Transcrição EP#51 — Qual é o PIX para doar?

Artur: Já faz quase um ano que essa nova forma de pagamento eletrônico deu as caras aqui no Brasil. No começo, a gente só ouvia falar, mas não entendia bem o que era, parecia um negócio muito sofisticado, uma sigla que lembrava aqueles impostos malucos que surgem de quando em quando por aqui. Era PIX ali, PIX aqui, e não parecia ter ainda uma aplicação prática. Mas de repente caiu na boca do povo. Desde um restaurante até barraca de feira ou um amigo precisando de um dinheiro, tudo era PIX, faz um PIX aí. O que não significa que o sistema não tenha sua cota de problemas, mas também um mar de oportunidades. E ainda mais para o terceiro setor! O uso do PIX pra fazer doações é o assunto do nosso programa de hoje! O JP Paulo Vergueiro, famoso JP, diretor executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos, a ABCR, é quem vai estar aqui no programa para falar sobre isso, vai trazer insights sobre essa novidade tem impactado o terceiro setor até aqui.

 

Eu sou Artur Louback

 

Roberta: Eu sou Roberta Faria

 

Artur: E as doações por PIX são o tema de hoje no…

 

Artur e Roberta: Aqui se Faz, Aqui se Doa!

 

Roberta: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior e divulgação do Infomoney.

 

O tema de hoje é um daqueles raríssimos que a gente pode dizer que afetam quase todo mundo mesmo. Afinal, que doador nunca se encrencou pra pagar um boleto ou enfrentou alguma dificuldade na hora de apoiar uma ONG do coração?

 

Artur: Acho que dá pra dizer que quase todo mundo já passou por algo assim. O PIX veio pra facilitar demais o processo de transferência de dinheiro. Ele também permite doações menores, que antes muitas vezes não eram aceitas. Não é à toa que a maioria das ONGs aqui no Brasil já aderiu ao PIX.

 

Roberta: Engraçado como a gente se acostuma rápido com o que deixa a vida mais fácil! E olha que a coisa foi crescendo de forma orgânica mesmo, com as pessoas percebendo aos poucos como essa modalidade ajudava no dia a dia.

 

Artur: Bem por aí. E olha só, eu tenho alguns dados saindo do forno pra esquentar nossa discussão. De acordo com o Banco Central, em setembro deste ano, 2021, já tinham quase 110 milhões de brasileiros cadastrados no PIX. E como uma pessoa pode ter mais de uma chave no PIX, o número é muito maior. Ou seja, mais da metade da população! Também em setembro, mais de um bilhão de transações foram feitas com PIX por aqui. Apesar de os jovens serem os que mais usam, uma boa parte dos usuários tá na faixa que vai dos 30 aos 49 anos. O que significa que não são jovens, dos 30 aos 49 anos também estão ótimos!

 

Roberta: É verdade que o PIX facilita muito as transferências financeiras, e também tem seus problemas. Já houve um caso grande de vazamento de chaves. Também tem sido usado por criminosos em assaltos e sequestros. Ainda assim, do lado das doações, os resultados são impressionantes. Uma pesquisa feita em agosto pela ABCR apontou que 80% das ONGS já estão usando PIX, sendo que outras 15% também pretendem aderir em breve. Além disso, muita gente tem recorrido ao sistema pra fazer pedidos individuais, de pessoas físicas para pessoas físicas, de dinheiro nas várias redes sociais.

 

Artur: Hoje, existe uma polêmica sobre a cobrança de transações por PIX para ONGs. Isso porque ela está prevista na criação do PIX no caso de transferências por empresas, por pessoas jurídicas. No caso de pessoas físicas, ela é gratuita e vai continuar assim. Mas a doação poderia ser considerada um modelo diferente de transação. O caso está sendo discutido inclusive no Senado. Existe um projeto que tenta proibir a cobrança de taxas em doações pra organizações da sociedade civil e institutos de pesquisa sem fins lucrativos.

 

Roberta: E o PIX tá longe de ser uma exclusividade brasileira, vale falar também. Antes mesmo dele ser lançado aqui, dezenas de países no mundo, como Estados Unidos, Índia, China, Japão, Rússia já usavam seus próprios sistemas de pagamento instantâneo. Mas foi no Brasil que ele teve a adesão mais rápida do mundo — brasileiro adora uma novidade, né? Dá pra dizer também que boa parte das ONGs lá fora já usavam sistemas parecidos pra receber doações, então exemplos de como isso funciona não faltam mundo afora..

 

Artur: Bom, agora a gente já entendeu como tem sido enorme a relevância do PIX no Brasil nesse último ano. Mas você aí sabe o que ele é exatamente?

 

Rafa Carvalho: Ah, pessoal! Essa fácil, né? Isso você já deve saber, mas o PIX é um sistema de pagamento criado pelo Banco Central, que começou a funcionar oficialmente em novembro de 2020. Ele tem um grande diferencial, que é fazer transferências automáticas em até dez segundos. Isso mesmo, você ouviu bem. A qualquer hora do dia ou da noite, botando na conta também os finais de semana e feriados. A expressão “faz um PIX”, já ficou popular, significa ver seu dinheiro saindo da conta em tempo real e caindo rapidinho na conta do destinatário, sem nenhum tipo de intermediário. Dá pra fazer vários tipos de transações financeiras com PIX, envolvendo pessoas físicas, comércios, empresas, órgãos do governo e ONGs. Hoje todo banco ou fintech com mais de 500 mil contas é obrigado a oferecer esse serviço. 

 

Ah, se você já se perguntou o que significa PIX, talvez fique decepcionada ou decepcionado, mas não é uma sigla nem tem nenhum sentido específico. O nome foi escolhido pelo Banco Central porque lembrava coisas como tecnologia, transações e pixels.

 

Nesse um ano em que esteve funcionando, a principal reclamação contra o sistema tem a ver com a segurança. Toda essa facilidade para fazer uma transação financeira acabou gerando uma onda de golpes e sequestros-relâmpago, principalmente no estado de São Paulo. Pra conter esses crimes, o sistema passou a ter em outubro de 2021 um limite de mil reais pra transações feitas entre as 8 horas da noite e as 6 da manhã seguinte. Os bancos também ganharam um tempo maior pra analisar movimentações aparentemente suspeitas. Caso seja comprovado um crime, eles passam todos os dados pras autoridades de segurança. No fim das contas, a gente espera que tudo isso ajude, né?

 

Eu sou Rafaela Carvalho, e toda semana eu ajudo a desvendar um termo importante para a cultura de doação. A gente se fala em breve! Até mais!

 

Roberta: Muito obrigado mais uma vez, Rafa! Aliás, eu já não sei mais se tô vivendo ou só esperando a Rafa me explicar alguma coisa que eu não sei.

 

Artur: Roberta, do jeito que as explicações da Rafa são incríveis, eu não duvido que seja a segunda opção. Mas já que o nosso assunto de hoje são doações por PIX, nada mais natural do que falar com alguém que vive isso no dia a dia. E não tô me referindo só às ONGs, mas aos dois lados dessa transação.

 

Roberta: Por isso mesmo a gente procurou a Maria Fiorio, uma das organizadoras do Mudando Fluxos, que desde maio distribui absorventes pra pessoas em situação de vulnerabilidade tanto em Vitória, no Espírito Santo, quanto em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Hoje, a maior parte das doações que elas recebem é por PIX. Além dela, também conversamos com a fisioterapeuta Marina Brugioni, que recentemente usou o sistema pela primeira vez pra fazer uma doação. Vamos ouvir a Maria primeiro?

 

Maria: A gente decidiu começar a aceitar doações pelo PIX, diretamente pelo PIX. Então a gente separou uma conta nossa que estava vazia e criamos uma chave do PIX com o email do projeto. Então todo o dinheiro que cai lá é revertido pra compra dos absorventes pra gente doar. Isso foi a virada de chave do nosso projeto. Foi aí que começou a andar mesmo, que as pessoas começaram a doar. Porque aí não tinha isso de que o valor mínimo para doar era 20 reais. As pessoas podiam doar 1 real, 1,50, 3 reais. Juntando isso com a divulgação que a gente fez hoje, tanto o Reels quanto o TikTok, que alcançam muitas pessoas, se todo mundo que assistir doasse 1 real, doasse 3 reais, a gente conseguiria muito mais rápido do que, por exemplo, sei lá, algumas poucas pessoas pararem e irem lá no site doar 20 reais.

 

Artur: Que coisa bacana de ouvir! Aliás, pra quem quiser doar, o projeto tem recebido doações pelo PIX com a chave mudandofluxos@gmail.com. E agora pra Marina a gente perguntou como está sendo a experiência de doar com PIX.

 

Marina: Eu, sempre que posso, doo, faço uma doação pela internet quando é uma instituição totalmente segura, confiável. E aí é muito simples, você pega a chave principal e doa. Eu fiz uma doação pra Manaus também por PIX porque eles estavam precisando demais de oxigênio. E é super simples, eu sempre usei PIX, uso desde o começo e sou super contente com ele.

 

Roberta: Obrigada, Marina! Depois de escutar um relato como esse, a gente entende como essa abertura de doações por PIX pode ajudar as organizações. E, se já tem muitas que aderiram, podemos esperar que logo quase todas devem ter essa opção pros doadores.

 

Artur: O potencial é enorme mesmo, Roberta. Nesse momento de pandemia e crise econômica pelo qual a gente tá passando, pode ser também um aliado importante pra ajudar todo o terceiro setor, que tem sofrido com a queda nas doações.

 

Roberta: Artur, acho que não tem ninguém melhor pra traçar um panorama dessas oportunidades do que o representante de uma das principais associações do meio. Vou chamar aqui o JP Paulo Vergueiro, diretor executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos, a ABCR. Quem já é ouvinte do podcast vai lembrar dele do episódio 13, um dos mais ouvidos da nossa história! E que falava sobre Como agradecer uma doação? Para quem ainda não ouviu esse episódio, vale lembrar que o JP é mestre em administração pública, graduado em direito, atua como professor de responsabilidade social corporativa na Fecap, é conselheiro da Kibô-no-Iê e da Fundação Amor Horizontal.

 

Artur: Oi, JP, seja bem-vindo mais uma vez ao nosso podcast! Obrigado por aceitar novamente o nosso convite!

 

JP: Oi, Artur! Oi, Roberta! Eu que agradeço o convite de estar aqui com o Instituto MOL prestigiando não só o podcast, como tendo a oportunidade de compartilhar um pouquinho de conteúdo aqui com vocês e conversar!

 

Artur: JP, a gente já até citou aqui alguns dados no começo do episódio de informações importantes que a ABCR descobriu em uma pesquisa com organizações da sociedade civil. Como você enxerga hoje o impacto do uso do PIX pro terceiro setor?

 

JP: Nossa, Artur, o PIX veio para transformar como a gente consegue apoiar o terceiro setor e como as próprias organizações conseguem desenvolver o seu trabalho. Estava estudando recentemente mais números do PIX, oficiais do BNDES — já são mais de 300 milhões de chaves criadas para usar o PIX. A maioria arrasadora é de pessoa física, naturalmente os maiores usuários, tem muito mais pessoa do que empresa. E dentro das pessoas jurídicas, as ONGs aderiram de forma gigantesca, massissa! E isso facilitou muito a doação e vai continuar facilitando!

 

Antigamente — e antigamente, no nosso conceito, é coisa de um ano atrás, antes da pandemia — a gente fazia evento de doação. As ONGs faziam evento e pediam doação via código QR, mas a pessoa para doar tinha que ter o aplicativo do código. Agora, com o código QR do PIX, a pessoa pode doar tendo conta em qualquer banco ou fintech. Então, facilita, alavanca demais as doações. Nos eventos, vai alavancar as vendas. Queria trazer um exemplo que a gente tem visto em outros países, mas mesmo na atuação das organizações se discute muito que, com menos dinheiro na mão, a gente não consegue doar nem nas ruas para uma pessoa que está pedindo, morador ou moradora de rua. Tem projetos sociais distribuindo códigos QR para moradores de rua para que as pessoas possam doar lendo o código e fazendo a transferência para a conta de uma ONG que, depois, vai lá e distribui/dá o dinheiro para quem está precisando e fez o cadastro.

 

Então, a tecnologia, como o PIX, vai nos ajudar e vai ajudar o trabalho das organizações a terem cada vez mais impacto na vida das pessoas.

 

Roberta: Muito bom! E JP, a gente sabe que tem um nível de aprendizado. Toda vez que surge uma nova tecnologia, tem fases até todo mundo entender como funciona e se adaptar ao uso mesmo e ele se disseminar e popularizar de verdade. Que grau de conhecimento vocês detectaram nas organizações sobre o uso dessa ferramenta? A gente já chegou lá? Ainda estamos no meio do caminho? Qual o futuro próximo disso? Quais os próximos passos para esse uso?

 

JP: Pela nossa própria pesquisa, 80% das organizações já tinha aderido ao PIX, 15% ia aderir e isso para mim, chegar em 95% de quase adesão das organizações que responderam a pesquisa, mostra um nível de conhecimento muito grande. Pelo menos, em relação à ferramenta, como ela funciona. E, me parece, que é bastante lógico porque as organizações são feitas de pessoas, as pessoas aderiram ao PIX de forma absurda — minhas filhas fazem skate e pago o professor de skate via PIX, encanador, eletricista, cabelereiro e de uma hora para outra. A gente não precisa mais ter várias contas bancárias e as organizações tinham várias contas bancárias e divulgavam no site, no carro… Já vi em lataria de carro: Caixa Econômica, Bradesco, Santander. Agora não, é chave PIX. Então, elas aderiram e perceberam a importância de aderir.

 

Mas, ainda existe, de fato, como você traz, uma curva de aprendizagem. Existem pontos que não estão bem definidos e o próprio PIX não é perfeito. Por exemplo, não nos permite saber o dado de quem doou para que a gente possa agradecer. E vocês já falaram do agradecimento aqui, eu, inclusive, vim nesse episódio em que a gente falou de agradecimento. O PIX é muito bacana, torna a doação instantânea, mas se você não tem um mecanismo de pedir o dado de quem doou, não consegue dizer obrigado, não consegue trabalhar essa pessoa para convertê-la em uma futura doadora recorrente… Então, as organizações estão aprendendo a fazer isso.

 

Algumas estão colocando cadastro no site antes do PIX. Algumas plataformas de doação online que permitem PIX já tinham o cadastro. Você vai desenvolvendo mecanismos. E o futuro, em relação ao PIX, inclusive,  que as organizações também vão desenvolver, você vai poder programar o PIX. Até já pode, já está podendo programar, tem funcionalidade para isso. Vai poder cadastrar o seu PIX para fazer uma doação recorrente. Isso, para mim, vai ter ainda mais impacto.

 

Artur: Excelente! A gente também já falou no episódio também sobre a possibilidade de cobrança de uma tarifa de transferência pra essas organizações. Existe de fato esse risco? Como você vê esse projeto que está tramitando no Senado, que busca impedir que algo assim aconteça?

 

JP: Existe a possibilidade formal. O PIX foi criado pelo Banco Central, nem existe como lei. Foi uma proposta do Banco Central para criar um sistema de pagamento instantâneo. Sistemas de pagamento instantâneo existem no mundo inteiro, o mais antigo é do Japão, da década de 70, mas tem nos Estados Unidos, Europa, China, Rússia e o Brasil estava precisando ter justamente o nosso sistema de pagamento instantâneos. Chama esse nome de pagamento, mas inclui qualquer movimento de transação financeira, a verdade é essa.

 

O Banco Central criou, à partir de regulamento interno, e essa marca não significa nada: PI pode até ser Pagamentos Instantâneos, mas PIX como acrônimo não existe. É uma marca que foi criada para representar pagamento instantâneo no Brasil. Quando o Banco Central criou, previu que quando o PIX fosse de pessoa física nunca poderia ser cobrado. Mas quando o PIX é de, ou para, pessoa jurídica, a cobrança é livre. É o agente financeiro que decide. E nós, organizações sem fins lucrativos, somos pessoas jurídicas e o Banco Central não descriminou, não falou com ou sem fins lucrativos. Falou: PJ pode ser cobrado ao realizar um PIX ou receber um PIX. Então, a possibilidade existe.

 

Vai acontecer? Os bancos, fintechs vão cobrar para as pessoas receberem PIX? Neste momento, acredito que não. Porque a adesão foi tão grande que se algum banco ou agente financeiro falar que vai cobrar para as empresas receberem PIX, elas vão procurar outras. Então, a própria concorrência vai fazer com que essa cobrança nunca exista no ato de receber. No ato de fazer, a gente já está pagando. Já existe essa cobrança, como a gente pagava um doc ou um ted. Mas imagina a situação ruim que seria a organização receber um PIX de 1 real e ter que pagar 5 reais de taxa. Na ABCR, a gente já recebeu PIX de 20 centavos, de 1 real, de 30 centavos, porque a gente fala muito, mostra o código QR o tempo inteiro.

 

Os projetos de lei, que são dois, tem um da senadora Mara Gabrili, no Senado, mas teve um deputado que logo depois apresentou um na Câmara Federal, também. Não sei se foi coincidência, ou momento, mas têm dois projetos de lei andando. Eles são interessantes, propõem um debate sobre o PIX e sobre a cobrança de tarifa para organizações da sociedade civil, mas a gente, na ABCR, sempre toma o cuidado de que a gente não busca privilégios. Nós não somos um setor que quer privilégios porque trabalhamos com causas, somos bonzinhos. A gente acha importante que tenhamos os mesmos produtos, com as mesmas qualidades oferecidas pelo sistema financeiro para toda e qualquer outra organização. Inclusive, com fins lucrativos. Então, a gente trabalha para que os agentes financeiros nos vejam como potenciais clientes.

 

Por isso, o projeto de lei é importante, mas com o cuidado da gente falar que: a partir de agora, ONG nunca mais pode ser cobrada, não paga mais taxa, não paga mais imposto. Então, a gente sempre tem essa preocupação de falar que é fundamental que o sistema financeiro seja inclusivo, mas não que crie privilégios que nos tornem uma classe diferenciada de outras organizações jurídicas.

 

Roberta: E JP, dos riscos? A gente já viu acontecer de notícias, de perigos para usuários individuais, de golpes, de pessoas usando PIX como se fosse colher doação para uma organização, mas na verdade, estava roubando em benefício próprio. Tem alguma coisa que as próprias organizações precisam ficar atentas antes de aderir ao PIX? E o doador? Como se proteger?

 

JP: Com certeza é muito importante ficar atento, seja como pessoa física ou jurídica. As fraudes já existiam, naturalmente, não foram inventadas com o PIX. Pessoas má intencionadas utilizando o tema da doação para desviar dinheiro sempre existiu e o próprio setor trabalha para fortalecer a imagem do setor, combatendo e denunciando esse tipo de pessoas que fazem isso.

 

No caso específico do PIX, primeiro, é fundamental que ele seja de pessoa jurídica e esteja ligado ao CNPJ da organização. Durante a pandemia, a gente até viu em algumas campanhas, PIX de pessoa física. Mas em uma calamidade, às vezes na cidade não tinha uma ONG preparada, e tudo bem. Mas é fundamental que o PIX seja uma chave de pessoa jurídica vinculada ao CNPJ da instituição, mesmo que a chave seja um e-mail. Não tem problema! Mas quando coloco para doar, tem que aparecer o nome da instituição para que aumente a confiança.

 

As pessoas físicas, ao fazerem a doação, também podem pesquisar e conhecer um pouquinho mais sobre aquela organização para a qual elas vão doar. Porque, no mundo em que a gente vive, todas as organizações obrigatoriamente deveriam ter um site, uma página em redes sociais como Instagram… Elas têm um histórico! A organização não é criada de uma hora para outra e, de repente, tem uma chave PIX e começa a pedir doação. Se for esse o caso, é claro que a pessoa precisa olhar com mais atenção para ver se, realmente, a organização está sendo liderada por pessoas idôneas.

 

Então, a gente toma cuidado como organização, para não ser instrumentalizado, não usarem o PIX para nos prejudicar, por exemplo, criando contas falsas ou com nomes parecidos. E como doadores e doadoras, a gente olha com atenção a organização. Não é porque o PIX tornou fácil a doação que a gente, de repente, vai doar para qualquer organização, mesmo que não conheça. Alguns, como a gente, até fazem isso né, Roberta e Artur? A gente doa bastante e com PIX ainda mais! Mas, claro que todo mundo tem que olhar com carinho e atenção para onde vai doar.

 

Roberta: JP, fazer um PIX virou um chavão. Aumentaram muito os pedidos de doação de pessoa física para pessoa física, especialmente nas redes sociais — claro que tem tudo a ver com a facilidade do PIX e com a tremenda crise social e econômica que a gente vive. Queria ouvir uma reflexão mais filosófica: você acha que esse tipo de doação ajuda ou atrapalha a cultura de doação que a gente luta para construir? Quais os impactos dessa doação, que em inglês chama peer to peer, de pessoa para pessoa, pode ter para a captação do terceiro setor?

 

Porque, às vezes, a gente sabe que o doador tem a impressão de que doar assim vai mais diretamente na ponta, ele se sente fazendo mais diferença do que doar para uma organização em que o caminho é mais longo se doar de maneira direta. Como você acha que isso impacta a gente?

 

JP: Olha, Roberta, Artur, sem meias palavras: eu adoro a doação par a par, pessoa a pessoa. Adoro que a tecnologia está facilitando isso e que posso ter uma colega minha, que trabalha comigo na ABCR e está fazendo uma rifa para crianças na comunidade no final do ano e posso fazer um PIX para a minha amiga na rifa dela rápido e sem custo para mim. Sou apaixonado pela ideia de que as pessoas podem movimentar dinheiro de forma fácil, rápida e sem custo para incentivar e alavancar impacto social.Seja por organizações ou pessoa a pessoa.

 

O PIX trouxe para o Brasil uma realidade que já existia em vários lugares do mundo. Na China, por exemplo, há muitos anos, as pessoas já doam muito mais entre elas do que para organizações chinesas. Claro que lá tem uma questão de Estado que não permite que as ONGs sejam livres, que captação de recursos tem que ter uma autorização, é um modelo um pouco diferente. Mas, já é uma tendência no mundo que as pessoas, com o uso da tecnologia, passassem a movimentar muito mais dinheiro par a par. Pessoa a pessoa.

 

No caso do Brasil, eu gosto ainda mais, porque a gente discute muito e trabalha muito para incentivar ainda mais as doações. Para incentivar o hábito de doar e com o PIX, é como você falou, cada vez mais vão ouvir falar doe. Doe para a gente, doe via PIX, faça um PIX, PIX de doação, é uma campanha de uma criança que está doente, para resgatar animais, para ajudar uma família que está embaixo da ponte do lado da minha casa, estou doando para minha vizinha. Já doei, na minha vizinhança, para a esposa do vigia da rua, que estava fazendo um tratamento de câncer, fiz um PIX. Isso se torna um hábito, faz com que as pessoas ouçam muito mais falar da importância de doar. Indiretamente, vai ajudar as organizações que têm uma captação de recursos mais estruturada, que estão pedindo doação.

 

Do meu ponto de vista, quanto mais a gente falar sobre doação e mais fácil tornar o hábito de doar, melhor para todo mundo. Ainda que, no começo, essa doação seja de pessoa para pessoa e não necessariamente apenas para organizações.

 

Artur: Perfeito! Bom, JP, papo de que a gente ainda vai falar muito. Teremos você mais vezes por aqui, é sempre uma honra. Queria agradecer bastante por compartilhar as informações e, sempre que tiver novidades, seja bem vindo a nossa casa! Nossa casa é sua casa!

 

Roberta: Sempre uma aula!

 

JP: Eu que agradeço o convite! Sempre uma oportunidade! Quem sabe na próxima, acabei não comentando, falei do PIX recorrente, mas provavelmente o PIX vai acabar com o boleto. O boleto vai deixar de existir, porque vai ser tudo código PIX, vamos cadastrar e vai ser o pagamento recorrente.

 

Artur: Aleluia, né?

 

JP: Aleluia! Eu concordo!

 

Artur: A gente não vai ter que digitar aqueles 800 números…

 

Roberta: E o custo que isso tem para as organizações, de emissão de boleto.

 

JP: Eu concordo completamente. Então, tem muito a vir ainda pela frente. Com certeza, em um próximo momento, a gente ainda vai ter mais novidades para conversar. De novo, agradeço o convite e à toda a equipe da MOL, do Instituto e quem nos ouve pelas várias rádios onde está o podcast.

 

Roberta: Mas ficou faltando ainda a nossa rodada relâmpago!

 

Artur: Exatamente! JP não vai embora, porque agora vai responder as nossas 5 perguntas da rodada relâmpago  e você responde com a primeira coisa que vier à sua cabeça. Ok?

 

JP: Combinado!

 

Artur: Qual foi a sua doação mais recente?

 

JP: Artur, na sexta, antes da nossa gravação palestrei sobre PIX e falei que quem colocasse a chave PIX eu faria uma doação. Fiz 6 doações para organizações no país inteiro. A última, que me lembro de nome, foi a Santa Casa de Diadema, mas, na verdade, foram 6.

 

Roberta: Qual é a sua causa do coração hoje?

 

JP: A minha causa do coração é promover ainda mais a generosidade. Fazer com que as pessoas percebam a importância da generosidade como um valor do dia a dia, do cotidiano, para que a gente tenha um país e um mundo melhor para todo mundo.

 

Artur: A próxima é fácil, você já respondeu um pedaço dela. O que você doa e que não é dinheiro?

 

JP: Dou muito do meu tempo, do meu conhecimento. Sou voluntário da pastoral, na comunicação, faço o jornalzinho, ainda que esteja agora interrompido por causa da pandemia. E sou conselheiro de organizações também, então doou meu conhecimento e tempo para várias instituições, além do dinheiro com que eu apoio.

 

Roberta: Cite uma organização ou um projeto que você admira e/ou apoia. Hora do merchan!

 

JP:  Olha, gosto muito da S.O.S Aldeias Infantis Brasil. Apoio essa organização há muitos anos, como outras organizações que trabalham com crianças. Mas a Aldeias Infantis tem um projeto de mães sociais que, para mim é muito forte e importante. Porque nenhuma criança deveria ficar sem os pais, nenhuma criança deveria ficar órfã ou desassistida ou ter pais que não as ame e a Aldeias Infantis proporciona um pouco disso por meio de um projeto que chama Mães Sociais em que recebem as crianças e dão carinho e amor, para que as crianças cresçam e se desenvolvam com o mesmo espírito familiar que eu tive a oportunidade de ter e, infelizmente, muitas não têm.

 

Artur: JP, se você tivesse que convencer uma pessoa agora a se tornar uma doadora ou doador, como você faria? Está aberto para você convencer os nossos milhares de ouvintes!

 

JP: Essa é difícil! Eu falaria: meu amigo, minha amiga, não adianta só reclamar das pessoas pelo Instagram, falar mal do governo, falar que o mundo tinha que ser melhor e a natureza está sendo destruída. A gente muda doando também! Doando o nosso conhecimento, nosso tempo e, se possível, o nosso dinheiro para gerar impacto.

 

Roberta: Muito bom, querido! Obrigada, JP, volte sempre!

 

JP: Eu que agradeço, de novo! Um prazerzão estar aqui! Espero ansiosamente a edição para a gente ouvir juntos!

 

Roberta: Artur, hoje a gente tá dando destaque a essa ferramenta nova que ganhou tanta importância no terceiro setor. Mas tem uma outra alternativa que não sai de moda e nunca perde a relevância.

 

Artur: Deixa eu ver se eu adivinho. Já é o momento da Duda Schneider trazer pra gente mais uma dica quentinha de produto social? Pois venha, Duda, tá na hora de ouvir o Merchan do Bem!

 

Duda: Oi, gente! Eu sou a Duda Schneider e esse é o quadro Merchan do Bem. Que tal começar a sua manhã já fazendo o bem? Uma boa dica para isso é tomar o café da Raus Café! A Raus é uma cafeteria e e-commerce de cafés especiais. Além dos grãos mega especiais e com sabores exclusivos, os cafés possuem também rastreabilidade da lavoura até a embalagem. Em parceria com o Movimento Arredondar, que já apareceu aqui algumas vezes, a cada pacote de café vendido na loja e no site são destinados um real para apoiar causas sociais. A marca também doa 1% das vendas realizadas na loja. As organizações apoiadas pela Raus são Instituto Terra e o Certa cuja atuação é voltada para a promoção do desenvolvimento sustentável e proteção ao meio ambiente. A cafeteria fica na Faria Lima, em São Paulo, mas você pode comprar os cafés pelo site na https://www.rauscafe.com/ Por hoje é isso, pessoal! Espero que tenham gostado e até a próxima!

 

Roberta: Artur, vou te dizer que curti demais as conversas de hoje. Até porque muita gente faz vários PIX no dia a dia, mas não conhece muito a fundo sobre essa ferramenta. E aí primeiro a gente escutou as experiências inspiradoras da Maria e da Marina, pra depois ter uma análise excelente do João sobre como o PIX entra em todo esse ecossistema. Pra mim, particularmente, o que mais pegou foi como o PIX resolve algumas das grandes barreiras que a gente escuta dos potenciais doadores e não doadores nas pesquisas como a Doação Brasil. As pessoas sempre falam que deixam de doar, ou não doam, porque não tem dinheiro — e o PIX permite que a gente faça doações de centavos, então essa deixa de ser uma barreira. As pessoas reclamam da dificuldade de fazer uma doação — e o PIX realmente simplifica e torna muito mais fácil do que se você tiver que entrar em um site e gerar um boleto, pagar um código de barras ou cadastrar um cartão de crédito. E, por fim, tem a questão que é a preocupação de não confiar para onde está indo o dinheiro. Quando você faz o PIX, quando está fazendo diretamente para a organização, ou diretamente para uma pessoa que está precisando de uma doação e essa doação olho no olho, mais próxima, que você vê imediatamente o resultado da sua doação, pode trazer uma recompensa que, quem sabe, começa a cativar e cultivar novos doadores que experimentam pelo PIX e, quem sabe, se tornam recorrentes.

 

Artur: De fato! Até pela minha própria experiência como doador, acho que quem doa a muitos anos já passou por alguma doação que queria fazer ou faria, mas pelo mecanismo complexo, site bugado, algo assim, acabou não fazendo a doação. Nesse caso, acho que, além de facilitar, você padroniza a forma de doar, o que facilita muito o desenvolvimento de uma cultura, de fato. Não tem uma cultura que se desenvolve quando não há padrões de comportamento. Isso, de fato, vai ser um catalisador dessa cultura, mas vale lembrar uma parte, já puxando a brasa para a minha sardinha da parte que atuo mais hoje, que é a transparência.

 

O JP falou ali que, de fato, as organizações vão ter que se dedicar cada vez mais nessa parte de prestação de contas, porque devem atrair novos doadores, provavelmente com mais pessoas físicas doando que gera uma necessidade maior de contar o que está sendo feito com o dinheiro. E eu iria além: acho que cada vez mais vai ser importante a transparência, a prestação de contas, mostrar até lá na ponta, onde o impacto chegou. Porque, os grandes investidores sociais têm uma facilidade e conhecimento maior para ler um relatório de impacto, algo assim. Já esse novo doador pessoa-física, talvez não entenda ou não leia um relatório tão complexo e você vai ter que contar uma história de vida impactada para ele se sentir tocado. Então, eu acho que essa mudança de cultura vai gerar uma mudança na cultura de transparência das organizações também. O que é bom! Porque sempre que a gente tem mais transparência, as coisas tendem a gerar menos ruído! Então, vejo isso com olhos muito satisfeitos desse movimento que a gente está criando!

 

Roberta: E se você já doou por PIX e aprovou comenta lá no nosso Instagram @institutomol ou no nosso perfil do LinkedIn! Conta como foi sua experiência, que sugestões você tem para melhorar esse sistema! E já aproveita para seguir a gente que sempre tem coisa boa rolando todo dia por lá!

 

Artur: E quer fazer uma sugestão de tema pro episódio, quer elogiar ou criticar nosso podcast ou só mandar um alô: escreve pro email contato@institutomol.org.br, nós vamos adorar receber seu recado positivo ou negativo e vamos abrir um diálogo transparente para que a gente consiga evoluir junto com você!

 

Roberta: E por hoje é isso pessoal, semana que vem estamos de volta! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior. A produção é de Leonardo Neiva, e o roteiro final e direção é de Vanessa Henriques e Ana Azevedo, do Instituto MOL. As colunas são de Rafaela Carvalho e Duda Schneider, da Editora MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!

 

Artur: Até mais, gente!

Leia Também