Transcrição EP#70 – Mala direta ainda funciona para captar doações?

Artur: A gente já falou por aqui algumas vezes das milhares de oportunidades que as novas tecnologias trazem pro terceiro setor e pro universo das doações como um todo. Mas isso não quer dizer que os métodos mais tradicionais de atrair e conquistar doadores ficaram muito pra trás, né, Roberta?

 

Roberta: Muito pelo contrário, Artur. O que várias pesquisas mostram é que esses métodos ainda são muito eficientes e até têm ajudado a encorpar as doações online. Hoje em dia, por exemplo, a gente já não fala tanto dela, mas você lembra da mala direta?

 

Artur: Tinha semana em que minha caixa de correio chegavam várias. Ainda hoje, é através dela que eu fico conhecendo e consigo até contribuir com vários projetos sensacionais. Eu ainda pago os boletos, acho que os mais jovens talvez não conheçam, mas em casa de do pessoal que já tem os 40, ainda é bem relevante. Até por esse impacto todo que ela tem, a mala direta, além de outras formas de captação “das antigas”, é o nosso tema de hoje no…

 

Jogral: Aqui se Faz, Aqui se Doa!

 

Artur: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev e divulgação do Infomoney. Eu sou o Artur Louback…

 

Roberta: …e eu sou a Roberta Faria. E tô achando que vale explicar um pouquinho o que é mala direta, porque eu não duvido que os mais jovens não saibam o que é ou achem que isso é uma mala, fisicamente que te entregam? não. Ela nada mais é do que aquela cartinha que chega no correio apresentando e mostrando as vantagens de uma marca ou produto e também de instituições. E quase sempre ela vem acompanhada de um boleto. E esse todo mundo sabe o que é, né? 

 

Artur: E correio é um negócio que existe, que antigamente as pessoas mandavam um papel e entregavam… uma caixinha que tinha na porta da sua casa. É tipo um e-mail, mas era de verdade. Brincadeiras à parte, no caso das organizações do terceiro setor,. As organizações também usam esse modelo para se aproximar do doador, como no caso das campanhas de apadrinhamento, quando o doador pode acompanhar de perto a aplicação do dinheiro doado e como ele tem impactado a vida das pessoas atendidas pelo projeto. 

 

Roberta: A gente entende que, hoje em dia, o e-mail também é um ótimo formato para essa aproximação, mas vale destacar que o impresso tem seu valor. Além disso, uma das estratégias que acompanham a mala direta é o envio de brindes como imãs de geladeira, cadernos, bottons que reforçam o nome da organização e são uma forma de agradecer ao doador. 

 

Artur: Para ajudar a gente a entender melhor qual o impacto da mala direta e de outras formas tradicionais de captação de recursos pras organizações, estamos aqui hoje com uma figura que, enfim, não tem nem palavras, não tenho nem roupa para estar aqui com ela, que é  a Tammy Allersdorfer, do GRAACC, que é um parceiro de longa data e de vida da Editora MOL e do Grupo MOL que é a empresa que a gente representa. 

 

Artur: A Tammy é graduada em administração de empresas com pós em comunicação voltada pro mercado. Ela vem atuando há mais de duas décadas na captação de recursos para organizações do terceiro setor e tem muita história pra contar pra gente. E hoje a gente está fazendo um episódio especial, é quase uma entrevista aula com a Tammy, então a gente dispensou as nossas colunistas Rafa Carvalho e seu glossário, e também pra Duda Schneider e o seu Merchan do Bem, porque hoje a gente quer dar toda atenção para a Tammy, que é Superintendente de Desenvolvimento Institucional no GRAACC e está na instituição há 21 anos e é uma lenda muito sincera e vai contar para a gente segredos por trás da captação por mala direta, telemarketing, rifa, sorteio, título de capitalização e outras coisas das antigas, porque ninguém mais aguenta falar de NFT.

 

Tammy, seja muito bem-vinda ao Aqui Se Faz, Aqui Se Doa! Que bom te receber aqui. 

 

Tammy: Um prazer estar com vocês novamente, sempre podendo colaborar e contar um pouquinho da nossa trajetória aqui no GRAACC, é um prazer. Obrigada pelo convite.

 

Artur: Tammy, o pessoal da produção, coisa boa aqui que eles deixam aqui toda a cola aqui para gente, daí fica parecendo que a gente tem um milhão de informações na cabeça, mas uma que eles colocaram aqui é que um estudo feito em 2018 a pedido da empresa global de marketing e captação de recursos Dunham+ Company, apontou que a mala direta continua com tudo. Ela não só segue forte entre os principais motivadores para doações online como sua influência cresceu de 11% para 15% em comparação com uma pesquisa realizada três anos antes. 

 

Roberta: Não chega a ser nenhuma surpresa, mas o fato é que a mala direta atinge mais fortemente as gerações mais velhas. Isso principalmente quando a gente está falando dos boomers, hoje na faixa dos 53 aos 71 anos de idade, que respondem por 24% das doações nesse formato, e os da chamada geração silenciosa, que engloba pessoas com mais de 75 anos e são 38% dos que doam dessa maneira. O pessoal que ainda está acostumado a pagar boleto físico.

 

Tammy, conta pra gente, a mala direta é uma estratégia importante ainda hoje pro GRAACC? Qual é o impacto dela na arrecadação de recursos para instituição? E quais são os desafios, porque a gente sabe que tem custos, de enviar todo este material pelo correio, custo de impressão, ter o endereço de todo mundo, conseguir mandar um milhão de cartas para uma parcela disso atender… conta um pouquinho para gente…

 

Tammy: Então, Ro e Artur, o GRAACC, a nossa trajetória de arrecadação desde que eu estou aqui, nestes últimos 20 anos, ela é embasada na mala direta. Então, eu já vinha do terceiro setor e eu já trabalhava com mala direta e assim, o forte, todo o embasamento que a gente criou ao longo do tempo foi em cima de mala direta. Para vocês terem uma ideia, hoje o que isso representa para o GRAACC? Representa um terço do nosso orçamento anual que é de 180 milhões, a gente está falando de mala direta que gera 60 milhões por ano. É muito dinheiro.

E eu acho que a pesquisa que vocês falaram, e inclusive eu estou até nessa faixa, acima de 50 e poucos anos, eu estou nessa faixa de pessoa e doadora também, apesar de eu não ser muito de boleto, mas estou nessa faixa, e a gente percebe que ao longo do tempo a gente conseguiu construir uma base de pessoas que doam há muito tempo e é exatamente isso, é a pessoa que gosta do papel, gosta do boleto, ela gosta de receber aquela informação e a gente tem também uma percepção em relação a mala direta que é diferente de meios digitais, que a gente está falando principalmente de doação mensal por cartão de crédito e doação também por débito em conta que é uma coisa que muitas organizações vem trabalhando fortemente porque até o retorno, o percentual de efetividade em cartão de crédito e em débito automático é muito maior do que em boleto. E o que a gente percebe com isso? O boleto ele é um fator em que a pessoa pode ter ou não a decisão de doar naquele mês e isso não depende de nenhum ato dela para que ela cancele aquela doação, é simplesmente ela não pagar. Se ela tem um débito em conta ou ela tem um cartão de crédito, ela precisa entrar em contato com aquela organização para evitar que aquele débito aconteça.

 

Roberta: É mais trabalhoso…

 

Tammy: Mais trabalhoso. Então, se eu tenho o boleto eu me sinto mais seguro porque no mês em que eu puder doar, eu doo e no mês em que eu não puder doar, eu não doo. Tanto que o nosso desafio é fazer com que os nossos doadores entendam que a gente precisa muito da doação mensal, apesar de ele falar que é um doador mensal e ele doar mensalmente e muitos doam de forma impecável, só que tem alguns que às vezes dá uma apertada e não dá, passa e tal e a gente tem trabalhado muito com o nosso doador para ele entender que a gente precisa daquele recurso mensal, mas ele tem uma oscilação muito maior do que quando a gente faz uma doação por cartão de crédito ou débito automático.

Então, eu acho que essa adesão ao boleto também vem disso, deste fator de a decisão de fazer ou não a doação está comigo e não com o outro lugar.

Roberta: Tammy, e a parte dos desafios. Porque a gente sabe que mala direta não é uma brincadeira para ONG pequena, né? Você precisa de uma base de pessoas, endereços, CPFs, gigantes e tem também a complicação da LGPD agora..

 

Tammy: Exatamente. Esse é o maior desafio, esse é o motivo dos meus cabelos brancos porque a gente veio em uma batida de adquirir nomes novos muito grande e hoje, a dificuldade que a gente tem é como que a gente adquire um nome que a gente possa convidar para ser doador, sendo que esse nome tenha aprovado a LGPD em algum momento, que tenha autorizado dentro regras da LGPD e nenhuma empresa está estruturada para isso. E eles tem trabalhado de outras formas, com outras formas de captar leads nos meios on-line, só que assim, a gente comprava 250 mil nomes.. para você conseguir 250 mil nomes… aí o cara diz assim: vou conseguir mil leads e eu falo: ah, meu filho mil leads não faz cócegas mil leads para mim. Porque a gente vinha numa proposta muito grande, e o que a gente tem trabalhado, que dentro da LGPD existe uma coisa que se chama base legada, que é a base que eu tenho de doadores, que são meus doadores que eu tenho trabalhado ao longo desses últimos anos. Então, a gente vem trabalhando em um primeiro momento para tentar resgatar esses doadores e é isso que vem sustentando e a gente está trabalhando em algumas frentes para tentar ver como é que a gente aumenta a adesão de doadores via site. Em termos de números, é muito doido, de quando a gente faz uma ação de mala direta e quando a gente faz uma ação via site. A gente tem uma conversão interessante no nosso site, cerca de 3 a 4%, que entra no nosso site e faz uma doação e efetiva, mas ainda em termos de quantidade é muito pouco perto do que é uma ação de mala direta. 

 

Roberta: Qual que é o volume de uma mala direta normal do GRAACC?

 

Tammy: A última que fizemos foi meio milhão e tivemos oito mil doadores. 

 

Artur: Uau, isso é uma conversão considerável. 

 

Tammy: É, por ano, no site, a gente chega a 1,5 mil doadores. Por ano. Fazendo todo esforço de divulgação, então percebe o quanto é dolorido? E assim, eu tenho trabalhado com mala direta, e quando eu falo nessa base legada, a gente passa para ter, quando eu falo em cerca de quase oito mil doadores, eu estou falando em 1,7% de retorno para meio milhão de malas, e a gente avalia outras coisas além disso, por que você me fala: ah, você vai mandar 500 mil malas diretas para ter 1,7%? A gente sabe que movimenta, você está mandando sua marca para 500 mil pessoas, a pessoa não necessariamente vai doar naquele momento, ela pode entrar no seu site e fazer uma doação anonima, e então a gente percebe também que o nosso fluxo no site aumenta quando a gente envia mala direta, então é óbvio que aumentam as minhas doações pontuais ou depósitos nas contas do GRAACC, e não tenho como medir exatamente que é daquilo, mas a gente percebe que tem uma mudança também de retorno, a gente mede muito isso na mala direta e essa coisa que a gente avalia é: quanto foi que eu pedi, quanto foi que eu gastei, em quanto tempo eu vou pagar? E vale muito a pena. Quando você vai ver o payback de uma ação dessa, em três meses, o que você arrecadou, já pagou o que foi investido.

 

Então, vale muito a pena, só que ainda a gente está sofrendo um pouco porque a gente quer novos nomes, a gente quer renovar nomes, a gente precisa enriquecer a nossa base, a gente precisa fazer isso acontecer e a gente está com uma série de dificuldades justamente porque nada está permitido, então… Outro dia teve uma menina que falou assim: a gente tem uma base de pessoas que a gente já convidou, essas pessoas não aceitaram ser doadoras. E então a gente falou: vamos ligar para ela e perguntar se ela não quer ser doadora, de repente ela não aceitou a mala direta, mas ela aceita por telefone. E foi uma coisa interessante que o doador falou assim: ah, mas você não pode ligar para mim porque agora tem a LGPD, aí ela virou para ele falou: mas como eu ia saber que eu não podia ligar para o senhor, se eu estou ligando justamente para perguntar se o senhor quer receber a ligação… Então, assim, como é que eu vou saber que eu não podia ligar? Estou ligando para perguntar, então está bem, agora eu bloqueio seu número e o senhor não irá receber mais nenhuma ligação nossa. Mas aí faz o que? Você vai ficar na rua perguntando: posso falar com você?  

 

Artur: Tammy, aproveitando esse gancho da ligação, quando a gente fala em aceitar, a gente tem outra estratégia que é a do telemarketing que por muito tempo foi uma forma de captação importante para muitas organizações, inclusive para o GRAACC. Mas que hoje entrou em uma fase mais complicada por mil razões, mas também a questão de fraude por telefone, eu quando tem um número não identificado que liga para o meu celular, muitas vezes eu nem atendo. Então, como está isso para o GRAACC e qual é a perspectiva para o telemarketing? 

 

Tammy: O que acontece também, Artur, é que a gente tinha um telemarketing ativo e esse telemarketing foi implantado em 1997 no GRAACC e a gente desativou em 2014, e não faz mais telemarketing ativo, muito pouco e eventual e hoje a gente tem um telemarketing com dez operadoras e para você ter uma noção a gente já chegou a ter 120 operadoras para fazer telemarketing ativo e este telemarketing que eu tenho é um telemarketing de relacionamento, tanto para atender ao meu doador, se ele quiser ligar e fazer uma alteração ou quiser cancelar ou mudar qualquer coisa, como também ela liga para caso aquele doador, a gente perceba que o boleto dele voltou, que ele não está fazendo a doação, a gente liga para entender o que está acontecendo, se ele mudou de endereço e esqueceu de nos avisar, enfim, só que tem alguns fatores em relação ao telemarketing que a gente tem que observar que são: quem atende telemarketing? é quem está em casa. E aí a gente já também reforça o nosso público que é o público que já está aposentado, que está em casa e que pode atender ao telefone fixo, que também se tornou uma raridade nas casas. Então, se a gente for olhar os números do Brasil, hoje praticamente ninguém tem um telefone fixo, e também por que é que alguém vai te ligar no telefone fixo se ele tem seu celular? Se você está na sua casa e toca o telefone fixo, você nem atende. Então essas mudanças criaram uma dificuldade muito grande de retorno, pelo menos para a gente. Para vocês terem uma ideia, quando a gente começou o telemarketing, a gente falava de 70 ligações realizadas, independente de a pessoa falar alô ou não, para conseguir um doador. Quando a gente desativa a gente estava em quase 300 ligações para conseguir um doador. 

 

Roberta: É um desafio para todos entender como é que a gente capta e se conecta aí com as novas gerações. E Tammy você estava falando sobre essa humanização e sobre conteúdo e eu fiquei aqui pensando com os meus botões e queria ouvir de voce, nessa abordagem, seja pela mala direta, seja pelo telemarketing, que tipo de conteúdo é o que converte? É quando você entrega alguma coisa de volta? Do tipo, você está fazendo um telemarketing para vender um MC Dia Feliz, ou você está fazendo uma mala direta que dá o direito a concorrer a uma rifa de um carro ou é só o pedido contando o que a instituição faz já é suficiente para amarrar? As pessoas querem algo em troca ou vale só contar a história das crianças e da instituição? 

 

Tammy: Existe um grupo e eu não vou saber precisar exatamente qual é o percentual porque é um levantamento novo que a gente está fazendo, porque isso depende de um sistema e eu estou no meio de um processo de mudança de sistema que é o sistema que eu tenho de cobrança do meu doador, então a gente está fazendo vários estudos e tentando entender mais a cabeça dos nossos doadores, que é bem confuso, por sinal. A gente é confuso e eles são confusos, sempre tem culpa dos dois lados. E são duas coisas diferentes, quando a gente fala de abordagem para a pessoa, tem duas coisas que a gente aprendeu na vida, seja por telefone, seja pessoalmente, seja por e-mail, seja de qualquer lugar que você for fazer um contato para pedir, você tem que ter muito claro o que você quer e quando você quer. Pedir para a pessoa: me dá qualquer valor, ela vai ter perguntar: qualquer valor é quanto? quanto é muito, quanto é pouco? Ou, se a pessoa não souber o valor, ela vai na consciência coletiva, qual que é o valor que todo mundo doa? porque eu vou doar o mesmo. 

 

Você quer fazer uma doação para o GRAACC? Quero. A maioria doa R$ 50, ah, então eu vou doar o que todo mundo doa porque afinal de contas eu não quero ser uma pessoa diferente.

Se todo mundo doa esse valor, então você pode usar esses artifícios que empresas grandes usam muito para poder atrair aquela pessoa e falar: eu preciso de dinheiro porque todo dia chega uma criança aqui precisando de tratamento no meu hospital e eu preciso atender ela com qualidade e salvar a vida dela. Você pode me ajudar com cinquenta reais por mês? Tem que ser muito objetivo no pedido. Você pode me ajudar com cinquenta mil? com dez mil? o que quer que você peça, você tem que ser objetivo no pedido. Em qualquer meio que você use, seja mala direta, seja telemarketing, seja por e-mail, seja pessoalmente. Isso é um ponto que a gente aprendeu na vida. 

 

A questão do que a pessoa adere mais ou não, é fato que quando você agrega um produto, você vai ter um retorno maior. Então isso a gente vê, não só no GRAACC, mas em outras organizações que são muito fortes, como os pintores de boca, os de religião que te manda santinho com nome no coração e você fala: se eu não pagar, o que vai acontecer comigo? porque meu nome está no coração dessa santa, eu tenho que pagar essa doação, então eles usam algumas coisas que são fortes em termos de religião, em termos do beneficiário… é aquela coisa que eu falei, se eu já mando um produto para ela com um boleto para pagar, ela vai pagar. Eu não vou no correio devolver, porque eles falam lá: se não quiser, devolve, mas você não vai devolver, você vai pagar. Apesar de eu achar uma operação muito cara, porque o investimento para você enviar o brinde é muito alto para um retorno que pode ser bom ou não, então o que a gente faz hoje com produtos e brindes, como a gente faz com a revista Sorria, que é um sucesso, a gente fala para a pessoa aderir e depois a gente manda o produto para ela. Mas o que acontece nessas ações que a gente faz, com produto ou não… A gente sorteia também um carro, que tem uma adesão interessante, a gente também faz uma ação com o MC Dia Feliz, que a gente também oferece para os nossos doadores o tíquete e aí a gente faz pedidos que são sem nada em troca. Do tipo, preciso porque chegou um mês que é complicado para a gente, é o mês da volta às aulas, então do mesmo jeito que está difícil para você, está difícil para a gente e precisamos dessa doação extra. Ao longo do ano, ao nosso doador recorrente, a gente pede várias coisas, a gente pede várias outras doações e a gente nessa base, de um doador já comprometido com a gente, a gente passa a ter retorno acima de 20% de adesão, é muito alto. Então, é muito significativo porque primeiro você cria uma base para o doador e depois você começa a envolver em outras ações da sua organização. Isso é muito legal. Então o que eu acho que é o fator primordial para você ter sucesso no pedido, seja ele qual for? É isso que te falei, ter objetividade e aí, consequentemente uma coisa que é muito importante é a organização trabalhar muito forte a comunicação para a sociedade sobre aquele trabalho que ela faz. Pode parecer ridículo e óbvio, mas tem um monte de organização que não faz isso. Que não trabalha rede social, que não trabalha o site, aí a pessoa acha que ela faz um trabalho muito legal e as pessoas tem que descobrir, mas ela tem que falar, as pessoas precisam comunicar o que está sendo feito porque a gente não tem tempo de saber tudo de bom que está acontecendo, muito pelo contrário, as pessoas só falam as coisas ruins para a gente. Então, as organizações precisam se posicionar muito fortemente com a comunicação, que é uma coisa que a gente aprendeu muito nestes dois anos de pandemia.

 

Roberta: Tammy, e falando em serviços financeiros, tem um dado não muito averiguado, de que talvez a principal fonte de recursos em volume doação sejam os títulos de capitalização, que segundo a FENAC cresceram quase 60% em 2021 e geraram 1,3 bilhão para ONGs. Vocês usam essa modalidade? A gente sabe que tem aí projetos de lei que a ABCR está tentando colocar para não ter cobrança  de taxa sobre os títulos de capitalização para irem direto tudo para as organizações. Como que isso funciona? 

 

Tammy: Lógico que a gente tem essa modalidade. A gente começou a operar nessa modalidade em julho de 2019 e a gente já arrecadou mais de 13 milhões com título de capitalização. 

 

Roberta: Uau! E essa venda é feita por vocês ou é feita pelo banco?

 

Tammy: Lógico que não! Eu não sei vender título de capitalização, eu sei pedir doação, eu não faço a menor ideia de como que vende. E por isso que eu acho que quem tem que fazer é quem sabe fazer esse negócio, não é a gente. Eu sou a organização beneficiada, eu fico pedindo dinheiro, eu não sei montar uma operação de vendas para vender 300 mil títulos de capitalização em um mês, eu não faço a menor ideia, como se estrutura isso, como se faz isso, é muito trabalho, é uma coisa surreal. E ter essas empresas que façam  isso e que podem te dar uma parte e essa parte que é a questão relativa, se é muito, se é pouco, a gente sempre acha que a gente tem que ganhar mais, mas todo e qualquer meio o de captação, a gente precisa entender que tem um custo. Se a gente partir do pressuposto que todo mundo tem que fazer tudo de graça para a gente e aí começa por funcionário que tem que trabalhar de graça… então, tudo tem que ser de graça? não dá para fazer tudo de graça. A  gente já está há anos nesse setor e a gente sabe disso, que tem que ter investimento. E o investimento tem que ser justo, tentar negociar talvez valores de custo, porque a gente não é o que vai deixar os outros ricos, mas é uma coisa que a gente pode ter um benefício real e eu estou falando de 13 milhões de reais por ano, em dois anos e meio. Isso porque estou falando de GRAACC, se você for pegar Barretos, o que eu recebo por ano, o Hospital de Barretos recebe por mês de doação. Deve estar com 4 ou 5 milhões por mês de arrecadação. E sabe qual é o trabalho para isso? Nenhum. Não tem trabalho, a gente recebe só toda a documentação oficial de tudo que tem de ser legalizado e lançado, mas não tem trabalho nenhum. A gente nunca teve uma reclamação, a gente já deve ter vendido, para ter 13 milhões, a gente deve ter vendido um 1,5 milhão de títulos de capitalização. Eu nunca recebi uma reclamação de uma pessoa falar: eu não gostei do seu título de capitalização, eu já recebi reclamação de pessoa que falou “eu não gostei da celebridade que estava aí no GRAACC”, mas nunca de título de capitalização.

 

Agora, você tem razão, o povo é enlouquecido por sorteio.

Roberta: Então, o título de capitalização é o banco quem vende e vocês ficam com uma parte? 

 

Tammy: Pode ser o banco, como pode ser uma empresa de capitalização que faça essa venda. No nosso caso não é banco que vende. A gente faz a venda em uma região, que é aqui no ABC, então tem dois meios de venda: uma é pelo aplicativo e a outra em pequenos comércios, bares, restaurantes, lojinhas e em bancas de jornal na região do ABC. Então, toda essa estrutura de venda, a empresa faz tudo. O que eu faço é gravar o comercial pedindo para as pessoas comprarem o título de capitalização do GRAACC. É meu máximo de trabalho, e por isso que é um negócio muito para a gente, que precisa sobreviver, fazer outras coisas que a gente sabe fazer e isso é o tipo de coisa que a gente não sabe fazer. Então, se alguém  chegar e falar: olha agora nenhuma empresa vai mais vender, é instituição que vai ter que fazer, eu vou fazer o quê? Vou ter que contratar cinquenta pessoas para fazer um negócio que eu não sei nem por onde começar. Quem está no negócio, sabe fazer. Não dá para eu querer achar que vou ficar boa em uma coisa que nunca fiz na vida, então por isso eu procuro olhar sempre o lado do benefício: você poderia ganhar 13, poderia ganhar 26, 36… lógico! Eu ia querer ganhar 100% de tudo, sempre. Mas, eu entendo também que preciso fazer um investimento, porque sei que todo e qualquer meio de captação de recursos eu preciso ter um investimento para ter retorno. E, ao longo da vida, você vai percebendo que estes percentuais – o que é justo, o que não é, é muito relativo dependendo do que for. E eu vou falar uma coisa que é mais dura ainda, sobre o título de capitalização, a pessoa que compra, eu não sei se ela compra porque está ajudando o GRAACC, ela compra por que ela quer ganhar. Sendo muito sincera nesse sentido, então falar que só está vendendo porque é o GRAACC, eu sei que é forte, que a gente construiu uma marca forte, que a gente está bem consolidado, mas o sorteio está muito acima da gente.

 

Artur: Agora, aproveitando a sua presença aqui, outra coisa que o GRAACC faz muito bem é a arrecadação em eventos, mas nesse caso a gente vai no outro lado do espectro: aqui a gente está falando de muitas pessoas com tíquete pequeno, doando valores como cinquenta reais, nos eventos o objetivo já chamar poucas pessoas com tíquete alto, né? E agora a gente está podendo voltar aos eventos presenciais, como é que a perspectiva de vocês para isso?

 

Tammy: Nossa perspectiva é voltou tudo, vida que segue, vamos fazer tudo que a gente fazia. Vamos fazer nossos jantares, a gente fez a nossa corrida agora no dia das mães, a gente teve uma participação excelente, a gente teve para vocês terem uma ideia, em 2019 a gente teve quase oito mil participantes, e nessa edição, da volta ao presencial, a gente teve cerca de sete mil e quinhentos participantes, ou seja, é um pouco menos do que tivemos em 2019, mas pelo termômetro que a gente tinha de outras corridas, falaram que a audiência estava sendo de 30% de participação, então a gente já estava desesperado, imagina, uma corrida do GRAACC com duas mil pessoas, três mil pessoas era um fracasso, né? Não era pouca gente, mas ia ser um fracasso. Então, a gente conseguiu voltar em alto estilo, foi sensacional o evento e ficamos muito emocionados, muito felizes e continuamos com a nossa programação de eventos presenciais daqui para o final do ano, vamos voltar tudo ao normal.
E essa relação que a gente estava conversando, e evento é uma coisa cara de fazer e nem sempre a relação do que retorna é proporcional a outras ações que você faz. O quanto eu invisto e quanto eu tenho de retorno. O evento é uma coisa cara, então a gente sabe que nem sempre o percentual de retorno que você vai ter é muito atrativo perto de outras ações, só que o mais importante dele é o relacionamento pessoal que você tem com as pessoas e colocar em evidência a sua causa, a sua instituição e tudo o mais. É muito mais um investimento que a gente faz, do que o retorno financeiro, que a gente sempre tem, é lógico, mas se fosse uma ação para ter apenas de investimento, vale muito a pena. A nossa corrida, por exemplo, é um dos eventos que tem o maior número de divulgações, de mídia espontânea, de divulgação com influencer, então é o nome e a causa do GRAACC atingindo públicos que talvez a gente nunca conseguisse atingir de outra forma. E a gente percebe isso como essencial, e aí as organizações têm um pouco: ah, se eu não fizer evento que for ter o triplo, o dobro do investimento, eu não vou fazer. Mas tem que fazer. Você reúne, você pode ter desdobramentos futuros que talvez você não perceba, mas que podem vir depois de relacionamentos que você estabelece nesses eventos. Então, para nós é muito importante, estamos muito entusiasmados com a volta, já temos uma programação para o segundo semestre, vamos fazer um congresso, então vai ser muito legal. Espero que não tenha nada que nos impeça nesses meses de inverno que a gente sabe que é onde a situação da gripe se agrava, mas eu acho que não volta mais ao que era. 

 

Artur: Tammy, a gente poderia passar dias aqui falando, mas vamos fazer esse episódio o primeiro de muitos, a casa é sua, volte quando quiser, para a gente é sempre uma honra falar com você e sempre uma lição incrível. A gente não cansa de agradecer a Tammy sempre, porque acho que não fosse a Tammy, não fosse o GRAACC talvez a gente nem estaria aqui, a Editora MOL nasceu dessa parceria e então a gente não cansa de admirar. 

 

Roberta: Te amo, Tammy!

Tammy: Eu amo vocês de coração e acho que a gente, quando começou esse projeto, eu, o Rodrigo, lá atrás, a gente teve a sorte da divindade de achar a Roberta e não só a Roberta, mas todo o time para entregar um produto com uma excelência, que hoje eu acho que as pessoas compram muito mais a revista pelo conteúdo do que pela causa. O GRAACC é coadjuvante. Isso que vocês fizeram é atingir um patamar de produto social fora da realidade, é muito legal. Parabéns!

Roberta: Vamos crescendo juntos! 

 

Tammy: Obrigada! Vocês são parte, assim como eu que estou há dois terços da história do GRAACC aqui, vocês estão quase 50% da história aqui com a gente, então vocês são parte de tudo isso que a gente tem. Parte, não só do que a gente oferece para as famílias e para as crianças hoje, mas também parte da responsabilidade de fazer isso aqui continuar, quando a gente se aposentar.

 

Roberta: Contem sempre com a gente, tenho muito orgulho de ter o nome na plaquinha e ter ajudado a construir. E são vários projetos, além da Sorria que a gente já conseguiu levar essa ideia dos produtos sociais para muita gente e ainda vamos levar mais ainda. Essa é uma das maiores alegrias de trabalhar com a Tammy e com o GRAACC.

 

Tammy: E a gente é feliz por ter sido o primeiro.

 

Roberta: Essa vontade de arriscar, de fazer diferente, de não ter medo, “vambora” e ver no que dá. Muito obrigada, querida.

 

Tammy: Um beijo enorme e muito bom ver vocês! 

 

Roberta: E não esquece, hein? Se você tiver alguma história diferente, interessante ou inspiradora sobre mala direta ou o impacto de qualquer outra forma de captação mais tradicional, manda pra gente lá no Instagram @institutomol, por lá você encontra também todos os nossos meios de contato e muito conteúdo bacana!

 

Artur: Aí na descrição do episódio você encontra também nosso e-mail e o endereço do nosso site que tá cheio de conteúdo, inclusive a transcrição deste e de todos os outros episódios. 

Roberta: Por hoje é só pessoal, mas não fiquem tristes que semana que vem tem mais! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev. A produção é de Leonardo Neiva, o roteiro final e direção é de Vanessa Henriques e Ana Ju Rodrigues, e o design da Glaucia Ribeiro, do Instituto MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais

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