Transcrição EP #64 – Garantindo futuros: a importância do grantmaking

Artur: A gente já vem falando faz algum tempo sobre o interesse das empresas em criar projetos sociais ou dar apoio a organizações do terceiro setor que tenham iniciativas bacanas nas mais diversas áreas. Pois o ano de 2020, lá no início da pandemia, foi muito importante para essa atuação. Pela primeira vez na série histórica do censo Gife, o volume doado por empresas e organizações pra projetos de terceiros foi maior do que o usado em iniciativas próprias aqui no Brasil. Essa prática, aliás, está se tornando cada vez mais relevante e tem até um “nomão” em inglês: se chama grantmaking.

 

Traduzindo, significa financiar projetos sociais já existentes em vez de criar novos que a instituição vai acabar operando por conta própria. Na prática é considerar que você vai ter um impacto maior apoiando projetos do que criando projetos dentro do instituto, da empresa ou da fundação… Nosso entrevistado de hoje, o Richard Sippli, é coordenador de relações institucionais do Movimento Bem Maior e sabe bem do que estou falando. Ele é um dos responsáveis dentro da organização pelo contato e gerenciamento dessas parcerias, com a meta de fortalecer o ecossistema filantrópico no Brasil.

 

Eu sou Artur Louback

 

Roberta: Eu sou Roberta Faria

 

Artur: E o grantmaking é o tema de hoje no…

 

Jogral: Aqui se Faz, Aqui se Doa!

 

Artur: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev e divulgação do Infomoney.

 

Olha, pode ser que a importância do grantmaking não fique clara logo à primeira vista para quem ouve falar do assunto. Afinal, por que pode ser considerado mais indicado ajudar um projeto que já existe do que criar algo próprio?

 

Roberta: Artur, essa é uma dúvida comum, e queria lembrar aqui que não existe certo nem errado. Tanto criar novos projetos quanto apoiar organizações podem ter resultados importantíssimos para a sociedade civil. Mas o grantmaking traz sim algumas vantagens que são bem relevantes pro terceiro setor. Ele pode fortalecer as organizações civis e ajudar a valorizar o aprendizado de quem já vem trabalhando com aquele tema há muito tempo.

 

Artur: Por outro lado, em alguns casos, o esforço e investimento necessários para criar um projeto do zero poderia render mais frutos se colocados em organizações que já estão organizadas nessa luta. Com o auxílio da experiência desse pessoal e uma estrutura já montada, eles devem ter uma visão mais clara de quais as principais necessidades e pontos de atenção.

 

Roberta: Isso que a gente está falando não é da boca pra fora. Trata-se de uma tendência fortíssima identificada dentro do terceiro setor nas últimas décadas. Tanto que o IDIS, o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, escolheu como a primeira de suas tendências da filantropia pra 2022 a frase “mais grantmakers, menos projetos próprios”.

 

Artur: Como a gente falou, isso se fortaleceu muito com a pandemia, que trouxe a necessidade urgente de apoio. E isso demoraria muito mais se todo mundo decidisse criar projetos próprios. No ano de 2020, as instituições entregaram R$2,5 bilhões nas mãos de outras organizações, um crescimento de 105% em relação ao Censo GIFE anterior, de 2018.

 

Roberta: Essa novidade veio para romper uma tradição de criar projetos próprios que é muito enraizada na filantropia aqui do Brasil. Até porque o grantmaking já era bem forte há algum tempo em outros países, como os próprios Estados Unidos, mas só vem ganhando tração aqui nos últimos anos. Ainda assim, no mundo todo a pandemia chamou mais atenção para essa prática e fez com que empresas e organizações revissem suas políticas pra melhor. A maior luta agora é pra impedir que muitas delas retornem aos seus hábitos anteriores.

 

Artur: Com essas informações, a gente já entende um pouco melhor todo esse cenário atual e o básico do grantmaking. Agora vamos ver o que esse conceito significa de fato? Por que ele se diferencia do patrocínio, da doação institucional? Conta pra gente, Rafa!

 

Rafa Carvalho: Uma das coisas que é preciso deixar claro é que os grantmakings se diferenciam de doações comuns. Eles são repasses de recursos financeiros que acontecem de forma estruturada e muitas vezes constante ao longo de um determinado período. Eles geralmente são oferecidos em apoio a OSCs, mas podem ser feitos para outras instituições como museus ou centros de pesquisa. Ah, e esses recursos podem vir tanto de empresas privadas quanto órgãos públicos e até outras organizações do terceiro setor. Desde 2018, o GIFE, Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, criou iniciativas como a Rede Temática de Grantmaking e a plataforma GrantLab, que buscam fazer a prática avançar ainda mais por aqui.

No Censo GIFE de 2014, só 18% das instituições que investiam socialmente eram voltadas pro apoio a OSCs já existentes. Para comparar, na época esse número era de 96% num país como os Estados Unidos. Mas por aqui ele também vem crescendo com o passar do tempo e pode acabar se firmando como a principal forma de repassar recursos no terceiro setor.

A pandemia também trouxe novas demandas para o grantmaking no Brasil. Nesses últimos dois anos, as organizações buscaram processos mais simples e flexíveis, com uma maior autonomia das OSCs beneficiadas no uso desses recursos. Apesar dos avanços, existem pontos a melhorar, como flexibilizar esse uso para questões operacionais ou logísticas, que são também essenciais para qualquer organizações. Outra reclamação recorrente no setor é a necessidade de descentralizar investimentos, já que o grantmaking é uma ótima oportunidade de lidar com problemas regionais ou locais de todos os cantos do país. Eu sou Rafaela Carvalho, e toda semana eu ajudo a desvendar um termo importante para a cultura de doação. Até a próxima!

 

Roberta: Valeu, Rafa! Mais uma vez você veio para iluminar a gente com um pouquinho mais de conhecimento. E a gente tem hoje milhares de exemplos de iniciativas de grantmaking espalhados pelo Brasil. Nesse caso, nada melhor do que falar com quem dá e recebe esse apoio pra entender como as coisas funcionam hoje.

 

Pensando nisso, nossa produção conversou com o Ronaldo Silvestre, que é fundador e presidente do Instituto ITI , lá em Itabira, Minas Gerais. A ONG oferece programas de educação, desenvolvimento social, geração de renda e preservação ambiental pros habitantes da cidade. E, para conseguir realizar esses projetos, eles contam com o apoio financeiro essencial de organizações como o Movimento Bem Maior e o Instituto Phi. Ronaldo, conta para nós como funciona a abordagem de vocês pra conseguir repasses como esses?

 

Ronaldo: A gente faz o portfolio, apresenta, vê quais as necessidades que aquela empresa tem, principalmente dentro dos quesitos de descarte de resíduos sólidos. A grande maioria das empresas tem um critério de uniformização dos funcionários, mas quando o funcionário faz a troca do uniforme ou se desliga, aquele uniforme é picotado e geralmente vai para o aterro, para os lixões ou para ser incinerado. Isso cria um descontentamento muito forte junto com as promotorias ambientais. Então a gente estudou com muito afinco esses nichos de mercado pra ver as possibilidades. Quando a gente envia uma solicitação ou propõe uma parceria com uma determinada empresa, a gente também sempre traz aquela contrapartida do ESG, que são aquelas relações do social com o ambiental, gerando a governança, que é o famoso slogan do “ganha quem se importa”.

 

Artur: Que ótimas estratégias! E o Ronaldo contou para gente também em detalhes como esse apoio tem ajudado nas iniciativas do dia a dia do instituto.

 

Ronaldo: O valor que foi repassado através do edital do Movimento Bem Maior para o Instituto ITI foi de extrema importância, foi um divisor de águas. Porque com parte desse recurso a gente conseguiu reformar trinta máquinas de costura industriais, conseguimos ampliar nossa linha de atendimento, começar a desenvolver e principalmente colocar em prática os cursos do Faça e Venda da Gastronomia Social. A gente conseguiu comprar alguns equipamentos para cozinha. E foi extremamente enriquecedor porque foi o primeiro projeto que, mesmo o instituto sendo fundado em 2013, foi o primeiro edital que a gente conseguiu realmente colocar em prática as nossas ações e projetos da maneira que o instituto estava planejando para aquele momento. Na sequência veio a pandemia e foi um momento muito forte em que tanto o pessoal do Movimento Bem Maior quanto do Instituto Phi deu um suporte muito bacana para o instituto e para as nossas ações.

 

Roberta: Taí um exemplo para gente levar sempre na cabeça. Como o Ronaldo apontou, conseguir esse tipo de apoio é uma das principais formas que as organizações do terceiro setor têm pra desenvolver iniciativas, ampliar seu impacto e até criar novos projetos dentro da sua área de atuação.

 

Artur: Pois é, e pra estabelecer esse diálogo com empresas e organizações, é preciso se planejar e trazer soluções e um caminho que sejam interessantes pra elas. Só assim vão abrir os olhos para oportunidades desse tipo. E aliás, não sei nem porque ainda estou falando, se a gente tem aqui alguém bem mais gabaritado no assunto.

 

Roberta: E bota gabaritado nisso! Só pra ter uma ideia, o Richard Sippli é coordenador de relações institucionais do Movimento Bem Maior e lida diretamente com a gestão dessas parcerias e o contato com as organizações que o movimento opta por apoiar. O Richard é formado em administração e direito e estudou a gestão de organizações do terceiro setor. Ele já atuou no Ministério Público de São Paulo, no setor de vendas de várias companhias e chegou a fundar uma empresa de importação e distribuição de peças para bicicletas, mas foi no terceiro setor que ele encontrou seu coração.

 

Artur: Richard, seja bem-vindo mais uma vez ao nosso podcast! Obrigado por estar aqui de novo!

 

Richard: Oi Artur, oi Roberta! Muito feliz de estar aqui novamente com vocês. Obrigado pelo convite.

 

Artur: Richard, conta pra gente um pouco do seu histórico. Como você passou a trabalhar no terceiro setor e apresenta também o Movimento Bem Maior, contando como vocês atuam na área.

 

Richard: Olha, sendo muito sincero, até pouco tempo atrás eu nunca tinha pensado em trabalhar em uma organização da sociedade civil. Originalmente eu sou um empreendedor social, criativo inconformado assim como vocês. Em 2012 eu fundei com alguns amigos a Ecolivery Courrieros, uma empresa sustentável em São Paulo que gerou uma repercussão positiva e então me abriu os olhos pro que então seria essa plasticidade social, né? A capacidade que temos como sociedade de nos reinventar, nesse meio tempo passei pela Puc de São Paulo, me formei em direito, isso entendendo que para transformar algo, primeiro a gente precisa conhecer bem e acreditando que a sociedade civil é dona do seu próprio destino, então era preciso compreender melhor quais eram as regras desse jogo e o estudo de Direito, a meu ver é essencial nesse sentido, não à toa vemos tantos advogados nas OSCs e é um movimento que me alegra muito.

Ao longo dessa minha graduação também trabalhei no Ministério Público de São Paulo e só depois de ter experimentado um pouco dessas realidades do primeiro e do segundo setor, foi que eu decidi mergulhar no terceiro setor. O Movimento Bem Maior nasceu no final de 2018 e foi também nesse momento que iniciei minha jornada no setor.

O Movimento é uma organização da sociedade civil que hoje conta com oito associados mantenedores, esses são os filantropos do Movimento Bem Maior e o movimento tem como objetivo engajar a sociedade civil e fortalecer o ecossistema filantrópico no país. Fazemos isso através das práticas de grantmaking onde buscamos identificar OSCs que ocupem posições chave em todo o país e isso nas mais diversas áreas de atuação, desde saúde, educação, meio ambiente e então apoiamos financeiramente e não financeiramente essas organizações.

 

Roberta: Richard, o Ronaldo acabou de contar para gente toda a estratégia do ITI pra buscar apoios significativos pro instituto. O Movimento Bem Maior é um grande apoiador de projetos, com o Programa Futuro Bem Maior, por exemplo, mas eu queria ouvir de você o que chama a atenção de vocês nessas chamadas, nessas propostas recebidas? O que o grantmaker tá procurando na hora de fazer um investimento social?

 

Richard: O papel do Movimento Bem Maior é ser esse grande apoiador e incentivador do empreendedorismo social brasileiro, sobretudo no que tange às organizações da sociedade civil e o que mais brilha, a cada edição do Futuro Bem Maior é a diversidade, sem dúvida. Tem muita gente boa fazendo coisas incríveis por aí para ajudar os outros. Nessas chamadas temos oportunidade de conhecer organizações sociais de todo o país, de municípios remotos que muitas vezes sequer tínhamos ouvido falar e conhecemos muita gente boa, gente simples, que com o relativamente pouco que tem consegue multiplicar de uma forma impressionante, ajudando toda uma comunidade.

As pessoas, definitivamente, são as que mais nos inspiram sempre que a gente faz o Futuro Bem Maior e o que a gente tem aprendido a buscar, justamente como grantmaker, como investidor é esse olhar cada vez mais para as pessoas. Compreender um pouco as realidades, tentando exercitar a empatia e nos aproximar dessa base com quem a gente tem contato e com isso selecionar as organizações que a gente acha que consegue apoiar da melhor maneira. Agregar mais valor.

 

Artur: Na sua visão, qual impacto o grantmaking tem para o terceiro setor no Brasil? Queria que você comentasse um pouco sobre essa mudança de perspectiva que a gente tem notado que é de muitas empresas, grandes investidores sociais, decidirem transferir os seus recursos que são investidos socialmente para organizações diversas ao invés de criar projetos próprios, fundações ou institutos. Quais são as vantagens disso e por que será que esse movimento tem crescido? Tem a ver com essa diversidade que você falou?

 

Richard: Esse é um tema muito interessante, um debate super quente, atual. Eu noto também esse movimento dos grandes institutos, empresas e fundações cada vez mais aprendendo a trabalhar em rede e se voltando para apoiar projetos e organizações já existentes ao invés de criar algo completamente novo. Minha opinião é que certamente é muito melhor do que fazer algo do zero é apoiar alguém que sabe o que está fazendo e que já faz bem. Novamente, acho que entender que o Brasil é um país com uma escala enorme que tem problemas sociais muito complexos que não é um ou dois problemas sociais, a gente tá enfrentando em alguns lugares a deficiência na educação, questões de saúde, alimentos, saneamento, meio ambiente e em cada região do país a realidade é um pouquinho diferente, um pouco mais de um, um pouco menos de outro.

Uma vez que as empresas entendem o que elas querem, que elas devem agir para apoiar as organizações, identificar as lideranças que conhecem bem o território, então confiar no trabalho delas é essencial. E, em paralelo a isso existe também a questão, que é mais evidente talvez, que é de sobreposição de esforços e aí, talvez, exista uma observação que é importante fazer que é: não é que projetos próprios sejam ruins, obviamente que esse não é o ponto, afinal isso é o que gera muito da inovação que a gente vê por aí, a questão é que a lógica que vem girando até então é a lógica de mercado que justamente é uma lógica que estimula a concorrência, estimula um certo pioneirismo, estimula a querer essa posição de destaque isolada, enquanto a lógica que a gente chama aqui de a lógica da sociedade civil organizada que justamente olha para esses desafios sociais como um todo e observa então a complexidade social de uma maneira mais ampla, a lógica vem no sentido de estimular a colaboração.

Realmente é uma mudança de realidade e eu acho que as próprias empresas estão passando por isso nas suas linhas tradicionais de entender que a cooperação pode ser muito mais lucrativa e muito mais interessante que a concorrência da maneira tradicional como a gente conhece. Uma concorrência sem regras em que vale tudo pelo primeiro lugar. Nesse sentido é isso, as organizações sociais hoje, o cenário que a gente tem é bem fragmentado, a depender do banco de dados, temos mais de 800 mil organizações sociais e como vocês podem imaginar muitas delas atuando em segmentos muito parecidos, atuando aí em áreas em que há essa sobreposição. Organizações que poderiam estar colaborando, dividindo custos fixos, dividindo inteligência e otimizando então esse recurso, estão aí dividindo esforços por uma questão muitas vezes de preciosismo.

 

Roberta: Como a gente disse desde o começo deste programa, a pandemia parece ter alterado o cenário da filantropia no Brasil, incentivando mais ações de grantmaking. Você vê essa como uma mudança que veio para ficar? O que se precisa fazer para que esse efeito não fique pra trás? Tem alguma expectativa? A gente fala muito em confiar, que os patrocinadores precisam aprender a confiar nas instituições e as instituições precisam aprender a, por exemplo, realizar a prestação de contas. Ela tem sido, do seu ponto de vista, adequada e suficiente para provar o valor dessas ações e alguma outra forma de comunicação, de entrega que as OSCs podem pensar pra ajudar a convencer os grantmakers a continuar atuando dessa maneira?

 

Richard: Eu concordo. Eu acho que esse aumento no grantmaking certamente foi um dos grandes ganhos na pandemia, se é que a gente pode dizer assim, acho que também a urgência da ação e novamente, não é que a gente já não viveu uma situação urgente antes, mas é que ficou tão escancarada a urgência dessa nova situação, dessa nova emergência que a população como um todo, já que mesmo quem não era grantmaker acabou virando, se engajando em alguma prática filantrópica a isso, a buscar soluções, a buscar quem já sabe o que precisa ser feito e não quem ainda está estudando.

Eu acho que no curto e no médio prazo é um ganho que vem para ficar, acho que a gente tem um aumento de engajamento, um aumento de consciência da necessidade, desse papel da sociedade civil organizada, isso tanto pessoas físicas quanto empresas enxergam que elas fazem parte de um coletivo que não adianta estar bem isolado no seu cantinho que estamos todos no mesmo barco, se o barco afundar, vai com todo mundo.

Agora, você comentou sobre as organizações, sobre o elo de confiança entre elas e como a gente pode fortalecer isso para gerar ainda mais estímulo pros dois lados, que eu acho que é uma via de mão dupla.

 

Roberta: Você falou da questão da lógica de mercado e essa é uma questão que a gente vê muitos grantmakers levarem na hora do seu patrocínio, essa lógica, no sentido de esperar que as organizações entregam métricas, SROI e outros números de medição que são tradicionalmente números de outro setor econômico. Como as OSCs podem entregar esses resultados. Os grantmakers precisam confiar mais nas organizações, como que as organizações podem entregar esses resultados para que esse apoio continue, não seja só nesse momento de emergência?

 

Richard: Você falando isso me vem a mente, aquele ditado né, de enquanto você julgar um cachorro pela sua habilidade de voar ele vai ser sempre um incompetente… algo nessa linha. Sobre as OSCs eu acho que é um pouco isso, a gente traz uma lógica de mercado pra algo que não é mercado, que não deveria ser mercado. O mundo não é perfeito, então acho que existe nas organizações sociais um esforço pra que dentro das suas capacidades de dialogar e de tentar alinhar as expectativas com seu financiador e de tentar cumpri-las, mas algo que vem sendo cada vez mais falado e que anima, inclusive hoje estávamos falando sobre as doações da Mackenzie Scott e outros que vem aí inovando na maneira de doar é que o financiador, o doador precisa repensar a sua lógica, precisa justamente entender que a lógica de transformação social funciona num tempo diferente, funciona de uma maneira diferente.

A lógica dos grandes centros urbanos, São Paulo, Rio de Janeiro não é igual. Qualquer pessoa que já viajou, por exemplo, entre São Paulo e Rio e Janeiro já nota a clara diferença cultural, que dirá então viajar pra outros lugares do país, sair das grandes capitais, a gente precisa entender que quando está se falando de transformação social a gente tá falando desse todo e não de pontos isolados, então eu acho que as métricas, o SROI pouco a pouco vão sendo substituídas por um diálogo um pouco mais profundo, talvez, por uma compreensão maior da relevância, um pouco mais de paciência e talvez por indicadores menos quantitativos e mais qualitativos.

 

Artur: Muito bom! Richard, mais uma vez obrigado por esse insights sobre um trabalho tão importante como esse que vocês fazem. Mas peraí que falta uma coisinha para fechar: a nossa rodada relâmpago!

 

Roberta: Richard, é algo bem simples, nós vamos te fazer 5 perguntas e você responde com a primeira coisa que vier à sua cabeça. Ok?

 

Richard: Ok.

 

Roberta: Qual foi a sua doação mais recente?

 

Richard: Foi pra um catador de material reciclável na rua.

 

Artur: Qual é a sua causa do coração?

 

Richard: Eu comentei que eu tive aquela empresa de logística sustentável, e desde então mobilidade urbana é uma causa muito especial pra mim.

 

Roberta: O que você doa e que não é dinheiro?

 

Richard: Afeto e atenção.

 

Artur: Cite uma organização ou um projeto que você admira e/ou apoia:

 

Richard: Primeira organização que eu não posso deixar de citar é o Instituto MOL, eu sou grande fã e vocês sabem disso e falo a todos que admiro o trabalho de vocês. aproveitando a deixa que eu comentei dos catadores de material reciclável, eu admiro muito a iniciativa do Pimp My Carroça, que traz luz para um grupo de pessoas que realiza um trabalho muito importante.

 

Roberta: Quem você já convenceu a doar? (E se não o fez, faça agora ao vivo!) O que você diria para alguém que não é doador ainda?

 

Richard: Eu acho que doar é sobre fazer a sua voz, fazer seus valores serem ouvidos, sobre defender alguma coisa, uma causa em que você acredita. Quando você não tem talvez o tempo, o próprio interesse de ir lá, brigar por algo que você acredita muito, uma transformação, a doação é uma maneira de você apoiar pessoas que estão fazendo isso por você. Então é isso, é exercer seus próprios valores. Acho que não tem como ser mais claro que isso.

 

Artur: Ótimo, muito bom! Obrigado, Richard, volte sempre!

 

Richard: Artur, Roberta, muito obrigado mais uma vez. Parabéns por todas as iniciativas.

 

Roberta: Todo esse papo sobre grantmaking faz a gente pensar na importância de saber bem como e onde investir recursos, né, Artur? Às vezes tem um projeto perfeito para as propostas e objetivos da sua organização, mas falta contato ou uma melhor comunicação.

 

Artur: É, Roberta, e isso não vale só pras organizações, mas pra gente mesmo. Tem tanto produto social por aí que a gente ficaria doido pra comprar, mas ainda não conhece. Quem sabe é o caso do que a Duda Schneider está trazendo pra gente esta semana no Merchan do Bem?

 

Duda: Oi, gente! Eu sou a Duda Schneider e esse é o Merchan do Bem. Hoje vamos falar não só de um produto, mas de uma collab inteira. É a coleção Fala, Bicho! que foi lançada no finalzinho de março por duas marcas do grupo Soma, a Hering Kids e a Fábula. E essa coleção foi lançada em comemoração ao Dia Nacional dos Animais. A coleção une o melhor das duas marcas, traz conforto pras crianças se divertirem e se movimentarem e estampas lúdicas e super originais, inspiradas, claro, no reino animal. As peças são para crianças de 2 a 10 anos e já estão disponíveis no site tanto da Hering, quanto da Fábula, www.afabula.com.br. E claro, o motivo da gente estar falando da coleção é que todas as peças tem parte do lucro revertido para a Ampara Animal, em especial para o braço Silvestre da ONG que tem como objetivo reabilitar animais a natureza, oferecendo cuidados e bem-estar aos animais condenados a viverem em cativeiro. Incrível, né? Espero que tenham gostado e até a próxima!

 

Roberta: Artur, com essas conversas de hoje mostraram bem como é importante pro terceiro setor no Brasil conseguir o apoio de empresas e organizações que defendem causas sociais e podem entrar com recursos para fazer os projetos acontecerem. Isso tem duas mudanças aí, que são relevantes de mentalidade, uma é a confiança, a gente sabe que muitas organizações preferem criar seus próprios projetos por terem aquela sensação de que “ninguém vai fazer isso tão bem quanto eu”, ou “não confio pra onde vai o recurso”… principalmente as fundações empresariais começam nesse mundo do terceiro setor muito nesse espírito.

E, ao ver outras organizações já tendo experiência, mas sem o recurso elas conseguem enxergar que elas conseguem fazer muito impacto, mas a gente precisa pra isso ter uma outra mudança de mentalidade agora, que é além da confiança que é essa mudança que Bem Maior traz muito, que eu admiro muito, vem da Carola Matarazzo, presidente do movimento que é a de você pensar qual é o seu objetivo final. Seu objetivo final é trazer o maior impacto possível, não necessariamente levar o crédito. Precisa de um desprendimento desse ego de dizer esse projeto é meu, fui eu que realizei, pra conseguir ver que talvez a melhor maneira que você tem de causar impacto naquela causa, não é criando seu projeto, mas ajudando, fortalecendo projetos que já existem e trabalhando em parceria com eles. Mas, isso agora é uma nova camada: confiança e desprendimento.

 

Artur: Eu que é importante e eu queria destacar só um ponto que o Richard falou um pouco, que o grantmaking faz com que algumas iniciativas consigam ter um alcance maior, como aquelas que eu citei lá atrás, como a CUFA, Gerando Falcões, mas dificulta um pouco e demanda um rigor maior da parte da transparência. Quando você aumenta sua rede de atuação, você acaba tendo que fazer um acompanhamento lá da ponta e nem sempre a ponta é sua.

Então, pra quem atua com grantmaking é sempre bom a gente atentar pra isso que, se por um lado é mais desafiador quando se trabalha em rede você tem que contar que outros vão gerar o resultado lá na ponta, mas outro lado você tem uma centralização dos esforços de comunicação e de prestação de contas em alguém que vai cuidar disso de forma padronizada e contar tudo que tá sendo feito pela rede inteira. Então se por um lado é desafiador, por outro tem uma oportunidade também da gente conseguir padronizar essa comunicação da prestação de contas, isso nunca pode ser esquecido.

 

Roberta: Vale dizer também que o Gife, que nós citamos no começo do episódio, tem uma plataforma dedicada ao assunto, o Grantlab, para quem quiser se aprofundar mais no tema. O podcast Gife, que é uma grande referência para nós do Aqui se Faz, Aqui se Doa, tem uma série só sobre grantmaking. Vale ouvir, nós vamos deixar esses links indicados na descrição!

 

Artur: Já coloca na fila de reprodução, pra você continuar embarcado no tema! E vale sempre aquele chamado para nos seguir aqui na plataforma de áudio que você está nos ouvindo, e a @institutomol no Instagram e no LinkedIn. Por hoje é isso, semana que vem estamos de volta! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev. A produção é de Leonardo Neiva, o roteiro final e direção é de Ana Julia Rodrigues, Julia Cunha e Vanessa Henriques, e o design da Glaucia Ribeiro, todas do Instituto MOL. As colunas são de Rafa Carvalho e Duda Schneider, da Editora MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!

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