Transcrição #EP 69 – Quem é o voluntário brasileiro?

Roberta: Todos os dias, em todo o mundo, milhões de pessoas se voluntariam para ajudar a resolver questões com as quais elas se importam. Em 1985, a Organização das Nações Unidas estabeleceu o Dia Internacional do Voluntário, celebrado em 5 de dezembro, como forma de reconhecer esse trabalho e conscientizar sobre sua importância. A própria ONU promove um estudo, a cada três anos, para medir a escala e o alcance do voluntariado em nível global e compreender as novas práticas desse tipo de atividade. E, localmente, organizações da sociedade civil também buscam traçar um perfil dos voluntários e saber como engajar mais pessoas para participarem desse tipo de ação.

 

É sobre isso que vamos falar no episódio de hoje. Nossa convidada é a Silvia Naccache, coordenadora da Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, produzida pelo IDIS e Instituto Datafolha e lançada no final de abril.

 

Eu sou Roberta Faria.

 

Artur: Eu sou Artur Louback.

 

Roberta: E quem é o voluntário brasileiro é o tema de hoje no… 

 

Jogral: Aqui se Faz, Aqui se Doa!

 

Roberta: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do Infomoney. 

 

Antes da gente partir para conversa sobre o voluntariado hoje, acho importante fazer uma brevíssima linha histórica. Essa é uma prática que vem desde o século 16 no Brasil, mas que se fortaleceu muito nos anos 1980 e 1990. Foi nessa época que alguns trabalhos começaram a se destacar, como a Pastoral da Criança, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e a Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria e Pela Vida, criada pelo sociólogo Hebert de Souza, o Betinho. A turma com mais de 40 anos deve se lembrar de ver as campanhas dessas organizações nas ruas e na televisão.

 

Artur: Verdade, Roberta. Em 1997 surgiram os primeiros Centros de Voluntariado brasileiros e, em 1998, foi promulgada a Lei do Voluntariado. Essa lei regulamenta a atividade voluntária no Brasil, considerando que essa é uma atividade não remunerada, prestada por pessoa física a um entidade pública ou instituição privada sem fins lucrativos, “que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa”. 

 

Roberta: A mais recente pesquisa da ONU concluiu que o número de pessoas com 15 anos ou mais fazendo algum trabalho voluntário no mundo chega a 862 milhões por mês. A maioria (14,3%) atua informalmente entre indivíduos, enquanto apenas 6,5% se envolvem em voluntariado formal, por meio de uma organização ou associação. Quanto ao gênero, os dados mostram que, enquanto os voluntários formais são principalmente homens, entre os voluntários e voluntárias informais, a maioria tende a ser mulher. 

 

Artur: Uma das conclusões do estudo é que, para enfrentar os enormes desafios no pós-pandemia e também para conseguir atingir as metas da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, os governos e as outras partes envolvidas precisam trabalhar ainda mais com voluntários. Aliás, o estudo também demonstrou que, apesar dos impactos socioeconômicos devastadores da pandemia de Covid-19, o interesse global pelo voluntariado não diminuiu. Pelo contrário: as atividades voluntárias que envolviam o desenvolvimento de novas ideias ou soluções para problemas locais aumentou na maioria dos países.

 

Roberta: Bom, a gente falou aqui da definição que a legislação brasileira dá para a atividade voluntária. Mas existe uma definição utilizada mundialmente, e a Rafa Carvalho vai contar pra gente.  

 

Rafa Carvalho: Oi, pessoal! Tudo bem?

 

A palavra voluntário vem do latim voluntarius, que significa “aquele que age por vontade própria”. Uma resolução de 2002 da Organização das Nações Unidas descreve voluntariado como uma ampla gama de atividades, incluindo formas tradicionais de ajuda, prestação de serviços e outras formas de participação cívica, realizadas por livre arbítrio, para o bem público geral e onde a recompensa monetária não é o principal fator motivador.

 

Essa é uma das definições mais utilizadas ao redor do mundo. A própria ONU reconhece no seu relatório sobre voluntariado global, lançado em abril deste ano, que esse é um fenômeno social complexo, e que os valores culturais e comunitários influenciam a forma como o voluntariado acontece. Mas uma coisa parece ser igual em qualquer lugar: voluntários são pessoas que doam seu tempo, seu conhecimento, sua atenção e energia em prol de causas em que acreditam. 

 

Outra coisa importante da gente dizer é que, quando falamos nesse tema, geralmente o foco está na contribuição que os voluntários podem trazer para a sociedade – o que sem dúvida é o fator principal -, mas os benefícios para eles próprios também têm se tornado cada vez mais claros, e é importante perceber como isso influencia nas ações. Segundo a pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, coordenada por Sìlvia Naccache e realizada pelo Instituto Datafolha e pelo IDIS, há uma opinião amplamente difundida entre os voluntários de que essa atividade resulta em crescimento pessoal, seja emocional, espiritual ou no exercício da cidadania. 

 

Vale lembrar aqui o que disse o nosso entrevistado do episódio 37, o Daniel Morais Assunção, fundador da plataforma de voluntariado Atados. Para ele, voluntariado se trata de uma troca: você realiza uma ação em benefício de outro e, ao mesmo tempo, ganha uma nova experiência. Você impacta uma causa e se transforma ao mesmo tempo.

 

E você? Já experimentou todos esses benefícios de ser um voluntário ou voluntária? 

 

Eu sou a Rafaela Carvalho e toda semana ajudo a desvendar um termo importante para a cultura de doação. Até mais!

 

Artur: Valeu, Rafa! Bom, focando agora no Brasil, a Rafa falou da pesquisa lançada pelo IDIS e o Datafolha e um dos recortes é sobre voluntariado corporativo. Segundo o levantamento, 15% dos voluntários realizam atividades organizadas por empresas e 58% deles são voluntários regulares. 68% dedicam mais de cinco horas por mês a esses trabalhos.

 

Roberta: A gente convidou a Raísa Martins Gomes, coordenadora do Instituto C&A, pra falar um pouco sobre a experiência de 30 anos do programa de voluntariado da empresa. Lá os colaboradores participam de ações com organizações sociais, coletivos, cooperativas, micro e pequenos negócios que trabalham a moda como uma forma de geração de renda e de transformação social. Eles fazem bazares, workshops, assessoria… ações que vão desde a mão na massa até um olhar mais técnico. Vamos ouvir a Raísa.

 

Raíssa: A primeira coisa é pensar que o voluntariado é uma cultura, a cultura do voluntariado, e não é do dia pro outro que você vai fazer que uma empresa tenha um grande engajamento. Mas obviamente existem ferramentas e maneiras de engajar, de mobilizar colaboradores. Olhando aqui pra nossa experiência no Instituto, eu acho que uma das coisas que funcionou muito, algumas delas eu vou contar, mas uma delas é trazer o voluntariado pra agenda comercial, trazer isso pro calendário oficial, porque diante da correria do dia a dia e de outras prioridades dessa operação, que é normal em qualquer empresa, a gente entendeu que a gente precisava colocar no dia a dia, no calendário do colaborador. Outro mecanismo que a gente pensa aqui e que muitas outras empresas fazem é a questão dos comitês, dos grupos de afinidade, dos grupos de trabalho, que é reunir pessoas, um grupo de colaboradores, de preferência da forma mais estratégica, que são diversas áreas, diversos cargos, que possam mobilizar e ser capilaridade mesmo, e poder ramificar esse esforço de mobilização nas unidades, nas sedes, no nosso caso nas lojas. Então acho que os comitês de voluntariado, no nosso caso a gente tem os conselhos de voluntariado, funcionam muito bem aqui pra gente, tanto nas lojas de todo o Brasil quanto no próprio escritório da C&A. E por último, e também não menos importante, é o olhar da liderança, se comprometendo com essa pauta, se comprometendo com o exemplo, e com a autorização mesmo, com a legitimação desse trabalho.

 

Artur: A Raísa contou que, antes da pandemia, eles tinham uma média de 16% dos colaboradores de todo o Brasil engajados na atuação voluntária. E os critérios pra avaliar o que é essa atuação voluntária são bem rígidos. Não se contabiliza doação, por exemplo, só atuação mesmo, comprovada e verificada. Durante a pandemia, a queda não chegou a 50%, mas foi um impacto, claro, já que tudo o que estava sendo feito teve que ser repensado. Ela também falou pra gente sobre os aprendizados não só nesse momento, mas nas três décadas do programa.

 

Raísa: Ao longo desses 30 anos foram muitos os aprendizados, continuam sendo. Muitas coisas mudaram, a realidade do Brasil mudou, a realidade da empresa, da C&A mudou, e o perfil de quem trabalha aqui. Então claro que cada programa de voluntariado é um programa e responde naquele ano, e responde àquele perfil e aqueles desafios daquele momento. Eu acho que de aprendizados gerais, acho que a gente segue olhando sempre pro voluntário como a nossa maior força no programa, então reconhecê-lo, motivá-lo, agradecer é sempre muito importante. Outro aprendizado forte é a questão do olhar estratégico pro voluntariado, entender ele como uma ferramenta, como um meio de alcançar objetivos estratégicos, programáticos e traçados sob a perspectiva da empresa também, sendo o voluntariado uma grande maneira de fortalecer a equipe, de desenvolver colaboradores. Outro grande aprendizado nosso do Instituto também é apostar também na qualidade da entrega e no impacto do voluntariado, e não só na quantidade, que é um indicador muito perseguido nos programas de voluntariado, mas a gente sabe que a entrega final, olhar pro que a comunidade recebe é muito importante. Então acho que esses são os principais aprendizados de muitos que a gente ainda segue tendo.

 

Roberta: A Raisa falou sobre o voluntariado como uma forma de fortalecer a equipe e de desenvolver pessoas, e olha só: 99% das pessoas que responderam a pesquisa Voluntariado no Brasil 2021 concordam que o trabalho voluntário leva as pessoas a conhecerem outra realidade; 97% entendem que é um processo transformador; e 96% acreditam que essa atividade inspira a ser uma pessoa melhor. 

Artur: Quem doa é mais feliz, já diria nosso primeiro episódio da segunda temporada, né Roberta? E eu quero trazer mais alguns pontos de destaque desse estudo: 56% da população adulta do Brasil diz fazer ou já ter feito alguma atividade voluntária na vida. Para se ter uma ideia, em 2011, esse número representava 25% da população. 34% dos entrevistados disseram estar fazendo algum trabalho voluntário em 2021, o que representa cerca de 57 milhões de brasileiros acima de 16 anos. Em 2011, eram 11%. 

 

Roberta: Tanto a quantidade de pessoas envolvidas com o voluntariado aumentou, quanto as horas dedicadas. Em 2011 a média de dedicação por pessoa era de 5 horas mensais; já em 2021 esse número passou para 18 horas mensais. 

 

Artur: E com relação ao perfil: 51% são mulheres, 48% homens e 1% declarou outras respostas; 40% se encaixam na faixa etária entre 30 e 49 anos; 50% têm o ensino médio completo ou superior incompleto; e a renda familiar mensal de 39% dos voluntários é de até 2 salários mínimos. 

 

Roberta: Bom, acho que agora a gente deve chamar nossa convidada, porque ela como coordenadora da pesquisa vai poder ajudar a gente a entender outros dados bem importantes. Seja muito bem-vinda, Silvia Naccache!

 

Silvia: Obrigada! Obrigada pela oportunidade de contar um pouco sobre o voluntariado no Brasil. Eu acompanho de perto esta evolução do voluntariado no nosso país nas duas últimas décadas. Essa pesquisa é uma terceira edição, foi realizada em 2001 para celebrar o Ano Internacional do Voluntariado, nós repetimos a pesquisa em 2011, celebrando a década do voluntariado e agora novamente em 2021. E é uma alegria ser portadora de boas novas e trazer a confirmação de quanto a gente valoriza a atividade voluntária e o salto que deu para mais da metade da população brasileira participando como voluntária. 

 

Roberta: Silvia, essa pesquisa faz parte de uma série histórica feita a cada 10 anos, desde 2001, e você participou das três edições. De maneira geral, o que você destacaria como principais mudanças no perfil do voluntário brasileiro nesses 20 anos? E o que se mantém em termos de características desse voluntário?

 

Silvia: Eu não coordenei a pesquisa nos três anos, mas estive junto, coordenando esta última edição e estive junto nas outras duas. Muitas características, talvez o perfil não tenha se transformado tanto, a gente ainda apresenta, neste ano de 2021, que foi realizada a pesquisa um equilíbrio entre gênero, homens e mulheres participando como voluntários, 51% as mulheres ainda são a maioria, 48% de homens. A faixa etária também ficou muito próxima do que a gente registrou na última edição, é uma faixa etária interessante, porque fica ao redor dos 43 anos, quer dizer, uma fase da vida em que as pessoas estão ativas, trabalhando, estudando, com suas famílias, com suas atividades de lazer, então mostra que o voluntariado não é uma coisa que, talvez em 2001 a gente visse essa diferença, de ser uma coisa para depois: quando os filhos saírem de casa, quando eu me aposentar, associado a uma questão muito mais do feminino e do idoso fazendo o trabalho voluntário. Mas, tem algumas coisas que se distinguem das últimas edições, o olhar para os públicos beneficiados, então quando este voluntário tem um olhar muito mais amplo para onde ele pode atuar, e aparece em grande destaque para famílias, público em geral e inclusive para pessoas em situação de rua, alguns públicos, inclusive, onde até havia um certo preconceito de participar e ajudar, e também aparece a questão da causa animal, de proteção animal, que certamente nenhuma das duas últimas edições a gente teve essa causa, e também da pessoa com deficiência. E talvez, o que mais nos surpreendeu foi a questão deste salto que se deu na quantidade de pessoas fazendo o voluntariado. A pergunta que a gente fez, e a pesquisa aconteceu em duas etapas, quantitativa, uma primeira com a população em geral, e a gente tem um estudo, inclusive, dos não voluntários, que vale a pena depois explorar no site da pesquisa, mas a primeira pergunta era entender, quem tinha feito ou estava fazendo alguma atividade voluntária no Brasil e a gente sai de uma população de 18% em 2001 para 25% em 2011 e chega a 56% em 2021. Então, pessoas que já tinham tido na última década algum contato com o voluntariado. E aí o número, redondo, de quem estava em atividade fica nos 34% da população e aí a gente fala destes 57 milhões de brasileiros fazendo trabalho voluntário. E isso é um salto muito grande. Certamente bastante impactado pela pandemia, mas também por acontecimentos que a gente viveu na década e que foram impulsionadores, inspiradores, facilitadores pro voluntariado.

 

Na última década nós vivemos alguns eventos esportivos, culturais, religiosos, ambientais, que fizeram um grande chamamento para a prática do voluntariado, para as pessoas participarem como voluntários e nós tivemos as questões de situações emergenciais , provocadas ou não, mas que também fizeram essa chamada para o voluntariado e obviamente, o impacto da covid. Então, a gente vê que tudo isso contribuiu para este grande salto da participação.

 

Artur: Um dos destaques da pesquisa foi o aumento da atenção dada a alguns públicos beneficiados pela atividade voluntária. Famílias e comunidades passaram de 12% em 2011 para 35% em 2021, e pessoas em situação de rua tiveram um aumento de 20 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior. Outras causas que também cresceram foram a dos animais e de pessoas com deficiência. A que a gente pode atribuir isso?

 

Silvia: Olha, eu tenho 64 anos, e eu nunca vi um país tão desigual. Então, uma demanda, uma emergência, é emergente a gente ser generoso, gentil, cuidar do outro, então eu acredito que essa atenção, 41% no público em geral, 35% em famílias e comunidades e 25% em pessoas em situação de rua, é esta situação aos nossos olhos, de gerar um desconforto e as pessoas realmente se mobilizarem para fazer alguma coisa. E a pesquisa mostra isso também, ela mostra que houve uma mobilização muito maior, um pró atividade muito individual e por um lado, eu que atuei durante 15 anos no centro de voluntariado de São Paulo, onde a gente orientava e falava demais sobre gestão, a profissionalização na gestão de programas de voluntariado, a gente percebeu que as iniciativas foram muito mais sem essa preocupação com a legislação, aspectos jurídicos. O Brasil tem uma lei de voluntariado… foi realmente uma pró-atividade do indivíduo. E eu acredito, e eu sinto isso que vem desta situação que está aos nossos olhos, que toca a gente, que a gente sente, inclusive, né? Então, essa informalidade das ações, de um lado criam ainda também um grande caminho para as organizações da sociedade civil verem que existe um desejo de as pessoas participarem, e elas foram, 57 milhões de brasileiros, elas foram e foram em busca destes públicos onde elas viram a situação mais urgente para participar. 

 

Roberta: Sílvia, e mesmo antes da pandemia de Covid-19, a gente sabe que a retenção de voluntários é sempre um problema para as organizações. Tanto que muitas acabam exigindo que o voluntário ou o candidato a voluntário faça um curso de formação ao longo do tempo para provar que vai conseguir se comprometer de fato antes de entrar na instituição. Pensando também na pandemia em 47% das pessoas que responderam à pesquisa disseram que passaram a fazer mais ações voluntárias, e 81% concordam que aumentou o interesse em fazer isso neste momento. Como deve ser o cenário a partir de agora? As pessoas que fizeram trabalho voluntário por conta da pandemia vão continuar?

 

Silvia: Então, neste perfil da informalidade, que pela nossa pesquisa, apenas 18% assinou termo de adesão e a gente tinha um número de mais de 70% de pessoas que não tinha conhecimento sobre a Lei do Voluntariado, mostra um engajamento, como falei, do indivíduo, da pessoa pela solidariedade, pela cidadania, participação cívica, então cabe aí, aonde eles estiveram, em projetos, causas, organizações ou espaços públicos, fazer esta reflexão: como eu vou fazer para reter? E quando a gente pratica o voluntariado e se sente impactado, porque ele é uma experiência que é transformadora para quem faz, para quem promove, para quem recebe, e talvez até para nós que realizamos até mais, a gente sempre sente que recebeu muito mais do que ofereceu, eu tenho certeza de que esse número mostra um grande impacto da pandemia, quem dera a gente possa repetir a pesquisa em um espaço menor de tempo, mas eu acho que a gente vai ter uma mudança de comportamento, porque as pessoas perceberam que não é responsabilidade de ninguém, que não adianta eu jogar a responsabilidade, mas é de cada um. E aí é tudo, é do ato de doar, seja doar recursos financeiros, materiais ou tempo, talento, energia, que é o recurso que o voluntário compartilha. Eu acho que essa consciência não vai desaparecer, não será para todos, porque às vezes a gente vai se encaixando em uma nova rotina, que ainda estamos todos nos adaptando, só que o voluntariado, ele não, ele paralisou naquele instante, mas depois ele se reinventou, ele foi para o voluntariado online, ele foi para as lives nas casas de idosos, ele foi para as visitas aos leitos nos hospitais, ele foi nas mentorias para empreendedores de jovens, seja para manter na escola, seja para gerar renda, então ele foi se reinventando, então este modelo vai permanecer. E aí o que cabe é esta reflexão que é primeiro do indivíduo, de seguir e organizar a sua agenda para isso e voluntariado é priorização, e também das organizações o quanto elas estão preparadas para este novo modelo, que é este modelo que tem de se adaptar ao que a sociedade está vivendo.

 

Artur: Em comparação com a pesquisa feita em 2011, vemos que a proporção de voluntários entre 30 e 49 anos se manteve, mas houve uma diminuição na faixa de 16 a 29 anos e aumento entre quem tem mais de 50 anos. Qual seria a explicação para essas mudanças nas faixas dos mais jovens e dos mais velhos?

 

Silvia:  Então, eu fiquei um pouco desapontada com os dados, e vou ser fiel aos números do público jovem, mas achei que a gente teria um crescimento do jovem e eu vejo aí um espaço muito grande das escolas, das universidades, trabalharem este conceito até do voluntariado educativo, o voluntariado como uma ferramenta para a gente trabalhar valores, propósitos, trabalhar até temas tão importantes na melhoria do convívio social, e até os famosos soft skills, as habilidades comportamentais que isso está tão valorizado no mundo corporativo e estrategicamente no mundo corporativo usam, inclusive, a ferramenta do voluntariado para isso, e eu acho que é um espaço para as escolas pensarem o quanto a gente pode trazer isso para o jovem, essa prática que é uma experiência que é vivenciada e eu posso trazer os temas de gênero, diversidade, cultura de paz, raça e tantos outros que a gente pode trabalhar, as questões ambientais, tão sérias e urgentes e trabalhar isso usando o voluntariado como uma ferramenta. E a gente ficou muito feliz em 2011 que o jovem tinha aparecido como protagonista no voluntariado e diminuiu agora em 2021. 

 

Com relação a questão do idoso, a pessoa um pouco mais velha praticando o voluntariado, uma questão que também aparece com uma atividade voluntária que as pessoas fizeram é uma questão que também está muito urgente no nosso dia a dia que é a questão da saúde mental. Então, na saúde mesmo, o ser humano em sua integridade e foi uma faixa etária que foi bastante impactada com o isolamento. Então, a prática do voluntariado me faz ter relacionamentos, me faz trocar minhas experiências e práticas do dia a dia com outras pessoas, então é uma experiência que não existe contra indicação. Em todas as faixas etárias ela vai trazer um ganho para o ser humano. A própria socialização dos grupos de voluntários tem este poder de por a pessoa em atividade, em produção que é o que a gente quer, enquanto a gente tem saúde e essa saúde física se equilibra com a minha saúde mental. 

 

Roberta: Para terminar, uma última pergunta: Como as organizações sociais podem engajar mais pessoas, atrair novos voluntários, para que na próxima edição dessa pesquisa a gente siga vendo um crescimento nesse números positivos? Um dado que chamou a atenção na pesquisa foi a baixa formalização do voluntariado, com a assinatura de um termo que estabeleça as atividades e atribuições. Essa pode ser uma chave a ser virada?

 

Silvia: Eu acredito que a primeira lição de casa das organizações é saber exatamente para que ela quer o voluntário. Onde, o que ele vai fazer, que horas e também alinhar muito as expectativas, esclarecer muito quais são os direitos, deveres, os pré-requisitos para participar, os benefícios ou não. A gente precisa transferir essa linguagem para uma linguagem que comunique, que as pessoas olhem e falem: nossa, nesse espaço, fazendo isso, eu me reconheço. E tenho o prazer de contribuir, seja como um doador, de tempo, recurso ou recurso financeiro, então ele tem que se identificar com isso. E a gente vive um momento em que as pessoas querem muito, além do seu trabalho, do seu relacionamento familiar, elas querem demais se identificar. 

 

Artur: Muito obrigada, Silvia, por ter aceitado nosso convite e trazido essas reflexões tão importantes!

 
Agora, antes de você ir embora, um momento mais pessoal. Chegou a hora da nossa rodada relâmpago.

 

Artur Nós vamos fazer 5 perguntas e você responde com a primeira coisa que vier à sua cabeça. Ok?

 

Silvia:  Perfeito! 

 

Artur: Qual foi a sua doação mais recente?

 

Silvia: Eu doo mensalmente para a Vaga Lume. 

 

Roberta: Qual é a sua causa do coração?

 

Silvia: Educação. 

 

Artur: O que você doa e que não é dinheiro?

 

Silvia: Eu doo recursos materiais, roupas, alimentos e doo meu tempo como voluntária. 

 

Roberta: Cite uma organização ou um projeto que você admira e/ou apoia:

 

Silvia: Meu coração é Vaga Lume. Não sei se todo mundo conhece, mas a associação atua com as bibliotecas comunitárias na região amazônica e é a minha organização do coração porque nós temos quase 900 voluntários, então é mágico. Abrir a biblioteca, com um acervo muito bem cuidado, os mediadores de leitura, acontecendo em comunidades quilombolas, ribeirinhas e comunidades indígenas e tudo com voluntários. 

 

Artur: Quem você já convenceu a doar? (E se não o fez, faça agora ao vivo!)

 

Silvia: A gente fez uma grande campanha no ano passado de produtos de higiene bucal, e nós conseguimos a doação de amigas e amigos na pressão. Não foi fácil, não foi na argumentação. Assim, tem que doar e não tem outro jeito. 

 

Roberta: Muito bom, foi demais essa conversa, muito obrigada por ter vindo! 

 

Silvia: Imagina, eu quem agradeço o convite, foi muito bom. 

 

Roberta: Legal demais essa conversa! E a pesquisa tem muitos outros dados super interessantes e importantes de se analisar, os recortes regionais, a parte do voluntariado corporativo.  Então vai lá no site pesquisavoluntariado.org.br pra baixar o relatório completo. 

 

Artur: E agora vamos chamar a Duda Schneider. Qual Merchan do Bem você trouxe pra gente hoje, Duda?

 

Duda: Oi gente, eu sou a Duda Schneider e esse é nosso quadro Merchan do Bem!


A solidariedade chegou no esporte paralímpico com a campanha We Change Together que tem como embaixadora a medalhista paralímpica de vôlei sentado Luísa Fioresi. A iniciativa é uma collab que reúne marcas que lançaram uma sandália fashion inclusiva. A sandália é inspirada no estilo da atleta que preza sempre pelo conforto e pela descontração.

Os modelos são coloridos e pensados para melhor se adaptar ao pé. O produto surgiu com o propósito de criar algum único que pudesse gerar um ponto em comum entre os públicos, admiradores de um estilo de vida saudável e os apaixonados por moda. E o lucro das vendas será revertido ao Grupo de Apoio aos Portadores de Câncer, em Cachoeiro do Itapemirim. O item, que tem edição limitada já está disponível para a compra na plataforma shoptogether, é só acessar o site: www.shop2gether.com.br . Corre para garantir a sua, já que é limitada!

Por hoje é isso, espero que tenha gostado e até a próxima!

Roberta: Artur, tem um cruzamento interessante entre as duas pesquisas que falamos aqui hoje. Como a gente comentou no começo do programa, o relatório da ONU reforça uma recomendação que a organização vem dando desde 2015, que é a importância do voluntariado para que os países consigam atingir as metas dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Mas a pesquisa dentificou que 70% dos brasileiros não conhecem esses ODS, que são uma série de metas para combater a pobreza, melhorar a educação e promover práticas ambientalmente sustentáveis até 2030. 

 

Artur: Pois é, taí um assunto que talvez precise ser melhor trabalhado pelo grande público aqui no Brasil. Até porque muitas das metas estão diretamente relacionadas ao nosso dia-a-dia. Ou seja: muitas vezes o voluntariado tá mais fácil de fazer do que muita gente pensa. E a maior parte das pessoas tem uma relação com o voluntariado que não está relacionada a isso, está mais relacionada ao seu dia a dia, ao seu trabalho, que tem alguma iniciativa deste tipo ou então até organizações religiosas que é ainda a porta de entrada de muita gente no Brasil.

Eu achei muito importante, não só essa pesquisa, mas essas entrevistas que a gente fez hoje, falando da iniciativa do Instituto C&A que é uma referência nesse setor de voluntariado empresarial, a gente vê muito que as empresas que já tem institutos, fundações e que em geral são as que já estão se dedicando a causa social ao longo do tempo, tem programas de voluntariado mais estruturados e eu acho que esse é um campo dos que tem mais espaço para crescer que é usar a empresa como uma ponte entre as pessoas e a causas sociais.

Roberta: Por hoje é isso pessoal, mas o papo, como sempre, continua nas nossas redes sociais. Segue a gente lá no Instagram, @institutomol, e no LinkedIn. Semana que vem a gente volta! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do Infomoney. Esse episódio teve produção da Mônica Herculano. O roteiro final e direção são de Júlia Cunha e Vanessa Henriques, arte da Glaucia Ribeiro, do Instituto MOL. As colunas são de Rafaela Carvalho e Duda Schneider, da Editora MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!

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