Transcrição EP #77 – Como a doação é retratada na cultura pop?

Roberta: A vida imita a arte ou a arte imita a vida? As reflexões de Aristóteles e Oscar Wilde estão aí há tempos cruzando nossos caminhos. E quem nunca se imaginou como um personagem de uma história de cinema? 

 

É fato que os filmes que vimos, livros que lemos e músicas que ouvimos durante a vida têm grande influência em nossa formação intelectual e também em nossa personalidade. 

 

Ainda mais na última década, com a popularização dos streamings, nossa relação com a ficção ficou ainda mais potente. A última série ‘maratonada’, é quase o novo “será que vai chover hoje?”. E não faltam opções de temas, estilos e formatos para todos os gostos…

 

E como nosso papo aqui é sobre cultura de doação, a gente foi buscar nas plataformas de streaming e também em nossa memória quais filmes, séries e documentários abordam o assunto e qual a cara ela tem nas produções. Será que a filantropia é mocinha ou vilã? Encontramos heróis inovadores ou as histórias ainda são muito clichê? Transformadoras,  sofridas ou alegres? Pegue sua pipoca e venha com a gente para assistirmos e descobrirmos isso! 

 

Eu sou Roberta Faria.

 

Artur: Eu sou Artur Louback.

 

Roberta: E como a doação é retratada na cultura pop é o tema de hoje no… 

 

Jogral: Aqui se Faz, Aqui se Doa!

 

Roberta: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do Infomoney.

 

Bom, eu queria começar falando sobre a ideia deste episódio. A gente que trabalha no setor social muitas vezes tem esse olhar mais afiado pro tema, e costuma acender um “alerta” quando vê alguma menção a doação, ONGs, enfim, em filmes e séries, ou em outros produtos culturais que consumimos. E a gente quis trazer aqui pro ouvinte alguns desses alertas, trazer reflexões sobre obras que estão aí em streamings, ao alcance de muita gente, e quem sabe influenciar quem trabalha na indústria, né? Vai que tem alguém no ramo nos ouvindo?? Meu grande sonho a gente virar tema de novela. Alô, Glória Perez, Manoel Carlos, vamos fazer um apelo para termos um herói captador de recursos, um grande filantropo ou doador. 

 

Artur: Eu queria até em Pantanal agora. Como não deu, quem sabe no novo remake? Enfim, Roberta, é inegável o poder da cultura pop nas nossas vidas, até nos nossos valores e preconceitos, então não dá pra ignorar o que significa ter um vilão de novela que é diretor de uma ONG ou a mocinha ou mocinho que atua em um projeto social e que vira um exemplo para quem está assistindo, sejam os mais jovens ou os que têm preconceitos com a área consigam ressignificar.

 

Roberta: Sim, e, às vezes, isso também trabalha contra e pode reforçar preconceitos.  E não somos só nós que vimos esse tema em tudo, viu? Eu quero começar aqui agradecendo a contribuição dos vários colegas do terceiro setor e do universo da cultura de doação que atenderam ao nosso chamado lá dentro do nosso grupo de WhatsApp mais movimentado do Brasil o “Movimento por uma Cultura de Doação” para quem pedimos que compartilhasse seus títulos preferidos. Nós recebemos muitas sugestões, e infelizmente muita coisa vai ficar de fora, mas a gente pretende dar aqui uma lista grande de dicas e puxar algumas conversas e quem sabe fazemos outros episódios ou posts para levar o tema adiante. 

 

Tivemos que fazer um corte, Artur. No começo o tema era cultura pop no geral, no final vieram tantas sugestões que hoje vamos falar exclusivamente sobre coisas que vimos nas telas, ou seja, filmes, documentários e séries. Vamos ter que deixar para outro episódio os livros e músicas que temos para consumir e aprender. 

 

Artur: Não dá para abrir tanta possibilidade assim senão a gente não para mais. Ouviu, diretora? Mas, enfim, é uma forma de, em uma temporada de tantos assuntos tão puxados, darmos uma respirada e porque não furar a bolha e falar de um universo mais ampliado, quem sabe não atingimos outros públicos? 

 

Roberta: Perfeito! E eu começo esse episódio já perguntando pra você, Artur. Aliás, vale o parêntese, se você ainda não ouviu o comentário em outro episódio, mas o Artur é formado em Cinema, então eu espero comentários altamente qualificados. 

 

Qual o primeiro  filme, série ou documentário vêm a sua mente quando o tema é cultura de doação, filantropia, causas? Qual você indica, assim, de cara? 

 

Artur: Bom, com essa pompa toda, eu não vou trazer um filme cabeça porque senão vai acabar reforçando o estereótipo, mas vou falar de uma paixão minha, que são as novelas. A novela Celebridade, de Gilberto Braga, que está em cartaz no canal Viva, você pode também achar no Globoplay. Tinha um personagem, o Fernando Amorim, interpretado por Marcos Palmeira, que fazia o papel de um homem que nasceu em um bairro periférico, conheceu os programas sociais, acabou estudando cinema…

 

Roberta: Caramba, Artur! É quase uma biografia sua.

 

Artur: Pois é, e eu me parecia bastante com ele também, na época. Mas a conexão com o social aqui é que ele vira um cineasta que roda o mundo e acaba se especializando em filmes com temáticas de impacto social positiva. Ele começa a novela, se eu me lembro bem, recebendo um prêmio sobre uma série sobre cultura brasileira que ele fez, e ele acaba conhecendo a mocinha da novela, Maria Clara Diniz, interpretada por Malu Mader, e, justamente, quando ele vai fazer um filme sobre a biodiversidade da Amazônia e denunciar os ataques que ela vem sofrendo, para uma produtora francesa, ele se relaciona com ela, que é uma grande celebridade na novela. 

 

Não tem filantropia no meio porque ele, quando se casa com ela, vira um cara rico, mas a temática social está aí. E o seu, Roberta? O que te vem à cabeça quando se pensa no universo social, nas ONG’s e no cinema? 

 

Roberta: Na verdade, eu vou citar aqui uma série que eu vi que foi daí que tiramos a ideia para fazer esse episódio. Que é Dopesick, eu já até citei ela em outro episódio, ela está disponível no Star +, super recente e premiada, que conta a história da crise dos opióides nos Estados Unidos e da onde vieram esses terríveis medicamentos que estão causando uma crise de saúde que já matou mais de 600 mil pessoas. É uma história terrível, necessária e urgente, que está chegando também como crise no Brasil. 

 

E o que tem de interessante relacionado com filantropia por trás é que a família da farmacêutica fundadora e responsável por iniciar essa crise ao criar esse medicamento que foi mentido que causava menos vício, mas, na verdade, era tão viciante quanto os outros opióides. Essa família era uma grande patrona das artes dos Estados Unidos, eles eram patrocinadores de uma série de museus e galerias pelo mundo, tinham até galeria no Museu do Louvre, em Paris, com o nome deles, e salas nos grandes museus americanos, eles, inclusive, faziam as reuniões do conselho da empresa dentro das galerias de artes. 

 

E, conforme, tudo isso foi revelado ao longo dos processos judiciais, os próprios artistas, muitos sofreram com os vícios em opióides e muitos que morreram por causa disso, organizam um mega protesto dentro dos museus pedindo que eles tiram os nomes da família das paredes e negam as doações porque eles são responsáveis pela morte de centenas de milhares de pessoas, esse dinheiro vem sujo de sangue.

 

Esse, inclusive, é um movimento liderado por uma das artistas que tinha peças dentro dos museus patrocinados por eles, então fica esse questionamento do que a elite tem que doar, mas, ao mesmo tempo, quem recebe o dinheiro tem que se perguntar de onde ele vem, que impacto negativo ele trouxe no mundo, para que isso possa se transformar em um impacto positivo, mas não de uma maneira de “lavar a imagem” de quem não merece, de tentar construir uma reputação positiva depois do rastro que deixou, é uma questão muito atual. Essa é uma série muito boa, e esse questionamento aparece muito nos últimos episódios. Recomendo!

 

Artur: Nessa linha de denúncia vale citar também um documentário, Seaspiracy

Ele estreou na Netflix globalmente em março de 2021, e vem dessa onda de documentário-denúncia, gênero que começou a ganhar fôlego e público com Michael Moore, mas que é comum. Os mesmos produtores de Seaspiracy já tinham feito Cowspiracy, sobre o terrível mundo da carne.

 

Seaspiracy é sobre a produção e comércio de peixes no mundo. Eles denunciam a matança desordenada em algumas regiões e, principalmente, a conivência de alguns órgãos que deveriam fiscalizar e credenciar a forma como os peixes são pescados, embalados e vendidos, e, na verdade, fazem o fishwashing.  

 

Roberta: Tem uma relação interessante entre as organizações que recebem doações e a própria indústria financiando essas organizações. 

 

Artur: E a crítica é direta a essas organizações que dão o selo de produto sustentável ou ambientalmente sustentável. E outras ONG’s entram no papel de mocinho principalmente a Sea Shepherd e, no final das contas, o documentário acaba se posicionando de uma maneira muito parecida com o criador da Sea Shepherd que é pregando que as pessoas não consumam peixe, que foi a grande polêmica do documentário e a discussão que ficou depois. 

 

Roberta: Eu adoro os documentários do Michael Moore e, aqui no Brasil, quem faz também documentários mais pop é a diretora Estela Renner que tem uns bem interessantes relacionados a causas sociais e que trazem a participação de organizações do terceiro setor e, inclusive, são documentários financiados por uma instituição, o Instituto Alana. 

 

E, uma das produções recentes do Instituto Alana e da Estela Renner que também tem esse tema ambiental, mas não é um documentário, mas uma série de ficção, com um pé forte na realidade, é a Aruanas, a série, disponível na Globoplay e lançada em mais de 150 países, tem como protagonistas ativistas ambientais e trata da luta delas pela preservação da Amazônia e contra o garimpo. 

 

São três líderes de uma ONG e sua estagiária investigam crimes ambientais na Amazônia, e claro, por trás disso, tem questões políticas e dramas pessoais. A série fez bastante sucesso, e é muito legal ver ongueiros como heróis de qualquer assunto, como esses meio aventureiros, Indiana Jones, é uma imagem nova muito diferente do que a gente vive, geralmente, dentro de um escritório dando telefonemas, mandando e-mails e fazendo reuniões. É massa ver isso de uma outra perspectiva, que é mais fantasiosa, mas é bem inspiradora.

 

Artur: Aruanas tem um perfil do que a sociedade enquadra como “ecochato” e coloca as ativistas na figura daqueles que brigam por tudo, que é a famosa crítica aos ongueiros. Mas é muito legal ver os ecochatos retratados com destaque porque o mundo seria muito melhor com mais ecochatos e com menos gente que os criticam. Eu gosto muito da série, temos críticas por ser do setor, mas é muito legal ver a Leandra Leal, Débora Falabella, Thaís Araújo retratando esse universo e não pagando de bonitas como a gente vê em algumas novelas

 

Roberta: Ainda no quesito mostrar organizações sociais tem também  o filme The Specials, que é uma comédia dramática, dos mesmos diretores de Os Intocáveis e se baseia na história de vida de Stéphane Benhamou e Daoud Tatou, que criaram duas organizações dedicadas a ajudar jovens com autismo; 

 

O filme encerrou o Festival de Cannes de 2019 e traz uma reflexão muito importante sobre a dedicação à causa. Está disponível do Telecine.

 

Artur: Vale falar também do O menino que descobriu o vento, que também é baseado em um história real, ocorrida em Malawi, África, em 2001 e retrata os desafios acerca da fome – com o foco em uma família que depende da agricultura para a sobrevivência – e sofrem com os fenômenos climáticos, o descuido do governo e a falta de união dos moradores atuando contra os objetivos da família. 

 

O filme narra a iniciativa de um garoto que luta para tentar minimizar a situação trágica de sua família nesse contexto. Em seu pouco tempo de escola, aliado à sua sede de conhecimento e criatividade incomum, ele estuda sobre os princípios teóricos da produção de energia e constrói um gerador de energia eólica capaz de bombear água para a irrigação das plantações. Está disponível na Netflix.

 

Roberta: Histórias reais de empreendedores sociais e filantropos são maravilhosos e é uma outra maneira da gente conhecer a própria história do mundo. Tem uma outra série, que fez muito sucesso, que é uma mistura um pouco disso: A Vida e a História de Madam C.J. Walker

 

A série conta a história de Sarah Breedlove, mais conhecida como Madam C.J. Walker, uma mulher negra que criou, do zero, um império de cosméticos para cabelos afro. Visionária, ela teve a ideia de entrar para esse ramo por conta das dificuldades que enfrentava com o próprio cabelo. 

 

E ela não apenas revolucionou o setor de beleza para mulheres negras, mas também, conforme ela se tornou uma milionária, ela se destacou pela filantropia e pelo ativismo, em uma época em que grande parte dos Estados Unidos vivia sob rígidas leis de segregação racial, que ela enfretava com muita coragem. 

 

Quem interpreta C.J. Walker é Octavia Spencer – que é uma atriz maravilhosa e vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Histórias Cruzadas”, outro filme belíssimo que trata da segregação racial, as relações domésticas e de todo o racismo estruturual que perpassa a história americana e a nossa também. 

 

Por trás das câmeras, também são as mulheres negras que comandam a produção. Kasi Lemmons, de Harriet, dirige três episódios e DeMane Davis dirige um. O roteiro é assinado por Nicole Jefferson Asher em parceria com Lélia Bundles, jornalista e importante biografa de Madam C.J. Walker. Vale a pena ver. 

 

Artur: A gente falou de uns mais sérios, mas também vale falar daqueles bem sessão da tarde, que a gente assiste tomando um yakult e um comendo bolinho de chuva. Qual você destacaria, Roberta?

 

Roberta: Tem um que até o nome virou uma frase clichê que é o A corrente do bem é uma produção dos anos 2000, com Kevin Spacey, que foi terrivelmente cancelado e merecidamente. Parece que foi ontem, mas já faz 22 anos e a gente nem imaginava o que viria a ser as plataformas de streaming, mas ele está disponível na HBO Max.

 

Mas ele conta a história de um professor de estudos sociais que dá a tarefa para sua turma de pensar em uma ideia para mudar o mundo para melhor e em seguida colocá-la em ação. Um jovem estudante cria um plano, e não só afeta a vida de sua mãe solteira, mas põe em movimento uma onda sem precedentes de bondade humana que, sem que soubesse, floresce em um profundo fenômeno nacional. 

 

Esse filme é muito utilizado nas escolas, minha filha assistiu, e em breve outro assistirá. Ele aparece em um monte de trabalhos se você procurar no Google. É um filme para assistir, fazer atividades e conversar com os filhos sobre isso, e é uma ideia simples, talvez simplória, mas não deixa de ser verdadeira: Se todo mundo fizer uma boa ação para outra pessoa todos os dias a gente forma uma corrente do bem. 

Artur: Para quem não viu é importante ver O Presente, tá disponível no Prime Video. É a história de um neto que recebe de herança do avô doze tarefas que ele precisa cumprir, as quais ele chama de “presentes”, justamente porque tem a intenção de ensinar o neto, Jason, a repensar a vida e entender melhor as relações, riqueza e felicidade. 

 

Outro que vale citar é o Patch Adams, que foi, inclusive, uma inspiração para o Doutores da Alegria, do nosso querido Wellington Nogueira. Vale citar um que é um exemplo negativo da entrada das ONG’s na trama, que é o Tropa de Elite. Eu lembrei disso depois que a gente terminou o roteiro, mas no Tropa de Elite 1, uma ONG exerce um papel importante na história e é retratada de forma crítica. É uma ONG que atua no Morro dos Prazeres, se eu não engano é onde a história se passa, e lá o pessoal que ali trabalham são retratados como maconheiros e hipócritas, para dizer o mínimo. 

 

Roberta: Nem sempre são histórias bonitas. E como este é um episódio especial, hoje a Rafa Carvalho tirou uma folga do Glossário, mas a gente aproveita que ela é super ligada nesse assunto e pediu a dica. Conta pra gente, Rafa, o que não pode faltar nesta lista?

 

Rafa Carvalho: Oi pessoal. Olha eu quero recomendar uma série para vocês e eu vou deixar uma justificativa bem daquelas de amiga que recomenda alguma coisa porque tá muito apaixonada. E essa “coisa” que eu estou falando é o quarto episódio da segunda temporada da série Ted Lasso, da Apple TV. 

 

Eu não vou dar muitos detalhes sobre a série, mas eu vou explicar algumas coisas. Primeiro, é lógico que vale muito mais a pena você ver esse episódio se você acompanhou a série inteira e chegou até ele naturalmente, mas se você quiser assistir apenas a esse episódio, você vai entender porque eu penso em cultura de doação quando eu dou play nele.

 

Ele se passa em uma celebração de Natal. E é claro que a gente sabe que essa é a época em que as pessoas se mostram mais generosas, mas o que eu acho muito bonito é ver a forma como cada personagem nesse episódio alimenta essa generosidade. Por exemplo, um dos personagens recebe vários outros que estão longe das suas famílias na sua própria casa para ceia de Natal e aí a mesa acaba ficando tão enorme que ela ocupa um corredor inteiro. Além disso, cada um leva um prato de comida típico da sua família, do lugar de onde veio e todo mundo compartilha as histórias por trás das receitas enquanto as oferecem ali para os colegas.

 

Também tem um momento, nesse episódio, em que o protagonista, que tá visivelmente debilitado por estar longe da própria família depois de um divórcio com a ex-mulher, opta por ficar isolado no Natal, até que ele é um amparado pela chefe dele que o convida a andar pela cidade distribuindo presentes de Natal para as crianças. A chefe não tinha feito esse gesto no ano anterior e sentiu falta disso, mas ela não tinha feito isso por causa do próprio divórcio que ela estava atravessando no Natal anterior. Ela entende a dor do colega e num gesto de profunda compaixão ela o encontra e na doação de presentes eles vêem motivos para sorrir de novo e driblar a dor que eles podem estar sentindo. 

 

O episódio termina daquele jeito que deixa a gente com o coração bem quentinho, sabe? E ele lembra, pra mim, o quanto doar e ser generoso é, além de um caminho para fazer o bem, uma forma de se ajudar e de criar conexões verdadeiras. Eu recomendo demais e eu espero que você fique tão feliz quanto eu ao terminar esse episódio e essa série. Até a próxima pessoal!

 

Roberta: Valeu, Rafa! 

 

E na linha dos super heróis, a gente não poderia deixar de falar sobre o Batman! 

O The Batman, lançado no começo do ano, e que dividiu opiniões sobre a atuação do Robert Pattinson, mas que foi muito bem na crítica e mais ainda de bilheteria, desde que dão a volta ao mundo e arrecadam milhões. 

 

Algo muito interessante é que a doação tem um papel muito importante na história. O grande vilão atormenta Gotham e o Batman pra se vingar das falsas promessas feitas pelo pai do Bruce Wayne, que antes de morrer lançou um fundo endowment de 1 bilhão de dólares para reconstruir Gotham… mas que acabou sendo usado para lavar dinheiro, corrupção, máfia, milícias etc. Então é toda uma crítica à hipocrisia da caridade dos multimilionários, à falta de transparência das supostas ações sociais, que fazem algumas pessoas parecerem muito boazinhas, mas, na verdade, fazerem muito ponto. E também ao fato do Batman ser um herdeiro mimado que não quis cuidar do dinheiro da família, só ficar brincando de homem morcego… de modo que foi tudo desviado, e a moral da história: ele teria feito muito mais por Gotham se tivesse cuidado da doação ou invés de colocar a roupa de emo triste e ficar dando chute em ladrão em beco, teria sido bem mais útil.

 

Artur: Está disponível no HBO MAX, caso você tenha interesse. Vale citar, já que estamos falando de super-heróis, o Homem de Ferro, com o famoso Tony Stark, que busca um significado para os serviços que presta à sociedade. Eu não sou um grande fã de filmes de super-heróis, então eu estou seguindo o roteiro aqui. O primeiro filme era sobre o Tony Stark playboy e bilionário que faz o que quer, enquanto o segundo filme, ele já mostra, além do seu aprendizado sobre poderes e capacidade de derrotar vilões, ele percebe que poderia ser benéfico para o mundo, o tornando um lugar melhor para se viver. 

 

Roberta: Está disponível na Disney + e a Duda Schneider gosta de filmes de heróis, vamos ver qual a dica dela, que hoje não vai ser de produto social e sim de uma série que ela acha que tem tudo a ver com a nossa lista. Diga lá, Duda: 

 

Duda Schneider: Oi, gente! Duda Schneider aqui. A minha dica é de um programa culinário da HBO MAX, que é o Selena + Chef. A estrela é a Selena Gomez que a cada episódio convida, remotamente, um chef renomado para eles cozinharem juntos. Os episódios são super divertidos, as receitas são maravilhosas e, a cada episódio, o chef escolhe uma organização que ele tenha uma história de luta ou apoie para receber uma doação de US$ 10.000 dólares do programa. E, o que é mais legal, é que o chef conta a história da organização e o programa sempre mostra um vídeo institucional para que as pessoas de casa conheçam melhor e possam doar. Ao final da segunda temporada, eles já tinham arrecadado mais de US$ 360.000 dólares, e agora já temos três temporadas, então esse valor aumentou.

 

E temos a versão brasileira, também no HBO MAX, que, ao invés da Selena Gomez, é com a Sandy. É o Sandy + Chef na mesma estrutura da versão original. O chef escolhe uma organização ligada à gastronomia para receber R$ 25.000. 

 

Artur: Ótimo, Duda! Valeu pela dica. A gente poderia falar de muitos outros, mas acho que uma coisa que é interessante é que, além desses filmes que já tem a temática social no cerne da história, a gente vem acompanhando um movimento desses temas perpassam as histórias, o que eu acho até mais interessante. Eu gosto das telenovelas brasileiras, mas uma crítica que eu tenho é que muitas vezes essas histórias desprezam textos sociais, retratam só os casos de amor, esquecendo que as pessoas trabalham, pagam boleto, tem problemas para criar os filhos.

 

Nos outros lugares isso é mais comum, na Argentina, por exemplo, é muito comum, não importa qual seja a história do filme, sempre tem um boleto atrapalhando a vida, dando uma dor de cabeça. A vida real bate mais a porta, e a gente vem vendo isso acontecendo com mais frequência aqui, o que eu acho muito vindouro. Ter a vida real na tela é sempre uma boa pedida. 


Roberta: E pra finalizar a lista, uma série fresquinha, que acabou de estrear na Apple TV, Fortuna. É uma comédia, dessas bem levinhas de meia hora, estrelada por Maya Rudolph, uma comediante conhecida pelos seus papéis no Saturday Night Live e em outros grandes filmes de comédia.

 

Ela interpreta uma mulher recém separada que herda do ex-marido US$ 87 bilhões para fazer o que quiser com eles. Ela se vê numa crise existencial e vai encontrar seu propósito trabalhando na sua própria fundação, embora tenha zero noção de questões sociais ou da vida real.

 

A série foi criada pelo Alan Yang e Matt Hubbard, que já tinham trabalhado com a atriz em “Forever”, outra série maravilhosa, embora não seja sobre doação, e que está disponível na Amazon Prime Video. Os criadores falam do desafio que cercou os roteiros dos dez episódios foi tentar tornar essa personagem mais querida e empática, diminuir o descompasso entre uma protagonista rica e público –afinal, não é difícil sentir aversão por bilionários, embora também exista a categoria “fãs de bilionário”, ainda mais num mundo em crise política e social como o de hoje é difícil ganhar simpatia por quem sofre com muito dinheiro na conta.

 

Mas eles estão conseguindo fazer isso e transformar essa personagem em alguém bem carismática. E, por trás da série, tem todas as questões que uma organização passa no dia a dia, tudo superficial como em qualquer comédia, mas tem personagens bem interessantes. Vale a pena ver quando você estiver bem à toa precisando descansar a cabeça. 

 

Artur: A gente falou bastante, mas acho que vale a gente tentar responder a pergunta do episódio, né? Roberta, você acha que o terceiro setor, a doação, a solidariedade são bem representados pela indústria cultural? 

 

Roberta: Eu acho que as questões sociais sim, que são o propósito do trabalho do terceiro setor, mas ele, a doação e a solidariedade são pouco representados. Tem muito espaço para criar mais heróis e heroínas, histórias de amor e de superação que passem por questões que vivemos no nosso dia a dia, como a solidariedade, questionar o trabalho no campo social, dentro das empresas, enfim. Tem muita coisa a fazer ainda e vamos ficar de olho, e, por favor, se vocês tiverem outras dicas que a gente esqueceu de mencionar aqui compartilhe! É bom a gente se sentir representado nas grandes e pequenas telas e em outros produtos culturais que a gente pode trazer isso aqui nos próximos episódios. 

 

Artur: A gente quer muito ouvir as sugestões de vocês. Demos várias, mas queremos assistir algo que ainda não vimos. Então, conta pra nós, lá no Instagram @institutomol ou no Linkedin que a gente está doido para saber o que vocês gostaram ou não, tá bom? 

 

Roberta: Por hoje é só pessoal, mas semana que vem tem mais! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev. A produção e o roteiro é de Ana Ju Rodrigues, a direção é de Vanessa Henriques e o design de Glaucia Ribeiro, do Instituto MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!

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