais. Nela, são os próprios apoiadores engajados que, em nome da entidade, ativam suas redes de contato e pedem doações. Isso pode ser feito com páginas pessoais de doação e existem empresas que oferecem esse tipo de ferramenta como serviço.

 

A doação entre pares permite ao apoiador personalizar a campanha e por isso é tão poderosa, dando um tom pessoal e mais verdadeiro. Ele pode, com suas próprias palavras e histórias, explicar à sua rede de contatos porque aquela causa e entidade importam e por que a doação é bem-vinda. 

 

É uma estratégia altamente benéfica para as OSCs que, assim, conseguem atingir pessoas para além da sua lista usual de contatos, esses influenciadores do bem vão ativar uma lista rede contatos específicas deles, com família, amigos, colegas de trabalho e pessoas que talvez nunca tenham escutado de uma determinada entidade antes. E aí, esse método gera uma confiança e uma credibilidade maior, porque é a palavra de alguém falando que a Ong é bacana, legitimando todo o trabalho que ela faz.

 

Para usar essa estratégia, as entidades devem lembrar que é preciso dar suporte aos arrecadadores, fazendo com que se sintam seguros em representá-las. É importante fornecer, por exemplo, textos prontos sobre a causa e a entidade, resultados que ela já apresenta, vídeos e fotografias de ações, e gráficos e templates, tudo isso para que possam ser usados em mensagens para serem compartilhadas por esses apoiadores específicos. 

Faz sentido? Eu espero que sim! 

 

Eu sou a Rafaela Carvalho e toda semana ajudo a desvendar um termo importante para a cultura de doação. Até mais!

 

Artur: Muito obrigado, Rafa! Sempre esclarecendo nossa vida, obrigado por trazer mais esse conceito detalhadinho pra gente. O conceito de doação entre pares é realmente muito interessante. É o poder de influência de pessoas que não são famosas, mas cheias de vontade de compartilhar seus valores, seus conhecimentos com sua rede de contatos. Inclusive, alguns analistas apontam que essas pessoas, chamadas de micro influenciadores, são uma tendência do mercado de influência para 2022 e para os próximos anos.

 

Roberta: Incrível. Usar o que sempre se fez, na verdade, entre os ativistas, de passar o chapéu, usando as ferramentas da internet pra aumentar um pouco mais a sua escala, o seu poder de convencimento. E tem muitas ferramentas online que ajudam a doação entre pares. No Brasil, um ótimo exemplo de quem auxilia entidades e pessoas a captarem doações com o apoio de suas redes é a Doare. A Doare é um fintech de doações online que trabalha com tecnologia, estratégia e comunicação para o terceiro setor desde 2012, com foco na captação de recursos online. Ela ajuda organizações a criarem páginas personalizadas de doação para seus embaixadores. A gente conversou com Ruy Fortini, fundador da Doare, sobre o uso de influenciadores e micro influenciadores em campanhas de doação. Confira.

 

Transcrição: De fato, existem muitas oportunidades para as ONGs captarem doações através de influenciadores. Isso também pode ser uma excelente oportunidade para os influenciadores. No passado, as ONGs buscavam celebridades, influenciadores com o objetivo de eles se tornarem padrinhos da organização. O que acontece é que muitas vezes esse relacionamento acaba esfriando com o tempo, pois não é pensado um planejamento com ações recorrentes dentro de uma visão de médio e longo prazo. Na minha opinião, no geral, o retorno desses apadrinhamentos de forma institucional acabam gerando pouco resultado e engajamento. Se eu fosse gestor de uma ONG hoje em dia e buscasse trabalhar com influenciadores, eu buscaria fechar uma parceria para uma campanha específica, com elementos claros e expectativas em relação ao compromisso esperado do influenciador dentro da campanha. Por exemplo, é possível combinar uma quantidade mínima de postagens dentro de um período e já enviar o material de divulgação da campanha para ser utilizado ou remixado pelo influenciador. E, se o influenciador topar, também é possível que ele crie uma página de arrecadação personalizada, na qual ele vai ter uma meta a ser atingida. O interessante para as ONGs trabalharem com essa estratégia de influenciadores é poder atingir novos públicos, públicos totalmente diferentes, que provavelmente não atingiria com seus canais de divulgação e base de contatos. Ou seja, quebrar a bolha. 

 

Artur: Isso que o Ruy comentou é muito importante. Parece mais produtivo fechar uma parceria específica com um influenciador e até criar uma página de doação do que manter uma figura de embaixador famoso sem haver metas claras. E ele também falou sobre o uso das campanhas peer-to-peer com doadores engajados e que não são mega famosos.

 

Transcrição: O que a experiência de estar trabalhando com campanhas de embaixadores no modelo peer-to-peer me mostrou ao longo dos últimos três anos foi que é melhor que a ONG concentre esforços para ter uma grande quantidade de fundraisers, que sejam pessoas comuns entre aspas do que influenciadores celebridades. Imagina só você receber um pedido de doação de um amigo ou parente no seu WhatsApp de forma íntima e pessoal, pedindo para você doar para uma ONG. Você não acha que teria muito mais chance de você doar através desse pedido do que apenas ver o post de um influenciador nas redes sociais? Pois é, essa para mim é uma das principais tendências no mercado de doação brasileiro. Temos visto um grande crescimento desse tipo de participação nas campanhas de captação de recursos. É uma forma simples e poderosa de engajar apoiadores com a causa e ganhar escala na divulgação. Se você está ouvindo isso e quer arrecadar doações para uma ONG que você apoia, eu recomendo que você faça o seguinte. Primeiro, visite o website da ONG, a página de doação, e verifique se eles têm alguma funcionalidade de embaixador, aniversário solidário ou campanha personalizada. Caso tenha, crie sua campanha através desse formulário oficial. Normalmente, é um cadastro super simples e você sai com sua página de campanha personalizada, pronta em minutos. Mas é claro que não é toda ONG que tem uma plataforma de doação que tem esse recurso. Então, caso a ONG que você deseja apoiar não tenha esse recurso de embaixador, eu recomendo que você entre em contato com ela e veja qual a melhor forma de você arrecadar recursos para ela.

 

Roberta: Olha que dica incrível. Quem está ouvindo isso e sempre quis se engajar em alguma entidade para ajudá-los a arrecadar recursos, a hora de começar é agora. Entra lá no site da Doare e comece a sua página.

 

Artur: E a gente trouxe outro convidado para falar sobre o poder dos influenciadores e dos apoiadores altamente engajados que mobilizam suas redes por uma causa. É o André Soler, fundador do SP Invisível, um projeto que desde 2014 conta histórias de pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo e que promove diversas ações para auxiliá-las. Alguns números impressionantes: já foram 1.780 histórias contadas, até o momento da gravação desse programa, 34 mil pessoas atendidas e 102 ações sociais realizadas.

 

Roberta: Eles são um sucesso nas redes sociais e tem muitas dicas pra contar. A Vanessa Henriques, nossa produtora, fez essa entrevista com o André, que você ouve agora!

 

Vanessa: André, seja muito muito bem-vindo ao nosso podcast, obrigada por ter aceitado nosso convite.
Eu queria que você começasse falando um pouquinho da história do SP Invisível, como vocês começaram esse projeto, qual era o objetivo. Dar esse panorama pra quem está nos ouvindo.

 

André: Bom, Vanessa, obrigado pelo convite. Pra mim é uma honra estar aqui, sou ouvinte do podcast, então sei o valor que tem e da minha responsabilidade aqui, porque eu sou exigente também nos podcasts que eu escuto e esse é um muito legal, então eu sei da responsabilidade.
Então, eu me chamo André Soler, sou co-fundador da SP Invisível junto com o Vinícius Lima e a SP Invisível começou quando a gente, na nossa igreja, a gente tava com um grupo de adolescentes e o pastor propôs que a gente fotografasse tudo aquilo que era invisível na cidade de São Paulo. Então, a gente saiu nesse dia pra fotografar e dessas nossas fotos e de nossos amigos, vieram muitas fotos, vieram fotos de idosos caminhando na rua, vieram fotos de faixas de pedestres e tinham muitas fotos de pessoas em situação de rua. E, passando um tempo, eu e o Vinícius olhando aquelas fotos a gente percebeu que os mais invisíveis eram essas pessoas em situação de rua. Daí então, a gente propôs de ir pra rua e começar a fotografar a população em situação de rua e começar a coletar a história delas, porque a gente percebeu que, mais invisível que elas, eram as histórias delas e daí surge o SP Invisível. Logo nesse começo a gente já se desvencilhou da igreja, então desde lá a gente não é um projeto religioso, e a gente seguiu daí pra frente com essa proposta de contar a história da população em situação de rua. E pra nossa surpresa, a sociedade começou a abraçar muito isso, através do Facebook e do Instagram, “pô, eu tenho curiosidade de saber como é a história dessa pessoa”, “o que essa pessoa passou hoje” e a gente começou a singularizar e trazer a individualidade de cada um e começou a ser muito legal a experIência de contar essas histórias. Esse é o começo da SP Invisível quando a gente ainda nem se denominava um projeto social, né? Hoje a gente se coloca como Ong porque a gente não faz só isso, a gente também contribui com essa população, a gente tem assistentes sociais na rua e estamos aí lutando por essa causa.

 

Vanessa: Poxa, incrível. E vocês tem números super bacanas, superlativos que a gente até já colocou aqui no começo do episódio e fazem um trabalho que precisa ser visível, né? então acho que combina um pouco com o tema da conversa que a gente tá falando sobre como influenciar doadores, como influenciadores e pessoas comuns podem ser embaixadores de causas, como eles podem levar essa causa mais adiante, como podem fazer algo sobre isso, né? Então queria que você falasse sobre, como vocês já trabalharam com influenciadores, quem são as pessoas que multiplicam as mensagens de vocês?

 

André: Olha, a gente sempre acreditou e acredita na população em geral, sabe? Não só nos influenciadores, mas nos nossos seguidores como um todo. Os que eu mais acredito mesmo são os nossos seguidores que estão ali, porque a gente percebe a paixão que cada um tem pela causa e o quanto isso é importante na vida de cada um. Tive muitas experiências também com influenciadores, foram experiências legais, mas todas foram muito pontuais, porque eu acho que, às vezes são pessoas muito ocupadas e tem muitas coisas pra fazer e isso acaba passando despercebido por a rede social ser um espaço de trabalho. E quando eu vejo ali, os nossos seguidores interagindo eu sinto isso muito mais caloroso, sabe? eu sinto essas pessoas que carregam essa bandeira e que querem ver a SP Invisível crescer e se sentem parte disso, sabe? Eu até fiz uma enquete outro dia no meu Instagram porque o que acontece é que eu recebo muita mensagem assim: “ah, conheço vocês desde lá o Facebook e assino vocês há cinco anos, sete anos”, então é muito legal isso, assim, eu acredito que são essas pessoas que são os nossos maiores embaixadores.

 

Vanessa: Sim, com certeza! E em quantidade, são muitos. Então, às vezes a gente perde um pouco esse foco, a gente olha pra quem tem milhões de seguidores e não pensa nos milhões de seguidores que a gente já tem espalhados, né?

 

André: Sim!

 

Vanessa: E a gente ouviu nesse episódio também um pouco do Ruy, da Doare que falou um pouco da experiência de ter páginas de doação, de você ter ali um espaço pra você realmente se sentir quase um influenciador, um embaixador, de ter uma forma de doação direta, em que a pessoa escolheu a organização e passa para os seus contatos, pros seus familiares. Eu queria que você contasse um pouquinho como que foi essa experiência e se puder compartilhar com a gente resultado, o que vocês acharam de trabalhar essa micro-influência

 

André: A gente, no inverno do ano passado, foi a primeira vez que a gente testou o sistema de embaixadores, né? a plataforma de embaixadores que é uma plataforma onde cada um cria sua própria landing page e dessa landing page você dispara e compartilha com a sua rede. Então, essa ideia dos micro influenciadores, em vez de pegar um grande influenciador, pegar vários micro influenciadores, e todos nós somos micro influenciadores, né? E a gente testou essa plataforma e a gente foi muito bem. A Doare ficou super feliz com os resultados, a gente também, a gente não esperava que isso fosse tomar a proporção que tomou, mas a gente arrecadou nessa campanha de inverno, a gente arrecadou acredito que R$ 1,5 milhão e um terço dessa arrecadação foi só dos embaixadores. Então, os embaixadores tiveram um papel muito significativo nessa nossa arrecadação, em todo esse engajamento que a gente criou.

Acho que nosso desafio aqui, como SP Invisível é fazer as pessoas se sentirem parte, se sentirem parte da SP Invisível e acredito que como embaixador, é uma forma de as pessoas se sentirem parte. Então, quando alguém decide ser embaixador, acho que essa pessoa tá dando um voto de confiança pra SP Invisível que é muito grande, porque ela tá não só doando pra SP, mas ela tá também pedindo pros amigos dela, então isso é um voto de confiança. É algo que se constrói e que cada organização que faz isso tem que saber a responsabilidade que isso tem porque aquela pessoa tá dando a credibilidade que ela tem pra você e falando: “olha, eu vou convidar os meus amigos pra doarem vocês”, então isso é muito sério, sabe? E a gente tem um papel aqui do outro lado, como organização tanto de deixar muito claro tudo que tá acontecendo, tudo que vai acontecer com esse dinheiro. A gente tem um papel como organização de insumos, material que comprovem o que a gente tá fazendo o tempo todo, então a gente vai alimentando nossos embaixadores, dizendo “olha, isso foi o que a gente fez hoje, isso é o que a gente vai fazer amanhã”. O nosso sucesso dos embaixadores, dessa campanha dos embaixadores, eu acredito que foi por conta disso, porque a gente levou muito a sério cada um deles e foi chamando eles pra se engajarem, né? A gente criou comunidades pra que cada um fizesse alguma coisa, a gente criou estratégias pra que eles se sentissem parte mesmo. Então foi um pouco disso o que a gente fez.

 

Vanessa: Muito legal. E pensando em termos de captação de recursos mesmo, muitas correntes veem essas doações entre pares, essa doação que chega num pedido mais exclusivo, que vem de uma rede mais privada como um dos futuros da captação de recursos pro terceiro setor, justamente por trazer esse elemento da confiança, trazer esse elemento da proximidade. Você vê esse um recurso que vai crescer? Pensando um pouco em futuro, você acha que esse é um recurso importante pra captação e pra vocês e pode ser pra outras organizações também? Um pouco de vender esse peixe… Vale a pena investir na captação entre pares?

 

André: Com certeza!  Essa captação entre pares vai crescer muito porque quando essa pandemia começou, eu comecei a pensar muito na digitalização das doações, né? na forma as pessoas iam se comportar, se dedicar e querer ser um doador. Como as pessoas querem ser doadores num momento pandêmico? O nosso desafio sempre foi colocar aquela pessoa dentro da ação, sem que ela saísse de casa. Então, eu falei pra nossa equipe, eu criei um termo até pra isso, que é nosso doador Netflix. E o que é nosso doador Netflix? é aquela pessoa que quer contribuir, mas não quer sair de casa e como fazer essa pessoa contribuir e assistir e participar e dentro da casa dela tudo isso acontecer, sabe? Então esse é nosso desafio aqui. O desafio que a gente tem como organização: nem sempre ele tem disponibilidade pra sair, dependendo até da cidade onde ele está, então a gente não podia considerar o fato de que essa pessoa tinha que estar naquele lugar, a primeira vista a gente teve a percepção e a visão que o desejo dela por doar estava acontecendo, ele estava acontecendo na palma da sua mão, então a Sp Invisível fez com que os doadores se sentissem doando, participando, engajando, sendo voluntários na palma da mão deles. Então, esse foi um processo que teve toda uma estratégia de documentação, de documentar todo nosso processo, tudo que a gente tava fazendo e foi muito legal porque a gente conseguiu engajar muito as pessoas assim. Eu acredito que muito disso é o futuro, e se a gente for falar de metaverso, o que a gente tem ali como desafio é criar um mundo onde cada um possa emergir e emer gir em sensações, porque as nossas sensações hoje são muito limitadas, né? na frente de uma tela. Então, o doador, ele quer fazer parte e às vezes ele não consegue ir até o espaço onde tá acontecendo a doação, então como levar essa experiência de doar pra quem tá em casa e não consegue estar no lugar onde a ação, o dinheiro dele está sendo investido?

 

Vanessa: E acho que vocês trabalham super bem, né? Enfim, acho que a essência do trabalho de vocês é justamente colocar uma lente no sentido de ampliar, né? de mostrar o que não tá sendo falado, o que não tá sendo visto e acho que nisso as redes sociais têm um papel muito importante. No Instituto MOL a gente fala muito sobre o quanto cada um pode transformar a realidade com a sua doação, né? então acho que é um pouco isso, eu não tô lá em campo, mas eu doo pra alguém que está e se vê assim, você também acaba sendo o embaixador dos doadores na hora em que você tá ali colocando a mão na massa. Então é muito legal ver esse poder multiplicador mesmo, como a gente consegue ir muito mais longe com o apoio de bastante gente que acredita na mesma coisa que a gente.

 

André: Uma das perguntas que a gente tem de responder é: como que eu faço, como que a minha avó, que doou pra minha campanha, que hoje ela não consegue sair de casa se sinta naquele lugar onde a instituição está levando praquela pessoa pra quem a minha avó decidiu doar quando ele depositou, passou o cartão dela. Então é isso, as pessoas tem que se sentir lá. Eu penso sempre isso: como que a minha avó vai estar sendo representada ou ter a sensação, se sentir naquele lugar entregando, esse é o nosso desafio como instituição.

 

Vanessa: Perfeito! André, a conversa tá muito boa, mas infelizmente a gente precisa se encaminhar pro fim e eu queria puxar agora, aqui, a nossa Rodada Relâmpago, que são cinco perguntinhas pra você responder o que vier na sua cabeça, bate-pronto. Podemos começar?

 

André: Bora, vamos nessa! Tô preparado

 

Vanessa:  Qual foi a sua doação mais recente?

 

André: A última coisa que eu doei foi um moletom pro Marcos, que fica debaixo da ponte, próximo ao shopping Bourbon.

 

Vanessa: Qual é a sua causa do coração?

 

André: Minha causa do coração é a população em situação de rua

 

Vanessa:  O que você doa e que não é dinheiro?

 

André: Eu espero que muita coisa, eu espero que eu doe muito conhecimento, solidariedade, transformação na vida das pessoas. Eu espero que eu doe compaixão, amor ao próximo, eu espero que eu esteja sempre doando o que eu tive o privilégio de ter muito dentro da minha casa, eu espero que eu esteja sempre doando coisas que não só o meu dinheiro, o meu recurso financeiro, mas também meu conhecimento e meu amor pelo mundo e pelas pessoas.

 

Vanessa:  Cite uma organização ou um projeto que você admira e/ou apoia:

 

André: Quero indicar Fluxo sem Tabu, uma organização que eu ajudo já deve fazer um ano que eu tenho visto crescer, que eu tenho acreditado, que eu aposto muito, desde que eu conheci a Luana, que me procurou e desde lá eu abracei o Fluxo e falei: o que eu posso fazer por vocês? e tenho contribuído muito e é uma ação que eu gosto muito. Gosto muito também do Instituto Novos Sonhos, que fica próximo da Cracolândia e quero também citar uma organização que não é tão pop que é a Associação pela Vida, APV, é uma instituição lá no Rio de Janeiro que não é popular, mas eu acredito extremamente nessa organização. Ela não é uma organização moderna que tem aqueles gifs saltitantes e uma rede social com fotos com flash, mas é uma organização que também eu ajudo muito, ajudo na comunicação deles quando eu tenho tempo e assim, se você tá aqui escutando, entre no Instagram deles, faz uma doação pra eles, eu acredito muito no trabalho que é feito lá. É uma Ong no meio de uma comunidade e o representante dessa Ong abriu de coração, então se você tá aqui, não sabe pra quem doar esse mês, porque eu espero que você doe todo mês, então eu falaria pra você doar pra Associação pela Vida.

 

Vanessa:  Boa, perfeito! Várias opções, várias dicas, dá pra doar pra todas, melhor ainda, né? E pra fechar, eu queria que você falasse qual que é o seu argumento vendedor, matador, pra convencer alguém que tá na dúvida se deve ou não doar pra uma organização ou pra SP Invisível, qual que é a sua linha de raciocínio?

 

André: Bom, eu tenho três critérios pra doar pra alguma organização. O primeiro deles é se tem pessoas sérias à frente dessa organização, se quem está gerindo, cuidando dessa organização tem credibilidade, tem uma vida dedicada a isso, se essa pessoa realmente coloca todos seus esforços pra isso e acredita nessa causa. Então, esse é meu primeiro critério, e o segundo critério é essa organização documentar tudo que ela faz, então ela mostrar o que ela faz, ela tá ali entregando sua doação e você tá vendo aquilo acontecer, porque doar é um ato de confiança, é você dizer, eu confio nessa pessoa ou essa organização a quem estou destinando meu recurso. E o meu terceiro critério é olhar a clareza no site dessa organização, se está mostrando como que essa organização destina esse dinheiro, como que esse recurso é utilizado, quando eu vou fazer minha doação se está claro ali como que esse meu recurso vai ser usado. Então esses são os três critérios que eu uso pra observar quando vou doar.

 

Vanessa:  Perfeito! André, muito obrigada por essa conversa, por todas as reflexões  que você trouxe, pela sua participação. Fique a vontade pra voltar e obrigada mesmo por esse papo, por vir falar mais com o pessoal aqui sobre o projeto e conhecer você um pouquinho melhor.

 

André: Bom, eu queria muito agradecer a oportunidade, como eu falei esse é um podcast que eu gosto, que eu admiro, que eu escuto, então pra mim é uma honra tá aqui. Eu vejo muitas pessoas compartilhando conteúdos riquíssimos que agregam muito pra minha jornada como empreendedor social e se vocês quiserem acompanhar o meu trabalho, tudo que eu faço, meu Instagram é andre.soler e o da Sp Invisível, sigam lá, a gente tá em várias redes sociais, Instagram: spinvisivel, YouTube, Tik Tok, Twiter, por lá você pode saber de tudo e dar uma conferida no nosso site também porque lá tem muita informação legal pra você estar mais por dentro de tudo que a gente já fez e tá fazendo.

 

Vanessa: Perfeito! A gente vai deixar todos esses links na descrição do episódio pra ninguém perder nada.

 

Roberta: Muito massa essa conversa com o André, né Artur? E agora a gente vai pra nossa colunista, a Duda Schneider, que traz pra gente toda semana, no Merchan do Bem uma ideia de produto social que tem impacto e que gera doação pra alguma causa. Vamos ouvir a dica de hoje?

 

Duda: Oi gente, eu sou a Duda Schneider e esse é o nosso quadro, Merchan do Bem. A dica de hoje é a parceria entre Mindset – C&A e a Re-order, uma collab em prol dos cuidados com os oceanos. O primeiro lançamento da collab são camisetas de algodão mais sustentável, estampadas com frases do movimento e com parte da renda revertida para Ong Eco-Garopaba. Eles também promoveram em Itajaí uma ação de limpeza da praia, na qual 45 quilos de lixo foram retirados e serão reciclados também pela Ong Eco Garopaba. E elas são só as primeiras ações do movimento que pretende se estender pelo menos por todo o ano de 2022. Faça parte você também usando a hashtag #oceansxx e garantindo sua camiseta no site ou no app, é só dar uma busca no site da C&A por Re-order que você vai encontrar, e corre, porque a edição é limitada e já está esgotando!

Por hoje é isso, pessoal. Espero que tenham gostado e até a próxima!

 

Artur: Roberta, hoje a gente conversou sobre muita coisa legal, né? Não que nos outros programas não sejam, mas esse é um tema que há algum tempo a gente já queria colocar aqui no programa. É muito legal ver que estratégias como a doação entre pares podem surfar na onda dos influenciadores digitais e aproveitar isso para levar adiante uma causa e enriquecer a cultura de doação no Brasil. Imagina só, brincadeiras à parte, se a gente cria um Monark da causa social, né? Enfim, esses caras, como o Flow, o impacto que tem nas causas sociais, o impacto que isso pode gerar…

 

Roberta: Verdade, Artur. E eu acho que até mais do que famosos, tem tanta gente por aí engajada em causas e ansiosas para ajudar mais, para botar a mão na massa… O fato delas terem uma oportunidade de mobilizar suas redes e buscar doações para organizações é incrível. Há muito potencial a ser explorado nesse sentido e tem muitas histórias interessantes pra inspirar. O importante é pensar nisso, assim.. ah, mas eu não tenho seguidores… A influência digital vai muito além de famosos fazendo “publi post” no Instagram. Dá para mudar o mundo também. E você não precisa ter um milhão de seguidores para fazer a diferença.

 

Um bom exemplo disso, que a gente já trouxe aqui no programa é a União BR, e mais centenas de pessoas que fazem esse movimento que usa o poder de grupos de WhatsApp e essa ideia de que todo mundo conhece alguém, que  conhece alguém, que conhece alguém que pode ajudar as coisas acontecerem. Inclusive, nesse momento eles estão trabalhando com campanhas pra ajudar refugiados brasileiros da guerra da Ucrânia, lá na Ucrânia levando doação de alimentos e de outras coisas e enfim, é sempre com essa ideia de trabalhar dentro da sua rede.

Outra história que é interessante, que eu vi acontecer durante a pandemia foi a TETO, aquela organização que ajuda a construir pra pessoas em situação de extrema vulnerabilidade e quem mora em grandes cidades com certeza já foi abordado num farol por um grupo de jovens usando a camiseta da TETO, animadíssimos recolhendo doações em moedas, e durante a pandemia, esse tipo de mobilização que é muito feita por universitários, voluntários da TETO não tava podendo ser feita e passou a ser feita via Instagram com esses mesmos jovens colocando ali nas suas redes sociais convidando as pessoas a doar, com micro metas de arrecadar por exemplo 500 reais, mil reais, e que são metas bem factíveis quando você pensa em acessar toda a sua rede. Eu acho essas histórias incríveis e muito inspiradoras pra qualquer pessoa, seja uma organização, seja um doador pensando em como fazer mais.

 

Artur: Um movimento que eu acompanho bastante, por outras atividades na vida é o do social commerce, que tem muito a ver com esse movimento dos influenciadores digitais, que é basicamente você usar rede espalhada em prol da venda de produtos, na China é o grande negócio do varejo hoje em dia, inclusive recentemente eu acho que teve um recorde quebrado aí, que eu acho que eles conseguiram em um dia, uma rede de varejo chinesa, em um dia conseguiram fazer mais de um bilhão de dólares com sessões de social commerce, com vídeos, lives, então é como se estivessem em um shop tour com figuras com redes próprias e se você levar isso pro impacto social, imagina você conseguir fazer em um dia de lives de influenciadores pedindo apoio a organizações sociais, a projetos sociais, que impacto gigante isso não poderia gerar. Imagina só no futuro, por exemplo, um Mc Dia Feliz num formato de live shop, ou algo desse tipo, o impacto que não pode ser gerado, né? Então, eu acho que esse poder multiplicador da internet puxado por redes democráticas de influência, cada um com as suas redes e essas redes tendo um impacto maior do que essas redes centralizadas pode ser muito grande mesmo, assim, mas aí cai nos valores das pessoas, até que ponto essas pessoas estão dispostas a comprar tudo que os influenciadores indicam, estão dispostas a doar também ou apoiar um projeto social que o influenciador indica? Essa é a grande questão que a gente tem que entender e ver como que a gente pode lidar.

 

Roberta: É, pras organizações passa também, claro, a escolher pessoas que realmente tenham ressonância com a causa porque, senão, não funciona, não cola com os seguidores dela também. Mas, a decisão final também é essa, né? a gente poder falar fora da bolha, quando a gente consegue acessar rede de influência, rede de contatos e valor al… seja um micro influenciador ou um grande influenciador, é sua chance de falar pra além de quem já é seu doador e transformar a doação em um assunto, né? que é sempre nosso sonho dentro desse movimento de virar um assunto pra bater um papo no elevador, até.

 

Roberta: Por hoje é isso pessoal, mas o papo continua nas nossas redes sociais, exerça a sua influência: siga e indique nosso perfil no nosso Instagram @institutomol e no LinkedIn, e também na sua plataforma de áudio preferida, onde você está escutando esse episódio. Assim você não perde nenhuma novidade!

 

Artur: Semana que vem estamos de volta! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do InfoMoney. Esse episódio teve produção de Guilherme Dearo. O roteiro final e direção é de Vanessa Henriques, que também fez a entrevista principal dessa edição, a arte é de Glaucia Ribeiro, ambas do Instituto MOL. As colunas são de Rafaela Carvalho e Duda Schneider, da Editora MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até a próxima!

 

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