Transcrição EP #59 — Por um calendário mais colorido

Artur: Vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, azul escuro e roxo. São cores do arco-íris, que graça, mas também são as cores do calendário de campanhas de conscientização sobre causas. E muitas causas pedem muitas cores, obviamente, espalhadas por todos os meses do ano. Na verdade tem até mais do que essas, tem algumas que são mais de uma cor associadas.

Quem nunca ouviu falar do Outubro Rosa? Essa foi a primeira ação que associou uma causa a um mês e a uma cor e tomou proporção mundial e que inspirou e segue inspirando muitas outras. Mas será que essa é uma boa estratégia? E quando tem mais de uma cor no mesmo mês, será que interfere? As campanhas geram mais doação? Essas são algumas das perguntas que nós vamos tentar responder hoje.

 

Eu sou Artur Louback

 

Roberta: Eu sou Roberta Faria

 

Artur: E campanhas de conscientização que associam causas a meses e cores são o tema de hoje no…

 

Artur e Roberta: Aqui se Faz, Aqui se Doa!

 

Artur: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação luxuosa e especialíssima do Infomoney.

 

Pra aquecer o nosso papo sobre meses coloridos, eu mencionei na abertura do programa o Outubro Rosa. Eu tenho certeza que muita gente, apesar de já ter pelo menos ouvido falar nessa campanha, não tem ideia de como ela começou. Você sabe, Roberta?

 

Roberta: Na verdade não! E vamos descobrir juntos nesse episódio!  E acho que a gente pode ir até um pouco antes do Outubro Rosa, pra falar sobre a tradição de usar fitas coloridas associadas a uma causa. A versão mais difundida diz que ela começou em 1979, inspirada pela canção “Tie a Yellow Ribbon Round the Ole Oak Tree”, que fala sobre um prisioneiro voltando para casa.

 

A história foi a seguinte: 52 norte-americanos foram feitos reféns por iranianos na embaixada dos Estados Unidos em Teerã, e a esposa de um dos oficiais colocou uma fita amarela em uma árvore na frente de casa, como um símbolo do seu desejo de ver o marido voltar em segurança. Ela também convidou outras famílias a fazerem o mesmo.

 

Onze anos depois, em 1991, um grupo de artistas de Nova York buscava um símbolo para um movimento de apoio às pessoas com HIV e se inspiraram pela história das fitas amarelas. Eles não queriam uma cor muito associada à comunidade LGBTQIA+, porque queriam mostrar que o HIV pode atingir qualquer pessoa, então optaram pelo vermelho, por fazer referência ao amor, e fizeram o formato de loop que todos conhecemos hoje, aquele lacinho.

 

Artur: E chegando no Outubro Rosa… Há relatos sobre o uso da cor associada ao câncer de mama ainda nos anos 1980, quando a Fundação Susan G. Komen Breast Cancer usou a cor para representar a sua “Corrida pela Cura” (Race for the Cure). E em Outubro de 1985 foi quando aconteceu a primeira grande campanha nacional pela conscientização sobre o câncer de mama nos Estados Unidos, um evento de uma semana promovido pela American Cancer Society com a divisão farmacêutica da Imperial Chemical Industries (hoje parte da AstraZeneca). Mas foi no início da década de 1990 que a fita rosa se transformou num grande símbolo da causa.

 

Roberta: Um fato curioso, Artur, é que, na verdade, no começo a fita era cor de pêssego. Quem primeiro usou uma fita como principal símbolo para a conscientização sobre essa causa foi a americana Charlote Haley, depois que familiares próximas a ela tiveram câncer de mama. E a cor preferida dela era pêssego. Então ela decidiu distribuir a fita junto com um cartão com a seguinte mensagem: “O orçamento anual do Instituto Nacional do Câncer é de US$ 1,8 bilhão, apenas 5% vão para a prevenção do câncer. Ajude-nos a chamar a atenção dos legisladores e dos Estados Unidos usando essa fita.”

 

Artur: A Charlote Haley era muito popular na sua comunidade na Califórnia e começou distribuindo os cartões e as fitas cor de pêssego, como a Roberta falou, que ela mesma fazia, no comércio local. E ela também fez mais: começou a escrever para mulheres importantes, celebridades, como ex-primeiras-damas, e sua mensagem se espalhou de tal forma que chamou a atenção da editora de uma grande revista americana e da vice-presidente de uma empresa de cosméticos, que procuraram a Charlotte para uma parceria. Mas ela achou que a campanha se tornaria muito comercial e corporativa, e não quis se associar.

 

Roberta: Outros tempos, né? Só que a ideia já estava no ar e sua força estava provada. Então, para sua edição especial do Mês Nacional de Conscientização sobre o Câncer de Mama de 1992, a revista usou a fita assim mesmo, mas com uma nova cor: rosa. E a empresa de cosméticos distribuiu um milhão de fitas cor-de-rosa pelos Estados Unidos. Em 1999, quando a campanha já estava bastante difundida, o presidente Bill Clinton assinou uma lei que oficializou o Mês Nacional de Conscientização sobre o Câncer de Mama.

 

Artur: No Brasil a primeira ação do Outubro Rosa no Brasil aconteceu em 2002, com a iluminação em cor-de-rosa do Obelisco do Parque Ibirapuera, em São Paulo, quem fez isso foi um grupo de mulheres simpatizantes com a causa e que tiveram o apoio de uma empresa de cosméticos europeia. Mas só em 2008 a campanha se fortaleceu e tomou o país, e dez anos depois se tornou lei federal.

 

Roberta: A gente conversou com a Luciana Holtz, que é fundadora e presidente do Oncoguia, uma organização que há 10 anos apoia e defende os direitos das pessoas com câncer. O Oncoguia participa “na medida do possível”, como a Luciana nos contou, de todas as campanhas de conscientização relacionadas ao câncer no Brasil — há muitas outras além do Outubro Rosa. Ela falou sobre o Outubro Rosa e o uso das cores no fortalecimento dessas ações.

 

Luciana: O Outubro Rosa vem de uma campanha grande dos Estados Unidos, que começou lá, que foi o Pink October, que foi essa conexão, esse link da causa câncer de mama com a cor pink, e a partir disso um convite pra que marcas, pra que empresas, pra que toda a sociedade aderisse ao rosa pensando numa ampliação da conscientização em torno do problema. Acho que esse é o ponto, essa é toda uma conexão que é muito importante que se feche quando a gente tá juntando uma cor, um ícone, com a causa que a gente quer ampliar a conscientização. Eu não tenho dúvida do quanto isso facilita, do quanto ajuda a ampliar a conscientização, a chamar mais atenção das pessoas, parece que faz uma conexão mais rápida.

 

Roberta: Mas a Luciana também falou que é um grande desafio para o Oncoguia participar e organizar ações para todas essas campanhas. Só pra citar algumas, além do Outubro Rosa e do Novembro Azul, que já são mais populares, tem o Fevereiro Laranja, que trata da leucemia; Março Azul, de conscientização sobre o câncer colorretal; o Dezembro Laranja, que é sobre o câncer de pele; e o Setembro Dourado, que fala do câncer infantil.

 

Artur: Setembro, aliás, é um mês bastante concorrido nesse sentido. A gente convidou representantes de três causas diferentes que fazem campanhas com cores nesse período: o Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio; o Setembro Roxo, que trata da fibrose cística; e o Setembro Verde, de luta pela inclusão das pessoas com deficiência. Vamos ouvir primeiro o Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, que junto com o Conselho Federal de Medicina criou o Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, em 2014.

 

O Dia Nacional de Prevenção ao Suicídio é 10 de setembro, e a cor amarela foi escolhida porque em setembro de 1994, nos Estados Unidos, um jovem de 17 anos, chamado Mike Emme, cometeu suicídio. Ele tinha um Mustang 68 amarelo e, no dia do seu velório, seus pais e amigos decidiram distribuir cartões amarrados em fitas amarelas com frases de apoio para pessoas que pudessem estar enfrentando questões parecidas. A ideia acabou desencadeando um movimento de prevenção ao suicídio e essa cor virou o símbolo da campanha.

 

Roberta: O Antonio falou pra gente sobre as ações promovidas durante o Setembro Amarelo aqui no Brasil.

 

Antônio: Na verdade é uma concentração de esforços para tratar bastante desse assunto, tentar falar muito desse assunto nesse período. Porque a campanha tem que ser 365 dias ao ano. Mas no mês de setembro, nós não fazemos o que algumas pessoas falam de “comemoramos”. Não comemoramos nada. Nós concentramos os esforços pra falar muito sobre esse tema, que é pra que as pessoas aprendam a evitar o suicídio, ter uma intervenção precoce, serem atendidas com antecedência, pra não correr esse risco.

 

Mas nós temos algumas atividades principais, que são basicamente: mobilização da imprensa, porque a imprensa mobilizada, falando de forma responsável do tema, ajuda muito, porque ensina como se faz pra evitar o suicídio; fazemos peças publicitárias – claro, de propaganda, porque nós não temos dinheiro pra fazer publicidade, mas -, propagandas em todas as mídias sociais da ABP, do CFM, dos psiquiatras do Brasil, psicólogos e outros profissionais de saúde que entram – enfermeiras, assistentes sociais, nutricionistas, fonoaudiólogos – todos trabalhando nessa campanha. E com isso nós também estamos atingindo as famílias, que também estão entrando na campanha, programas de televisão, que é bastante importante pra nós, e em todas as situações nós buscamos promover a saúde mental, pra auxiliar no reconhecimento dessas doenças mentais a fim de conseguirmos fazer a intervenção precoce. Isso é muito importante. E melhorar também a adesão ao tratamento.

 

Artur: Roberta, essas ações que o Antonio falou são basicamente o que todas as outras organizações fazem nesse tipo de campanha que associa um mês a uma cor a uma causa. Além disso, geralmente também tem produção de lives, podcasts, conteúdos nas diversas plataformas de mídias sociais, palestras, e esse caso da iluminação de monumentos que, em alguns casos, acontece também.

 

Roberta: Exatamente. Como ele disse, é uma concentração de atividades para chamar a atenção sobre o tema para a sociedade e mídia em geral. E agora a gente vai ouvir a Verônica Stasiak, que é fundadora e diretora executiva do Instituto Unidos pela Vida, que há oito anos promove o Setembro Roxo – Mês Nacional de Conscientização sobre a Fibrose Cística. Quem acompanha o podcast lembra que ela já passou por aqui lá no episódio 30 sobre causas específicas, vale ouvir na sequência!

 

Verônica: Quando a gente fala de saúde, não existe dia e hora pra conscientizar a população sobre a importância de um diagnóstico precoce, do cuidado, da busca aos profissionais de saúde… de um, enfim, check up anual, como a gente fala. Mas quando a gente fala de uma doença crônica, ainda sem cura, ou de uma doença que precisa de uma atenção bastante específica, é claro que é muito importante a gente tentar chamar a atenção da sociedade da maneira mais intensa possível. E por isso tantas organizações, mundialmente falando, fazem uso de cores, que simbolizam essa doença, e de um mês inteiro de ações e atividades pra potencializar, tanto a mídia, a imprensa, ações de rua, quando possível obviamente, ações na internet de modo geral, políticas públicas, incidir em políticas públicas que falem sobre essas patologias, enfim… então obviamente quanto mais intenso for, mais a probabilidade de chamar a atenção da população, da sociedade.

 

Roberta: Na visão da Verônica, não existe concorrência entre as campanhas que acontecem no mesmo mês.

 

Verônica: Eu não vejo como concorrência inúmeras campanhas, a  exemplo do que estamos falando aqui, de meses coloridos, falando de determinadas doenças. Eu vejo como complementares. É um grande sinal de alerta pra que todos tenhamos um olhar um pouco mais cuidadoso e cauteloso com a nossa própria saúde, e obviamente a gente passa a prestar atenção a determinados sintomas que estão sendo abordados naquelas campanhas. É obvio que, a exemplo do Setembro, que a gente tá falando aqui do Setembro Roxo, causa da fibrose cística, a gente tem também o Setembro Verde, que é o mês de conscientização sobre o transplante de órgãos, doação de órgãos, então a gente, por exemplo, casa, tem uma sinergia entre essas duas causas: quem tem fibrose cística, por vezes, precisa de transplante pulmonar, e o mês de doação de órgãos tem tudo a ver com isso. Então a gente casa campanhas, potencializa a divulgação de ambas as causas.

 

Artur: A Verônica acabou nos lembrando de outra campanha, o Setembro Verde, que é sobre doação de órgãos. A gente falou com a Cristiany de Castro, diretora social da Federação das Apaes do Estado de São Paulo, que em 2015 lançou o Setembro Verde para falar sobre pessoas com deficiência. E quando perguntamos sobre ter muitas causas associadas a um mesmo mês, ela levantou um ponto que é o mote deste podcast: a cultura de doação.

 

Cristiany: Por que a cor verde pra essa campanha? A cor foi escolhida por setembro ser o mês da Primavera, com o verde da esperança. Além dissosetembro também é marcado pelo Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, que é comemorado no dia 21. A conscientização da população sobre a importância da inclusão social da pessoa com deficiência é o primeiro passo pra uma sociedade mais justa e inclusiva, além de dar mais visibilidade à causa, despertando o interesse de novos parceiros e doadores. Nós acreditamos na importância de cada causa e no que ela representa pra determinada parcela da sociedade.

A solução não está na organização de agenda, haja vista que tal ação seria praticamente impossível pelo número de instituições que utilizam esse tipo de campanha. Nós percebemos que o que precisa ser reforçado no nosso país é a cultura da doação, muito mais forte em outros países do que no Brasil. Se mais gente doasse, mais instituições receberiam recursos pra continuar suas atividades.

 

Roberta: É isso mesmo, Cristiany. A gente está fazendo a nossa parte, falando sobre cultura de doação aqui TODA SEMANA! Mas infelizmente ainda estamos bem longe disso no Brasil. Então a gente perguntou pra Verônica se o trabalho realizado durante o Setembro Roxo ajuda mesmo no engajamento com a causa e nas doações.

 

Verônica: Obviamente uma instituição de uma organização social como o Unidos pela Vida depende de doações de pessoas físicas e jurídicas, doações financeiras, pra poder fazer sua atividade rodar. A gente percebe sim um aumento nessas doações durante o mês de setembro, porque a gente está muito intensamente na mídia, nas redes sociais, falando muito sobre a fibrose cística, com isso a gente aumenta o nosso número de visitas no nosso portal, acesso aos nossos canais de comunicação e, dessa forma, as pessoas vão conhecendo mais o nosso trabalho, se interessando e querendo doar. Mas não somente isso, a gente também consegue engajar pessoas pra que, ao conhecerem a doença, também se sintam tocadas, pra que por sua vez elas passem a falar sobre isso.

Quando as pessoas começam a olhar mais pra uma causa, ela ganha uma proporção de mídia nacional, você consegue tanto que as pessoas busquem ajuda, o que pra nós é o mais importante, busquem ajuda o quanto antes, isso contribua pro diagnóstico precoce, pro tratamento adequado, e também obviamente no aumento das doações, pra impactar nos projetos de cada organização.

 

Artur: O mês de setembro foi escolhido para lembrar a fibrose cística porque o dia 5 de setembro marca a passagem do Dia Nacional de Conscientização e Divulgação da doença, e o dia 8 de setembro é o Dia Mundial da Fibrose Cística. O roxo é a cor que representa a fibrose cística mundialmente. E o Unidos pela Vida protocolou em 2020 um projeto de lei, junto com o deputado Pedro Westphalen, do Rio Grande do Sul, para que o Setembro Roxo vire lei, uma data oficial no Brasil.

 

Roberta: Será que a gente pode dizer que estar no calendário nacional, ou internacional, dá mais credibilidade a uma campanha? A Verônica nos falou que acha que ter uma lei colocando o mês e a cor no calendário oficial faz as coisas meio que “andarem sozinhas”. Como acontece com o Outubro Rosa, que todo mundo se apropriou e sai fazendo.

 

Artur: É, Roberta. Todo mundo – ou quase todo mundo – sabe que outubro é o mês de conscientização sobre o câncer de mama. Então é orgânico, as pessoas, as empresas, os entes públicos já preparam as suas ações relacionadas a isso: colocam símbolos cor-de-rosa nos estabelecimentos comerciais, nas suas lojas, iluminam seus prédios em cor-de-rosa, promovem ações com colaboradores… sem precisar ter uma instituição que “comanda” o processo.

 

Roberta: Isso facilita muito a vida das instituições porque é muito trabalhoso e complicado puxar esse bonde todo com tanta força. Outra data que foi estabelecida por lei federal no calendário oficial brasileiro, desde 2006, é 30 de agosto: o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla. E em 2014, a AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose criou o Agosto Laranja. A cor laranja já era utilizada para tratar da esclerose múltipla, e o mês foi definido justamente por conta do Dia Nacional de conscientização sobre a doença.

 

Artur: A gente conversou com o Gustavo San Martin, diretor executivo da AME. Ele disse que o fato de ter uma data oficial faz com que haja mais abertura, por exemplo, para iluminar locais com a cor que representa a causa. E a associação a um mês e uma cor traz mais doações.

 

Gustavo: O engajamento da sociedade pra doenças está diretamente associado ao conhecimento da sociedade pra essas doenças. O conhecimento ele pode ser adquirido de duas formas: ou por um diagnóstico, de um ente querido ou o seu próprio diagnóstico, ou por exposição de mídia. Em agosto, a gente identifica, sim, um aumento do volume de doações porque nós intensificamos também as ações, que é a gente aproveita que, enfim, as redes sociais comentam mais sobre a temática, e aí com o engajamento mais alto durante esse mês, a gente consegue exponenciar o alcance desses pedidos de doação, pra além da pessoa que já compõe a nossa base.

 

Roberta: A gente também falou com a Luciana Holtz, do Oncoguia, sobre engajamento e doações durante os meses que associam cores ao câncer. E ela trouxe outras questões importantes pra gente refletir. Vamos ouvir.

 

Luciana 2: Em termos de engajamento, de adesão, de que as pessoas, as empresas, então convidem seus funcionários para o dia rosa, convidem seus funcionários que naquele dia todo mundo use rosa, acho que isso a gente vem conquistando bastante. Acho que tem agora um próximo passo dessa questão, que é o quanto isso realmente a gente sai do nível só da informação, da conscientização, e consegue ir pra um próximo passo, que é o passo da ação.

 

Então, pensando na mamografia, eu tô realmente consciente de que se eu tenho 40 anos eu preciso cuidar bem da minha saúde, mas cuidar bem da minha saúde significa fazer a mamografia anualmente? E claro que tem toda uma discussão relacionada ao acesso a isso. Então se eu tô consciente e se eu vou atrás do exame, esse exame tá disponível pra mim se eu tentar fazer? Então acho que, hoje, conforme a gente vai ganhando espaço com a discussão, com o nível de conscientização e engajamento, vale a gente ir ampliando também a complexidade da discussão.

 

Pensando em doação, a gente pode refletir um pouco sobre doação de pessoa física e doação de pessoa jurídica. Então quando tem o mês, as empresas acho que também já entenderam, né, que acho que é outro que é outro ponto importante pra gente trazer pra essa discussão, que é: eu quero mostrar, eu quero associar a minha marca a uma causa, basta eu pegar o loguinho o Oncoguia e divulgar o Oncoguia, ou eu tenho que ir além e pegar realmente um produto meu que é pink e definir que x por cento daquele produto vai ser doado para a sustentabilidade institucional das ações do Oncoguia?

 

Tem empresa que faz isso e tem empresa que não faz isso. Tem empresa que simplesmente adere ao cor de rosa e pronto, e simplesmente divulga a mensagem de conscientização, que tá valendo, tá valendo… eu acho que são níveis diferentes de reflexão e níveis diferentes de envolvimento. Pensando na causa, pensando no seu propósito como empresa, no seu propósito institucional, talvez você tome diferentes decisões. Pensando em doador de pessoa física, a cultura de doação de pessoa física no Brasil é pequenininha ainda, então a gente até percebe que aumenta um pouquinho nesses meses, mas é bem pouquinho, ainda é bem pouquinho, da gente chegar a dizer que, né, a cor impacta na doação de pessoa física.

 

Artur: Olha aí o tema “cultura de doação” voltando na fala de uma entrevistada… Mas nem só de causas relacionadas à saúde são feitas as campanhas e movimentos que associam cores e meses. A gente conversou também com o José Aurélio Ramalho, diretor presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária, que criou em 2014 o movimento Maio Amarelo.

 

José Aurélio: A ideia de criar o movimento Maio Amarelo surgiu de observarmos o sucesso dos outros movimentos sociais, como Outubro Rosa, Novembro Azul, que usam laço pra divulgar as suas ações, e nós nos perguntamos: por que não ter um laço para o trânsito? Então nós criamos esse movimento. Maio porque é o mês, é onde foi decretada a década de redução de acidentes pela ONU, e amarelo porque é a cor do trânsito, advertência, então por isso que ficou maio Amarelo. E ele nasce em 2014, com esse propósito: fazer com que a sociedade discuta esse assunto que é tão preocupante e passa desapercebido.  

A questão do laço amarelo, a hora que você cria um ícone, um lacinho amarelo, você cria um engajamento maior, as pessoas querem usar o laço, querem falar sobre o laço, e isso tem sido um grande diferencial. Então as empresas, o poder público, virou uma ação, vamos chamar coordenada, com todos os entes da sociedade.

 

Roberta: E, pra encerrar, o José Aurélio deixou uma dica pra quem quer lançar uma campanha ou um movimento que associe cor e um mês do ano a uma causa.

 

José Aurélio: Olha, a dica não é diferente de qualquer outra coisa que você me perguntasse no que tange à criação de um movimento, ou de projeto, de uma atividade: muito, muito trabalho; muita, muita dedicação. É isso. Desde que o tema escolhido tenha a sensibilidade da sociedade, certamente esse movimento terá a sua repercussão, a sua longevidade. Hoje o Maio Amarelo anda por si só, independente do Observatório Nacional de Segurança Viária, que é a nossa organização que criou esse movimento, ele anda por si só. Ou seja, a sociedade abraçou o movimento, e ele segue aí agora, ano a ano.

 

Artur: Ótima dica, José Aurélio! Roberta, a gente percebeu que, em geral, as campanhas trazem cores que já são utilizadas mundialmente para determinada causa, e os meses também geralmente estão associados a uma data oficial estabelecida por lei. Mas tem exceções, né? Como o Setembro Verde de conscientização sobre os direitos das pessoas com deficiência, que teve a definição da cor mais associada à estação do ano em que ele está.

 

Roberta: É, Artur. Acho que ficou claro também que essas campanhas podem sim gerar mais engajamento e mais doações, mas é importante que elas consigam incentivar um compromisso permanente com a causa. E pra isso, claro, é necessário não apenas ter boas ideias, uma cor e uma data no calendário, mas organização, parcerias e boa comunicação, um tremendo esforço de equipe para mobilizar a sociedade toda.

 

Artur: E você que está ouvindo, conta pra gente lá no nosso Instagram @institutomol ou no nosso perfil do LinkedIn se você já se engajou com uma causa dessas campanhas coloridas e se você sabe de alguma que a gente não falou aqui ou alguma nova campanha. Quem sabe a gente não faz um novo episódio sobre isso.

 

Roberta: E se você já se engajou ou não se engaja, fica aqui a recomendação do nosso podcast, já que a gente sempre fala em doar, quem sabe reservar um pouco das suas doações mensais para campanhas de cores daquele mês. Todo mês tem causas para você escolher, não só na saúde, mas em todos os temas, sempre tem quem precise da sua doação!

 

E se você quiser fazer uma sugestão de tema de episódio, quer elogiar ou criticar nosso podcast, ou só mandar um alô: escreve pro email contato@institutomol.org.br. A gente adora ouvir vocês e responde todo mundo!

 

Artur: Por hoje é isso, pessoal! Semana que vem estamos de volta! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do Infomoney. Esse episódio teve produção da Mônica Herculano. O roteiro final e direção são de Vanessa Henriques e Ana Azevedo, hoje temos a presença ilustre da Mariana Vianna, nossa nova integrante da equipe, a arte é de Glaucia Ribeiro, do Instituto MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!

 

Roberta: Até mais!

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