por Instituto MOL
ROBERTA: Oi gente, cheguei…
ARTUR: Opa, pera lá você não tá no podcast errado. Fica aí que a gente já te explica…
ROBERTA: Salve salve, salve nação doadora!
Tá no ar o seu podcast favorito sobre cultura de doação, produzido pelo Instituto MOL com apoio do Movimento Bem Maior. Aqui, você fica por dentro das conversas do momento na filantropia, com informações, pesquisas e entrevistas com importantes personagens do setor no Brasil tudo de forma clara e objetiva, sem lero lero
Eu sou Roberta Faria
ARTUR: Eu sou o Artur Louback, e quinzenalmente, a gente te convoca a vir junto
pra inspirar mais e mais pessoas e empresas a doar! doar com propósito, com consciência e com coração! Afinal,
ROBERTA/ARTUR: Aqui se faz, Aqui se doa!
ROBERTA: Olá, chegamos!
Hoje o papo é com a podcaster mais amada do Brasil… ela mesma, Deia Freitas! Estamos muito emocionados por ter um convidado desse tamanho.
ARTUR: Não tenho nem roupa para esse momento.
ROBERTA: A Déia é um furacão da internet que conta histórias como ninguém e, não por acaso, faz com que o Não Inviabilize seja um dos mais ouvidos do país.
São números que antes a gente só via na grande mídia. São mais de 100 milhões de reproduções, mais de 1 milhão ouvintes e uma média de 140 mil reproduções por episódio. Só para comparar, não sei se vamos sair um pouco humilhados…
ARTUR: Humilhados não, a gente é humilde.
ROBERTA: A nossa média é 1.000 reproduções por episódio, e olha que somos o podcast mais ouvido na categoria terceiro setor. Enfim, a Déia é gigante.
Além de roteirista, a Deia é psicóloga e o que pouca gente sabe é que ela também já foi captadora de recursos! Ela é da nossa turma. O envolvimento dela com as causas sociais, como não poderia deixar de ser, tem uma ótima história que você vai conhecer logo mais…
ARTUR: E, além desse papo ótimo que a Roberta teve com a Deia Freitas, no Pra Saber Mais a gente traz dicas pra quem quer contar histórias bem como ela, e pra buscar apoio de criadores digitais nessa jornada de influenciar a doação.
ROBERTA: Bem, voltando lá no nosso primeiro episódio da temporada, sobre as tendências da filantropia e da cultura de doação pra esse ano, e vamos aprofundando eles por aqui.
Já trouxemos aqui, um papo sobre a influência da arte e do entretenimento, refletimos sobre os caminhos da economia e do movimento ‘eat the rich’ nas redes sociais, falamos sobre Linkedin…
E a gente sabe também do poder dos criadores de conteúdo na internet e da influência que eles exercem no público que os acompanha… e como os influencers podem impulsionar a cultura de doação falando sobre o assunto em suas redes… tivemos até um episódio sobre isso, “Como ser influencer da doação?”, que batemos um papo com o André Soler, da SP Invisível…
Se ainda não ouviu, coloca aí na sua lista: é o episódio 61.
ARTUR: E uma tendência que a gente espera que ganhe força aqui no Brasil é que cada vez mais essa galera fale sobre doação, sobre causas sociais e influencie mais e mais pessoas, assim como tem feito a Deia Freitas a partir do Não Inviabilize…
Em janeiro deste ano,ela anunciou a doação de mais de 300 mil reais a projetos sociais nas áreas do movimento negro, visibilidade trans, povos originários e proteção animal… e recebeu uma onda de críticas
ROBERTA: Gente reclamando, e deixando de ser ouvinte, seguidor ou assinante.
ARTUR: Masss, recebeu também mais de 150 e-mails com projetos do Brasil todo e o valor do apoio destinado quase que já dobrou de valor…
ROBERTA: E dentre os projetos escolhidos para apoiar, ela tem metas ousadas! Uma delas é zerar a fila de espera para retificação de nome e gênero no projeto ME CHAME PELO MEU NOME da ASTRA – Associação de Travestis, Transgêneres e Transsexuais de Juiz de Fora – MG…
E essa não foi a primeira vez em que a Deia Freitas causou barulho na rede por apoiar causas e defender os direitos dos mais vulneráveis. Em janeiro do ano passado, em um anúncio de uma vaga afirmativa voltada para mulheres negras, ela foi engolida uma enxurrada de ataques por e-mail e pelas redes sociais… Houve até quem a ameaçasse de processo por discriminação contra homens e pessoas brancas.
Mas, a Deia não se deixou abalar e o que era apenas um anúncio pra um trabalho se tornou uma plataforma de empregabilidade e inclusão para pessoas pretas, pardas, indígenas, LGBTQIA+ e com deficiência…
E ela não vai parar por aí… São muitos outros projetos para usar essa influência para o bem.
ARTUR: Ainda bem! E, se a gente precisa do alcance da internet pra impulsionar a cultura de doação, nada melhor do que ela pra dizer: Não inviabilize a minha doação! Esse pode ser um lema.
A Roberta bateu um papo ótimo com ela, que você ouve agora:
ROBERTA: Déia, muito bem-vinda! Que prazer/honra ter você aqui conosco para compartilhar sua experiência. Queríamos muito ouvir essa risada famosa aqui no Aqui se Faz, Aqui se Doa.
DÉIA: Oi, gente! Cheguei!
ROBERTA: Pra começar nosso papo, conta pra nós um pouquinho da sua história e o seu envolvimento com as causas sociais. Você é super ativista de várias causas e sempre compartilha suas doações, quem acompanha sabe que a causa animal tem seu coração, mas não só ela. Queria te ouvir: Como foi esse caminho? Você é uma doadora desde sempre?
DÉIA: Minha família é muito atuante, mas não de uma maneira militante. Desde criança, eu via a minha mãe fazendo boas ações, fosse na Igreja ou no meu bairro. E eu acompanhava não só ela, mas meus tios e tias também. Eu não via como algo organizado, mas mais sobre um ato cristão de doar.
Quando eu tinha 8 anos, minha mãe trouxe um cachorrinho vira-lata de presente para mim, e, um dia, esse cachorro sumiu do quintal. Ficamos procurando pelo bairro, muito preocupadas, e acabamos encontrando ele em um orfanato. A responsável disse que um moço entregou o meu cachorrinho como presente para as crianças, e elas estavam muito felizes ali com ele.
Minha mãe ficou muito tocada com essa situação e me explicou que aquelas crianças não tinham uma estrutura familiar, e se eu poderia deixar o cachorrinho para fazer companhia pra elas, e eu, com 8 anos, disse que não! Que queria meu cachorro de volta, mas, quando vi o rosto das crianças, acabei desistindo.
Depois disso eu quis entender o que era um orfanato, como ajudar essas e outras crianças. Eu quis entender porque elas não tinham pai ou mãe, porque estavam abandonadas, mas também tinha ódio porque estavam com meu cachorro.
ROBERTA: A sua primeira ação de doação foi um pouca contraditória então
DÉIA: Foi! O primeiro momento que eu tive que doar…Fiquei com ódio. Mas foi algo que me aproximou da causa animal também, e eu fui seguindo.
ROBERTA: Mas com amor, né? E você seguiu na carreira de doadora, substituindo o ódio por experiências mais satisfatórias e edificantes, e, no começo do ano, você fez um anúncio importante de apoio a projetos nas áreas do movimento negro, povos originários e de visibilidade trans, destinando mais R$ 300 mil para doação…
DÉIA: Agora a gente está beirando aos R$ 500 mil.
ROBERTA: Que demais! Eu queria saber um pouco mais sobre como você escolhe esses projetos e organiza a doação. Porque essa é uma questão que a gente escuta muito como uma das dificuldades das pessoas doarem de forma recorrente ou de doar em como hábito assim, né? de não conseguir se planejar. E aí acaba fazendo doação, só no momento emergencial ou só se alguém pede. E você fez um planejamento pelo jeito de destinar parte do seu lucro para poder ajudar esses projetos, para apoiar esses projetos.Como que foi?
DÉIA: Esse processo eu já venho desde o começo do podcast, fazendo e programando doações, patrocínios de projetos dentro da minha possibilidade.
Quando eu começo o ano eu já planejo tudo que eu tenho que pagar, das coisas que são do podcast, o salário tal e dentro dali, do que sobra, eu pego a maior parte para destinar para outros projetos.
Alguém pode falar, “ah, mas ela é boazinha”, não tem a ver com bondade, tem a ver com o que a gente espera que o mundo se torne para todo mundo.
Um lugar mais habitável, menos inóspito. Então quando eu escolho uma ONG pra patrocinar um projeto a primeira coisa é: como esse projeto me chega. Quando eu trabalhei em ONG, eu era gerente de projetos e eu aprendi a organizar projeto sozinha, porque eu não sabia, então eu penso que às vezes a gente vê umas ONGs maiores até que enviam as coisas e vem tudo desorganizado, vem tudo bagunçado. A minha primeira vitrine é quando o projeto vem bem estruturado, bem descrito, é a primeira separação que eu faço antes de olhar até as causas. Como que aquele projeto veio descrito, se ele tá bem feito, né? E aí depois eu vou sentar e ver as minhas demandas ali o que eu vejo que tá precisando mais. Meu maior projeto hoje de patrocínio é uma escola de ancestralidade feita por um movimento indígena lá do Ceará que eu achei que era onde precisava mais, então é um projeto que o destino todo mês 16 mil reais. É o meu projeto que consome mais, mas é onde eu achei que realmente eles estavam abandonados, eles tinham um projeto legal, bem estruturado de fazer uma escola para manter ali as tradições e para mostrar também para pessoas que não são indígenas que elas podem se incluir conhecer desmistificar um monte de coisa, né?
Então a gente tá fazendo um trabalho bem bacana com eles lá e aí quando você pensa assim “nossa, 16 mil reais”, mas se você for ver, tem toda uma estrutura, eles são itinerantes, então eles vão de cidade em cidade, eles fazem projetos com a comunidade e precisam ter recursos para se manter… eles têm que fazer ali um panfleto, uma coisa isso tem um material didático. A hora que você viu o dinheiro foi praticamente todo né? Eu não consigo quantificar assim, “nossa, quanto eu tô gastando”, não. É dentro dali daquele trabalho que a gente precisa fazer. Quanto que precisa para todo mundo trabalhar também de uma maneira digna, né? Que você possa também ter aí um salário e poder viver, né? Porque muita gente acha que quem trabalha em ONG não tem que ter salário aí tem que se doar…
ROBERTA: E você tem recebido muitos projetos, você deixou em aberto essa seleção. Como tem sido?
DEIA: Como eu não apago quando eu posto algum tuíte, assim, fica para sempre ali…bem, mas eu costumo só pegar para olhar lá para outubro que é quando vem, e eu tinha feito toda a programação já, e eu queria muito um projeto de visibilidade trans e eu tinha 60 mil ali para investir num projeto desses e eu falei poxa, eu vou eu vou tentar sem divulgar porque eu sabia que isso ia me gerar uma coisa assim, um estresse, porque eu não ligo de de falar que eu tô apoiando, mas o estresse naquela divulgação. Mas eu não consegui um projeto que estivesse bem estruturado. Aí eu falei: “Ah, vou postar” e aí assim o começo foi aquela coisa de internet, um show de horror. Muita gente me xingando, enfim, questionando o que que eu tava fazendo com meu dinheiro, meu dinheiro…
ROBERTA: Com o seu dinheiro! as pessoas não escutam, né? O podcast, o seu podcast é para entender o tipo de pessoa.
DEIA: É, eu recebi sei lá mais de 150 e-mails, bem mais até, mas eu parei de contar ali no 150, mas muitos os projetos não vinham estruturados, as pessoas tinham uma ideia e queriam fazer algo, mas elas não tinham ainda a estrutura de um projeto. Então, aí fica mais difícil para você colocar um dinheiro em uma coisa que ainda a pessoa nem sabe como vai fazer isso. Aí fui separar os projetos que vieram, com uma descrição dos valores, de como ia ser utilizado, com os prazos, com aplicação com tudo, aí eu separei os mais estruturados e acabei escolhendo um para fazer a documentação de pessoas que precisam fazer a documentação ali, né de mudança de gênero, de identidade. E aí tá sendo muito legal.
ROBERTA: Legal! Vamos depois deixar esses links na descrição do episódio para quem escutar também poder conhecer e apoiar esses projetos.
E Deia, você estava falando né do show de horrores da internet. E essa é uma das coisas que eu gostaria de te perguntar… você não tem medo de se expor, é só ouvir você para saber disso. E os projetos que você apoia, e os temas que você trabalha também no seu podcast. Enfim, a polêmica não te assusta, mas eu queria te falar especialmente da polêmica da doação. Quando você fala que vai doar, a gente sabe que ainda tem uma parcela importante da sociedade que considera, digamos inadequado,feio, de mau gosto você contar que está doando. Embora geralmente as pessoas não critiquem, por exemplo, o exibicionismo material assim, né? Quando alguém tá postando sobre roupas de marca bolsas, né? Compra uma casa, viagens carros, etc, parece que isso não provoca tanto incômodo quanto postar que você tá ajudando, porque vem muito dessa ideia que vem também do cristianismo. Você não pode contar que você está ajudando, senão sua ajuda perde a validade, como que é a reação do seu público? Porque você escolhe continuar falando, sobre se expor nas suas doações…
DEIA: Olha, o meu público mesmo,os meus ouvintes, eu acho que eles levam super de boa. Eles procuram até se espelhar mesmo e acabam doando também. Pra você ter uma ideia, quando anunciei que a gente tinha mais de 470 mil para doar, teve uma pessoa, uma ouvinte minha também empresária que falou: Andreia. eu quero doar 25 mil. E eu falei, “nossa, né sério?” porque naquelas né? Ela quer doar, ela tem o dinheiro e eu tô ainda procurando um projeto que caiba no que ela espera também. Passei para ela umas ONG e tal e a gente tá fazendo isso com calma porque como é a primeira vez que ela tá fazendo eu quero que seja uma coisa bacana, sabe? pra ela sentir que ela precisa fazer de novo, porque aquilo vai fazer uma diferença, né? Então eu tô tratando isso com muito cuidado até com mais cuidado do que eu trato as minhas próprias coisas.
ROBERTA: Que massa ser uma influência da doação assim, né? A gente precisa mesmo de mais gente assim no mundo. E o seu conteúdo, você faz uma escolha e sua escolha de pauta é muito diversa, né? Acho que essa é a grande graça do Não Inviabilize, que você pode ouvir e você nunca sabe o que vai ouvir quando você abre o podcast. Pode ser qualquer coisa, literalmente e isso que é isso é o que mais maravilhoso assim, mas você faz né? Ele é um dos podcasts mais ouvidos do país e tem uma responsabilidade que é conversar também com tanta gente ao mesmo tempo. Essa é uma discussão recorrente quando a gente fala de criadores de conteúdo e da responsabilidade sobre o conteúdo que se cria e se espalha por aí. Como você lida com isso? para tratar e priorizar questões de diversidade, de cuidar de gênero, de inclusão, histórias que talvez pudessem ser engraçadas nos anos 90 e 80, mas agora não cabem mais… como que você traz os temas para conversa e coloca a sua visão de mundo, esse impacto social no meio das suas pautas?
DEIA: Eu brinco que eu costumo militar escondido no podcast, então eu
eu pego todo o tema que eu quiser, por exemplo se eu vou falar sobre gordofobia. Eu não vou usar a palavra gordofobia, eu vou mostrar ali numa história, fazer com que as pessoas se sintam mal junto com aquela pessoa gorda, mesma coisa racismo, mesma coisa machismo. Você raramente vai me ver falando esses termos assim,que assustam as pessoas, mas eu vou permeando ali os assuntos, nas histórias. Então é quando eu faço a seleção das pessoas que me mandam as histórias, eu já vou pensando nisso. Poxa isso aqui tem um puta recorte do assunto tal que eu quero, e aí eu vou fazer de um jeito que a pessoa vai ficar pensando naquilo, vai ver como aquilo é ruim, é errado. Enfim sem falar tanto isso, então eu milito muito escondido.
ROBERTA: Quando a gente fala de ferramentas e maneiras de captar doação sempre roda, roda e cai no mesmo ponto que é saber contar a história da organização,das pessoas beneficiadas,da causa, etc. E você como uma grande contadora de histórias, ainda por cima psicóloga, que ouviu histórias a vida inteira, que dicas você tem para os nossos ouvintes que estão em busca de engajar pessoas, na causa, na organização?
DEIA: A primeira coisa a se fazer é aquilo que eu falei de organizar mesmo, não importa qual a sua causa. Você tem que ter as coisas organizadas. Então, se você tem um Instagram, você não vai ter um Instagram caótico, você tem que ter um Instagram ali que vai mostrar as suas coisas e o seu trabalho de uma maneira. coesa, que as pessoas olham e falam, estou entendendo que aqui você posta ali as coisas legais só trabalho de voluntariado, que seja. E aí depois você já posta ali.”ó, a gente tá precisando disso, disso”… Eu acho que funciona bem assim, você pode pegar, por exemplo, eu falo muito isso pra protetora de animal, não adianta você fazer um Instagram cheio de cachorro estrupiado que ninguém vai entrar,ninguém vai olhar, ninguém quer ver isso. Ninguém quer ver o que que você posta, você posta os videozinhos fofos de adoção, você entregando o cachorrinho na casa bonitinho, quando você precisa socorrer um cachorro você faz uma foto ali do cachorro, faz uma lista ali por cima do que você precisa, na foto mesmo do cachorro e posta e depois que você conseguiu aquilo você arquiva aquela foto e deixa o seu feed ali só com aquelas adoções. Porque um Instagram cheio de cachorro estrupiado, ninguém vai ficar olhando, as pessoas vão te silenciar vão ficar com pena de deixar de seguir, vão silenciar o Instagram e nunca mais vão ver o seu trabalho. Então, eu sempre falei isso para as protetoras, sabe? faz pedido só quando você realmente precisa das coisas ou se você precisa de ração sempre, cria uma assinatura bonitinha, fofa com as fotinhos lindas os cachorros que vão ganhar ração e não um cachorro magro, esquelético, caído, pedindo ração, é porque entendeu a causa para quem está militando dentro dela, é muito é mas não funciona, mas não funciona para quem que você tá falando, né? Não é o que querem ouvir, porque quando você posta uma foto de cachorro estrupiado, você me alcança, eu sou protetora, você me alcança. Mas eu sou mais uma fodida que não vou ter dinheiro para te ajudar, entendeu? Também tô precisando, então quando é você posta um cachorro fodido, estrupiado, você vai alcançar meia dúzia de pessoa que se comoveu ali na hora e vai doar só uma vez e as outras protetoras todas que uma vai doar 5 reais, outra vai doar 3, outra vai doar 10 e você não vai comprar um pacote de ração, entendeu? Então eu acho que falta para muitas ONGs saber qual público que você quer atingir ou se você quer atingir um público que ainda não te conhece, não vai ser com um cachorro todo fodido, com metade da cara aberta que você vai atingir, você vai pegar um vídeo lá que você fez uma entrega de um cachorro para adotante… aquela emoção, bota uma musiquinha no fundo e já era! Isso viraliza no Tik Tok? então a gente tem que trabalhar com as ferramentas atuais com o que tem agora. então é o Tik Tok? vai pro Tik Tok.
ROBERTA: Mudando de assunto, a gente vê algumas campanhas bombando sem motivo e outras flopando. Alguns episódios atrás, a gente conversou com o pessoal do Razões para Acreditar e eles deram um exemplo que eu achei interessante, quando você conta a história, por exemplo, de um orfanato as doações não vem, mas se você contar a história de uma criança, aí as pessoas se mobilizam… Como se individualizar faz muita diferença. Faz sentido para você?, o que você acha que traz mais força na hora de conseguir uma doação? é buscar parceria com influencer que tem milhões de seguidores ou é atuar de repente com algum criador de conteúdo que tem uma capacidade menor de atingir pessoas, mas talvez de mais engajamento? Na sua experiência mista, de criadora de conteúdo, ongueira captadora de recursos, ativista, o que funciona mais?
DEIA: Eu acho que faz mais sentido correr atrás, e eu vou ser do contra, mas é importante fazer o trabalho sozinho. Sem ir atrás de influencer, de
artista no primeiro momento. Porque quando você está organizadinho,fazendo as suas coisas e postando organizado tudo que você faz, eu acho que isso vem mais fácil do que você ia atrás de artista.
Eu lembro que quando eu tava na ONG, na época uma das coisas que a gente fazia era isso, assim a gente estruturava todo o projeto e aí via: será que algum artista cabe aqui agora que a gente já tá legal e tal? e aí a gente mandava para algumas assessorias sem esperar muito,sem depender. Eu acho que a verdade é não é nem não buscar, é não depender disso, porque às vezes não vem. Você não acha ninguém, você vai achar uma pessoa que vai falar: nossa, eu nem gosto dessa pessoa, mas é só porque ela gera engajamento eu vou botar ela aqui. Aí passa duas semanas aquela pessoa apronta uma vai estar cancelada e acabou para você, entendeu? sua campanha… eu prefiro assim: faz tudo bonitinho. E aí sei lá o artista compartilha porque aí compartilhou porque quis e aí isso acaba não te comprometendo tanto, principalmente em tempos como agora em que a gente não sabe o amanhã, o que a pessoa vai fazer, o que vai surgir da pessoa e acabou com o seu projeto.
ROBERTA: E agora como doadora, no seu outro chapéu. Você falou muito da organização dos projetos… Mas e depois que você escolhe e faz a sua doação, seja pontual ou recorrente, o que você gosta de receber enquanto doadora? Qual é a sua expectativa de contrapartida, de retorno da organização?
DEIA: Eu vou falar dois aspectos diferentes, como pessoa jurídica, eu gosto que aquilo que veio no projeto seja cumprido e para isso a gente estrutura pelo menos uma reunião mensal para saber se aquele dinheiro que a gente tá botando tá indo para aquilo mesmo. Agora para as doações que eu faço como pessoa física, eu não costumo esperar nada. Nem sempre o que a gente quer é o que você precisa fazer naquele momento, né? Eu sou bem diferente, quando eu sou uma pessoa física ou jurídica, né? No jurídico, aquele projeto que veio daquele jeito… e eu nunca dou menos dinheiro do que um projeto tá me pedindo, então assim se cabe no meu bolso, é aquele valor que eu dou. Então, se a pessoa tá recebendo o que ela tá pedindo formatado naquele projeto, ela tem que me devolver aquilo, afinal eu investi naquilo. Então como pessoa jurídica eu acho que eu sou um pouco mais rigorosa, assim agora como pessoa física, não é assim, eu vou fazendo.
ROBERTA: Nas suas experiências no Não Inviabilize, e nos seus outros projetos de conteúdo… como que é o engajamento dos seus ouvintes, da sua audiência quando você fala sobre temas ligados à generosidade, à doação… tem mais interesse, menos interesse? é igual a qualquer outro tipo de tema? A gente tem uma percepção que esse tipo de história tem interessado mais às pessoas, tem gerado até mais engajamento, o que pode ser um estímulo para que outras pessoas, que outros criadores de conteúdo e canais de mídia em geral invistam mais nesse tipo de produção e de tema para a gente espalhar mais a palavra da doação. O que você acha que, na sua experiência, tem mesmo mais engajamento? ou se não, o que fazer para atrair a atenção nessa hora e converter em uma doação lá no final de um episódio ou de uma história?
DEIA: Eu acho que o caminho para todos os segmentos, e para ONG também não seria diferente é realmente você contar uma boa história, se você Como disse aí O Razões para Acreditar, se você pega ali dentro da sua ONG, digamos que não seja um orfanato que seja sei lá uma ONG, de capacitação. Se você contar a história de uma costureira ali você pega uma história bacana aquilo vai mudar o foco da da sua ONG. Você sai daquilo de você, de repente tá?
Saindo do lugar de mostrar só um lado para mostrar uma coisa mais humana, de alguém que tá ali trabalhando com você dentro de uma ONG, que tem muitas histórias. Toda hora dá para você focar numa coisa diferente e criar engajamento com o público diferente. Isso é importante também, né? não ficar, como a gente diz, só pregando para convertido.
ROBERTA: Exatamente, furar essas bolhas, né? É pois é muito bom, você parece que até ouvir os nossos episódios, você falou várias coisas que a gente sempre fala aqui e pregar para os não convertidos é uma delas.
Muito obrigada, querida! Adorei a nossa conversa!
DEIA: Eu gostei também!
ROBERTA: E vamos trocar figurinhas! Tem muita história boa para contar de doadores, de doação, de vidas transformadas por doações. Obrigada pela por ser uma aliada e espalhar a palavra!
DEIA: Ah, tamo junto. Eu que agradeço gente. Um beijo!
ROBERTA: Muito bom esse papo, né? Arthur? A Déia é muito gente como a gente e muito sincerona. Acho que isso faz é um dos grandes motivos para ela se conectar tanto com as pessoas, você começa a conversar com ela instantaneamente, parece que vocês já se conhecem a vida toda e você se sente disposto a se abrir, enfim a ouvir. Ela é muito divertida e a gente espera que você tenha curtido esse papo também. Acho que a experiência dela traz muitas dicas para quem tá buscando apoio para o seu projeto, que ela também tem esse chapéu de ser doadora e também para quem quer melhorar a comunicação nas redes já se inspirando nesse modo de fazer que é voltado para histórias mais para as histórias de gente do que para números.
Enfim, essa é uma tendência que a gente quer ver acontecer e um caminho para ela é a gente influenciar quem cria esse conteúdo, buscar conhecer né? Certamente tem uma influência aí na sua rede, de apoio aí da sua organização ou alguém que você conhece. Sempre tem seis graus de separação pra você chegar em alguém que seja um micro, médio, grande influenciador e bater esse papo com essa pessoa assim de “vamos falar sobre doação, vamos falar sobre causas. Vamos abrir espaço no seu trabalho”. Seja um podcast ou um perfil do Instagram, um canal no YouTube para apoiar projetos porque com a Deia mostra, quando a gente fala de causas, fala de projetos, coloca o coração nas coisas e isso também traz audiência. Então é um ganha aí para as causas para os criadores. Eles só não estão sabendo disso ainda, então vamos contar pra eles.
ARTUR: Muito bom. É o que eu acho mais fantástico da Deia Freitas, na verdade, eu não sei o quanto que eu sou influenciado na ideia de ver isso como uma tendência, mas a Deia Freitas representa assim, eu acho que um momento da criação de conteúdo que é algo como um retorno a vida real assim. Acho que a gente passou por um momento assim de coisas muito estrambólicas e canais com propostas muito mirabolantes e agora tá vivendo um momento que eu acho que as pessoas estão querendo algumas coisas mais, como bater papo, voltar à velha tradição brasileira, né? valorizar a nossa cultura de alguma forma, decolonizar a cultura da influência e tal para uma coisa brasileira que é o bater papo com gente comum, gente como a gente, né? A tradição da novela… Eu gosto demais disso porque ela é muita habilidosa em fazer isso, muito simpática e ao mesmo tempo consegue desbravar as histórias das pessoas de forma muito empática e eu acho que tem uma coisa muito conectada com a nossa área assim, e por acaso, ela tá conseguindo ter sucesso com isso que é a tradição brasileira. E assim, não tô partindo de nenhuma informação, nenhum estudo aqui, mas eu acho que a filantropia brasileira tem um tanto dessa coisa bairrista, né? Talvez por ter nascido no âmbito da paróquia da igreja, né? da coisa comunitária ali, tudo tem um negócio
que a gente gosta é de ajudar a comunidade, né? Aquilo que a gente conhece, as histórias de vida reais porque a gente identifica, enfim a gente na MOL faz conteúdo há muito tempo se apoiando nisso, né? E a gente hoje na Sorria tem tiragem de 510 mil exemplares, né 550… Agora a gente vendeu, já deu errado, 514 mil na última edição da Sorria. Enfim, o que eu queria dizer com isso é que eu noto que tem um movimento ao mesmo tempo de campanhas para arrecadação de recursos com finalidade social feitas nesse modo de histórias comuns, de pessoas comuns com nomes sobrenome e a comunidade se engajando para ajudar e que engajam muito no Brasil, né? Então a gente já conhece o Razões para Acreditar faz isso por exemplo muito bem sucedido e a gente tem agora o Luciano Huck fazendo campanhas dessa né? Agora a gente teve recente desse entregador que foi barbaramente violentado por uma maluca e que conseguiram arrecadar,em poucos dias, um dinheiro muito substancial que dá para comprar uma casa e tudo. Então, eu queria na verdade aqui conectar com as nossas dicas, eu vou indicar o Benfeitoria que é um canal que a gente põe as duas mãos no fogo por eles. Eles são incríveis fazendo isso, são pioneiros, sempre vão ter boas histórias e bons projetos para você apoiar confiando como se estivesse fazendo com a sua comunidade.
ROBERTA: E outra dica para o nosso Pra saber Mais, vem do podcast da nossa entrevistada, se você ainda não estava familiarizado com a Déia a gente recomenda você começar pelo episódio do Amor nas Redes, ONG do Não Inviabilize. Este é um dos quadros, tem vários subcanais e um deles é esse Amor nas Redes e nesse episódio específico a Deia conta como começou a jornada dela no terceiro setor e como esse trabalho foi importante tanto para o desenvolvimento profissional quanto para o pessoal dela. O link vai ficar aqui na descrição do episódio.
ARTUR: e sobre o poder dos influenciadores a gente recomenda pesquisa. O nome é um pouco complicado a pessoa podia facilitar né? Mas eu pesquise é e o pics, mas 11 roi roi r.o.i e influência 2023, ó foi realizado pela Consultoria e o pics que revelou o interesse das marcas e investir nos influências os dados tra.
Zem sites interessantes pro setor social como a importância da diversidade a liberdade de criação e o protagonismo do marketing de influência nas estratégias das marcas a gente vai botar o link aí como sempre porque esse tá um pouco difícil de Soletrar tudo.
ROBERTA: E por fim se você quer aprender a contar melhor as histórias da sua causa, nós do Instituto MOL, produzimos em parceria com o Bem Maior, um pequeno guia, uma aula na verdade, para gente falar sobre como contar histórias de causa, incluindo um check list muito legal para você olhar para aquele conteúdo que você produziu e depois e ver se você tá cumprindo ali o básico, né? a receita de bolo, digamos assim, para fazer um conteúdo que se conecta com as pessoas. E se você quer receber esse material que é exclusivíssimo, não está disponível na internet manda um alô pra gente nas redes sociais dizendo “eu quero”.
Vale aqui, no Linkedin e no Instagram.
Enfim ou mesmo no nosso e-mail ali contato@ institutomol.org.br, só escrever “eu quero” e daí a gente já entende o recado .Só lembrando que os links de tudo que a gente falou aqui estão na descrição do episódio, e também no blog do Instituto MOL.
E por hoje é isso, pessoal, mas o papo como sempre continua nas nossas redes sociais, segue a gente lá no Instagram no @ institutomol e também no Linkedin esse podcast é uma produção do Instituto MOL com apoio do Movimento Bem Maior.
Esse episódio teve produção e roteiro de Ana Ju Rodrigues, o roteiro final é direção de Vanessa Henriques e arte da Gláucia Ribeiro do Instituto MOL, a edição do som é do bicho de Goiaba Podcast, até mais!
ARTUR: O próximo episódio é o Whindersson Nunes. É isso! brincadeira gente, até mais.