Por Roberta Faria e Rodrigo Pipponzi*
Em 2020, foi aquele baque: com a pandemia, muitos eventos foram cancelados de última hora — desde casamentos até megaencontros corporativos. No terceiro setor não foi diferente. Sem encontros presenciais, as organizações da sociedade civil precisaram exercitar a criatividade para conseguir recursos e manter suas atividades.
As festas juninas, bazares e jantares, que costumavam ser uma grande fonte de arrecadação para ONGs, migraram para o online ou se refugiaram em soluções como delivery e drive thru de comes e bebes. Vimos surgir parcerias com aplicativos e meios de pagamento, sorteios online e, claro, muitas e muitas lives.
Só que, como muitas outras invenções do “novo normal”, até a live teve vida curta. Depois de bater recordes de arrecadação com apresentações de cantores famosos, como a da cantora Anitta, que arrecadou R$ 1 milhão em maio de 2020, elas foram minguando. Sem contar que nem toda organização tem estrutura para fazer grandes transmissões ao vivo.
“Parece simples, mas a live demanda uma estrutura e uma energia de captação. Esses modelos de encontros menores, debates, com custo mais baixo e mais pautado nas relações de confiança, pode promover relações mais duradouras para as ONGs”, defende Débora Borges, gerente de Relacionamento com a Sociedade do Fundo Brasil de Direitos Humanos.
Em entrevista para o podcast Aqui se Faz, Aqui se Doa, produzido pelo Instituto MOL e pelo Movimento Bem Maior, ela falou sobre as estratégias criadas pelas organizações da sociedade civil para driblar a pandemia e continuar arrecadando doações.
Seja qual for o caminho escolhido pela ONG, é preciso refletir sobre como manter o doador próximo ao seu trabalho. Por exemplo: uma live com shows de artistas pode atrair uma boa atenção, mas é preciso pensar em formas de criar um laço com os doadores. Eles se identificam com a sua causa? Estariam abertos a receber uma comunicação sobre suas atividades? Poderiam se tornar doadores recorrentes?
“A tecnologia facilita, mas é a estratégia pensada pelas pessoas que integram a organização que vai fazer a diferença”, afirma Débora. Há profissionais dedicados a fazer essa função, os chamados captadores de recursos. Eles podem auxiliar na busca de um modelo que atraia doações sem deixar de fazer sentido para a organização.
Para aumentar o repertório de possibilidades, Débora incentiva a troca de experiências. “Acreditem que tem muita gente disposta a compartilhar. Isso é riquíssimo para buscar alternativas criativas para sustentar esse trabalho das organizações, que é tão caro para a democracia do nosso país”, conclui.
*Texto publicado na coluna Razões para Doar, de Época Negócios, em maio de 2021.