por Instituto MOL
Roberta: Desde o último dia 15 de maio, pré-candidatos às eleições deste ano podem angariar recursos de pessoas físicas para ajudar a financiar suas campanhas por meio de plataformas de crowdfunding. Essa modalidade foi regulamentada pela reforma eleitoral de 2017 e deve atender a requisitos estabelecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral. De acordo com dados do próprio TSE, em 2018 e 2020 foram arrecadados mais de R$ 35 milhões através de financiamento coletivo.
Mas afinal, a política merece a sua doação? Neste episódio a gente vai tentar responder a essa questão. E pra nos ajudar, vamos receber o Thiago Rondon, fundador da App Cívico, uma empresa que trabalha com tecnologias para o engajamento civil e que criou a plataforma Voto Legal.
Eu sou Roberta Faria
Artur: Eu sou Artur Louback
Roberta: E doação de pessoa física para campanhas políticas é o assunto de hoje no…
Jogral: Aqui se Faz, Aqui se Doa!
Roberta: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do Infomoney.
Eleições chegando no Brasil e, por trás do que a gente vê na televisão e nas redes sociais, existe uma enorme estrutura pra fazer com que os candidatos cheguem a mais e mais pessoas e consigam atingir o objetivo de serem eleitos. Campanhas eleitorais demandam trabalho de pessoas, produção de material e acesso a plataformas de divulgação de massa. E tudo isso demanda dinheiro. Muito dinheiro.
Artur: Diversos estudos indicam que existe uma correlação significativa entre gastos de campanha e os resultados eleitorais. Ou seja: quem consegue arrecadar mais, em geral é quem acaba sendo eleito. E se temos questões éticas em qualquer atividade que envolve dinheiro, quando falamos de política isso se eleva à enésima potência, já que esse dinheiro também pode ser uma ferramenta para que alguns influenciem indevidamente o processo político.
Roberta: Pois é, Artur. Há séculos os países tentam encontrar uma forma de lidar com isso, com graus variados de sucesso. O IDEA – Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral tem um banco de dados que reúne informações sobre financiamento político em 180 países. Eles identificaram que todos utilizam pelo menos uma forma de regulamentação do dinheiro na política.
Artur: Mas apesar disso, o financiamento político continua sendo uma questão controversa para a democracia. Aqui na América Latina, por exemplo, de acordo com um estudo lançado em 2019 também pelo IDEA, os principais desafios são: a falta de leis sobre limites de gastos de campanha; as relações estreitas entre partidos políticos e grandes empresas; as fontes ilícitas de financiamento; e a prevalência do clientelismo e da compra de votos.
Roberta: Hoje os partidos políticos brasileiros contam com duas fontes de financiamento público: o Fundo Partidário, que é distribuído mensalmente e destinado à manutenção de despesas cotidianas dos partidos, e o Fundo Eleitoral, que foi criado em 2017 e é distribuído somente em ano da eleição, voltado exclusivamente ao financiamento das campanhas eleitorais. O Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) reuniu dados de 35 países entre 2012 e 2020, e identificou que o Brasil é o país que mais envia dinheiro público para partidos e campanhas políticas.
Artur: Pois é. Neste ano o Fundo Eleitoral vai destinar R$ 4,9 bilhões, sendo mais de R$ 770 milhões para um único partido (o União Brasil). Esse valor corresponde a sete vezes o que foi destinado em 2021 para a Anvisa, segundo levantamento da CNN Brasil. No ranking dos países que mais gastam com o sistema partidário, o México vem em segundo lugar, com R$ 1,5 bilhão, três vezes menos do que o Brasil. E isso sem contar o tempo de propaganda gratuita em rádio e televisão.
Roberta: Não existe um consenso sobre qual forma de financiamento é melhor e os modelos variam bastante de país pra país. Na Alemanha, por exemplo, o Estado pode financiar no máximo 50% das receitas dos partidos, e existem vários mecanismos para que eles se aproximem dos eleitores. Já nos EUA, as doações para campanhas eleitorais podem ser feitas por doadores individuais ou grupos de organizações privadas, com ou sem fins lucrativos. Lá, a maior parte dos fundos de campanha vem de doadores individuais.
Artur: Bom, acho que agora é uma boa hora pra chamar a Rafa Carvalho, que hoje vai falar justamente sobre financiamento privado.
Rafa Carvalho: Oi, pessoal! Tudo bem?
Bora conhecer um pouco mais sobre o financiamento político feito por empresas e pessoas físicas no Brasil?
Bom, pra começar, é bom explicar que financiamento político se refere ao dinheiro destinado às atividades dos partidos políticos durante as campanhas eleitorais, mas também nos intervalos entre as eleições. O financiamento público é quando esses recursos são transferidos pelo Estado, financiamento privado quando vem da sociedade, e misto quando o dinheiro vem dessas duas fontes.
Até o início dos anos 1960, a questão do financiamento privado a partidos políticos no Brasil foi tratada basicamente pelos próprios estatutos partidários. A legislação federal só fazia referência à proibição de capital estrangeiro e de recursos provenientes de atividades ilícitas. Após o governo de Juscelino Kubitschek, as contribuições de empresas privadas passaram a ganhar destaque, mas sem muita clareza legal, e em 1965, após o Golpe Militar, foram proibidas.
Esse veto oficial permaneceu nas décadas seguintes, mas não impediu que as doações corporativas continuassem acontecendo até 1993, quando o governo decidiu, então, regulamentar essa prática. Só que, em 2015, o Supremo Tribunal Federal proibiu de novo esse tipo de financiamento, depois de uma série de escândalos de corrupção ligando políticos e partidos a grandes corporações.
E como estamos hoje? Bom, as empresas continuam sem poder financiar partidos ou campanhas políticas por aqui. Já pessoas físicas podem dar sua colaboração se filiando a um partido ou, em ano de eleição, doando diretamente ao candidato ou via financiamento coletivo, por meio de plataformas autorizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral. Essas doações podem ser de até 10% de seu rendimento bruto do ano anterior ao pleito, e existem várias regras referentes à transparência e prestação de contas, o que é fundamental, né?
Eu sou a Rafaela Carvalho e toda semana te ajudo a desvendar um termo importante para a cultura de doação. Até mais!
Roberta: Valeu, Rafa! Em 2018, que foi o primeiro ano em que as empresas não podiam mais doar para campanhas eleitorais, 19,4% das receitas eleitorais, o equivalente a R$ 1,1 bilhão, vieram de doações de pessoas físicas. Mas sócios e diretores de grandes empresas também são pessoas, né? Levantamento da Parlametria, uma plataforma de monitoramento de dados do Congresso Nacional, identificou, por exemplo, 55 pessoas com interesses empresariais no setor da educação que doaram mais de R$ 15 milhões para quase um a cada três deputados que fazem ou fizeram parte da Comissão de Educação na Câmara.
Artur: Isso quer necessariamente dizer que essas pessoas tinham interesses escusos? Claro que não podemos afirmar isso. O que é interessante aqui é entender a importância de termos ferramentas que facilitam o acesso para que mais pessoas também possam fortalecer as causas em que acreditam. Como o Pedro Fonseca, escritor e educador parental, fundador da Rede Amparo. Ele mora em Brasília e neste ano fez sua primeira doação para campanha eleitoral, através da plataforma Democratize.
Pedro: Eu decidi doar pra essa campanha especificamente, de um deputado distrital aqui em Brasília, Fábio Félix, do PSOL, primeiro porque eu venho acompanhando o mandato dele atual, e as pautas que ele trata são essenciais para o Distrito Federal, que é um lócus que confunde muito, o que é o poder distrital e o que é o poder federal, então parece que Brasília fica num não-lugar, como se não tivesse um governo e uma Assembléia que olhasse pros problemas daqui, já que a gente fica vendo o tempo todo no noticiário o poder federal agindo, o governo federal. Então o que me levou a doar foi entender realmente a importância de mandatos como esse pro lugar onde eu moro, o lugar onde eu vivo. Eu já tinha pensado em doar, na campanha passada, de 2018, campanha pra presidente, governadores, deputados etc. Eu tinha pensando em doar, mas eu não encontrei um caminho na época, eu diria, confiável pra fazer isso acontecer. O que me fez mudar de ideia foram duas coisas: acompanhar o processo de comunicação desse mandato sobre como funcionaria o financiamento coletivo e pra que funcionaria, a que se destinaria esse dinheiro, e a segunda coisa é realmente o caos em que o país está, em que o país se encontra. Acredito que pra além do meu voto, que é um e equivale a uma unidade igual a toda e qualquer outra pessoa, todas as outras contribuições que eu possa fazer pelo campo progressista que tirem a gente do abismo serão interessantes. Então eu podia fazer a doação e fiz.
Roberta: Muito legal isso que o Pedro fala sobre fazer a sua parte não apenas na hora do voto, mas também ajudando a financiar uma campanha de alguém que você já viu que faz um trabalho relevante. Além da importância de uma comunicação clara sobre o que vai ser feito com o dinheiro que está sendo captado. A gente perguntou se ele incentivou os amigos a doarem também. Vamos ouvir o que ele disse.
Pedro: Eu não recomendei diretamente, nem mobilizei diretamente pessoas. Por exemplo, eu não fiz minha doação e fui pras redes sociais dizer “fiz uma doação” ou compartilhei no Twitter ou no Instagram. Não fiz nenhuma movimentação desse tipo. Agora uma movimentação que eu acho que pode levar a trazer mais pessoas a fazerem o mesmo é falar desse candidato, é falar daquela outra candidata, é falar de tal mandato que está acontecendo agora. Eu acho que a nossa voz pode fazer com que pessoas observem mais de perto algumas candidaturas e alguns mandatos que estão em vigência agora, e isso possa converter em doação.
Artur: O Pedro viu em uma plataforma de financiamento coletivo uma forma segura de fazer sua doação pro candidato que ele queria apoiar. Então vamos agora trazer mais informações sobre como isso funciona. Primeiro ponto: não existe limite de valor para um candidato receber doações por meio das plataformas dedicadas a isso, mas cada pessoa só pode doar até R$ 1.064,10 por dia. Se for passar disso, a doação deve ser feita por transferência bancária ou cheque cruzado e nominal.
Roberta: Além disso, cada pessoa também não pode passar dos 10% dos rendimentos brutos recebidos no ano anterior à eleição, como a Rafa Carvalho explicou. Outro ponto é que a plataforma é obrigada a registrar o nome completo e CPF do doador e a quantia transferida, dados que devem ser informados ao TSE. Portanto, não é possível fazer doação anônima.
Artur: Importante dizer também que o dinheiro arrecadado só pode ser transferido após a confirmação da candidatura. Se por algum motivo o pré-candidato não for mais concorrer, o dinheiro deve ser devolvido ao doador, descontada a taxa administrativa da plataforma.
Roberta: Depois de confirmada a candidatura, até o dia 16 de agosto, quando começa oficialmente a campanha, os recursos arrecadados só poderão ser utilizados pra cobrir custos de preparação das atividades, instalação física e criação de website de comitês. Só depois, quando for permitido pedir votos, outros gastos permitidos pela lei eleitoral estarão liberados. Entre eles: confecção de material impresso, propaganda, transporte, pagamento de pessoal, comícios e pesquisas.
E pra gente entender melhor os meandros dessa modalidade de financiamento, hoje a gente recebe o Thiago Rondon, fundador da App Cívico, empresa que trabalha com tecnologias para engajamento civil e que criou a plataforma Voto Legal. Bem-vindo, Thiago! Obrigado por ter aceitado nosso convite.
Thiago: É um prazer estar aqui contigo.
Roberta: Pra começar, Thiago, a gente queria saber um pouco do histórico da criação dessa modalidade de financiamento pra campanhas eleitorais no Brasil e sobre o próprio surgimento da plataforma Voto Legal, em 2016. Porque ainda não existia uma regulamentação pra esse tipo de doação, mas também não era proibido, é isso?
Thiago: Em 2016, a gente estava vivendo um contexto histórico, sobre doações eleitorais com a questão da Lava-Jato, com a questão de pessoas jurídicas doando e como elas participavam do processo eleitoral e aquela foi a primeira campanha em que elas não puderam participar das eleições do ano e naquele momento, o App Cívico, que é uma tecnologia junto com MTCE, que é o Movimento Contra a Corrupção Eleitoral, que é muito famoso pela criação da Ficha Limpa, nós fizemos uma série de conversas e reuniões com atores da sociedade civil para debater isso, ou seja: a única forma agora vai ser a doação pelo Fundo Público? há alguma outra maneira de essa participação ocorrer?
O debate foi em torno de corrupção, criminalização da doação e a gente chegou em um consenso de que era necessário e importante naquele momento desenvolver uma solução que fosse uma alternativa aos fundos públicos. Então, a gente lança o Voto Legal naquela campanha e aí, como você mesma colocou, não existia nenhuma regulamentação sobre isso. E era uma área, digamos assim, sem muita definição. A definição que existia era a seguinte: uma empresa de crowdfunding não poderia depositar recursos financeiros na conta do candidato, logo ninguém podia contratar uma empresa de crowdfunding, então o que nós fizemos? Nós construímos um software, com licenças livres e a gente deu um manual de instruções, digamos assim, sobre como o candidato naquela campanha faria a operação direta com a instituição financeira e executar o software dentro de uma instância sua e não teria nenhuma empresa intermediando, ou seja, seria diretamente o candidato com seu contrato. Só que como não existia regulamentação, as operadoras de pagamento também não queriam, “ah, é política? não quero saber disso também”.
A gente conseguiu algumas campanhas muito interessantes em 2016 e que conseguiram colocar isso no debate público. Nós tivemos representação para nos explicarmos no Ministério Público, o porque isso era legal, teve um debate muito grande sobre isso, a plataforma rodou com 130 candidatos arrecadando pelo menos alguma quantia mínima e com isso fomos ao Congresso, ao TSE apresentar a solução.
Roberta: Esta vai ser a quarta eleição na qual vocês atuam, certo? É possível traçar uma mudança, uma evolução nesse perfil dos doadores pessoas físicas de campanhas eleitorais no Brasil?
Thiago: Tem uma evolução muito interessante. No começo, inclusive, nós recebíamos mensagens, digamos, não muito boas, de doadores falando assim: “uma plataforma para doação para política? vocês estão malucos? o que vocês estão fazendo?”
Roberta: Sim, todo mundo se pergunta, né? Política precisa de mais dinheiro? Vocês já não tem um bilhão de fundos? E o medo de se meter, né? em uma lavagem de dinheiro, em uma coisa que você não sabe para onde vai? Ao mesmo tempo é chance de muita gente, e eu me coloco nesse grupo, eu doo para política há algum tempo, de apoiar candidatos que se relacionam com a sua causa e que estão fora dos grandes jogos… dos grandes dinheiros…
Thiago: Eu acho que no começo existia esse debate, eram pessoas muito próximas, e o que a gente vem observando são algumas questões interessantes. Primeiro, o público está bem diverso agora, muito mais pessoas dispostas a doar; segundo, essas pessoas estão dispostas a doar a campanhas com propósitos claros. Eles não estão doando para pessoa, eles estão doando a um projeto. “Eu vou trabalhar com questões relacionadas a primeira infância, eu vou trabalhar com outras, pautas diversas, na questão da saúde”, enfim, isso a gente observa que traz engajamento e um público novo muito interessante. E o terceiro, eu acho que, a questão de ter tido uma cobertura intensa nas últimas eleições tem aberto um debate sobre: será que o fundo público é o único caminho? a gente teve alguns candidatos, inclusive a própria presidência da república, que não utilizaram, ou quase nada de fundo público e que utilizaram plataformas de financiamento coletivo, então acho que está tendo uma atração que a gente já pode observar neste ano, de todas as plataformas em geral, que já estão iniciando com números muito superiores que os anos anteriores, acho que está amadurecendo a questão.
Roberta: Uma dúvida que surge nessas conversas é sobre os volumes doados pelas pessoas. Quando se começou a conversa de se excluir empresas das doações, era por conta dessa preocupação de grandes doações acabam transformando depois, os candidatos eleitos em devedores que tem que retornar para os seus grandes doadores o favor do dinheiro que ele recebeu e aí a gente acaba tendo um executivo, um legislativo muito amarrado com quem pagou a conta da sua campanha. Quando a gente fala de ir para a pessoa física, existe este risco de grandes fortunas se tornarem doadores por meio dessas plataformas e de alguma forma trazer o mesmo problema que a gente tem no financiamento de empresas para o financiamento de pessoa física? Ou ainda está em um lugar de mais doações pequenas mesmo?
Thiago: Nesse ponto, a legislação colocou um limite. As doações realizadas por pessoas físicas, elas não podem ser superiores a 1.064 reais, esse é o limite diário. Você pode doar até este valor, no dia. Você pode doar amanhã novamente, mas isso não acontece com tanta frequência.
Roberta: O Voto Legal é uma plataforma de código aberto, isso quer dizer que qualquer candidato pode ter sua própria plataforma de financiamento coletivo – desde que, claro, seja aprovada pelo TSE. E como é a questão da segurança? Como são tratados os dados do doador e como é feita a transferência pro candidato?
Thiago: Bom, a resolução, ela é bem interessante. Ela exige algumas questões, tanto de quem vai oferecer o serviço, que ela tem de cumprir, com alguns pré-requisitos, como por exemplo também, com relação à transparência. E aí a gente sempre vai ter uma reflexão sobre a segurança versus a transparência. A resolução prevê que o candidato tem que deixar de uma maneira clara quem são todos os seus doadores em tempo real. Então, você vai entrar no site para doar e você já está vendo todo mundo que está doando, você não pode fazer uma doação anônima via internet, por exemplo. E agora tem uma eleição que entra com a LGPD, que é a nova lei de proteção de dados pessoais e que há um debate sobre como esses dados devem ser utilizados e como vão ser utilizados pelas campanhas.
Roberta: Outra questão bem importante é sobre a prestação de contas. O que a legislação prevê nesse sentido, tanto pros candidatos quanto pros doadores?
Thiago: Eu acho que a transparência faz bem, principalmente no cenário que a gente vive. Então, tem um dado interessante, que a gente percebeu que nas campanhas municipais, por esta questão da causa que eu disse, a gente tem doadores de outros estados e que não é uma pessoa que vai poder votar naquele candidato. Ela doa porque gosta da causa. É muito interessante isso, tem um número interessante de doadores nesse sentido.
A resolução prevê que as taxas têm que ser transparentes, nas plataformas, o quanto que é pago, os doadores têm que ficar muito claro também quanto que é recebido até então, eu acho que nessa questão ela é interessante. O que eu vejo, é que temos doadores que não querem aparecer no site, mas não tem o que fazer, a lei manda e é isso que tem que acontecer. Tem, claro, uma questão ou outra que a gente poderia discutir, por exemplo, o CPF deveria aparecer na lista de doadores? Mas eu acho que ela é importante, porque em um cenário onde há tanto descrédito atualmente, na classe política de um modo geral, é importante a gente levar elementos para gerar confiança.
Roberta: Sim, faz sentido. E para encerrar, Thiago, como você enxerga o futuro das doações de pessoas físicas para a política no Brasil? Existe alguma previsão de arrecadação pra este ano? Você acha que o clima de insatisfação política deve favorecer um aumento nessa participação?
Thiago: Olha, eu acho que o crowdfunding está caminhando bem, está crescendo. É difícil fazer uma previsão, mas com base no que a gente tem acompanhado, em todas as plataformas, o número de candidatos está maior, o número de doadores está maior, então acho que a gente vai ter uma campanha interessante nesse sentido. E me parece também que, às vezes a gente fala só, e tem muita coisa ruim que está acontecendo e é inegável, a polarização, discurso de ódio, desinformação, mas também me parece que há um sentimento de querer participar mais da política por muito mais pessoas, então às vezes vale a pena a gente olhar para este lado positivo.
Roberta: Ah, sim. O recorde de títulos, por exemplo, de última hora, é uma boa prova disso, né?
Thiago: Sim. Acho que tem esse caminho bom para a gente olhar.
Roberta: Massa! Vamos manter as esperanças.
E Thiago, muito obrigada por ter estado aqui com a gente e esclarecido tanta coisa importante. Agora a gente vai pra nossa rodada relâmpago.
Roberta: Nós vamos fazer 5 perguntas e você responde com a primeira coisa que vier à sua cabeça. Ok?
Thiago: Preparado!
Roberta: Qual foi a sua doação mais recente?
Thiago: Instituto Azmina.
Roberta: Qual é a sua causa do coração?
Thiago: Educação.
Roberta: O que você doa e que não é dinheiro?
Thiago: Tempo.
Roberta: Cite uma organização ou um projeto que você admira e/ou apoia:
Thiago: Instituto Razão para Viver.
Roberta: Quem você já convenceu a doar? (E se não o fez, faça agora ao vivo!)
Thiago: A doação, no campo eleitoral, é uma forma de participação muito importante. É se conectar com os candidatos, com as causas e estar próximo de como essa construção ocorre. Acho que é um modo de acreditar também, nessa chuva de descrédito que a gente tem hoje na política, a gente pode construir e acho que o crowdfunding é um caminho para isso, acho que a gente participar da construção da campanha é muito importante.
Roberta: Muito bom, Thiago! Mais uma vez, obrigado pelo papo!
Roberta: Muito bom esse papo com o Thiago, muito esclarecedor. Mas se você ainda ficou com alguma dúvida sobre o que diz a lei, vai lá no site do TSE e digita “financiamento coletivo” no campo de busca. Lá tem uma seção de perguntas e respostas que ajuda a entender melhor as principais questões sobre essa modalidade.
Artur: E agora vamos chamar a Duda Schneider? Qual a dica de hoje no Merchan do Bem, Duda?
Duda Schneider: Oi gente, eu sou a Duda Schneider e esse é o quadro Merchan do Bem. A dica de hoje é mais uma vez do mundo da moda. A varejista C&A tem em seu pilar o Instituto C&A que acaba de lançar uma coleção inédita. Produzida por empreendedores LGBTQIA+ que foram selecionados por meio do projeto O Nosso Encontro Orgulho.
As marcas desses empreendedores passaram por processos de aceleração nos empreendimentos, em branding e produtos durante quatro meses. Além disso, elas também receberam apoio para a criação de novas identidades visuais e investimento financeiro, as novas peças foram criadas em conjunto com a C&A e contam com opções de tamanhos variados – do P ao GG e seguem as tendências que vão do retrô ao contemporâneo. Entre os destaques estão os estilos bold color, feitos à mão, muito brilho e recortes. A coleção está linda e já disponível para compra no ecommerce da campanha Nosso Encontro Orgulho na C&A.
Espero que tenham gostado e até a próxima!
Artur: Bom, a gente poderia fazer mais muitos programas sobre o tema de hoje, se eu tivesse o estômago blindado o suficiente… brincadeira.
Porque, enfim, são muitos os exemplos de vários lugares do mundo e também diversos pontos de vista, e além de tudo é um tema importante para ser discutido, é uma variável importante para quem quer ter uma democracia de fato. Nossa intenção foi trazer esse assunto pro âmbito do nosso debate de toda semana aqui, a cultura de doação. A gente vem de uma tradição de financiamento público e de empresas, mas cada dia mais surgem novos meios pra facilitar a participação mais ampla e democrática da sociedade e isso é tanto melhor, quem discordar disso é mal intencionado, ponto.
Roberta: E acho que é importante lembrar que, quando a gente fala dos fundos públicos, claro que a gente está falando também da destinação do nosso próprio dinheiro para esses partidos e candidatos, mas infelizmente a gente não pode escolher pra onde vão os recursos desses fundos. Isso é decidido pelos parlamentares, inclusive todos aqueles que a gente não elegeu e que não gostaria de ver lá. Então se a gente começa a se engajar mais no financiamento direto das campanhas nas quais a gente acredita, e se esse engajamento ajuda que políticos nos quais a gente confia cheguem aos cargos de decisão, aos poucos essa lógica desigual vai se desfazendo e o Congresso se torna mais representativo do que a gente gostaria que fosse.
Artur: Bom, obviamente que eu exagerei um pouco no comentário de que quem discordar de qualquer coisa disso é mal intencionado, mas no fundo, acho que é importante a gente discutir esse assunto porque é algo que se fala muito pouco aqui no Brasil e intencionalmente se fala pouco. As grandes empresas, fundamentalmente, falam pouco sobre isso porque eles são os maiores interessados. Não todas as empresas, mas grandes doadores fazem esquemas com políticos e não era o interesse deles esse assunto seja mexido. Se alguém começar a questionar esse dinheiro que se recebe para fazer campanhas políticas em que a gente sabe que é senão o maior, ou os maiores focos de corrupção de desvio de dinheiro público no nosso país começou a ser questionado de fato, logo, vai ter que fazer alguma coisa.
E como os veículos de comunicação dependem, em boa parte dos grandes financiamentos, via anúncio, via outros modelos das grandes empresas, o assunto é meio abafado. Então tanto melhor quando a gente encontra mecanismos de financiamento das campanhas que independe disso, que há muitos e muitos anos é um padrão do Brasil e também porque quem tá com o poder consegue ter mais dinheiro para fazer campanhas mais vultosas, e os maiores partidos fazem e conseguem atrair mais doadores.
E acaba que não tem renovação, por isso que você fala tanto da velha política que principalmente, domina esse mecanismo. Então, se a gente cria mecanismos democráticos que colocam o cidadão diretamente em contato com seus parlamentares, a gente ganha duas coisas, mais chance para mais gente concorrer em pé de igualdade ou com possibilidade de ser eleito de fato, e também estreita relação do eleitor com o parlamentar ou com os governantes dos cargos majoritários. Cabe ao eleitor o compromisso também, vocês sabem que cobrar é um time que você monta eu considero os parlamentares que eu cobrar eles e acompanhar tudo que estão fazendo, da mesma forma que exigir que eles prestem contas.
Roberta: Acho que a gente tem que lembrar do que a gente fala aqui também no Instituto. Fazer essa comparação justamente quando a gente vai escolher em quem votar, a gente entende que o nosso foco, mesmo sendo um só né no mar de milhões, os valores somados a outros que acreditam na mesma causa, nas mesmas pessoas, na mesma visão de Brasil e de futuro, é que a gente consegue esse somar e gerar uma mudança de fato. A mesma coisa acontece com a doação, por menor que seja. Então, eu já doei na eleição passada para os candidatos com a visão de que se eles merecem o meu voto, e é valioso mesmo, eu também posso oferecer a minha doação, o meu recurso para ajudar essa campanha ele sair em frente mesmo quando eles não se elegem.
Por que, como o Thiago comentou, às vezes não é um candidato da sua região mas é o candidato da sua grande causa que pode mobilizar mais votos e lutar por ela no Congresso. Então vale a pena, doar de alguma forma, seja com 10 ou 20 reais, é como dar um outro tipo de voto de confiança numa nova geração de políticos.
Artur: Por hoje é isso pessoal, mas o papo, como sempre, continua nas nossas redes sociais. Segue a gente lá no Instagram, @institutomol, e no LinkedIn. Semana que vem a gente volta! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do Infomoney. Esse episódio teve produção da Mônica Herculano. O roteiro final e direção são de Júlia Cunha e Vanessa Henriques, arte da Glaucia Ribeiro, do Instituto MOL. As colunas são de Rafaela Carvalho e Duda Schneider, da Editora MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!