Transcrição EP #56 — A próxima geração de doadores

Roberta: Já faz um tempo que a gente ouve falar que os herdeiros de bilionários dessa geração, os millennials e, futuramente, a geração X, vão doar muito mais do que os pais doaram a vida toda, e também começam a doar mais cedo. Muitos deles assumem compromissos públicos e falam sobre o assunto com naturalidade e propriedade. Mas será que o mesmo acontece com os meros mortais? Entre uma geração e outra, as doações sempre aumentam? Diminuem? E como garantir que isso aconteça? Uma das saídas possíveis é ensinar desde cedo sobre a importância da gentileza e da generosidade. É o que faz a nossa entrevistada de hoje, Marina Pechlivanis, que tem um projeto incrível voltado para a aprendizagem da solidariedade por crianças e jovens.

 

Eu sou Roberta Faria

 

Artur: Eu sou Artur Louback

 

Roberta: E a próxima geração de doadores é o tema de hoje no…

 

Artur e Roberta: Aqui se Faz, Aqui se Doa!

 

Artur: Está começando mais um Aqui se Faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação do Infomoney.

 

E o assunto de hoje é algo que me toca muito, como pai. Todo mundo que tem filhos e filhas pensa que legado vai deixar para os filhos e filhas, sobrinhos e sobrinhas, alunos, por que não? O que eles vão fazer com isso, especialmente as variáveis morais: solidariedade e filantropia. Como eles vão levar para frente essas práticas?

 

Roberta: Pois é, Artur. Pra quem não nos acompanha há tanto tempo ou tá chegando agora no podcast, eu e o Artur somos casados, e temos quatro filhos. Uma baita responsabilidade e também uma alegria de duplicar os nossos valores para quem vai continuar aqui depois de nós.

 

Artur: Na verdade, a gente vai diminuindo os valores. (risos) Brincadeira! É bacana observar o quanto as coisas mudam, né? Por exemplo, eu doou e falo muito mais abertamente sobre doação que meus pais. Acho que eles tinham menos para doar também, mas principalmente porque noto que a solidariedade deles era muito movida pela igreja. Eles são cristãos e tinha essa cultura de não falar. Hoje, a gente já trata isso de forma muito mais aberta e tem mais orgulho disso, de certa forma.

 

Roberta: E com certeza as crianças vão superar a gente nesse aspecto, porque elas convivem com essa visão mais aberta da doação desde pequenininhas! E já dá para notar essa tendência quando a gente compara as gerações de doadores, e aí tô pensando em grande doadores, filantropos bilionários, que se comprometem a doar suas fortunas cada vez mais cedo por meio de pledges. Aliás, sabe o que é pledge?

 

Rafa Carvalho: E aí, pessoal? Vamos para mais um glossário? Dessa vez, ele é gringo, hein? Pledges são compromissos públicos firmados por pessoas com muita visibilidade — e também muito dinheiro — dizendo: “olha, eu tenho bastante grana, e vou doar a maior parte dela ainda em vida”. Essas pessoas geralmente fazem uma carta aberta, e se filiam a movimentos que auxiliam no cumprimento dessa promessa.

 

Um dos casos mais famosos, que você já deve ter ouvido falar, é o do Bill Gates, criador da Microsoft, que assumiu esse pacto e ainda inspirou muita gente a fazer igual pela iniciativa The Giving Pledge.

 

Recentemente uma notícia que repercutiu bastante no Brasil foi a do cofundador do Nubank, o colombiano David Velez, e sua esposa, a economista Mariel Reyes, que estão ali pela casa dos 40 anos, e se comprometeram a doar uma fortuna que ultrapassa 5 bilhões de dólares ainda em vida. Na carta aberta deles, eles usaram umas frases muito boas. A minha preferida foi essa aqui: “Nós não podemos usar 2 pares de sapato ao mesmo tempo: tem um limite de quanto dinheiro alguém consegue gastar, e a partir de um certo ponto, riqueza adicional não traz felicidade adicional ou utilidade. Mas a satisfação de construir uma vida cheia de propósito é infinita”. Bonito, né? Eu sou Rafaela Carvalho, e toda semana eu ajudo a desvendar um termo importante para a cultura de doação. Esse foi mais um! Até a próxima!

 

Roberta: Pronto! Agora você já sabe! Queria ter a Rafa assim no meu ouvido sempre explicando as coisas que a gente não sabe. Melhor que jogar no Google, né?

 

Artur: E muito mais eficiente e simpática! Rafa para Google! Acho que quando tiver uma eleição para Google, vou votar na Rafa. Agora, se a gente tá pensando na nova geração de doadores — e vamos combinar que nós já estamos cringe, não gosto dessa palavra, mas a Roberta adora e os roteiristas também, então não é conosco, é com os mais jovens — é preciso pavimentar esse caminho que leve a uma sociedade mais doadora, não Roberta?

 

Roberta: Com certeza, e esse é um trabalho que tem múltiplas frentes. Falamos aqui das nossas expectativas e práticas enquanto família, mas a gente não pode menosprezar também o papel das escolas nessa batalha, o quanto esse ambiente pode enriquecer essa conversa, às vezes começar essa conversa e de lá trazer para dentro de casa, com materiais e metodologias que já estão prontinhas, só esperando para serem aplicadas…

 

Artur: Você tá pensando na Plataforma de Educação para a Gentileza e Generosidade, né?

 

Roberta: Sim! Sou muito fã!

 

Artur: Mas não vamos estragar a surpresa, vamos deixar para quem sabe tudo sobre o assunto nos contar mais: eu bati um papo com a Marina Pechlivanis, nossa entrevistada de hoje.

 

Roberta: A Marina é publicitária, sócia-fundadora da agência Umbigo do Mundo, professora universitária, autora de vários livros, e criadora e mantenedora da Plataforma de Educação para a Gentileza e a Generosidade Dia de Doar Kids, o qual o Instituto MOL que produz esse podcast tem muito orgulho de ser um dos patrocinadores.

 

Artur: Marina, seja bem-vinda ao nosso programa! Obrigada por aceitar nosso convite!

 

Marina: Oi, Artur! Que alegria! É sempre uma honra participar de todas as iniciativas do Instituto MOL.

 

Artur: Marina, embora a gente já tenha detalhado um pouco seu currículo na apresentação, acho que para começar seria legal você contar um pouco para a gente como começou o seu envolvimento com esse público, mais jovem, e a trajetória que culminou na fundação da Plataforma de Educação para Gentileza e Generosidade.

 

Marina: Artur, pergunta maravilhosa, porque toca muito na minha história. Eu sou professora formada, fiz o velho e bom magistério e com 16 anos tinha noção dessa vocação. É cedo, né? As pessoas falam: “puxa, mas tão jovem?”. Eu tinha essa vocação de poder ensinar e sempre me preocupei: “puxa, eu sou jovem, como vou ensinar?”. Comecei a dar aula particular antes disso, bem novinha. Isso foi criando um fascínio, uma vontade de estudar cada vez mais sobre esse tipo de assunto.

 

Segui minha trajetória: do magistério fiz propaganda e marketing, entrei para o mundo da mercadologia, sempre entendendo que o mercado também, com a sua capilaridade, podia se transformar em uma grande sala de aula. E tive a oportunidade de, ao longo da minha trajetória, em várias empresas em que trabalhei, e na própria Umbigo do Mundo, onde atuo hoje de forma ativa como sócia-fundadora, de trabalhar com vários projetos para inúmeras marcas com esse olhar de educação, de transformação social. Mesmo antes de existir o conceito de ESG, essa formalização conceitual que nós temos hoje, já tinha esse olhar nato: algo que vinha de dentro, não uma imposição da sociedade, uma imposição mercadológica.

 

Em paralelo, comecei a escrever livros de literatura infantil. Então, tenho um livro chamado: “O guardador de palavras” que foi lançado em 2000 e, desde então, está na grade curricular de diversas escolas como livro paradidático, entrou no Programa Nacional do Livro Didático, entre outros. Também tenho o “Tuik: o Amigo Imaginário” e, desde então, sempre me mantive muito próxima das crianças visitando escolas, fazendo palestras… Mesmo agora, virtualmente, continuo com esse processo de aproximação com as crianças e com as escolas.

 

E foi por conta de outro livro, “Economia das Dádivas”, que lancei em 2016 e minha aproximação com esse olhar do social, do terceiro setor. Por conta do “Economia das Dádivas”, conheci muita gente, por exemplo, o Dia de Doar, o Giving Tuesday nos Estados Unidos, quando estava pesquisando o livro. Quando falo, Artur, ninguém acredita, falam: “bom, no primeiro ano do Giving Tuesday?” Sim! Eu fui em uma loja e tinha um sticker: Black Friday — que todo mundo sabe o que significa a Black Friday — e do lado o Giving Tuesday. Falei: “gente, não sei o que é isso, mas quero isso para o meu livro!”, porque fui fazer pesquisa. E foi assim a nossa aproximação entre esses estudos, esse olhar de entender relações de trocas no mundo dos negócios, relações de trocas sociais e a cultura de doação, olhar para inúmeros valores humanos, humanitários que são fundamentais para a nossa convivência harmônica, até para a nossa prosperidade como planeta.

 

Então, foi essa química: o lado da educação desde sempre, e o lado do social conectado pela literatura. Agradeço diariamente a literatura que me conectou tanto com esse olhar para as crianças, o olhar acolhedor junto às crianças, e também esse olhar de entender relações de troca, olhar social, olhar do terceiro setor.

 

Artur: Que legal! Marina, a gente comentou aqui no começo do episódio como a gente tem visto, ao longo das gerações, uma mudança de comportamento em relação à cultura de doação, à solidariedade — como as gerações mais jovens já têm vindo com esse chip. Em grande parte, acho que isso vem por uma influência dos adultos que tem colocado isso mais nas discussões com os filhos, e mesmo no âmbito escolar isso passou a ser mais debatido. A gente vê a questão, principalmente, de meio ambiente. Quando eu era criança, isso era tratado na aula de ciências de forma mais formal e teórica: a gente aprendia o ciclo da água, mas não com a nossa participação nessa história. E já vejo as crianças agora, tenho uma filha de 6 anos que já fala em reciclar, que não pode arrancar as plantas e estragar a floresta.

 

Queria que você falasse um pouco como que a gente pode fazer mais e mais a nossa parte nessa construção. O que cabe a nós adultos nessa construção?

 

Marina: Artur, é um desafio incrível que, de uma certa forma, é facilitado… Você citou um chip e muito possivelmente é isso que está acontecendo, porque a gente convive com muitos jovens — e na Plataforma de Educação para Gentileza e Generosidade temos programas e metodologias para as escolas, então temos aprendido muito com os professores. Temos programas e materiais para as famílias fazerem junto com as crianças. Temos programas para jovens. E o que a gente percebe é que o jovem, cada vez mais jovem, por exemplo, com 12, 13, 14 anos já tem essa consciência social.

 

Muitos porque ouviram dos seus pais, e esse é um ponto intrigante! Gosto de questões inquietantes! Outros, porque perceberam — e sempre entrevisto, tenho um programa de entrevistas no Observatório do Terceiro Setor em que converso sempre com jovens para entender quando surgiu isso? Quando era pequeno, estava na escola e sofri bullying. Quando vi uma injustiça racial com um colega meu. Quando percebi a desigualdade olhando nas ruas… Talvez esse despertar, essa aquisição de consciência — que é tão importante e tão complexo! Como alguém adquire consciência? Não sei se vem geneticamente transformado, ou se a gente vive em um contexto em que certas coisas como intolerância, polarização de informações, desrespeito, violência — especialmente essa questão da violência verbal — está tão em voga, tão circulante, que antecipa esse desenvolvimento perceptivo das novas gerações.

 

Se de um lado, os pais estão mais atentos à importância disso, educar os filhos para isso, para que sejam atentos ao entorno, doadores, voluntários, participativos… Por outro lado, essas crianças já vem mais pré-dispostas pelo contexto. Tem aquela famosa frase: a ocasião faz a situação. O momento faz o movimento e isso catalisa algumas questões que, há 15 ou 20 anos, não eram premissas relevantes nas questões básicas de formação de um indivíduo.

 

Artur: Aproveitando o gancho que você falou de educação, queria entender como a escola entra nessa história. E, até uma curiosidade: pela sua experiência, isso gera alguns conflitos com pais? De enfiar uma matéria dessa que, muitas vezes, é entendida como algo que pode ter relação com política, um negócio muito de humanas… Tem pais que não estão acostumados com isso, tudo isso é conflituoso… Tem gente que tem dificuldade com a entrada disso em currículos de escolas?

 

Marina: Você falou um ponto muito interessante de questão política. Sempre que a gente fala de desenvolvimento humano e social, tem gente que faz toda uma classificação, rotulagem: assuntos assim são dessa bandeira, esses outros são de outra bandeira… Essa foi nossa preocupação no início e, cabe dizer que, a Plataforma de Educação para Gentileza e Generosidade surgiu justamente dessa sua questão, dessa sua dúvida: como a gente faz para que a transformação, essa conscientização da sociedade aconteça antes? Porque, como você sabe, a gente trabalhou de forma ativa com a campanha do Dia de Doar, criar jingles, mobilizar os adultos… E, de novo, as pessoas não reconhecem o que elas não conhecem e, por uma sociedade que valorizou uma série de quesitos de formação que, não necessariamente foram esses, tive a oportunidade, a sorte, a dádiva, de estudar em uma escola com visão totalmente humanística. Era uma escola religiosa, apesar de não ser minha religião de família, em que solidariedade, filantropia era nosso dia a dia, não era uma aula especial: era todo o dia. Então, não era algo diferente, especial, que eu coloquei no currículo por um objetivo, para conseguir vaga em algum lugar: era meu dia a dia.

 

Se eu não comesse meu lanche, e ele estivesse em boas condições, tinha um cesto para doação desde o prezinho. Então, a gente sabia: “hoje estou indisposta, não quero comer isso”. O lanche não podia estar mordido, não podia estar aberto, tinham regras e depois passavam por uma triagem. Mas, eu deixava o lanche. Meu uniforme era repassado, assim como, se eu precisasse de um casaco, poderia… Então, gera uma cultura com esse olhar! Isso foi ficando esquecido, ficando restrito ou rotulado: algumas escolas neste molde, nesta filosofia, acreditam nisso. Quando a gente entendeu — a gente ainda está entendendo, entender de forma absoluta é muito sofisticado de se falar, seria falar de uma propriedade que acho que ninguém tem, de resolvemos a questão, mas a gente percebeu que se tocasse as crianças com este tipo de repertório como o que eu tive a oportunidade na minha educação na escola — em casa também, mas mais na escola.

 

Se a gente tocasse as crianças logo na tenra infância, isso poderia fazer uma grande diferença. A gente semeia essas questões na mente das crianças e, tem a tal da parábola do semeador, pode brotar! Mas é importante: se a criança tem contato com isso, as perspectivas de, no futuro, ela entender que isso é importante são boas, para não falar grandes e ser muito ambiciosa. São boas perspectivas! Então, desde cedo, levar esse repertório para a criança, não precisa ser um PhD, não precisa fazer doutorado na pré-escola: você precisa falar sobre isso. A criança é rápida, muito rápida: ela não está com os filtros que a gente tem, com as barreiras, de falar “isso não pode, se eu fizer isso implica nisso” — ela acolhe! E entende muito rápido coisas que alguns adultos não entenderam até agora.

 

Se a gente não fizer alguma coisa, está todo mundo frito junto! Não é assim: o outro que nasceu morador de rua, incompetente… A gente ainda ouve coisas muito bizarras como essa, da pessoa estar e não ter condições… Não! Enquanto tem gente morando na rua, a minha moradia é comprometida! A minha moradia nesse planeta! Esse tipo de visão, a criança entende muito rápido! Então, a gente pensou, se a gente criar formas, canais, estruturas para que a gente possa chegar na criança, mesmo sem falar imediatamente e direto com a criança. A gente não fala diretamente com uma criança de 4, 5 ou 6 anos. Por intermédio da escola, a gente fala da criança por intermédio da família, da sociedade como um todo, das parcerias que a gente tem… Então, essa foi a nossa estratégia dessa nossa maturação, dessa soma de experiências minhas, da minha parceira e co-fundadora da Plataforma de Educação para Gentileza e Generosidade, a Elpis com uma formação muito similar — também fez o magistério, também trabalhou com criança e lecionou. A gente percebeu que criar uma modelagem com um nome de metodologia e trabalhar isso trazendo princípios estruturados e não apenas um conceito ou outro conceito.

 

A gente cai naquela ilusão: “eu passei um conceito, entrei em um programa que fala só de empatia”. Tudo bem, a empatia é ótima! Mas quando a gente sistematiza e integra o conjunto, fica muito mais potente! Foi assim que surgiram os 7 Princípios da Educação para a Gentileza e Generosidade, que incluem: solidariedade, sustentabilidade, diversidade, respeito e cidadania. E a gente fica com um conjunto muito bom para um debate amplificado, transdisciplinar, na sala de aula e em casa!

 

Artur: Maravilhoso, Marina! Para a gente concluir, então, na sua experiência, dá para dizer que é mais efetivo ensinar a generosidade e a gentileza para as crianças do que para os adultos?

 

Marina: Falo com toda a segurança que sim! A criança recebe de uma forma muito especial: a criança recebe e já troca, recebe e não fica julgando, criando pré-julgamentos que, às vezes, a gente cria. E a gente aprende com a criança! A gente, nós, inclusive! Que temos a Plataforma de Educação para Gentileza e Generosidade, aprendemos o tempo inteiro com as crianças: com a simplicidade das crianças de falar “nossa, mas é claro que a gente tem que doar!”

 

Artur: Muito bom! Conversa muito inspiradora, dá para acreditar que realmente as coisas estão melhorando! Obrigada, Marina, pela conversa! Mas a gente ainda, para fechar, tem uma coisa muito importante que é a nossa Rodada Relâmpago! Vamos lá?

 

Marina: Preparadíssima! Vamos lá! Surpresas!

 

Artur: Então vamos lá! Para quem não conhece, a Rodada Relâmpago é muito simples, a gente vai fazer  5 perguntas para a Marina, estilo Marília Gabriela, bate e pronta e você responde com a primeira coisa que vier à sua cabeça. Ok?

 

Marina: Vamos lá! Estou preparada!

 

Artur: Qual foi a sua doação mais recente?

 

Marina: Jogo da verdade, hein Artur? Doação recente… Poderia falar de doação de mentoria, que eu estou mentorando direto vários projetos, mentorias inúmeras com jovens, adoro mentorar crianças e jovens, chamados empreendedores sociais.

 

Mas, pensando em recursos monetários, em dinheiro, vou citar um projeto que é bem diferente: é uma rádio comunitária que chama Rádio Comunitária Milênio FM, lá no Itaim Paulista. Eles estavam em busca de recursos para fazer a renovação da concessão! É uma doação bem específica!

 

Artur: Excelente! Qual é a sua causa do coração?

 

Marina: Ai, que pergunta que pega no coração!

 

Artur: É difícil!

 

Marina: Bom, tem um monte de causa do coração, mas eu diria que a educação é a minha causa do coração. Dá para perceber, né Artur?

 

Artur: Perfeito! Acho que você já começou a responder essa pergunta na primeira parte. O que você doa além de dinheiro?

 

Marina: Um monte de coisa! Eu diria que palavras são boas doações: às vezes, as pessoas estão precisando de uma palavra para ir ou para olhar para o lado ou para dar uma pausa. Doe sorrisos, faz um efeito incrível: a gente sorri para a outra pessoa, a outra pessoa sorrir para a gente.

 

Tem uma frase super bonita da Thích Nht Hnh que tenho pendurada aqui na minha parede, já que você fez a pergunta vou aproveitar, que é assim: “algumas vezes, a alegria é a origem do seu sorriso. Outras vezes, o seu sorriso pode ser a origem da sua alegria.”

 

Artur: Muito bom! Queria que você citasse uma organização ou um projeto que você admira e/ou apoia e as pessoas não conhecem muito e gostaria que conhecessem mais.

 

Marina: Citar projeto social, dá para fazer uma lista imensa! Mas tem um projeto que me toca em especial: faço parte de um doutorado livre na UniQuebradas. Vale vocês pesquisarem sobre isso, a Universidade das Quebradas tem um trabalho espetacular, acabaram de inaugurar a Escola Debaixo da Ponte. Todo o apoio é super bem vindo, toda forma de contribuição é espetacular. Então, vale vocês conhecerem!

 

Artur: Muito legal! UniQuebradas! Excelente dica! Para a gente terminar aqui, Marina, imagino que você já convenceu muitas pessoas da importância de doar e queria que você dissesse pra gente qual é o argumento matador! Aquele para convencer alguém da importância de doar.

 

Marina: Vou parafrasear meu amigo Pedro Frazão que diz que quem doa vive mais! Então, doando a gente vive mais, está mais do que comprovado, tem inúmeros argumentos que poderia multiplicar. Tem até estudos científicos que dizem que quem doa fica mais bonito! Gente, se vocês estavam na dúvida: quanto mais gestos generosos, gentis, a gente faz, tem tratados estudando a face… Tenho estudado bem esse lado da teoria, da academia: a prática a gente vai vivenciando, vai experimentando. Mas, tem muito estudo teórico no mundo mostrando isso: em Berkley, em Standford, na Universidade da Pensilvânia, demonstrando de forma clara que as pessoas que doam ficam muito mais atraentes, muito mais felizes, logo vivem mais e vivem melhor!

 

Está aí o argumento! Quem estava na dúvida, gente, abracem essa e lembrem de: gentileza e generosidade, solidariedade, sustentabilidade, diversidade, respeito, cidadania, que ajudam muito nessa composição da sua felicidade e da felicidade das pessoas ao seu redor!

 

Artur: Muito bom! Excelente! Então, doem para serem mais interessantes, mais charmosos, mais bonitos! É isso aí! Marina, muito obrigado! Papo maravilhoso, volte quando quiser, quando tiver novidades para contar, a casa é sua!

 

Marina: Artur, super honra, imensa alegria, mil sorrisos para você! Muito grata com essa oportunidade mais do que especial da nossa conversa!

 

Artur: Muito bom, obrigado!

 

Roberta: Artur, eu sempre falo que a gente tem que conversar mais sobre o que a gente doa e menos sobre o que a gente compra, mas a gente pode abrir uma exceção para os produtos sociais, né? Que fazem as duas coisas ao mesmo tempo!

 

Artur: Verdade Roberta, com as dicas da nossa colunista Duda Schneider fica difícil resistir a essa tentação de comprar. E já que a gente tem alguma coisinha dentro de nós que nos faz sentir melhor quando a gente compra, melhor comprar e ajudar os outros, né? Então, vamos ouvir as dicas dela no quadro Merchan do Bem?

 

Duda: As cervejas artesanais estão cada vez mais em alta, criando uma legião de apaixonados pelos seus rótulos originais. Mas já pensou em uma cerveja que tem como um dos seus ingredientes fazer o bem? Bom, eu sou a Duda Schneider, esse é nosso quadro Merchan do Bem e hoje vamos falar da cerveja Sempre Juntos do Zé Delivery.

 

Essa cerveja tem um gostinho especial a mais em seu puro malte: 100% da renda é revertida para a CUFA — Central Única das Favelas, para ajudar as famílias que estão em situação de vulnerabilidade por causa das fortes chuvas desses últimos meses. Para garantir a sua cerveja Sempre Juntos é só entrar no aplicativo do Zé Delivery, mas apenas para quem está nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A cerveja é uma edição limitada e tomara que já tenha esgotado quando você estiver ouvindo esse episódio!

 

Então, corre lá no app do Zé Delivery e por apenas 9 reais mais o frete, você ajuda milhares de pessoas. Espero que tenham gostado e até a próxima!

 

Roberta: Ah Artur, essas conversas foi muito inspiradora? Eu saí revigorada. A Marina é uma baita parceira do Instituto MOL, a gente apoia a Plataforma de Educação para a Gentileza e Generosidade via grantmaking, um patrocínio do Instituto para o projeto, e temos o maior orgulho desse projeto. Especialmente quando a gente vê os resultados, escuta as crianças falando, vê os professores, os projetos que surgem dentro da escola… É impressionante como esse tema engaja e traz soluções tão incríveis e inesperadas Brasil a fora, é muito fácil de aplicar, cabe em qualquer realidade, em qualquer tipo de escola, qualquer que seja o método pedagógico, qual for a série, a idade, é um assunto que vale para todo mundo.

 

Artur: O papo é inspirador, acho que é um assunto muito sério, especialmente nos tempos em que a gente está vivendo. Esse legado, essa conversa, a passagem de valores para os filhos é muito séria! Sobre isso, tenho uma piada e uma coisa séria para falar.

 

A piada é que com os nossos filhos, me preocupa mais onde eles vão arrumar o dinheiro para doar do que os valores. Acho que os valores eles estão aprendendo direitinho, não sei se vai ter dinheiro para doar! (risos)

 

Mas, falando sério, acho que a experiência que a gente tem com os filhos é que a melhor forma de educação é pelo exemplo. Então, noto que na Serena, nossa filha de 6 anos, principalmente, é muito impactada por, agora na pandemia, especialmente, fiz muitas ações de ajudar o próximo e que ela foi junto comigo. E ela foi muito impactada por essas ações! Então, acho que se você quer passar esses bons valores para os seus filhos, faça-os participar das suas boas ações e faça boas ações! Acho que é a maior lição e a maior forma de educar: fazer direito para ensinar a fazer direito.

 

Roberta: Acho que tem uma coisa legal para a gente levar adiante que é: as crianças têm uma capacidade muito grande de influenciar a família. Lembro que quando eu era criança, meu pai era fumante e a gente fez campanha para ele parar de fumar porque aprendeu na escola que cigarro era ruim, esse era o começo dos anos 80, era diferente, era normal, as pessoas fumavam em qualquer lugar. E a mesma coisa com reciclagem depois: lembro que a reciclagem começou na escola e de lá a gente levou esse hábito para casa.

 

A mesma coisa pode acontecer: a gente não pode esperar os adultos. Tem as escolas…

 

Artur: Agora tem acontecido muito com água, com carne… A gente tem notado isso.

 

Roberta: Sim! São essas as pautas, né? Acho que a gente pode, para quem tem envolvimento com educação, pode influenciar uma escola, é professor… É muito importante levar isso para lá! Não precisa esperar uma demanda das famílias, pode fazer o caminho contrário.

 

Outra coisa que é legal falar: é muito de ensinar! Assim como a gente tem falado e visto muito educação financeira para crianças, doação é uma parte importante da doação financeira. Tem que aproveitar esse momento para mudar esse disco de: vou doar minhas roupas velhas, brinquedos que não uso mais. Isso é importante também, mas não é só: a doação tem que ser parte de uma escolha do que você faz com seus recursos para apoiar aquilo que você acredita. E isso vale também para as crianças. Tem uma mesada? Uma parte da mesada é para gastar agora, uma parte é para guardar e uma parte é para escolher que causa apoiar, para onde doar. É importante a gente tirar essa ideia de só doar o que sobra, porque se a gente só doar o que sobra, muitas vezes a gente não vai doar porque está sempre em falta. Então, é importante colocar a doação como uma escolha de vida. Bora lá ensinar essas crianças e aprender com elas!

 

Esse site da Plataforma de Educação para Gentileza e Generosidade tem muitos materiais incríveis, não só para quem é professor, mas para todos que são interessados no tema se inspirar e ter ideias de como trabalhar esse assunto com as crianças e jovens ao nosso redor.

 

Artur: Obviamente, só vale um adendo aqui, que a gente está falando de ter uma mesada, ter uma parte para guardar, no caso de quem tem renda para isso. A gente, obviamente sabe, que o contexto não permite que todo mundo faça parte disso. Estamos falando da parte da sociedade que consegue acessar renda para isso.

 

Roberta: Até por isso ensinar a doação é importante, né? Para ensinar também sobre privilégios, sobre desigualdade social e o papel de todo mundo de combatê-la desde sempre, desde cedo em todas as gerações.

 

Artur: Boa! Quem tiver uma história para contar sobre como engajou seus filhos em causa, projetos que são realizados e ajudam nessa finalidade de passar o legado para frente,  pode mandar uma sugestão para a gente de pauta, contar suas histórias, falar com a gente pelo Instagram @institutomol, no nosso perfil do LinkedIn, ou escreve pro email contato@institutomol.org.br.

 

Roberta: E por hoje é isso pessoal, semana que vem estamos de volta! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior. A produção, o roteiro final e a direção é de Vanessa Henriques e Ana Azevedo, a arte é de Glaucia Ribeiro, todas do Instituto MOL. As colunas são de Rafaela Carvalho e Duda Schneider, da Editora MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!

 

Artur: Até!

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