Por Roberta Faria e Rodrigo Pipponzi*
É comum ouvir que as organizações da sociedade civil não são profissionais o suficiente, que ainda têm muitas dificuldades na comparação com o setor privado. Isso até pode acontecer em alguns contextos, mas está longe de ser uma verdade universal. Com menos recursos e lutando contra uma série de dificuldades, as ONGs muitas vezes são polos de inovação e criatividade, sem a mesma rigidez que cerca as empresas estabelecidas.
Mas a ideia aqui não é falar das exceções e nem mesmo de uma regra que se aplique a todas as organizações. Muito mais efetiva é a criação de pontes entre o terceiro setor e as empresas, de forma que todos saiam ganhando.
É com esse espírito que opera a aceleração de organizações. Em poucas palavras, consiste na troca entre profissionais voluntários de grandes empresas e gestores e funcionários de ONGs, em um esforço para equacionar alguma dificuldade identificada pela organização.
No Brasil, os primeiros programas de aceleração de organizações surgiram em 2016 com o Porto Social, o braço de fomento ao empreendedorismo social do Porto Digital, polo de inovação tecnológica do Recife. Temos também a Phomenta, criada em 2015 e que em 2017 lançou seu próprio programa de aceleração.
Mas é em 2018, com o VOA, da Ambev, que vemos as empresas privadas aderirem à aceleração de organizações da sociedade civil — mais de 300 entidades passaram pelo programa da cervejaria.
A pandemia também trouxe à tona as dificuldades nesse diálogo de empresas e terceiro setor, como conta Martha Leonardis, sócia e head de responsabilidade social e eventos do banco BTG Pactual, em entrevista ao podcast Aqui se Faz, Aqui se Doa, produzido pelo Instituto MOL.
O banco lançou em 2020 o seu programa de aceleração de organizações, o BTG Soma, que agora está em sua segunda edição. No diálogo com as ONGs, eles identificaram problemas de gestão, captação de recursos, marketing e retenção de talentos e de voluntários.
Para que os recursos destinados a organizações fossem gastos com mais eficiência, o banco resolveu criar seu próprio programa de aceleração e dar mais publicidade aos seus gastos sociais.
“A pandemia trouxe a necessidade de cooperação e de divulgação do que se estava fazendo, até para conseguir mais recursos e usar tudo que fosse possível para apoiar quem estava precisando”, resume Martha.
*Texto publicado na coluna Razões para Doar, de Época Negócios, em março de 2021.