Transcrição EP#41 — Quem doa é mais feliz?

Roberta: Não é novidade para ninguém que doar e ser voluntário são atitudes que fazem o bem não só para quem recebe, mas para toda a sociedade. Mas e o doador? Ele também não sente pessoalmente uma descarga de prazer e felicidade graças às suas ações? Ao que tudo indica, sim. E isso não sou eu quem está dizendo, mas pesquisadores, cientistas e neurocientistas pelo mundo que têm se dedicado a entender o impacto psicológico positivo que recebe quem pratica a solidariedade — alguns desses estudos inclusive aqui no Brasil. Hoje, teremos aqui um pesquisador que é especialista em como funciona o nosso cérebro: o neurologista Ricardo Teixeira, diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília.

 

Roberta: Eu sou Roberta Faria

 

Artur: Eu sou Artur Louback

 

Roberta: E a pergunta que vamos tentar responder aqui é se quem doa é mais feliz. Esse é o tema de hoje no…

 

Artur e Roberta: Aqui se Faz, Aqui se Doa!

 

Artur: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast preferido sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior e divulgação do Infomoney. Voltamos, pessoal! Que felicidade estar aqui de novo, né Roberta?

 

Roberta: Que saudade desse papo bom de toda semana, né Artur? Vai ter muita coisa bacana nessa segunda temporada, ainda tem muuuito assunto pra falar sobre cultura de doação, as pautas estão longe de se encerrar: depois de 40 episódios, a gente tem pelo menos mais 80 ideias. Além de coisas novas no formato, novos quadros, novas músicas, temos muitas novidades para divertir vocês nessa temporada que começa agora! Voltando sempre ao nosso assunto que nos traz imensa alegria e provoca uma transformação e tanto na sociedade que é a cultura de doação.

 

Artur: Isso mesmo, Roberta. E você, se já doou alguma vez ou doa de forma recorrente, seja seu tempo ou dinheiro, se é voluntário em alguma organização social, vai entender muito bem nosso tema de hoje. Vamos falar daquele sentimento de felicidade e de satisfação que o doador ou voluntário sente após praticar uma boa ação.

 

Roberta: É isso mesmo, Artur. E parece que aquele velho ditado, que diz que “é melhor dar do que receber”, pode ser comprovado cientificamente. Pesquisas apontam que esse sentimento de felicidade acaba sendo um dos principais responsáveis por fazer as pessoas contribuirem mais. E de fato, como a gente ouviu e vai ouvir mais na entrevista logo mais, quem doa tem mais alegria do que quem recebe e ela dura mais tempo também.

 

Artur: Isso é o mais interessante! Muita gente acha que está só fazendo o bem para os outros e muitas vezes nem percebe o quanto aquilo ajuda a elevar o próprio bem-estar, a autoestima e até a saúde mental.

 

Roberta: E para não ficar só aqui na nossa palavra, vou mandar alguns dados importantes de pesquisas sobre esse assunto. Um: quando você doa, ativa regiões do cérebro associadas ao prazer, à conexão com outras pessoas e à confiança. Isso significa que a gente tem uma chuva de substâncias deliciosas, como a própria dopamina, a serotonina e a oxitocina, que dão o maior barato!

 

Artur: Ressonâncias magnéticas realizadas em pessoas que fazem caridade com frequência mostraram que doar estimula o centro de recompensa do nosso cérebro. Uma pesquisa do Instituto D’Or mostrou que doar ativa regiões do cérebro ligadas ao prazer, assim como a sentimentos de apego e pertencimento. Doar é tipo comer um chocolate, alguma coisa boa assim?

 

Roberta: Acho que é tipo isso. Uma série de estudos realizados pelo mundo também demonstram que doar e fazer trabalho voluntário estão associados a uma melhora da saúde física e mental, podendo atuar em aspectos como até o controle da pressão arterial e dos níveis de estresse e gera também uma menor propensão à depressão. Um estudo da Universidade da Califórnia em Berkeley mostrou que pessoas de 55 anos que eram voluntárias tinham 44% menos chances de morrer nos cinco anos seguintes do que aquelas que não eram voluntárias. Dá para acreditar nisso? É uma forma de você viver mais porque você é mais legal!

 

Artur: Nada mal, hein? Enquanto a Roberta estava falando, corri e fiz uma doação para o Instituto MOL e estou me sentindo mais jovem, até! Estou me sentindo que alguns cabelos brancos foram embora. Brincadeira, gente! E, vale dizer, esses benefícios não estão necessariamente ligados ao quanto você doou, mesmo porque eu doei bem pouquinho — vocês vão ver do Instito MOL. Um estudo feito pela Universidade da Colúmbia Britânica mostrou que pessoas que doaram 5 dólares tiveram os mesmos efeitos positivos que aquelas que doaram 20, mostrando que não importa tanto quanto você doa, mas sim como, o ter o ato da solidariedade. E, apesar de ambos terem efeitos positivos, um estudo realizado por pesquisadores de instituições do Texas, nos Estados Unidos, e de Seul, na Coreia do Sul, apontou que doar dinheiro acaba sendo ainda melhor para o bem-estar psicológico a longo prazo.

 

Roberta: Em meio a esse processo todo que acontece no cérebro, a dopamina é uma das principais responsáveis por esse sentimento. Vamos entender melhor o que é isso e o que ela faz?

 

Rafa Carvalho: Opa! Vamos lá, pessoal! Hora da aula de biologia, hein? A dopamina, para quem quer saber melhor, é um neurotransmissor que atua a partir do nosso sistema nervoso central e das nossas glândulas suprarrenais. Na prática, ela é a responsável por levar informações para várias partes do corpo e tem uma função que é sempre muito bem-vinda: é ela quem provoca na gente aquela sensação gostosa de felicidade e de prazer. E olha que a dopamina pode funcionar melhor que qualquer coach. Isso porque ela age no sistema do ser humano como uma motivadora natural, que nos ajuda a levantar a bunda do sofá e botar a mão na massa para alcançar os que a gente quer. A dopamina é importantíssima para o nosso sistema de recompensa, que nos dá prazer, por exemplo, quando estamos morrendo de fome e finalmente come aquele aquele pratão de comida.

 

Apesar de ser produzida naturalmente pelo corpo, os níveis de dopamina podem ser aumentados pelo consumo de alimentos como feijão, ovos, carnes, peixes e nozes, entre outros. E não é tão difícil perceber quando a dopamina está em baixa no corpo. Nesse caso, os sintomas são uma certa tristeza, falta de motivação, cansaço e até mesmo perda de libido.

 

A dopamina  também está diretamente envolvida nas nossas emoções, nos processos cognitivos, na forma como controlamos nossos movimentos, na capacidade de aprender e prestar atenção e até mesmo na digestão . Aliás, ela é tão importante que os cientistas não param de encontrar funções essenciais que ela realiza no nosso corpo. Pouco tempo atrás, um estudo publicado na revista Nature mostrou que ela tem papel fundamental para a memória associativa, aquela que nos faz lembrar do sabor característico de um alimento só de olhar pra ele, por exemplo.

 

Depois dessa explicação toda, acho que ficou mais claro, né pessoa? Meu nome é Rafaela Carvalho, e toda semana estou por aqui para ajudar a entender um termo importante para a cultura de doação. Até mais!

 

Roberta:  Como trabalha essa dopamina! E, aliás, essa Rafa também, sempre chegando com inúmeras informações quentinhas e certeiras pra gente. Saudades, Rafa! Depois de dar inúmeras dicas de doação sem dinheiro na primeira temporada, agora a Rafa vai tirar nossas dúvidas de conceitos importantes para cada episódio e, claro, para cultura de doação. Nosso glossário.

 

Artur: A Rafa nessa temporada vai ser o wiki-Rafa, nosso dicionário, nossa Alexa! Mas, se a gente já sabe que nossa massa cinzenta tem mecanismos prontos para nos fazer mais felizes ao praticar uma boa ação, o que resta fazer se não ouvir o depoimento de alguém que convive constantemente com essa sensação?

 

Roberta: Isso mesmo, Artur! Para o episódio de hoje, nossa produção conversou com o Tiago Silva, mais conhecido como Mochileiro pela Educação. E o que é isso, vocês vão me perguntar. Pois o dia a dia do Tiago é sair pelo Brasil, e principalmente por cidades do Nordeste, pequenininhas, distribuindo livros para pessoas e instituições que precisam deles. Tiago, conta pra gente como é isso?

 

Tiago Silva: Quando eu me formei, eu disse: Agora vou devolver para a educação tudo que ela fez pela minha vida. Então eu resolvi utilizar o instrumento literário como uma ferramenta para inserir jovens nesse contexto de transformação social etc. Então, comecei a viajar as cidades com um projeto voluntário chamado “Conversando sobre Carreira”. E esse projeto durou aí mais ou menos dois anos. Eu criei esse projeto, que era uma espécie de montar fóruns para debater carreiras com uma série de jovens. Depois o projeto se transformou no Mochileiro pela Educação, quando eu resolvi inserir o contexto literário dentro desse propósito. Então, de fato o Mochileiro pela Educação, que trabalha com a ferramenta literária, com a distribuição de livros, montagem de bibliotecas em comunidades e estantes literárias, ele começa nesse sentido assim de devolver para a educação tudo que ela fez pela minha vida.

 

Artur: Com certeza, uma forma linda de levar a educação para mudar a vida de tantas outras pessoas. E, é claro, também perguntamos como esse trabalho mudou a maneira como o Tiago encara a sua vida e a si mesmo.

 

Tiago Silva: Fazer a doação e ir para comunidades fazer trabalhos voluntários, levando a mensagem da educação que salva vidas, levando as oficinas para potencializar a carreira desses jovens e dessas crianças me faz muito bem. Mudou a minha forma de ver o mundo, a humanidade. Eu sempre fui muito altruísta, sempre tive o altruísmo como uma competência minha, mas nunca imaginei que, através do Mochileiro pela Educação, poderia desenvolver tanta empatia pelas outras pessoas. Acho que, quando você está imerso num negócio que de fato provoca uma transformação na vida do outro, consegue valorizar muito, muito, muito aquilo que você conquista. Você consegue ter os seus princípios bem detalhados, as suas virtudes, aquilo em que você acredita. Eu quero muito saber se o livro que estou distribuindo está transformando a vida das pessoas que me propûs a ajudar.

 

Roberta: Que lindo testemunho! Dá pra perceber na prática, não só pelas palavras, mas também pela voz do Tiago, o quanto o trabalho dele como voluntário e doador traz satisfação também para vida pessoal dele, além de todas as outras pessoas que ele tem ajudado por esse Brasil.

 

Artur: E vamos ser sinceros, né, Roberta? Se doar trouxesse uma sensação ruim, muito menos gente faria isso. Acho que a importância da gente bater tanto nessa tecla hoje é para que as pessoas percebam o quanto ajudar os outros é uma coisa positiva para elas mesmas. E é algo que pode, como oTiago apontou, te ajudar a valorizar a si mesmo e às suas conquistas, assim como passar a enxergar o mundo por uma lente de mais empatia e generosidade.

 

Roberta: E olha que agora vamos receber aqui alguém que vai poder falar muito melhor do que a gente sobre esse assunto. E vamos lá porque o currículo dele é extenso! O Dr. Ricardo Teixeira tem doutorado em neurologia pela Unicamp e foi diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília. Ele também assina a coluna Neurônios em Dia no jornal Correio Braziliense e apresenta toda semana o programa “Cuca Legal”, na Rádio CBN Brasília. O seu blog ConsCiência no Dia a Dia já venceu o prêmio Top Blog na categoria saúde.

 

Artur: Ricardo, seja bem-vindo ao nosso podcast! Obrigado por aceitar nosso convite!

 

Ricardo: É um prazer estar aqui com vocês!

 

Roberta: Você fala bastante sobre a ciência e a neurologia aplicadas a situações cotidianas, e mostra como nosso cérebro é influenciado e também influencia diversas sensações que temos. Por que é importante para as pessoas comuns e leigas entenderem melhor a ciência do nosso dia a dia e do nosso corpo?

 

Ricardo: Tem muita coisa que fica, de certa forma, escondida nas entrelinhas dos termos difíceis e são recados tão importantes para a comunidade, para a gente como cidadão. Essa tradução do contexto científico para os nossos colegas do dia a dia, nossa comunidade em si, tem um valor infindável. Tem um autor nessa área que chama atenção para o fato da comunicação em saúde ser uma das melhores ações de promoção de saúde que a gente tem nos dias de hoje, com maior alcance possível. Então, quanto mais exato isso for, quanto mais cuidadoso, melhor — sem dúvida nenhuma. Além do B-E-A-B-Á de que fazer atividade física faz bem à saúde, se alimentar bem, dormir direito, tem vários outros detalhes do dia a dia que vale a pena explorar para termos a perspectiva de uma vida melhor.

 

E a mente e o cérebro são os maestros do nosso corpo: nosso órgão de relação com o mundo externo e com o mundo interno, faz a interface. Então, se a gente não cuida bem do nosso cérebro, realmente vamos ter influências negativas no corpo como um todo.

 

Artur: Bacana. E, Ricardo, quando a gente fala em atos de generosidade, que é o tema do nosso podcast? Dia desses, recebi um vídeo nessas correntes de whatsapp da família em que um rapaz contava de um estudo britânico, se não me engano, em que mediram o que acontecia com uma pessoa quando ela participava de uma ação social — e contava um caso específico que não vou me recordar agora. E ele dizia que constataram que a pessoa tinha uma descarga de ocitocina quando envolvida em um caso de generosidade dessas, e fala que a ocitocina é um hormônio relacionado ao momento do parto, que traz a sensação de felicidade suprema, para a mãe enfrentar aquele momento. Existe alguma coisa desse tipo? Era papo furado ou de fato nosso cérebro processa atos de generosidade de forma especial? Quando a gente faz um ato de doação, de ajuda ao próximo, o que acontece no nosso cérebro?

 

Ricardo: A questão da ocitocina realmente é verdadeira. A gente tem um conjunto de evidências bem robusto hoje para entender o quanto ações altruístas fazem bem para o nosso cérebro e bem estar, não só do ponto de vista hormonal — como no caso da ocitocina — mas evidências claras do quanto o cérebro responde quando tomamos uma atitude altruísta para o outro (ou os outros).

Isso começa no nosso centro de recompensa cerebral, o mesmo ativado quando comemos uma coisa muito gostosa, quando ouvimos uma música muito boa, é o que faz nosso cérebro entender o prazer de uma coisa agradável e repetir posteriormente. De certa forma, é um circuito arcaico que a gente tem desde os primórdios, para que repitamos coisas boas e não repitamos coisas ruins. Então, você tem a ativação desse sistema e, junto a isso, uma redução da atividade em uma região do cérebro chamada amígdala, na região temporal, e é uma região associada a fuga, luta, medo. As ações altruístas deixam essas estruturas menos ativadas, menos em liberação de outro hormônio: o cortisol, do estresse. Então, a possibilidade de uma menor ativação da amígdalas faz com que você tenha grandes avenidas de ganhos na sua saúde psíquica e física: menos doença cardiovascular, menos ansiedade, etc.

 

E o curioso é que um dos estudos que avaliou essa questão mostrou que quanto mais endereçado for essa atitude altruístas, ou seja, fazer o bem ao outro, concreto, alguém que você enxerga, tem efeito maior do que fazer para uma instituição, por exemplo, uma doação para um museu, para um projeto social, mais abstrato. Então, quanto mais próximo da vida concreta, humana, entre pessoas, parece que o efeito é maior ainda.

 

Roberta: Muito legal você dizer isso, Ricardo, porque a gente vê isso na prática da captação de recursos: é sempre mais fácil captar de pessoas para pessoas, são histórias com as quais a gente se relaciona. E quando a gente fala com quem já está acostumado a doar, participar de projetos sociais, escuta muito essa ideia de quase um vício, de que quando começa a fazer, fica muito envolvido e acaba querendo fazer sempre mais. Tem alguma coisa no cérebro que faz com que a ação contínua feita com recorrência, semanalmente, diariamente, seja doação ou trabalho voluntário, gera algum efeito mais duradouro a longo prazo? Tem como ficar viciado em fazer o bem?

 

Ricardo: Esse sistema de recompensa tem uma palavra mágica por trás que é a famosa dopamina: um dos nossos hormônios cerebrais, um neurotransmissor que, como falamos anteriormente, você faz algo uma vez e ele te avisa que é prazeroso e vale a pena repetir. E repetiremos, porque aquilo faz muito bem. Andei de bicicleta semana passada olhando para as montanhas, muita dopamina no meu cérebro, semana que vem acho que quero ir também — é mais ou menos isso. A gente pode conversar muito sobre hormônios, circuitos, cérebro, mas tem uma coisa fundamental que é o envolvimento que você vai criando com o pertencimento a algo maior do que o seu próprio umbigo. Isso vai crescendo: quando você para de olhar só para você. Esse pertencimento não é só cerebral, isso vai te dando prazer e vira esse círculo virtuoso.

 

Artur: Ricardo, a gente, durante a pandemia, viveu, estamos vivendo um período de extremos em relação ao cuidado com o próximo. Ao mesmo tempo em que a gente vê muitos casos tenebrosos de descaso com a saúde alheia ou dos mais necessitados, a quantidade de mortos que tivemos que empilhar aqui no nosso país; ao mesmo tempo a gente vê em muitos lugares um altruísmo, muitas pessoas que não faziam nenhum tipo de ato solidário ou alguma ação social, passando a fazer. A gente bateu recorde de doação durante a pandemia. Com isso, uma pergunta difícil, não sei quanto você tem a falar sobre isso, mas o nosso cérebro tende mais a generosidade ou ao egoísmo?

 

Ricardo: Respondendo de bate e pronto, eu diria que a generosidade. O homem, a princípio, é altruísta e, diferente de todos os outros animais, faz isso mesmo fora da sua rede familiar de pai, filho, irmão. Então, crianças com 7 ou 8 anos de idade são capazes de dividir o alimento e achar até injusto quando isso não acontece entre colegas: isso é conhecido na ciência como cooperação extra-paroquial — paroquial é quando está dentro do ecossistema familiar. O homem tem como herança arcaica essa cooperação entre eles, porque isso traz maior chance de sobrevida. Lógico que você vai falar: “poxa, mas os macacos se matam, os homens fizeram tantas guerras”, mas, à princípio, a generosidade ganha, porque, se não, não teria tantos efeitos químicos positivos para o cérebro de querer repetir aquela ação se fosse uma coisa ruim.

 

Por exemplo, a enxaqueca é, do ponto de vista evolutivo, como vantagem, porque ao sentir um cheiro forte, pode desencadear uma dor de cabeça; ao ficar sem dormir, ou dormir de mais, pode desencadear uma dor de cabeça; comer um alimento x ou y, pode desencadear. Isso é para te mostrar que não é para repetir, isso é perigoso, pode ser veneno para os nossos ancestrais — para a gente é tudo muito simples. Mas, acredito que, se o sistema de circuitos está montado para quando você fizer o bem para uma pessoa, disparar tantas conexões de prazer, é porque isso milenarmente foi desenvolvido para a gente continuar fazendo.

 

E tem vários exemplos para se dar: durante catástrofes, quanto as pessoas ajudam umas às outras… Então, é uma tendência natural do ser humano. Acredito piamente nisso.

 

Roberta: Ufa! Que bom ouvir isso! Os bons são a maioria!

 

Ricardo: O bom é a maioria, sem dúvida.

 

Roberta: E Ricardo, nosso público é formado, em boa parte, por pessoas do terceiro setor.  Queria te pedir algumas dicas, se você tiver: como a neurociência pode nos ajudar a fazer pedidos de doação mais certeiros? Você tem dicas do que pode funcionar melhor como gancho de atenção para o nosso cérebro para ajudar a comunicar melhor as causas, engajar mais as pessoas?

 

Ricardo: A primeira coisa que passa pela minha cabeça é trazer mais concretude àquilo que você vai doar. Por exemplo, eu trabalho como médico, meu dia é depois de meia hora atendendo um doente, sentir que a vida daquela pessoa mudou depois daquele encontro: ou porque você falou palavras certeiras, ou porque deu um remédio, indicou algum tipo de terapia não medicamentoso. Sinto isso na carne. Minha esposa, por exemplo, trabalha no lado de promoção social e sempre fala que a distância entre o que ela faz e o resultado é tão demorado, distante e pouco palpável. Ela sente que está fazendo a coisa certa, mas é muito mais palpável o meu cérebro vibrar com esse fazer o bem, vendo algo concreto na minha frente e respostas rápidas. Então, a primeira coisa que pensaria é ter alvos: uma pessoa para cuidar dela — campanhas como: cuide desse grupo de cinco pessoas, acompanhe essas dez pessoas, cem pessoas, veja os resultados dessa micro comunidade a cada mês, resultados, coisas que mudaram na vida deles. Isso faz toda a diferença: a pessoa sentir que atendeu aquele “paciente”.

 

É o que estávamos conversando anteriormente: essas respostas de circuitos neuronais são mais fortes, dão mais prazer e te deixam com as amígdalas menos ativadas, alarmes menos ativados, quando você tem essa concretude misturada. O modelo de criar o acesso aos resultados seria bem interessante, em curto, curtíssimo prazo: saber depois de um mês o que aconteceu, dali dois meses o que aconteceu. Acho interessante isso!

 

Roberta: Muito legal, Ricardo! O nosso cérebro tem dificuldade com o longo prazo mesmo e com valores muito grandiosos, coisas muito distantes da nossa vida. Querido, muito obrigada! Queria te agradecer por essa aula, esclarecer pra gente todos esses pontos. A gente vai percebendo que, ao ajudar uma pessoa, na verdade, como a gente gosta de falar e sente na prática, está ajudando duas: a si mesmo e ao próximo.

 

Ricardo: E tem um termo que a língua inglesa usa com muita propriedade que é de um brilho prazeroso, chamam de quente, o warm (quente) glow (brilho, purpurina). E eles usam esse termo a vontade para falar do prazer que dá fazer o bem ao outro.

 

Roberta: Esse quentinho no coração!

 

Ricardo: Quentinho no coração, exatamente. É uma coisa imperdível, quem está perdendo comece a praticar!

 

Roberta: Muito bom! Querido, muito obrigada pela sua presença e sua aula. Agora só falta uma coisa para concluir esse papo: a nossa rodada relâmpago!

 

Ricardo: Vamos lá!

 

Roberta: Ricardo, é algo bem simples, nós vamos te fazer 5 perguntas e você responde com a primeira coisa que vier à sua cabeça. Ok?

 

Ricardo: Claro!

 

Roberta: Então, vamos lá! Qual foi a sua doação mais recente?

 

Ricardo: Minha doação é diária: minha profissão clínica. A doação para a comunidade, trabalho de comunicação em ciência, que a gente faz. E a última foi no dia das crianças, as crianças querendo dinheiro e comprei vários chocolates para eles.

 

Artur: Que beleza! Também faço muitas doações desse tipo: espontâneas, no dia a dia. Acho muito importante e nem sempre é valorizado. Ricardo, e qual é a sua causa do coração?

 

Ricardo: Fazer bem aos outros.

 

Roberta: O que você doa e que não é dinheiro?

 

Ricardo: Esse trabalho de divulgação de ciência para a comunidade, faço gratuitamente. É um trabalho que me dá muita satisfação. E doou amor, compreensão para as pessoas que me cercam, mais próximas.

 

Artur: Legal! A gente queria que você citasse uma organização ou um projeto que você admira e apoia:

 

Ricardo: Um projeto que admiro e apoio é o Projeto Sebastião Salgado, que reflorestou toda a mata que era do pai dele. Não tinha uma árvore, ele plantou milhões de árvores. O Hospital da Criança, em Brasília, que é uma instituição muito nobre. Sempre que posso estou participando de alguma ação que eles estão desenvolvendo, show beneficente para as instituições. Coisas tímidas, mas que me fazem muito feliz.

 

Roberta: A última pergunta é, na verdade, um convite. Queria saber se você já convenceu alguém a doar e se não o fez, faça agora ao vivo! Convide alguém para doar e porque essa pessoa deveria doar.

 

Ricardo: Esse convite é razão de existir, acho. Convido a todos a pensar que o planeta é gigantesco e você pensar nos seus metais, moedas, no seu umbigo, não faz o mínimo sentido na pequenez que nós somos. Se a gente não conseguir expandir nosso universo para as pessoas ao nosso redor, ou sentir que fazemos parte de algo maior como uma comunidade, a vida começa a não ter tanto sentido. Você é um grão de areia nesse universo, então, junte-se aos outros grãos e isso vai te dar muito prazer! Provavelmente, muitos aspectos positivos para a sua saúde, que a gente comentou anteriormente. Viver com esse brilho quente é muito gostoso!

 

Artur: Excelente, Ricardo! Que ótimas palavras! Tão bom ouvir isso, somos partidários dessa opinião. Muito obrigado pela sua participação aqui! Sinta-se sempre convidado, quando tiver algum trabalho para divulgar, quiser participar aqui! A casa é sua!

 

Ricardo: Está ótimo! Muito obrigado a vocês pela oportunidade. É uma coisa que me agrada muito mais falar do que uma doença neurológica, com certeza! E isso afeta muito mais pessoas nesse nosso planeta!

 

Roberta: Obrigada, querido!

 

Artur: Muito obrigado!

 

Ricardo: Valeu!

 

Roberta: Artur, a gente tem falado hoje sobre doar e fazer trabalho voluntário. Geralmente quando se aborda essas duas coisas dentro da cultura de doação, é muito raro vir à cabeça a ideia de comprar algo, mas a verdade é que comprando a gente também pode ajudar várias causas importantes.

 

Artur: Bem lembrado, Roberta. E é por isso que para essa temporada a gente renovou o contrato da nossa colunista Duda Schneider que está chegando para falar de mais um produto social que a gente certamente vai ficar doido pra comprar. E o quadro dela tá de nome novo, olha que chique: é o Merchan do Bem! Duda, chega mais!

 

Duda: Oi, gente! Eu sou a Duda Schneider e esse é o seu quadro Merchan do Bem! O produto de hoje vai encantar especialmente os nossos ouvintes fãs de futebol. Sabia que você pode usar no pulso um pedacinho do gol que o seu time marcou lá no estádio do Maracanã? E, ainda por cima, fazer uma doação para causas do esporte e da educação? É isso mesmo, você não entendeu errado! É a coleção Maracanã, da KDesign em parceria com a Play for a Cause. São 500 pulseiras exclusivas e limitadas feitas com as redes utilizadas na baliza do estádio: você encontra essas pulseiras em dois modelos, a Maracanã Silver e a Maracanã Black, ambas com pedaços da rede usadas nos jogos do Maracanã ao longo de 2020. Além da pulseira, o comprador recebe também o certificado oficial da rede, certificando o material junto ao Maracanã, além de um selo com o número da edição do modelo.

 

E o mais importante, motivo para esse produto estar aqui hoje: parte da renda é revertida para as organizações beneficiadas pelas doações da Play for a Cause. Para saber mais sobre o projeto e garantir a sua antes que acabe, é só acessar o site: kdesign.com.br/colecao-pulseira-maracana. Muito obrigada pessoal! Até a próxima!

 

Roberta: Muito bom, obrigada Duda! E aí, Artur, o que achou das conversas de hoje? Eu confesso que não só aprendi muita coisa com o Ricardo sobre como o nosso cérebro é uma ferramenta maravilhosa, como fiquei com ainda mais vontade de doar tempo e dinheiro para as causas em que acredito, como faz o Tiago. E ter todo esse barato que a cultura de doação pode proporcionar de maneira segura, legal e feliz.

 

Artur: Bom, o que achei mais legal foi a gente conseguir trazer uma variável científica para essa discussão que, geralmente, parece tão de humanas! Como a gente ainda é tão partidário de uma coisa que está em desuso no país, que é a ciência, a gente não podia deixar de trazer esse tema para essa temporada, quando estavamos preparando as pautas, essa foi uma que sentimos muita necessidade, afinal não tínhamos tocado nesse ponto. Monstra que todo o ser humano tem a ganhar fazendo gestos de solidariedade, e isso não tem nada a ver com o seu posicionamento político, encaminhamento em relação a que tipo de causa… Dá para todo mundo ajudar o próximo dentro das suas convicções e sair ganhando com isso. Então, seja você movido por um sentido de bem maior na sociedade, ou um bem mais egoísta, você vai ganhar de qualquer jeito. A ciência comprova isso.

 

Roberta: Muito bom! Acho que esse é o nosso espírito, no Instituto MOL e nesse podcast: mostrar que há muitas razões e formas de doar. Você pode doar porque tem uma conexão espiritual com a questão da doação, porque acha seu gesto de cidadania e, agora, pode doar porque é um anti-depressivo, praticamente, e com menos efeitos colaterais que os remédios de caixinha. Então, é um ganho incrível para a gente: toda a vez que temos um novo motivo para seguir na nossa bandeira da cultura de doação.

E é muito legal pensar, nesse momento em que vivemos de luto, estresse, ansiedade, todos os sentimentos negativos acumulados nesses anos de pandemia, no fim do ano, toda a sobrecarga… A gente costuma olhar para dentro de si quando estamos sofrendo, para os nossos próprios problemas, nosso próprio umbigo, e a cultura de doação é uma maneira de levantar a cabeça, olhar para o horizonte e ganhar outra perspectiva, ver o mundo de maneira maior do que só aqui dentro da nossa bolha. Isso, com certeza, faz um bem enorme para a gente e para a comunidade.

 

Artur: Quem quiser compartilhar as histórias de como as doações, sua vida solidária, impacta positivamente seu cérebro, seu mecanismo de recompensa, pode mandar lá no nosso Instagram @institutomol ou no nosso perfil do LinkedIn! Aliás, você já tá seguindo nossos perfis? Tá esperando o que? Tem muita coisa boa por lá!

 

Roberta: Segue lá! @InstitutoMOL no Linkedin e no Instagram. E se você é a moda antiga, cringe, e prefere escrever nós também temos um e-mail: contato@institutomol.org.br. Por favor, pode mandar elogios, críticas, sugestões de pauta, se candidatar a ser um convidado aqui, a gente está querendo trocar ideia. E é isso, pessoal! Por hoje é só!

 

Artur: E se você gosta de fazer dancinha, e tudo, entra lá no nosso TickTock, a gente não está lá, mas seja feliz, tá? Por hoje é isso pessoal, semana que vem estamos de volta! Que bom falar isso, né? Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior. A produção é de Leonardo Neiva, e o roteiro final e direção é de Vanessa Henriques e Ana Azevedo, do Instituto MOL. As colunas são de Rafaela Carvalho e Duda Schneider, da Editora MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!

 

Roberta: Até mais!

 

Artur: Até mais!

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