por Instituto MOL
Roberta: Nos últimos tempos tem sido cada vez mais comum a gente ver empresas que oferecem produtos e serviços com o objetivo de gerar soluções para problemas sociais e ambientais e, ao mesmo tempo, gerar lucro. Além de vender, elas doam, reciclam, reflorestam, capacitam, empregam pessoas em situação de vulnerabilidade, entre outras diversas ações — porque um leque muito grande de desafios demanda também diversidade de soluções. Essas iniciativas, que levam o propósito dentro do seu modelo de negócio, estão inseridas no chamado “setor 2.5”, porque apresentam características tanto do Segundo Setor, das empresas tradicionais, que tem como foco o retorno financeiro em primeiro lugar, quanto do Terceiro Setor, que são as organizações sem fins lucrativos, com foco em gerar impacto socioambiental.
Mas será que dá mesmo pra juntar esses dois fins em um negócio só? Quem vem conversar com a gente hoje pra tentar responder a essa e outras questões é o Rodrigo Cavalcante, CEO da Phomenta.
Roberta: Eu sou Roberta Faria
Artur: Eu sou Artur Louback
Roberta: E negócios de impacto social são o tema de hoje no…
Roberta e Arthur: Aqui se Faz, Aqui se Doa!
Roberta: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do Infomoney.
Artur: Roberta, se a gente fizer uma pesquisa sobre o tema negócios de impacto social logo de cara a gente encontra: um negócio que conecta quem precisa de serviços de reforma ou construção a profissionais qualificados; uma empresa que leva comida de onde sobra pra onde falta; uma loja de brinquedos voltada a ampliar a representatividade negra; enfim, se eu for seguir aqui, a gente fica o programa inteiro só com essa lista.
Roberta: Sim, são milhares e milhões. Muitas iniciativas, algumas ainda em estágio de desenvolvimento da ideia, outras muitas já em expansão. Em 2020, a Global Impact Investing Network (GIIN) calculou que o tamanho do mercado de investimentos de impacto no mundo já chegava a 715 bilhões de dólares.
No episódio 42 aqui do nosso podcast, falamos sobre o conceito de impacto social: que não existe uma definição única, mas que, em termos gerais, é a maneira como um programa ou projeto transforma a vida de uma determinada comunidade. E como será que isso virou objetivo de negócios?
Artur: Olha, a história é bem longa. Em 2019, a Aupa, que é um site especializado na cobertura do ecossistema de impacto social fez uma grande reportagem, em parceria com o Instituto Sabin, pra tentar mapear esse percurso, essa história – e eu deixo a sugestão que todo mundo leia, o link vai ficar na descrição. Mas pra tentar resumir, a ideia vem dos anos 1970, quando o bengalês Muhammad Yunus, que é talvez a grande figura, celebridade desse setor, desenvolveu o modelo de microcrédito para atender às famílias de pequenos produtores rurais em Bangladesh. Esse modelo focava no empréstimo às mães dessas famílias e, ao longo das décadas seguintes, foi replicado em vários outros países no negócio que passou a se chamar Grameen Bank, e que depois passou a ser Yunus Negócios Sociais, que tem aqui no Brasil.
Roberta: O Yunus foi quem criou o termo “negócios sociais”, usado para descrever iniciativas empreendedoras que buscam uma solução para uma questão social ou ambiental. Segundo a própria Yunus Negócios Sociais Brasil, “negócios sociais são empresas que têm a única missão de solucionar um problema social, são autossustentáveis financeiramente e não distribuem dividendos”. Ou seja: elas geram receitas suficientes para cobrir seus custos e o lucro gerado é reinvestido na própria empresa, para ampliação do impacto social.
Com o passar do tempo, essa ideia foi sendo revista, até chegar no conceito de “negócios de impacto social”. E quem conta essa história pra gente é a Rafaela Carvalho.
Rafa Carvalho: Oi, pessoal! Tudo bem? Bora para mais um glossário então! Como a Roberta disse, o conceito de “negócios sociais” diz respeito a empresas que buscam solucionar um problema social, mas não distribuem lucro. Já a ideia de “negócios de impacto social” surgiu nos anos 2000, e foi inicialmente difundida pelos professores norte-americanos Stuart Hart e Michael Chu. Eles defenderam que a distribuição de lucro nesses negócios ajudaria a atrair mais investidores e permitiria que novas iniciativas pudessem surgir na velocidade necessária para superar os desafios sociais que existem no mundo.
No Brasil, em 2019, a Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto e a Pipe.Social fizeram um estudo de referências globais para identificar padrões ou atributos comuns na definição de um negócio de impacto. Além disso, ouviram diversos atores brasileiros envolvidos e outros interessados na agenda de impacto socioambiental positivo, pra validar entendimentos e conceitos. O principal resultado, gente, foi a identificação de quatro critérios que definem negócios de impacto e que são a atual referência sobre o tema no país. São eles:
1 – A intenção de resolver um problema social e/ou ambiental;
2 – Que a solução de impacto seja a atividade principal do negócio;
3 – A busca de retorno financeiro, operando pela lógica de mercado;
e 4 – O compromisso com o monitoramento do impacto gerado.
Para resumir: negócios de impacto é um empreendimento que tem a clara intenção de solucionar um problema socioambiental por meio de sua atividade principal – seja seu produto/serviço e/ou sua forma de operação – sempre de acordo com a lógica de mercado, com um modelo de negócio que busca retornos financeiros, e se compromete a medir o impacto que geram.
Faz sentido? Deu para entender?
Eu sou a Rafaela Carvalho e toda semana ajudo a desvendar um termo importante para a cultura de doação. Até mais!
Artur: Muito obrigado, Rafa! É um tema bem amplo e é legal partirmos desse conceito mais detalhado pelo menos como base para termos um conceito fundante. De acordo com esse estudo da Aliança pelo Impacto e da Pipe.Social, o negócio de impacto representa uma categoria dentro de uma variedade de perfis de empreendimentos que geram impacto socioambiental positivo. Além disso, essa categorização como “negócio de impacto” não é suficiente pra diferenciá-lo de outras nomenclaturas e definições, como negócios inclusivos, negócios sustentáveis, negócios conscientes, negócios criativos, empresas B, e tem até outros mais. Vou até mais longe como negócios voltados para a base da pirâmide e que já envolvem outras questões.
Roberta: Ano passado a Pipe.Social lançou a terceira edição do Mapa de Negócios de Impacto Social e Ambiental. Essa pesquisa traz dados importantes sobre o perfil desses negócios no Brasil. Uma das conclusões foi que, apesar de 58% dos negócios ainda serem da região Sudeste, em seis anos – desde a primeira edição da pesquisa -, houve um fortalecimento de outras regiões do país nesta agenda. Também caminhamos para uma maior equidade de gênero entre os empreendedores à frente dos negócios que hoje são quase meio a meio entre homens e mulheres.
Artur: Mas ainda existem muitos desafios. Por exemplo: o mapa identificou que 8 em cada 10 negócios de impacto continuam entre os estágios de desenvolvimento da solução ou ideação até organização de negócio, especialmente na busca por um modelo que gere alguma sustentabilidade financeira. Ou seja, está entre uma boa ideia e boa ideia que se pague. A gente conversou com a Mariana Fonseca, que é cofundadora da Pipe.Social, e ela falou um pouco sobre isso.
Mariana: Ainda temos um volume muito grande dos negócios que especialmente se encontram nessa fase de organização do negócio, que é uma fase bem específica da jornada de negócios de impacto que a Pipe vem mapeando desde o mapa lá de 2017, que é esse lugar de começar a estruturar o negócio mesmo, ter os canais de venda, ter equipe de marketing, equipe de mensuração de impacto, enfim, montar uma estrutura de negócio com mais recorrência. De fato, o Mapa consegue ver que, nos últimos anos, melhorou um pouco a distribuição. Nos outros mapas se concentrava muito ainda na fase de ideação e prova de negócio e solução. A gente teve um avanço em termos de organização de negócio, mas ainda é um resultado de um mercado novo, com a maior parte dos negócios entrantes. E também lembrando que, depois dessa organização do negócio, a gente tá falando de negócios já se preparando pra uma pré-escala, pra receber um volume maior de recursos, e depois escalar. Então a gente acha que o comum é que tenha uma distribuição mais concentrada mesmo nessas fases, pelo perfil do mercado e pela juventude do mercado, podemos dizer assim, e também pela própria natureza. Mas eu acho que ainda tem um retrato importante de se falar que é o desafio de empreender no Brasil, o desafio que é muito parecido com o mercado tradicional de startup, é parecido com o mercado tradicional de empreendedorismo. A gente tem um DNA que fala pouco de negócios, fala pouco de dinheiro, fala pouco da viabilidade das soluções nesse olhar de negócios, e por isso isso esse reflexo também obviamente em negócios de impacto, ou até mais especialmente, porque a gente tá falando também de um mercado que traz muitas pessoas em busca de um propósito, em busca de uma realização de negócios com mais sentido pro mundo, e que não necessariamente vêm de um background de negócios.
Roberta: Esse desafio que a Mariana conta se reflete em outros dois dados da pesquisa: um primeiro é que há apenas 20% dos negócios mapeados são sustentáveis financeiramente, e as doações ainda são a maioria dos acessos a financiamento, representando 69% do total. Ela também falou sobre isso.
Mariana: O volume de doações aqui é significativo porque, exatamente por se tratarem de negócios de impacto, existem atores do setor, fundações, institutos, marcas, que estão dispostas a doar recursos pra que esses negócios provem suas soluções, pra que esses negócios consigam se estruturar, que é uma vantagem do mercado de negócios de impacto, esse ecossistema que está disposto a oferecer recursos financeiros pra que esses negócios parem de pé, ou pra financiar uma pesquisa, uma solução dentro desse negócio, o que é ótimo. O desafio é que isso não seja a única fonte, que a partir desse primeiro recurso que entra pra impulsionar os negócios, sair desse “vale da morte” que a gente chama, que é a primeira etapa de se provar financeiramente com o modelo de negócio, que depois eles saiam dessa etapa, que eles consigam se sustentar financeiramente como qualquer outro negócio. Então eu acho que é uma vantagem a gente ter um volume de doações, significa que a gente tem outros tipos de oportunidade pra começar os negócios, que talvez numa estrutura de não impacto isso não seja tão fácil, por outro lado esse não pode ser o modelo dos empreendedores de sustentabilidade financeira.
Roberta: Muito legal tudo isso que a Mariana trouxe. E a gente poderia ficar o programa inteiro falando sobre os dados do Mapa de Negócios de Impacto, que é uma pesquisa super completa sobre o assunto, mas como nosso tempo é curto, fica aqui a dica pra você acessar o site e ver a pesquisa completa. O link tá na descrição do episódio.
Artur: Isso mesmo. Mas antes de entrar lá no mapa da Pipe, fica aqui mais um pouquinho que chegamos num grande momento do programa. É agora que a gente vai conversar com o Rodrigo Cavalcante, CEO da Phomenta, uma empresa que trabalha em parceria com o Grupo MOL em alguns projetos e por isso sou grande fã do Rodrigo, da Phomenta, da Isa, fundadora da Phomenta, que é um negócio de impacto que leva educação em gestão e inovação para que os empreendedores do 3º setor, a fim de resolver desafios complexos que a gente tem na nossa sociedade.
Roberta: Seja muito bem-vindo, Rodrigo!
Rodrigo: Muito obrigado pelo convite. Tô muito animado para bater esse papo hoje.
Arthur: Rodrigo, agora eu tenho uma pergunta que a gente que, no Grupo MOL, que também é um negócio social e que é a pergunta que a gente mais ouve sobre negócios de impacto e sociais. Mas como você é o entrevistado de hoje, vou te passar a bucha que é: um negócio de impacto tem como objetivo gerar impacto, mas também gerar retorno financeiro, mas na prática, uma coisa não acaba virando prioridade? Como você decide o que que vem a frente é o lucro é o impacto? Como é essa divisão?
Rodrigo: Legal! Acho que é uma pergunta que sempre vem. Porque quando a gente olha para um negócio de impacto, se eu fosse definir iria definir de uma forma bem parecida. Então, tem uma intencionalidade, é intencional o impacto. Então não é uma responsabilidade social, não é uma das atividades indiretamente gera impacto. Então isso é intencional ao mesmo tempo que tem um modelo de negócio que fecha a conta. Essa operação consegue se sustentar. Mas quando a gente olha para o espectro de organizações nós temos organizações que estão um pouco próximas. A gente tem ONGs, por exemplo, que tem modelos de negócios, tem negócio, mas ainda depende de 20% – 10% de doação. Ou negócios que, às vezes, eles estão priorizando um pouco mais o retorno financeiro, mas eles têm muito forte também o impacto. Então, o negócio de impacto ou negócio social ele vai tá bem nesse meio.
Mas é sempre um dilema, porque quando a gente vai olhar, por exemplo, para o negócio de impacto que captou investimento, então ele trouxe um dinheiro do mercado financeiro há uma pressão pelo resultado financeiro. E aí a gente entra nesse dilema: de que forma essas decisões estão sendo tomadas, seja no conselho seja para equipe. E a gente acredita muito olhando pro setor que o tema do impacto seja pauta tão importante e tão relevante como a questão do retorno financeiro. Mas no dia a dia a gente sabe que não é tão simples assim porque estamos lidando dentro de um mercado capitalista. A gente tem uma lógica de mercado que opera pelas empresas tradicionais. Então, pessoas que estão investindo em negócios de impacto não tem essa visão ou a paciência para esperar o retorno financeiro, que talvez vai um tempo mais, porque estão considerando outros stakeholders, outras partes interessadas.
E é até algo legal que se fala no ecossistema do negócio de impacto que é esse capital paciente. É muito importante que quem tá apoiando esses negócios, então se eu to fazendo um empréstimo ou entrando como investidor, eu tenha um pouco mais de paciência porque não é só o retorno financeiro que está em jogo nesse negócio. E talvez, algo que demoraria 2-3 anos para ser validado em uma startup ou numa empresa tradicional, eu tenha que esperar 5-10 anos para esse modelo fechar. E quem financia isso, né? Várias questões de como isso pode ser apoiado. Mas é um dilema constante e acho que vários empreendedores devem entrar em reuniões com parceiros e se perguntar. Mas essas duas pautas: retorno financeiro e impacto tem que tá muito bem equiparadas em todas as discussões que acontecem.
Roberta: E Rodrigo, a gente falou no começo do programa que a natureza jurídica dos negócios de impacto é muito diversa e que alguns especialistas dizem que na verdade isso não importa muito, mas sim como a organização consegue maximizar os resultados, o impacto. Existem ONGs que abrem um segundo CNPJ, com fins de lucro, pra poder gerir seu negócio social e ter aí uma fonte de renda e menos limitações que o modelo OSC tem, jurídicas e legais. Ao mesmo tempo, existem ONGs que oferecem produtos ou serviços que ajudam a compor seu orçamento, mas não se posicionam ou não são reconhecidas como negócios de impacto. Qual a sua visão sobre isso? Você acha que existe um formato jurídico mais adequado para cada fim?
Rodrigo: O mais importante quando se está pensando em criar uma organização que vai combater, vai lutar, vai defender uma causa, busca diminuir desigualdade, é entender primeiro o que eu quero resolver, qual o problema quero resolver. Porque a natureza jurídica vem como consequência de qual causa, qual área eu vou atuar, qual o modelo quero funcionar, qual o tipo de recurso quero acessar. Então, não tenho uma resposta certa de qual natureza jurídica seguir, porque depende muito de caso a caso. A gente tem como você citou muito bem ONGs que não pensava em criar um negócio de impacto, até porque não existe uma natureza jurídica, ainda, de negócio de impacto, mas acredito que nos próximos anos teremos.
Temos até um movimento dentro do setor pautando políticas públicas relacionadas aos negócios de impacto no Brasil. Mas, hoje você não escolhe para o estado ser um negócio de impacto. Então, vão ter dois caminhos: empresa ou associação/fundação. Dentro de empresa, a gente tem uma gama de possibilidades com a qual poderia fundar essa organização. Então, importante olhar qual o tipo de recurso: quero acessar doações internacionais, do Brasil, de institutos e fundações empresariais, o caminho de associação e fundação será um pouco mais interessante, assim como acesso a algumas gratuidades. Para quem é do 3º setor consegue ter gratuidade de software e plataformas, principalmente no começo para o empreendedor pode ser até muito mais fácil conseguir o recurso financeiro de uma doação com essas gratuidades para começar esse negócio. E nada impede que, no futuro, se crie um novo CNPJ, por exemplo, em formato de empresa para buscar investimentos. Mas quando a gente olha para o setor de tecnologia vai ser muito importante, na maioria das vezes, conseguir ter um volume de recursos legais para conseguir investir no desenvolvimento do software, por exemplo. E aí vai ter que buscar esses outros tipos de capitais mais no mercado financeiro, aí nesse sentido, a empresa fará mais sentido. Assim como quem tá buscando distribuir dividendos para equipe, que é algo que algumas empresas gostam de fazer colocando todo mundo para ser sócio, é algo que o modelo de associação não irá permitir ser feito legalmente. então, é legal separar essas duas discussões: que negócio de impacto e social é muito mais o que eu acredito, como eu me posiciono dentro de um modelo que eu acredito muito mais de ideologia, de como eu quero tratar isso hoje, do que de fato, pro Estado, vou ser uma associação ou uma empresas, né?!
Então, o Estado não vai nos reconhecer ou nos enxergar como um negócio de impacto, apesar de termos avanços legais e alguns municípios pautando e aprovando leis nesse sentido, ainda há um caminho longo para ser percorrido. Mas no fim é, entender qual causa, qual o tipo de recurso, mas eu acredito que para muitas vezes começar como uma associação pode nos ajudar a ter recursos para validar o modelo de negócios e para validar a operação.
Artur: Rodrigo, com o movimento que a gente tem visto muito potente, principalmente desde a pandemia do ESG, nas grandes empresa, a gente tem notado que muitas empresas que não tinha em seu discursos a questão do propósito, do impacto estão assumindo isso como algo fundamental e a gente tem visto muita empresa que tem até se reestruturado corporativamente para seguir dar prioridade para essa agenda. Essas empresas que estão fazendo esse movimento podem se tornar um negócio de impacto ou negócio de impacto são só aqueles que nascem como o DNA Social?
Rodrigo: Quando a gente olha para a definição de negócio de impacto, um pouco mais acadêmico, olhando pela definição da Aliança pelos Investimentos eles vão trazer 4 critérios para definir negócio de impacto e entender a movimentação das empresas. Um é intencionalidade de impacto, que a gente já comentou. A segunda é retorno financeiro, que seria o modelo de negócio. A terceira, que tem um ponto importante nessa migração, que foi possível que você comentou, que é a solução que gera impacto como atividade principal de negócio. Então eles colocam como um dos critérios para ser um negócio de impacto e monitoramento do impacto. Então quando a gente olha para essas empresas, tem uma figura que eu gosto bastante, e vocês podem deixar como referência que é European Venture Philanthropy Association (EVPA), que eles colocam os espectro de organização que a gente em uma ponta: as ONGs tradicionais, que dependem de doação e de outro lado as empresas tradicionais que só visam lucro e retorno financeiro. Entre esse meio, tem, além dos negócios de impacto que estaria, podemos dizer, bem no meio disso, a gente vai ter empresas que estão se aproximando mais da pauta de impacto.
A gente vê por exemplo, o movimento que aconteceu na década de 1990 e começo dos anos 2000 institutos e fundações empresariais, criação de áreas de responsabilidade social, muito pautado na pauta ambiental. Na década de 90, quando tínhamos a Rio 92, esse tema do ambiental veio muito forte com as empresas se preocupando com isso e a gente vê um próximo passo acontecendo dentro de alguns movimentos percebido como Capitalismo Consciente, Sistema B, que as empresas estão dando um passo para a responsabilidade social. Que é, eu não só causo impacto negativo e preciso ser responsável por esse impacto negativo e minimizá-lo, digamos assim, mas eu começo a colocar a pauta de impacto nas minhas decisões estratégicas.
O que seria colocar a pauta de impacto social nas minhas decisões estratégicas? Acho que o caso da Magalu foi muito marcante quando eles fizeram um trainee só para negros. É um passo que ninguém do mercado havia tomado, talvez uma ação tão grande, pensando numa empresa desse tamanho e que ele começa a reverberar. Hoje a gente vê diversas empresas tomando diversas atitudes, por exemplo para aumentar a porcentagem de negros em cargos de liderança, aumentar a porcentagem de mulheres em cargos de liderança e nos conselhos, que hoje ainda nas empresas é marjoritariamente de homens brancos. Então, são pautas que começam a ser importantes nas decisões e algumas empresas tomam decisões deixando de lado alguns momentos ou diminuindo a importância do retorno financeiro. Então, a gente poderia ganhar 10x o valor, mas vamos diminuir para oito considerando essas pautas sociais. Há um movimento de aproximação de impacto, mas para que de fato seja encaixado nessa caixinha o negócio de impacto, a atividade principal precisa gerar impacto.
De que forma? A gente tem negócio de impacto, por exemplo, que gera impacto na própria operação. Então, emprego por exemplo ex-presidiário, emprego mulheres da periferia, e toda a operação do negócio funciona com essa população. Outros negócios de impacto vão gerar impacto a partir da ponta. Então eu resolvo algum problema da sociedade, da população que não teria acesso a moradia, por exemplo. Não teria acesso a água, e eu construo um modelo de negócio que vai atender essa população. Mas, é importante uma ressalva, que eu acho que é sempre gera muita discussão. Que é: atender as classes C, D e E, não necessariamente torna uma empresa um negócio de impacto, porque eu posso estar vendo para esse problema apenas a parte da lógica financeira. Então não to olhando pro impacto tô vendo como oportunidade de mercado. Então como eu olho pro impacto? Se estou atendendo às classes C, D e E, nada melhor que eu ter negócios dessas classes que estão atendendo essa população, que estão empregando essa própria população e não apenas como uma fatia do mercado a ser conquistada.
Então, há um caminho que a gente vê várias empresas se aproximando um pouco mais dos negócios de impacto e entendendo que nem todas vão virar negócios de impacto, ficar mais próximas ou um pouco mais longe. Mas o legal de entender nesse espectro é que não são caixas, a gente pode estar um pouco mais longe ou um pouco mais distante é apenas uma forma didática da gente ir encaixando as organizações para gente entender um pouco mais essas possibilidades. Mas é um movimento e eu vejo sim alguns negócios se tornando negócios de impacto, assim como há negócios de impacto, há muitos anos que não se reconhecem ou não se posicionam por ser ainda uma pauta temática com essa definição relativamente recente, ainda muito restrita ao eixo Rio-São Paulo. Então, a gente ainda ver negócios de impacto que já se posiciona, já atuam, se a gente pegar conceitualmente como negócio de impacto desde a década de 70, 60, mas que hoje não terão lá “sou um negócio de impacto”, eles não vão estar dentro do ecossistema e não vão estar nos cases. Tem vários exemplos disso pelo Brasil e até as próprias ONGs e organizações que têm negócios de impacto e que não se posicionam porque nem conhecem o termo muitas vezes. Então é legal separar o que que é caixinha de definição, mas eu percebo sim essa movimentação dentro do ESG e os negócios de impacto também apoiando essas empresas, assim como as ONGs, nessa transição, nessa aproximação desses temas quando a gente fala dos temas sociais e ambientais. São possibilidades. Quando a gente pega alguns. Eu gosto de dar exemplo, em que há uma discussão também, as empresas se tornarem negócios de impacto, mas há outras discussões se as ONGs vão se tornar negócios de impacto, mas a gente tem causas que dependem de doação. Então, quando a gente pega, por exemplo, uma organização que defende direitos humanos e pauta alguns temas, não dá para ela criar um modelo de negócio e usar nesse modelo para financiar a operação dela. Ela vai precisar de doação. Ao mesmo tempo, a gente vai ter negócios que são necessários para que a gente vire sociedade.
Se a gente pegar aqui na nossa mesa, quem está nos ouvindo, pegar vários itens ou objetos que utilizamos de consumo, não necessariamente vai conseguir fechar isso num modelo de negócio de impacto. Então são possibilidades na lógica do modelo de mercado capitalista, que surge como mais uma uma ferramenta, uma caixinha. Agora, essa preocupação com o social e o ambiente é super importante porque há consumidores mais responsáveis cobrando isso das empresas, há um movimento dos talentos, então as empresas estão com mais dificuldade de reter talentos porque os talentos querem trabalhar em lugares que são mais responsáveis, mas tem empresa que nunca vão se tornar negócios de impacto, porque o que elas fazem geram impacto negativo. Só que a gente, por exemplo, consome alumínio. Quantas coisas que a gente paga na garrafa plástica que vai tomar uma água que vai tirar do petróleo, porque ainda estamos testando novas soluções. Nunca talvez vai ser um negócio de impacto essa empresa que produz a garrafa PET, mas ela é necessária hoje pro estilo de vida que vivemos. Então, acho que é super legal essa reflexão para que a gente não demonize todas as empresas e todas elas precisam virar ou migrar, assim como nem todas as ONGs vão virar negócio de impacto. É mais um modelo que se segue que aparece para combater a desigualdade. Para quem tá olhando para os problemas que temos na sociedade é mais um modelo possível que nós temos de usar a lógica de mercado para conseguir combater diversas desigualdades que temos tanto no Brasil e no mundo.
Artur: Excelente! O Rodrigo é demais falando. Eu adoro. Rodrigo, mas agora estavam muito fáceis essas perguntas e agora eu quero ver se você consegue responder às perguntas da Rodada Relâmpago.
Rodrigo: Nossa, vamos lá!
Arthur: Nós vamos fazer 5 perguntas e você responde com a primeira coisa que vier à sua cabeça. Curto e direto. Vamos lá?
Rodrigo: Vamos lá!
Arthur: A primeira pergunta é: Qual foi a sua doação pessoal mais recente?
Rodrigo: Foi para uma organização que trabalha com construção de casas, que é minha causa do coração porque sou engenheiro civil. Então a causa da habitação sempre está bem próxima das minhas doações.
Roberta: Muito bom! Já respondeu a segunda pergunta que era justamente essa: Qual é a sua causa do coração? Fala um pouquinho mais sobre ela!
Rodrigo: Hoje eu apoio duas organizações. Acho que é legal dar nomes: Habitat para a Humanidade e a TETO. Eu fiz Engenharia Civil e me incomoda muito quando a gente ainda olha pro século 21 e estamos em 2022 e pessoas que ainda não tem uma casa. Não dá para chamar de casa quem ainda está embaixo do viaduto, com pedaço de telha, morando embaixo disso. E esse lugar, ter esse conforto é muito importante para que as pessoas possam ascender e buscar perspectivas, porque senão quando chove essas pessoas estão preocupadas se vão perder tudo. Não tem uma iluminação, um lugar para estudar, não tem vários acessos. É algo muito básico dentro ali nas necessidades, mas que é super relevante pra gente pensar qual a transformação social.
Artur: O que você doa e que não é dinheiro?
Rodrigo: Doou meu tempo, de vez em quando. Até falo com algumas pessoas que eu gosto de estar em alguns espaço como pro-bono, dedicando meu tempo, que muitas vezes, uma hora do meu tempo, hoje no que eu faço, vai ser muito mais relevante do que o recurso, a doação e o volume que eu consigo fazer. Então, eu costumo doar algum tempo para projetos sociais, principalmente atividades de organizações estudantis que estão desenhando algum projeto social e empreendedorismo social eu sempre dedico algum tempo todo mês para participar de algumas atividades e ajudar na construção dos projetos.
Roberta: Muito bom! Você já citou duas organizações, mas queria que você fizesse o merchan de outra organização ou um projeto que você admira e/ou apoia de forma recorrente, que mais pessoas deveriam conhecer. Tem tantas que são pequeninas que a gente ouve falar:
Rodrigo: Calma, que agora eu travei. To tentando buscar o nome de uma diferente.
Roberta: Vocês tem quantas aceleradas ai?
Rodrigo: Pois é, são mais de 300 já!
Artur: E saia justa hein, Rodrigo!?
Rodrigo: Acho que é sacanagem falar o nome de uma organização. Mas tem uma organização que até sou conselheiro que vou falar dela. Que é da Minha Campinas, que faz parte da Rede Nossas Cidades e a gente tem espalhado pelo Brasil outras organizações dessa rede. E a política chegou num lugar hoje que ninguém quer falar sobre isso ou tudo é corrupção e as pessoas têm esquecido, eu acho, da importância em discutir e trabalhar a política. Então é uma organização que tá pautando isso e olhando a política, fazendo pressão com o que tá acontecendo e acho muito importante todas as pessoas se aproximem dessas questões. E a Rede Nossa Cidades, pode ser um bom lugar para quem quer se aproximar dessa causa.
Roberta: Sou fã!
Arthur: E Rodrigo, agora acho que a mais difícil, né?! Que o que a gente faz todos os dias. Você já convenceu alguém a doar? Se sim, provavelmente sim, qual é aquele argumento matador que não tem como escapar
Rodrigo: Já aconteceu algumas situações de amigos, principalmente por eu trabalhar no terceiro setor, “como eu escolho uma organização? conhece uma ONG em tal cidade?”. Essas perguntas aparecem bastante. Mas sempre acho importante entender a causa. O que te toca, qual o tema. Eu aprendi que não vamos resolver todos os problemas sociais, quando eu quero falar com alguém eu começo entendendo o que toca aquela pessoa, qual o tema chama a atenção, tentando chamar a atenção para as possibilidades, para entender o que faz sentido para ela. Porque as histórias são muito individuais para cada um. É um caso na família, alguém que teve alguma doença, isso são coisas que vão marcando você e te deixa muito mais próximo da causa.
Então, para mim o matador é guiar a pessoa para ela entender os pontos que a toca. É algo que eu sempre tento fazer porque não adianta eu tentar convencer das minhas causas, por exemplo, da habitação e da questão política. É muito meu, da minha trajetória, tudo que eu passei, como eu enxergo o mundo. Pra muita gente vai ser a causa animal, outros vai ser a causa da infância. Para mim, matador é falar e tentar ajudar a pessoa a encontrar as causas dentro das inúmeras que temos aí.
Roberta: Muito bom, Rodrigo! Mais uma vez, obrigado por participar do nosso programa! Foi ótimo.
Artur: Obrigado, Rodrigo. E ouçam lá o pessoal da Phomenta no Podcast do Impacto. São nossos parceiraços da podosfera e grandes referências. Eles chegaram antes da gente e nos inspiram muito.
Rodrigo: Brigadão, gente. É sempre um prazer compartilhar aqui essas ideias e quem quiser ouvir o podcast. Acompanha lá, mas o pessoal aqui tá já tá com um número bem maior de episódios. Então tô numa velocidade muito boa ai. Toda semana tem episódio novo!
Roberta: Muito bacana esse papo com o Rodrigo, né Artur? E ele tem tudo a ver com o que a nossa colunista Duda Schneider traz pra gente toda semana, no Merchan do Bem. Vamos ouvir a dica de hoje?
Duda Schneider: Oi gente, eu sou a Duda Schneider e esse é nosso quadro Merchan do Bem. Hoje vamos estrear uma marca por aqui, a Andorinha, do grupo Sovena, que lançou seu novo azeite extra virgem que reverte 100% do lucro para o projeto Revoa. O projeto é uma criação da marca e realizado em parceria com a Yunus Negócios Sociais, para a seleção e aceleração de negócios sociais que combatem os problemas de insegurança e excesso alimentares no nordeste brasileiro. É uma alegria ver o comprometimento do projeto que reúne um time de especialistas em prol do propósito da marca. E se você quiser contribuir com esse sucesso e fazer receitas ainda mais afetivas em sua casa é só comprar o azeite no site https://www.compreandorinha.com.br/ ou no mercado mais próximo de você. Por hoje é só pessoal. Muito obrigada e até a próxima!
Roberta: Artur, esse tema “negócios de impacto” rende muito. Talvez a gente devesse fazer uma “parte 2” desse episódio.
Artur: Com certeza! Inevitavelmente a gente fala e vai falar desse tema ainda. Mas talvez a gente pudesse até fazer um episódio sobre se as ONGs vão virar negócios sociais obrigatoriamente. Já vi em alguns outros podcast por aí, mas aqui a gente pode falar. Mandem aí se vocês gostaram desse tema ou não. Que se vocês gostarem, fazemos um episódio aqui. É difícil resumir tanta informação e reflexão bacana dessa conversa com o Rodrigo, por isso, a gente vai colocar aqui na descrição do episódio alguns dos links que consultamos, pra quem quiser se aprofundar mais no tema, pode acessar ali.
Roberta: Acho que a gente não tem dúvidas, Arthur, que o futuro é dos negócios de impacto. Hoje eles ainda são pequenos independentes e poucas grandes empresas que podem se colocar nesse lugar, mas quando a gente pensa nos consumidores, colaboradores e cidadãos das próximas gerações será difícil imaginar que empresas que não exercem um papel social muito presente e pertinente e coerente na sociedade vão conseguir sobreviver. Mesmo como o Rodrigo falou, quando a gente olha para grandes empresas que têm impactos negativos na sociedade elas vão ter que encontrar maneiras de contorná-los e devolvê-los porque vão ser cobrados por isso. Então entender e refletir sobre esse assunto e sobre o que significa impacto de verdade e, no caso das organizações sociais como essa modalidade podem ajudar na sustentabilidade financeira, que é o desafio de todas as ONGs é muito importante para gente pensar no nosso futuro.
Artur: O que eu mais gosto sempre que a gente fala sobre esse tema é pensar nas novas gerações. Então, a gente tem uma geração aí que está sendo mais estimulada para o empreendedorismo, principalmente nas faculdades de negócios, e tendo a possibilidade de se criar um negócio desde a sua ideação com impacto social positivo acho que é o melhor dos mundos. Então quando vejo uma FGV e a Faculdade de Economia da USP, tendo áreas especializadas nisso e que estão sendo cada vez mais mais procuradas pelos estudantes que estão querendo pensar nos seus negócios, pensar na sua carreira já guiada pelo impacto positivo, eu acho que isso muda muita coisa. São pessoas que já vão entrar no mercado com uma cabeça diferente. Acho que mesmo que os seus negócios sociais não deem certo ou que tenha perspectivas mais adequadas ou mais vindouras no setor tradicional, acho que eles chegam com uma cabeça diferente.
Então, acho que a grande revolução do setor tá aí, mas de fato a grande questão é conseguir resolver esse problema financeiro da conta fechar. Realmente no Brasil a gente ainda tem uma divisão muito grande das pessoas que trabalham pelo social e as pessoas que fazem negócio. Essa barreira tem que acabar, que cair. Tá caindo aos poucos, mas acho que a gente tem que ter ações mais potentes, para pegar uma bigorna e derrubar essas paredes de vez. Em outros lugares a gente vê que prospera mais e eu gostaria que fosse mais potente a transformação.
Roberta: Por hoje é isso pessoal, mas o papo continua nas nossas redes sociais, segue a gente lá no nosso Instagram @institutomol e no LinkedIn. Mas antes de você correr para nos seguir, não esquece de nos seguir na plataforma de áudio em que você está ouvindo esse episódio! Assim, sempre que tiver um episódio novo, você recebe uma notificação para não perder nenhum dos nossos ótimos papos.
Arthur: E também não esquece de deixar a sua avaliação! Tô parecendo motorista de Uber. Vai lá e deixa suas estrelinhas no Spotify, na Apple Podcasts ou na Amazon Music e favorita a gente aí no Deezer! Sua avaliação é super importante pra gente!
Roberta: Semana que vem estamos de volta! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do Infomoney. Esse episódio teve produção da Mônica Herculano. O roteiro final e direção são de Vanessa Henriques e Ana Azevedo, arte Glaucia Ribeiro do Instituto MOL. As colunas são de Rafaela Carvalho e Duda Schneider, da Editora MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!