Transcrição EP #90 – ChatGPT e inteligência artificial no terceiro setor

ROBERTA:  Salve, salve nação doadora!

Tá no ar o seu podcast favorito sobre cultura de doação, produzido pelo Instituto MOL com apoio do Movimento Bem Maior.

Aqui, você fica por dentro dos assuntos do momento na filantropia e na cultura de doação,

a partir de informações, pesquisas e entrevistas com importantes personagens do setor no Brasil.

Tudo de forma clara e objetiva, sem enrolação

 

Eu sou Roberta Faria

 

ARTUR: Eu sou Artur Louback

 

E, semana sim, semana não,  a gente te convoca a vir junto nessa conversa, pra inspirar mais e mais pessoas e empresas a doar! Doar com propósito, com consciência e com o coração!

 

Afinal,

 

ROBERTA/ARTUR: aqui se faz, 

aqui se doa!

 

ROBERTA: Olá, voltamos!

 

E vou te contar: nosso tema de hoje, na verdade é um dos grandes assuntos da atualidade. Mesmo que você não tenha entrado ainda na discussão sobre Inteligência Artificial e não chegou a usar o ChatGPT nem de brincadeira, com certeza já ouviu falar ou leu algo sobre o assunto.

 

Existe inclusive toda uma discussão bem complexa em torno de direitos autorais e do uso da Inteligência Artificial pra criar textos e imagens. Afinal, esses sistemas usam como base milhares de conteúdos já disponíveis na internet, raramente dando crédito ou citando todos esses trabalhos.

 

ARTUR: É isso aí, Roberta! Mas é um fato também que ferramentas como o ChatGPT vêm facilitando a vida de muita gente, principalmente no contexto profissional. Eu mesmo já usei algumas vezes, e sei que ele pode ser uma mão na roda pra produzir textos e conteúdos do dia a dia da empresa… 

 

Mas olha, claro que não sozinho. A gente tem que estar sempre no controle da ferramenta e saber dar os direcionamentos corretos.

 

E, se a gente olha pra questão da comunicação, ela sempre foi um grande desafio pro terceiro setor, onde as ONGs brasileiras ainda enfrentam dificuldades e uma enorme falta de tempo e recursos pra investir.

 

ROBERTA: O que acaba virando uma bola de neve, né, Artur? Porque a gente sabe que é uma área fundamental pra tornar o projeto da organização mais visível, se comunicar melhor com o público, alcançar novos doadores nas redes sociais… 

 

Enfim, crescer pensando um pouco no futuro da própria ONG e da cultura de doação como um todo.

 

Pra tratar mais a fundo desse assunto e das possibilidades de mudanças que a tecnologia representa, vamos falar hoje com alguém que conhece muito da área. 

 

A Amanda Riesemberg, que vai estar aqui com a gente logo mais, é formada em publicidade, cofundadora da BC Marketing, agência de marketing voltada pra causas sociais, e presidente da ONG Nossa Causa, que trabalha pra fortalecer o impacto de outras organizações e da filantropia brasileira.

 

Os esclarecimentos que ela vai trazer são essenciais porque muita gente tá entrando em contato com essas tecnologias pela primeira vez agora. E não tem um guia, um manual único de como usar da melhor forma ferramentas como o ChatGPT…

 

SARAJANE PERES: “Não basta nós desenvolvermos a tecnologia e a ciência e oferecermos as soluções, né? Nós temos que, de alguma forma, tentar esclarecer como ela funciona e as limitações que ela tem. Então às vezes eu sinto que há uma expectativa além do que a ciência hoje pode oferecer e há também um pouco de reticência no sentido de ‘eu não entendo isso’, então vou aceitar como ela vem sendo oferecida. Então agora com essa popularização, inclusive pra desenvolvedores mesmo, mais pessoas estão se envolvendo no desenvolvimento da inteligência artificial, e a gente tá discutindo muito isso, né? O esclarecimento sobre como as técnicas, os métodos funcionam é bastante importante pra conscientizar a população sobre o que ela tá usando e ajudando a desenvolver.”

 

ARTUR: Essa fala é da professora Sarajane Peres, que é pesquisadora da pós-graduação em Sistemas de Informação e do Centro de Inteligência Artificial da USP. 

 

Ela traz à tona uma questão que tem sido uma grande barreira pra integrar o uso dessas tecnologias em diferentes áreas. Isso inclui o terceiro setor, onde a gente sabe que as dificuldades em relação ao acesso ainda são enormes, principalmente longe dos grandes centros urbanos…

 

Uma pesquisa feita pelo Cetic, o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, dá uma ideia de como as coisas funcionam atualmente. 

 

Existiu sim um avanço na infraestrutura digital pra essas organizações, com um maior uso de wi-fi e uma melhora na conexão. Mas a grande maioria dos acessos, 76% deles, ainda acontece por meio de telefones celulares pessoais dos colaboradores desses projetos.

 

Ou seja, faltam condições e recursos adequados pra aprimorar e diversificar o uso dessas tecnologias. É o que reforça a fala do Fábio Senne, que coordena essa e outras pesquisas no Cetic.

 

FÁBIO SENNE: Se a gente comparar com a última edição da pesquisa, que foi realizada antes da pandemia, em 2016, houve um avanço no processo de digitalização do setor. Se a gente olhar, por exemplo, pra infraestrutura, mais organizações possuem internet de banda larga por meio de fibra ótica, há uma maior presença em redes sociais online em plataformas digitais. Então pra várias atividades a gente nota que houve maior digitalização. Mas o aproveitamento das oportunidades que tão presentes online ainda é aquém das possibilidades. Um exemplo é o fato de que 22% das organizações receberam doações pela internet. Houve um aumento em relação ao que acontecia em 2016, mas ainda assim é a menor parte das organizações que tá aproveitando do online pra fazer, por exemplo, captação de recursos.

 

ROBERTA: Uma das questões que impedem esse acesso de avançar de forma maior e mais consistente a gente já conhece. Exploramos bastante aqui no programa a desigualdade de recursos que existe entre as organizações brasileiras. Enquanto algumas recebem muitas doações e apoio de empresas e governo, outras passam praticamente em branco.

 

E é nessas ONGs, que geralmente ficam beeeem distantes dos grandes centros financeiros, que a questão do acesso à tecnologia e internet pega de verdade. São projetos pequenos, a maioria com menos de dez colaboradores que não recebem nenhum tipo de remuneração. 

 

Muitas vezes, os responsáveis precisam tirar recursos do próprio bolso pra manter a instituição. Nesses casos, como conseguir pagar internet, manter um site próprio e preparar os voluntários pra usar tecnologias como a Inteligência Artificial? Complexo, né?

 

Pra ter uma ideia, só 60% dessas organizações oferecem aos colaboradores computadores que de fato pertencem a esses projetos. Como a gente falou, boa parte acaba usando o celular pessoal. E apenas 27% delas dão algum tipo de treinamento sobre privacidade e proteção de dados.

 

FÁBIO SENNE: A presença de habilidades digitais são determinantes pro aproveitamento de oportunidades online pelas organizações, especialmente nesse setor que tem a presença importante de voluntários, que não são necessariamente pessoas que estão todo o tempo na organização. É complexo nesse contexto garantir a construção de capacidades pra toda a organização. Um exemplo disso muito interessante é que a pesquisa mostra que só 31% das organizações tem uma área ou departamento especializado em tecnologia da informação. Isso não quer dizer necessariamente que essas habilidades não sejam desenvolvidas, mas mostra que a maioria das organizações não tem nenhum profissional especializado ou especialista nessa área que poderia ajudar a promover um uso mais efetivo dessas tecnologias.

 

ARTUR: É uma pena que a gente ainda enfrente questões como essa porque a Inteligência Artificial pode vir pra ajudar a tampar vários desses buracos na nossa infraestrutura e no funcionamento das OSC brasileiras.

 

Nos EUA, por exemplo, quase 60% dos usuários de internet já estão navegando no ChatGPT, segundo uma pesquisa do Bank of America. Por lá, eles já vêm aplicando ativamente, conduzindo uma série de estudos e disponibilizando materiais para o uso da tecnologia na filantropia — algo que não temos visto por aqui.

 

Se a gente tá falando até agora do quanto faltam recursos pra investir um mínimo em tecnologia, dá pra dizer com certeza que a comunicação das organizações também sofre do mesmo mal. Faltam recursos, equipamentos e principalmente pessoal que realmente consiga se dedicar a criar uma estratégia de comunicação que faça sentido pra aquele projeto.

 

Então, quando faltam mãos pra produzir conteúdo sobre o trabalho e o dia a dia da organização, garantir uma presença constante nas redes sociais e escrever artigos, plataformas como o ChatGPT poderiam estar aí pra complementar esses esforços.

 

Claro, a pessoa precisa saber o que perguntar, ter um mínimo de preparação pra usar a Inteligência Artificial da forma mais eficiente possível. Mas também não é nada de outro mundo…

 

Basta uma pesquisa rápida na internet pra encontrar prompts com comandos e instruções que ajudam a tirar o máximo dessa ferramenta.

 

ROBERTA: E, Artur, pra dar uma ideia do potencial da Inteligência Artificial pro setor, decidimos fazer um pequeno exercício. Perguntamos pro próprio ChatGPT como ele pode ajudar no dia a dia das ONGs. Vamos ouvir o que ele respondeu:

 

CHATGPT: O ChatGPT pode ser usado para fornecer atendimento automatizado aos usuários, respondendo a perguntas frequentes e dando informações básicas sobre a organização. Se a organização oferece serviços de suporte ou aconselhamento, o ChatGPT pode ser treinado para fornecer respostas e orientações iniciais, ajudando a direcionar as pessoas para o suporte apropriado. O ChatGPT também pode ser usado para disseminar informações educativas e conscientizar as pessoas sobre questões relacionadas ao trabalho da organização. A ferramenta pode ser configurada para interagir com doadores e interessados em apoiar a organização, fornecendo informações sobre projetos e iniciativas atuais e respondendo perguntas sobre como doar e se envolver com a causa. Também pode ser usado para coletar feedback e realizar pesquisas com os usuários, solicitando opiniões, sugestões ou experiências, ajudando a organização a compreender as necessidades e preferências do público.

 

ROBERTA: E a plataforma deu uma última dica essencial pra gente saber usar o ChatGPT da melhor forma: ele não funciona sozinho, precisa da interação humana. Então só precisamos fazer algumas perguntas pra direcionar a ferramenta à resposta mais adequada, editamos um pouquinho o resultado… e voilá!

 

Lembrando que a Inteligência Artificial ainda pode ajudar nos processos e na gestão interna da empresa. Basta fazer as perguntas certas que ela vai indicar associações que vale a pena procurar em busca de apoio ou mesmo em quais perfis sua organização pode focar pra captar doações.

 

E olha, além de alimentar blogs e redes sociais do seu projeto de forma mais ágil e eficiente, ainda pode te ajudar a botar por escrito as estratégias da instituição de maneira ainda mais clara e objetiva, analisando com rapidez suas metas, indicadores de impacto e métodos pra implementação.

 

ARTUR: Nossa, Roberta, são tantas as possibilidades e caminhos que a gente pode seguir usando a Inteligência Artificial! Sem falar no potencial que ainda nem conseguimos explorar ou os próximos avanços dessa tecnologia.

 

Aproveitando que a gente entrou nesse ponto da nossa conversa, sinto que já tá chegando a hora de chamar nossa convidada de hoje. Com toda uma carreira unindo comunicação, marketing e impacto social, acho que não tem ninguém melhor pra tratar do assunto do que a Amanda Riesemberg.

 

À frente do BC Marketing, do Nossa Causa e da Casa Caos, ela já vem atuando há um bom tempo fazendo essa ponte.

 

Vamos ouvir agora como ficou esse papo que batemos com ela:

 

ARTUR: Oi, Amanda. Obrigado por estar aqui conosco, é um prazer ter o seu conhecimento aqui agregando ao nosso programa.

 

AMANDA: Bom dia, muito obrigado pelo convite! Estou feliz de poder falar sobre esse assunto que é um assunto que eu estou estudando bastante, que eu acho que o terceiro setor precisa se apropriar cada vez mais.

 

ARTUR: Aproveitando a deixa, queria que você contasse um pouco mais da sua experiência e o que você vem estudando nesse meio. O que tem feito a sua cabeça nesse mundo da tecnologia associada à comunicação? 

 

AMANDA: Eu sou co-fundadora da BC Marketing, que é uma agência de marketing para iniciativas de impacto social. Nessa minha jornada de estudar publicidade e propaganda, eu tenho entendido que existem muitos conceitos da comunicação e do marketing que o terceiro setor ainda não se apropriou completamente e um deles é a tecnologia. Eu acredito muito que a tecnologia pode facilitar a vida de quem trabalha, não só um terceiro setor, mas de todo mundo, isso pode nos ajudar a gerar cada vez mais impacto social. 

 

Eu também tenho uma iniciativa aqui em Curitiba que é a Casa Caos, um espaço de trabalho compartilhado onde a gente faz eventos, experiências, palestras e cursos sobre tecnologia e inovação. É essencial repensar esses conceitos e entender que eles estão no nosso dia a dia, a gente precisa só compreender um pouco mais e também começar a estudar sobre isso. Esse é o futuro do trabalho, é a maneira de otimizar o trabalho remoto. A Inteligência Artificial apareceu pra mim nesse contexto de produtividade, e vejo sendo pouco discutida no terceiro setor, por isso decidi me aprofundar e ver como que nós do terceiro setor poderíamos utilizar a Inteligência Artificial para otimizar os nossos trabalhos.

 

Entrei em contato com um relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho, que saiu esse ano, e ele fala que: mais de 70% das organizações não governamentais estão planejando adotar tecnologias de inteligência artificial. Óbvio que muitas vezes não estão considerando a diversidade do Brasil ou nossas individualidades, mas só mostra o quanto as organizações em outros lugares do mundo estão pensando e se aprofundando sobre inteligência artificial.

 

ARTUR: Entrando no tema do programa, que é inteligência artificial, eu tenho uma pergunta dupla. Quando se fala em inteligência artificial, que as pessoas estão variando entre uma percepção mais conservadora, de que é mais uma ferramenta e mais uma tecnologia que entra na esteira da transformação digital e portanto seria uma inovação incremental, mas já tem outros que acham que é uma disrupção como há muito não se via, desde, talvez, a criação da própria internet? E o que você tem visto de experiência, no setor do impacto social, dessas tecnologias, como o ChatGPT? 

 

AMANDA: Eu estou do lado que acredita que é uma das maiores disrupção da humanidade, desde a criação da internet. A inteligência artificial está só começando, então vem muito mais por aí e vai ser difícil pra gente aprender, entender e se adaptar a esse novo formato. É muita coisa e a velocidade das mudanças e das novidades é imensa. 

 

Eu palestrei sobre esse tema um festival BCR agora e eu planejei o que iria falar no começo desse ano, mas o que eu realmente falei foi algo totalmente diferente porque as mudanças são muito rápidas. Isso vai gerar, de certa maneira, com várias influências em relação à nossa saúde mental em como que a gente lida com todas essas mudanças, mas eu acredito que não tem mais volta. Quem ainda não começou a utilizar a inteligência artificial ou quem ainda não está buscando se inteirar desse tema em algum momento vai, obrigatoriamente, ter que aprender e começar a utilizar no seu dia a dia. 

 

Em relação à utilização da inteligência artificial no nosso setor, eu não tenho visto muitas coisas. Venho acompanhado algumas marcas utilizando inteligência artificial nas suas diversas facetas, mas no terceiro setor, vejo sendo usado mais no dia a dia, na produção de conteúdo mesmo. Eu tenho um grupo de WhatsApp com algumas figuras do terceiro setor e eu fiz uma pesquisa informal sobre a utilização da inteligência artificial no dia a dia, principalmente para saber se as pessoas ainda estavam confusas com a ferramenta ou se já utilizavam no dia a dia, e ainda tem muita gente desconfiada, mas, felizmente, muitas pessoas estão utilizando no dia a dia em tarefas como: escrever a justificativa de algum projeto, ajudar a pensar em ideias para uma campanha e otimizar o texto de algum e-mail, que é a forma mais tradicional da utilização de uma ferramenta, como o ChatGPT, que é algo que eu uso todos os dias. 

 

ARTUR: O ChatGPT tem sido, como você falou agora, empregado de uma forma mais utilitária, os trabalhos que são mais mecânicos têm sido substituídos por essas ferramentas, o que gera uma otimização de custos da força de trabalho. Não se tem dúvida que essas ferramentas otimizam muitos processos.

 

A gente tem discutido muito, do lado de cá, o uso desse tipo de tecnologia em sistemas complexos, como é o do impacto social, porque o posicionamento utilitário, muitas vezes, acaba deixando de lado nuances que, às vezes, são fundamentais. Como você disse do relatório que estudou, nem sempre se consideram as individualidades do Brasil e as características regionais no nosso setor social não tem muito como escapar disso. Realidades diferentes às vezes entram em choque no próprio trabalho. Sendo obrigado a lidar com as complexidades, as empresas, em geral, escolhem uma fatia para lidar que, em geral, é a que dá retorno financeiro e deixa externalidades de lado e sobra tudo isso para o setor social e para as ONGs lidarem. Você tem a impressão de que o setor social tem uma dificuldade maior de empregar essas tecnologias  justamente por essa complexidade maior que demanda uma humanidade ou uma inteligência humana maior? Como que você vê isso conceitualmente? 

 

AMANDA: A inteligência artificial quando vai desenvolver o conteúdo que você pediu pra ela, ela vai refletir o que está disponível na internet porque ela aprendeu com a produção humana por todos esses anos, de acordo com o que está disponível na internet, então ela vai refletir preconceitos e viés com certeza, porque a nossa sociedade reflete isso, então cabe a nós que, trabalhamos com impacto social, ter a sensibilidade de perceber esses preconceitos. 

 

Mas, por outro lado, eu acho que tem outras maneiras da gente utilizar que, não necessariamente, seja na parte de produção de conteúdo, por exemplo esse relatório que eu falei pra você antes, ele está em inglês tá em inglês e ainda tem mais de 200 páginas, sejamos sinceros, eu não tive tempo de ler esse relatório, não tem como encaixar na agenda, então eu usei a inteligência artificial para me apontar onde estava o conteúdo relacionado a organizações do terceiro setor para que eu focasse a minha leitura. Então isso otimiza o meu processo, além disso para quem não fala inglês, por exemplo, ou outras línguas estrangeiras, tem acesso a todo o conteúdo disponível independente da língua porque a inteligência artificial também facilita essa tradução. Dá para ir além da questão da sensibilidade social  e trazer o acesso a muitas informações que a gente não tem pra qualquer pessoa que utilize a ferramenta. 

 

ARTUR: Perfeito, isso é interessantíssimo, porque acaba existindo uma espécie de um paradoxo do da inteligência artificial que ao mesmo tempo que ela tem um potencial de democratizar a educação, por exemplo se uma pessoa que não sabe inglês ela vai poder usar a ferramenta para consumir esse conteúdo da mesma forma, a própria internet democratizou muito o conteúdo. Outro dia eu estava vendo o Kondzilla, um menino da periferia, falando que ele aprendeu tudo de vídeo por conta própria no YouTube quando ele tinha internet e o cara virou o rei do YouTube. Por outro lado, muitas pessoas não têm nem acesso à internet e vão ficar ainda mais apartadas, como se a gente criasse uma espécie diferente, como se uma fosse um ciborgue e a outra tivesse parado no tempo. Como você vê a sincronia desse processo, das revoluções que a gente tem no mundo desde a revolução industrial à terceira quarta revolução, sempre tem esse potencial de gerar mais desigualdade social?

 

AMANDA: Eu acredito que isso vai continuar acontecendo e por isso é tão importante que nós, atores do setor, busque alcançar as pessoas que não têm acesso a esses temas, um exemplo é que, aqui na Casa Caos, a gente está com um edital para trazer organizações e negócios sociais presencialmente para fazer coworking aqui e a gente vai mentorar essas pessoas buscando a transformação digital dessas iniciativas sociais. A gente sabe que esse conteúdo está limitado e, mesmo as pessoas que acessam a internet elas vivem em suas bolhas e não sabem nem como buscar esse tipo de conteúdo. Eu acompanho o Aqui se Faz, Aqui se Doa, mas eu sei que tem pessoas do nosso setor que não conhecem, e não é por ignorância, mas porque, de alguma maneira, não chegou até elas e daí cabe a nós trazer isso em todas as os impactos que a gente tiver. Como as pessoas podem se interessar por esse tema? Então eu me identifico hoje como uma ativista, porque não só é nos meus espaços online, eu quero trazer a questão de causas e do acesso a civilidade do conteúdo nos espaços que eu vivo e eu também busco me colocar em outros espaços para trazer um conhecimento que pode, muitas vezes, ser limitado ao meu ambiente de trabalho e a minha rede. Eu acho que a gente tem a função também de reforçar isso, porque a igualdade social está posta e tende a aumentar com novas tecnologias, mas aí também cabe às grandes corporações terem um olhar atento para isso, e daí que vem um tema também que eu tô buscando entender cada vez mais que é o ESG.

 

ARTUR: Amanda, conta um pouco mais pra gente dessas mentorias que você falou. O que vocês têm feito, quais as principais demandas, onde estão os maiores desafios no processo? 

 

AMANDA: O que eu percebo é que existe uma ausência muito grande no terceiro setor na área de comunicação, as organizações não têm maturidade digital por conta da ausência de equipes preparadas para isso. 

 

Só pra você ter uma ideia existe um benefício que o Google Grants que disponibiliza 10 mil dólares, então a gente ajuda muitas organizações aqui na agência a conseguir isso também é e a gerenciar. Na minha visão é muito democrático porque ele é simples e rápido, mas, ainda sim, ele tem pontos e especificidades, como a organização precisa ter um e-mail próprio para a organização, além de um site verificado, então são essas coisas pequenas que exigem uma compreensão da lógica da internet e dos sistemas e as organizações pecam bastante e também pecam na otimização dos seus trabalhos no dia a dia, principalmente na utilização das ferramentas da internet, e sim estou novamente falando da inteligência artificial, porque a inserção de uma ferramenta de comunicação interna é uma maneira de otimizar o trabalho. Ainda estamos muito no início nesse processo de transformação digital com as organizações, mas eu sei que tem muitas outras que vão utilizar a inteligência artificial e vão ser referência, e ajudar as organizações menores a descobrir caminhos e como utilizar essa tecnologia para gerar cada vez mais em parte social.

 

ARTUR: Perfeito! Você nota que tem outros países mais avançados que a gente? Vimos um dado de que nos Estados Unidos já se calcula que 60% dos usuários de internet já usaram o ChatGPT, vocês têm dados mais específicos sobre, do uso não só das ferramentas de inteligência artificial, mas da transformação digital nas organizações sociais?

 

AMANDA: Eu não tenho dados, mas eu acompanho vários canais online de organizações ou de hubs de conteúdo para o terceiro setor internacionais e esse assunto da inteligência artificial já está sendo trazido há mais tempo, porém ainda vejo que o assunto é bem focado em produção de conteúdo, como criar uma carta de agradecimento para doadores, como criar uma régua de relacionamento, por exemplo segmentando doadores utilizando a inteligência artificial e eu sou uma pessoa mais analista eu não sou da parte técnica de desenvolvimento, mas existem mais opções que a gente pode trazer com inteligência artificial, como bots, eles são uma evolução do chatbot, que ele pega o conteúdo do nosso site e traz pro usuário numa troca de informação, mas eu não tenho visto organizações utilizando essas ferramentas. 

 

A gente também tem a questão de vídeos e imagens com IA que não utilizamos muito, porque também acaba sendo um processo mais complexo de se compreender e mais raro de se executar, mas todos vimos nas televisões de todo Brasil, o comercial da Elis Regina com a Maria Rita, esse é exemplo de uma tecnologia de inteligência artificial chamada deep fake. Isso é uma coisa que não se vê sendo muito utilizado pelas organizações da sociedade civil, mas eu queria comentar um case de uma marca chilena, chamada NotCo, que, a partir da inteligência artificial, como seria uma galinha, uma vaca e outros animais que são consumidos, se eles vivessem até o tempo de idade que eles supostamente deveriam viver, então como é um corpo velho de um porco, por exemplo, a inteligência artificial simula esses animais envelhecendo porque a gente não vê eles envelhecendo na sociedade, são abatidos ainda muito novos, isso é algo muito impactante, principalmente para mim como uma pessoa vegana, ver como a gente pode utilizar a inteligência artificial para gerar consciência através de de imagem.

 

ARTUR: Mesmo o uso sendo mais restrito ao conteúdo também são diferentes formas de usar o conteúdo. Você pode simplesmente reproduzir os modos de pedir dinheiro, mas existem formas mais inteligentes e sofisticadas que ainda demandam uma criação. 

 

Muito obrigada, Amanda! Um prazer ter você com a gente, e, pelo andar da carruagem, você vai voltar bastante aqui sempre vai ter algo novo e completamente disruptivo para falar.

 

AMANDA: Sim, é bastante para acompanhar, mas o ChatGPT é a ferramenta mais fácil de se compreender. Muita gente utiliza no dia a dia, mas existem outras, como plug-ins que facilitam a utilização do próprio ChatGPT em outros espaços que você estiver trabalhando. Só gostaria de citar mais uma coisa, vi no Linkedin uma publicação do Rodrigo da Phomenta em que ele levou os dados do número de ONG’s do terceiro setor e pediu para o ChatGPT fazer uma análise a partir dos governos, desde a ditadura militar, quantas ong’s surgiram em cada governo. O ChatGPT gerou um código que vira um gráfico e ficou muito bacana para visualizar e entender melhor a análise. Cabe a nós sermos pessoas criativas na criação desses comandos. A curiosidade existe em todos nós, e precisamos começar a experimentar as tecnologias e utilizar a nosso favor e a favor da humanidade. 

 

ARTUR: Amanda, muito obrigado de novo!

 

AMANDA: Muito obrigada, um prazer e uma honra estar aqui! Escuto e indico muito o podcast, faz até parte do Onboarding da equipe da BC alguns episódios. Obrigada pelo convite e até breve! 

 

ARTUR: Pelo que Amanda fala acho que ela corrobora com o que a gente já vinha falando, a inteligência artificial tem ferramentas que abrem novos horizontes e vem pra ficar, não tem muito como fugir delas. Embora a Amanda reforce como esse movimento é muito embrionário, principalmente no setor social, e, falando em expandir horizontes, acho que chegou o momento que o nosso público tanto gosta que é o nosso quadro: Pra Saber Mais. 

 

ROBERTA: Que bom! Eu estava ansiosa para esse momento aqui da grande lista da lição de casa. Vamos começar.

A primeira sugestão de hoje na verdade é ir um pouco além do próprio ChatGPT. Ele é a plataforma mais conhecida pra gerar conteúdo de texto, mas existem muitas outras disponíveis. Por que não fazer testes com a Notion AI, o Jasper, o BAI Chat, o WriteSonic? Dá até pra descobrir quais funcionam melhor pra você ou pra um determinado projeto. E você pode ir além, testando Inteligências Artificiais que criam outros tipos de conteúdo, como o Midjourney e o DALL-E, geradores imagens. Na descrição do episódio, você encontra uma lista de possibilidades.

 

E, se você ainda tem muitas dúvidas e inseguranças na hora de começar a usar a Inteligência Artificial, principalmente na filantropia, vale a pena dar uma olhadinha nos cursos online oferecidos por organizações como a AI For Good ou até ler um ebook como o produzido pela AI4Giving, “Desbloqueando a Generosidade com Inteligência Artificial: O Futuro do Doar”, que está disponível 100% digital.

https://aiforgood.itu.int/eventcat/webinar/

https://static1.squarespace.com/static/5e46f1d6cda3327140240e10/t/5ed13148b8dc7749a19547b1/1590767969432/AI4Giving-FINAL-2020528.pdf


ARTUR: Você aí de casa já ouviu falar em API? O termo significa interface de programação de aplicações. Basicamente, é um código que permite que dois programas diferentes se comuniquem entre si. Quando integrados à Inteligência Artificial, eles facilitam e automatizam operações muitas vezes complexas e demoradas Por exemplo, gerar vídeos, criar uma apresentação em Power Point, gerar conteúdo, mapear e atrair doadores… Pra facilitar sua vida, a gente deixa aqui links de APIs que você pode integrar ao dia a dia da sua organização e também uma lista com prompts de comando específicos pra filantropia, criada pela organização britânica Charity Excellence.

https://www.charityexcellence.co.uk/Home/BlogDetail?Link=Charity_ChatGPT_Prompts_List

 

Outra sugestão é um vídeo super inspirador do filantropo estadunidense Nathan Chapell, da ONG de luta contra o câncer DonorSearch. Lá em 2018, bem antes dos últimos avanços nessa área, ele já incentivava o uso de Inteligência Artificial pra uma filantropia baseada em dados e mais assertiva na captação de doações.

https://www.youtube.com/watch?v=umOPdnhMpdw

 

ROBERTA: Pois é, Artur, com todas essas dicas eu fico, em primeiro lugar, um pouco tonta sem saber por onde começar porque tem muitas possibilidades disponíveis, mas, mais do que ficar com medo do fim do mundo e dos robôs, como muita gente está, eu fico animada pensando que essas ferramentas podem desocupar a gente dos trabalhos braçais e nos permitam mais tempo livre para pensar e nos dedicar aquilo que nos importa mais, e nas coisas que nossa presença humana, carisma e amor pela causa se fazem essenciais. 

 

Muitos de nós gastamos muito tempo fazendo respondendo e-mails, fazendo atas de reuniões, PowerPoint e tabelas do Excel. Se tiver aí um robô para fazer isso  eu vou ficar bem contente. 

 

ARTUR: É interessante, mas a minha maior descrença ainda é no ser humano. Muitas tecnologias foram desenvolvidas a princípio sem más intenções, mas tendo a possibilidade de gerar más intenções com elas foram geradas. Não gosto muito quando se dá oportunidade tão de bandeja de fazer cagada, o ser humano adora fazer alguma. E eu fico pensando sempre em uma coisa bem analógica que eu vi que foi um PPT que eu vi esses dias que era uma tela que era simplesmente que dizia se todas as empresas estão salvando o planeta quem é que está destruindo ele? 

 

ROBERTA: O papo tá ótimo, mas infelizmente mais um episódio vai chegando ao fim. O lado bom é que lá nas nossas redes sociais essa conversa nunca termina. Aproveita pra dar uma olhadinha no nosso Instagram e LinkedIn no @institutomol. Comenta e compartilha com mais gente se você curtiu o episódio de hoje. E pode deixar sua crítica ou sugestão pra gente ir se aprimorando ainda mais nos próximos. Só não esquece de distribuir aquelas estrelinhas no Spotify pra que mais gente possa ouvir e participar dessa conversa…

 

ARTUR: Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior. O episódio teve produção e roteiro de Leonardo Neiva, com roteiro final e direção de Ana Ju Rodrigues e Vanessa Henriques, assistência de gravação de Vitória Prates, arte da Glaucia Ribeiro e divulgação de Júlia Cunha, todas do Instituto MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. 

 

Esse episódio usou áudios do Observatório do Terceiro Setor, Google e ChatGPT.


Até a próxima!

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