Transcrição EP #88 – O terceiro setor é racista?

ROBERTA:  Salve, salve nação doadora!

Tá no ar o seu podcast favorito sobre cultura de doação, produzido pelo Instituto MOL com apoio do Movimento Bem Maior. 

Aqui, você fica por dentro dos assuntos do momento na filantropia e na cultura de doação, a partir de informações, pesquisas e entrevistas com importantes personagens do setor no Brasil.

Tudo de forma clara e objetiva, sem enrolação 

Eu sou Roberta Faria 

 

ARTUR: Eu sou Artur Louback

E, semana sim, semana não a gente te convoca a vir junto nessa conversa, pra inspirar mais e mais pessoas e empresas a doar! Doar com propósito, com consciência e com o coração! 

Afinal, 
ROBERTA/ARTUR: Aqui se Faz, Aqui se Doa! 

 

 

Roberta: Olá, estamos chegando e hoje o tema é desconfortável, mas muito necessário, não é Artur?

Artur: A gente vai gravar até o Episódio em pé aqui hoje para ficar meio desconfortável assim como é o tema. 

Enfim, não é exagero. O tema é necessário e que faz parte da vida da sociedade. Mas pode ser que a gente desperte paixões opiniões contrárias e talvez uma ferida histórica e que ainda sangra muito no Brasil e, segundo porque o tema não é um consenso total, né?
E para piorar as soluções não são tão simples ou se é que a gente consegue traçar soluções dado o lugar onde a gente chegou, mas com certeza as possibilidades esbarram em muitas questões culturais, que tem raízes profundas.
Então vamos direto ao assunto. A pergunta já é assim pé no peito: o terceiro setor é racista? 

Roberta: Bom, eu diria que a sociedade é racista e que o terceiro setor é parte dela… E esse é um papo que rendeu muito debate no Linkedin depois que a Natália Bovolenta, que é especialista em diversidade e inclusão, postou um texto bastante crítico,  falando que o terceiro setor é um dos locais mais atrasados em questão de políticas ligadas à diversidade. Foram quase 2 mil reações entre curtidas e comentários. Algumas pessoas ficaram até ofendidas, mas muitas concordaram.  

Fato é que o assunto merece sim uma atenção especial e é por isso que nós trazemos hoje para bater um papo conosco o Giovanni Harvey. Ele é diretor executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial, organização sem fins lucrativos que se dedica a mobilizar recursos para projetos de equidade racial para a população negra. 

Artur: Mas antes, eu vou trazer uns dados aqui para esquentar um pouco o assunto. Cerca de 46% das pessoas que trabalham em ONGs brasileiras são pretas e pardas. O número é da Pesquisa Quantos Somos feita pela Abong – a Associação Brasileira de ONGS. Quando colocamos uma lupa nesses dados algumas discrepâncias começam a surgir. As pessoas pretas recebem em média 27% menos que as brancas no terceiro setor. A presença de pessoas brancas nos cargos de diretores é 34,18% maior do que a de negras. E temos que lembrar que mais de 55% da população brasileira é negra.  

Natália Bovolenta: Quando eu falo sobre o racismo no terceiro setor eu estou me referindo às duas questões: tanto o macro quanto o micro. Eu estou falando de todas as esferas. Estou falando desde os cargos, por exemplo, de gerência, que você dificilmente vai encontrar pessoas negras a não ser que elas tenham sido as fundadoras dessas OSCs ou dessas ONGs. Fora isso é muito difícil você ver pessoas pretas, por exemplo, escuras em cargos de gerência e nesse sentido eu estou falando também das ações. Não existe dentro dessas ações uma racialização do programa. Então, para justamente haver uma conscientização como que a gente vai abordar para não replicar ou estereotipações de questões sociais. Não existe essa preocupação nesse sentido trazendo à tona esse viés de letramento racial. No final das contas, quando a gente tá falando do terceiro setor ser racista, a gente tá falando de todas as esferas.  

Roberta: Essa fala é da Natália, aquela que tinha feito o post no Linkedin problematizando o racismo nas organizações não governamentais. Ela contou para gente que ela mesma foi vítima de preconceito enquanto trabalhava em uma ONG e teria sido esse o motivo, inclusive, para que ela fosse até as redes sociais para colocar o tema em pauta. Aliás, para a Natália, o fato de o terceiro setor ser um ambiente que busca fazer a diferença na vida das pessoas acaba colocando uma espécie de cortina que impede de o racismo ser revelado. Olha só o que ela fala sobre isso, que interessante. 

Natália: Como as pessoas brancas estão envolvidas nesse sentido em causas raciais e acham que estão fazendo o bem, se elas cometem uma atitude racista e você pontua elas, elas vão falar que não são racistas. Elas vão se valer do projeto social que ela faz. ‘Ah eu nem sou racista, eu trabalho com o terceiro setor’. Isso não tem nada a ver uma coisa com a outra. Então, esse processo de não escutar, de não falar que ‘poxa, eu tenho feito projetos que não racializam a conversa, não escutam a comunidade local efetivamente que vai ser atendida pelo projeto e qual a necessidade que ela apresenta e não a minha necessidade como uma pessoa que está ali querendo atuar na área, no local. Então efetivamente trazer a comunidade local as pessoas que são atendidas pelo projeto como protagonistas e não como recebedores de uma ação social, entende. Então, para mim a maior dificuldade é de fato a pessoa branca de fato se entender como uma pessoa racista e procurar mudar né. Procurar informação, fazer cartilhas, guias para mudar isso dentro da própria instituição.  

Artur: Acho que até aqui a gente já consegue dizer que há uma diferença de espaços e oportunidades dentro das organizações por um marcador racial. Mas, é preciso entender a origem disso. O racismo não nasce em ONGs. Ele é histórico, estrutural e institucional no Brasil. 

Roberta:  Mas teve muito mais coisa. Depois disso, em 1850 teve a chamada lei de terras que proibia pretos e pretas de comprar terras. E em 1888 veio a Lei Áurea que acabou com a escravidão no Brasil. E em 1890 tiveram algumas leis penais como a da vadiagem que permitia a prisão de negros sem trabalho na rua.  Não vamos nos estender mais nesse histórico, mas ele foi necessário só para refrescar a nossa memória como chegamos até aqui e porque esse assunto precisa ser tratado também no terceiro setor por melhores que sejam as nossas intenções

Artur: E o cenário se traduz em números alarmantes,. 78% das pessoas assassinadas com arma de fogo no Brasil são negras, segundo o Instituto Sou da Paz. 84% dos mortos pela polícia são pretos e 67,5% dos encarcerados também. Se formos para o mercado de trabalho, o Ipea mostrou, por exemplo, que as demissões durante o período mais difícil da pandemia afetaram mais os pretos do que os brancos. 

 

Roberta: Agora, Artur, o que as ONGs têm a ver com isso tudo? Bom, primeiro porque como já falamos aqui o terceiro setor está dentro de uma sociedade que é racista e, portanto, sair dessas amarras não é algo automático. Daqui a pouco a gente vai tentar falar um pouco sobre o que tem sido feito para virar esse jogo com o  Giovanni Harvey do Fundo Baobá, mas eu queria trazer mais uma camada desse preconceito. Porque quando falamos em preconceito e discriminação, precisamos entender que isso nunca bate da mesma forma para todo mundo. Existem o que chamam de interseccionalidades. Em outras palavras, são somas de opressões. Para ficar mais fácil de entender é preciso a gente sempre se perguntar assim: de que negros estamos falando? São negros, mais retintos, ou seja, da pele mais escura? São mulheres pretas? São mulheres, pretas, mães solos, com baixo nível de escolaridade? Ou são pessoas pretas e transexuais? O preconceito fica maior quanto mais camadas colocarmos. 

Artur: Como estamos mostrando que muitas vezes a realidade dentro de ONGs é um recorte do cenário nacional, é importante lembrar que estamos no país onde mais se mata transexuais, segundo dados do Dossiê Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras de 2021”. O Gabriel Romão é especialista em diversidade, com forte atuação no terceiro setor e em projetos de equiparação racial. Ele nos lembra que esse recorte é extremamente necessário para de fato termos justiça social. Ele atualmente é um dos gestores da TODXS todes  que acelera  negócios de pessoas da comunidade LGBTQIAP+. 

Gabriel Romão: A gente ainda tem lideranças dentro das instituições, das empresas que fazem parte do terceiro setor ainda majoritariamente branca, cis e hétero normativo. De fato algumas mudanças estão acontecendo quando a gente olha nos últimos anos, mas em sua grande maioria se reflete aquilo que é posto na sociedade. E aí quando a gente pensa nesse recorte, quando a gente coloca uma intersecção de gênero ou sexualidade, a gente ainda tem uma representatividade ainda menor, tanto ocupando cargos de operação, mas principalmente ocupando cargos de decisão ou ocupando cargo gerencial, ou ocupando cargo de liderança. E acho que a solução e o caminho possível é, primeiro, o reconhecimento da própria branquitude de seus privilégios. Então, as pessoas que trabalham no terceiro setor, as pessoas que ocupam papel de liderança reconhecerem que precisam sim ter uma alternância de poder para que o terceiro setor inclusive inove, se ressignifique e comece a ser reconhecido por aqueles que ainda não são ali representados. Eu acho que é esse é um primeiro caminho, de fato ter vagas afirmativas, assim como tem no setor privado ter no terceiro setor é importante. Mas eu acho que tudo começa com uma auto reflexão e um reconhecimento de privilégio por parte da branquitude. 

Roberta: Uma vez colocados esses desafios, vamos conversar agora com o Giovanni Harvey, que é diretor-executivo do Fundo Baobá para a Equidade Racial. Só para contextualizar, o fundo é o primeiro criado para mobilizar pessoas e recursos para apoiar projetos que buscam equidade racial para a população negra.
Vamos ouvir o papo que o Artur bateu com ele…

Artur:  Giovani seja muito bem-vindo ao nosso programa! Para a gente é uma honra ter você aqui conosco.
Para a gente começar, eu queria que você já começasse vendendo seu peixe falando sobre o Fundo Baobá, para quem não conhece, eu já adianto que para mim é uma das maiores iniciativas do setor social brasileiro. Enfim, a gente conhece bem aqui admira demais…


Giovanni:  Artur quem agradece sou eu, é um prazer estar aqui no podcast produzido pela Editora MOL com você e com a Ana Ju, com a equipe que produz essa iniciativa importante. O meu nome é Giovanni Harvey,  atualmente exerço a função de executivo do fundo Baobá para Equidade Racial. O fundo Baobá foi concebida acerca de 15 anos atrás por inspiração por provocação da fundação kelope quando a fundação que era o que decidiu nacionalizar os investimentos e encerrar as operações diretas no Brasil, e naquele contexto meados da primeira década desse século a fundação provocou o movimento social negro num processo que levou três anos e envolveu quase 200 Organizações e personalidades que refletiram sobre as lacunas existentes no ecossistema da filantropia. No que diz respeito especificamente ao enfrentamento a desigualdade étnico-racial no Brasil e após esses três anos de intensos debate à conclusão é que faltava naquele momento um mecanismo financiamento das iniciativas de enfrentamento ao racismo e a partir desta conclusão foi feito um desenho que resultou na criação do fundo do Baobá novamente um apoio da fundação através do estabelecimento tem um contrato de médio de 25 milhões de dólares meta essa que nós alcançamos no final do ano passado que a Constituição do primeiro endowment exclusivamente dedicado.

 

O financiamento da luta contra o racismo no Brasil ao longo desses 11 anos 12 anos de operação nós através deste mecanismo quer seja através dos rendimentos do nosso endowment, quer seja através da captação junto a parcerias, nós doamos mais de 20 milhões de reais e a mais de 900 iniciativas em quatro grandes áreas: Direitos Humanos, desenvolvimento econômico, educação e comunicação e memória.

Artur:  Muito bom Giovani e indo direto ao tema do programa diretamente na sua opinião o terceiro setor brasileiro é racista e como esse racismo se manifesta nas organizações sociais?

 

Giovanni: Artur, você está fazendo uma pergunta direta e eu talvez não lhe dê uma resposta direta. Seria muito duro eu me referir a qualquer segmento da sociedade diretamente atribuindo a este segmento a condição de ser um segmento racista na realidade nós temos na sociedade e relações sociais que, no seu conjunto, reproduzem relações de dominação e que produzem preconceito e discriminação em relação a pessoas neles. Então, a nossa sociedade age dessa forma no seu conjunto. E a nossa sociedade age dessa forma no seu conjunto com maior ou menor grau de reprodução desse modelo. Nos vários segmentos que compõem a sociedade, incluindo o terceiro setor…não é o terceiro setor que, por uma deliberação das pessoas que atuam nele ou das instituições que atuam nele que pratica preconceito e discriminação, é a sociedade brasileira, que pratica preconceito e discriminação. E aí nas suas várias dimensões em maior ou menor escala esse preconceito,essa discriminação são reproduzidos, inclusive no terceiro setor.

 

Artur:  E considerando que a gente tem ações que buscam uma reparação oficial na sociedade hoje, como as cotas raciais em universidades ou em editais, ou enfim iniciativas que buscam atingir esse racismo mais estrutural na sociedade, você diria que no terceiro setor, especificamente, é possível trabalhar com iniciativas também voltadas à reparação racial diretamente, né? Nesse setor que enfim, né? Deveria estar ou estar atacando essas questões também tentar entrar um pouco mais a fundo do que a sociedade de uma forma geral. 

 

Giovanni: O terceiro setor é um espectro amplo. Ele não é um bloco monolítico constituído a partir de uma única realidade. Eu poderia dizer para você que o terceiro setor, ele contempla isso, pois institucionais originais de movimentos sociais. Então as instituições criadas a partir da Inspiração movimentos sociais fazem parte do setor e por exemplo, eu poderia citar várias outras instituições que são criadas a partir da indução do investimento social privado, notadamente na filantropia e também para o investimento social privado também são terceiro setor e expressões que vêm de segmentos sociais corporativos profissionais empresariais também são … o terceiro setor não é uma coisa una. Então nós não podemos, entre aspas, exigir que o terceiro setor que haja, por assim dizer, um pensamento único do terceiro setor e o terceiro setor ele vai contemplar as contradições que derivam de visões diferentes, que é meu juízo e larga a medida tem a ver, qual a origem das instituições das iniciativas e entre as duas, em quais movimentos que estão no campo do terceiro setor. Dito isto, a pergunta é: qual o terceiro setor que nós estamos falando? Quando nós falamos em termos de enfrentamento a discriminação é o racismo dependendo da característica da instituição ou da iniciativa que esteja no campo de terceiro setor, nós vamos ter formas de enfrentamento ao racismo de discriminação diferentes. Uma instituição como Baobá, que é uma instituição criada a partir de uma base social, né? Foram 192 instituições e personalidades que se reuniram ao longo de três anos para pensar a criação de uma instituição que é o Baobá, que atua no terceiro setor no campo da filantropia para enfrentar o racismo… a nossa identidade é muito defendida nesse sentido, evidente que essa dinâmica de criação da nossa instituição e do pensamento que está por trás dessa dinâmica nos distingue de outras instituições, igualmente sérias, igualmente comprometidas, com princípios de democracia, de justiça social que também buscam isso. E isso não está em relação a esse tema de enfrentamento ao racismo, sempre a pergunta vai ser a partir de qual perspectiva que se quer enfrentar o racismo?

 

A partir da perspectiva de uma organização instituída, a partir de um ideal de justiça que mobilizou pessoas brancas ou mobilizou capital constituído por pessoas brancas, mas que não vivenciaram uma experiência do racismo, mas que tem um entendimento que o racismo é algo nocivo para a sociedade como um todo, é essa perspectiva de enfrentamento e a partir desta perspectiva de enfrentamento, qual é a lógica que uma instituição como essa que eu acabei de descrever, qual é o diagnóstico que ela faz da desigualdade? E qual é o papel que ela se propõe a cumprir a partir desse diagnóstico? Vou exemplificar: o tema da educação, ele é um tema recorrente, ninguém é contra o investimento e educação, ninguém é contra criação das oportunidades educacionais e ninguém se adverte do fato de quanto mais oportunidades educacionais nós possamos prover às pessoas negras… Nós temos uma possibilidade, nós temos a crença de que isso diminui a exposição de pessoas, quer seja como vítimas, quer seja como autores de atos de discriminatórios, nós temos essa crença. Ela é inútil, há nela uma contradição. Qual é a contradição É verdade sim que as pessoas negras são cerceadas nas suas oportunidades de acesso à boas condições de educação, é verdade. E é verdade que quando você potencializa as oportunidades para que pessoas negras, tenham acesso a boas condições de educação, você de fato está enfrentando uns gargalos que subordinam pessoas negras. Ok, é verdade. Agora quando se faz um discurso genérico de que através da educação e da possibilidade das pessoas negras ascenderem socialmente através do acesso à educação, nós vamos eliminar o racismo…

 

Muitas vezes temos implícito nessa, fala que a exposição de pessoas negras a situações de discriminação é um problema de falta de escolarização de pessoas negras. Qual é a forma que eu acho mais adequada de falar de educação para enfrentar o racismo? é falar de educação das pessoas negras e das pessoas brancas! As pessoas negras, a educação na perspectiva de que nós devemos romper as barreiras que limitam o acesso de pessoas negras às boas oportunidades de escolarização, que são passaporte para uma inserção qualificada no mercado de trabalho e à educação das pessoas brancas, problemas da discriminação das pessoas brancas e é um problema de falta de educação!  A pessoa branca que diz que tem uma deficiência educacional, eu não vou nem entrar em outros aspectos subjetivos, mas há um problema educacional e essa pessoa ela tem uma mentalidade construída a partir de uma série de crenças.

 

Você já superou há muito tempo, e episódios recentes noticiários pela imprensa trazem para nós cotidianamente flagrantes de discriminação de pessoas brancas, falam verdadeiros absurdos para pessoas negras baseados em crenças que a ciência já superou. Então, nós temos um problema educacional das pessoas brancas e eu não escuto ninguém falando do problema educacional de pessoas brancas para superar, assim a gente só escuta falar do problema educacional das pessoas negras.

 

Artur: perfeito então quando eu falo que em última de pessoas negras a oportunidade educacionais não pode servir depois texto para que elas sejam discriminadas. Então acho um exemplo excelente esse né? Simplificando um pouco pra entender é a ideia de que a educação tem que ser voltada para as pessoas negras alcançarem o nível das brancas é um equívoco por si, só o que isso deveria fazer as brancas repensarem completamente a sua estrutura de pensamento sobre a educação para que refaça o caminho e 100% das pessoas estejam igualdade de oportunidade.
Aproveitando esse gancho que eu acho excelente, Giovani e conectando ali com a sua com a sua fala anterior, né, sobre o terceiro setor não necessariamente ser um monolito preconceituoso por si, mas sim ser mais uma expressão de uma sociedade preconceituosa. Eu gostaria que você falasse um pouco sobre a questão de iniciativas voltadas a trabalhar a interseccionalidade no terceiro setor, ou seja, há uma série de iniciativas que buscam não colocar um elemento racial diretamente, mas sim entender que o racismo estrutural passa por tudo, né? Ele tá entranhado na sociedade de tal forma que iniciativas de diversos setores de alguma forma precisam dialogar com a questão da raça, né? Então dando um exemplo simples aqui quando você cria um fundo voltado a apoiar a iniciativa de esporte, por exemplo, se isso é um edital, ou uma concorrência de apoio, você deveria colocar ali uma pontuação extra ou alguma coisa assim para iniciativas que são lideradas por empreendedores negros ou que de alguma forma tocam nessa questão. O que você acha disso? 

 

Giovanni: A sua pergunta é uma pergunta complexa… com uma pergunta só você consegue me provocar em relação a duas questões – a primeira questão que você provoca, seu exemplo do esporte e novamente eu lhe respondo: de qual esporte nós estamos falando?  E eu não posso nem dizer que as pessoas negras são mais reconhecidas como aptas a praticar determinados esportes como futebol, eu não posso nem falar isso pra você ainda no calor desses últimos episódios envolvendo o Vinny Júnior sequer o esporte em tese responde pela projeção. Talvez um dos esportes, né? O atletismo também influenciou na projeção de pessoas negras, e também trouxe projeção de pessoas negras no boxe, né? Falando do esporte nível internacional, né? Mas aqui no Brasil nós temos no futebol uma expressão, talvez a mais importante do esporte nacional e irresponsável, inclusive pela projeção de ídolos na sociedade brasileira, sendo entre todos eles o mais destacado o Pelé levando-se consideração, inclusive o contexto no qual o Pelé adquiriu projeção há mais de 50 anos atrá… e de qual esporte nós estamos falando?. da diversidade e de qual incentivo ao esporte?  Porque, por exemplo, nós tivemos um episódio há alguns anos atrás envolvendo um atleta da ginástica olímpica, o Ângelo Assunção, é uma vergonha. O que aconteceu com Ângelo Assunção é uma vergonha, uma vergonha pelo ato em si,  e é uma vergonha pela forma como a Confederação Brasileira de Ginástica lidou com o fato, e é uma vergonha pela forma como o comitê Olímpico brasileiro lidou com o fato.

Essa proposta que você traz qual eu concordo que é correta de você promover uma interseccionalidade no sentido de que em todas as iniciativas nós possamos ter o componente étnico-racial, eu concordo com ela, agora essa interseccionalidade, ela tem que ser direcionada para as expressões esportivas nas quais as pessoas negras não estão que são os, entre aspas, esportes de elite: o tênis, a ginástica olímpica, a natação. E quando a gente pensa em promover diversidade e a interseccionalidade para ampliar a participação de pessoas negras, nós temos que olhar o seguinte: onde as pessoas negras já estão e onde as pessoas negras não estão? a ação afirmativa, ela é sempre dirigida até onde a pessoa negra não está. E aí eu vou ao segundo aspecto da provocação que você me faz com essa única pergunta que é crônica e que é utilizada quando você implementa ações afirmativas – alguns alinhamentos conceituais precisam ser feitos para que as pessoas entendam e não encerram numa avaliação que é , em meu juízo, equivocado. A primeira questão, tem que ficar muito nítida é o seguinte:  a ação afirmativa, a ação de reparação, do tipo de iniciativa que o Baobá busca e que o Baobá apoia,  são ações e iniciativas de enfrentamento ao racismo e as políticas públicas de ação afirmativa, elas são políticas de enfrentamento ao racismo, não são políticas, não são iniciativas, por exemplo de enfrentamento a pobreza em si. Ou seja, o raciocínio de que quando eu faço um investimento que busca melhorar as condições de vida das pessoas que vivem na pobreza que eu estou fazendo ação afirmativa é um raciocínio equivocado. A não ser que eu identifique, dentro de um bolsão de pobreza, uma condição dentro daquele bolsão de pobreza, de desvantagem de pessoas negras pobres em relação a pessoas brancas pobres e que eu insira naquele bolsão de pobreza para, entre aspas, nivelar a desigualdade. 

Aí sim, eu estarei fazendo uma ação de redução de pobreza que tem como componente nivelar pobreza, agora enfrentamento ao racismo é outra coisa! Porque o racismo não está associado à pobreza!

O Itamaraty promoveu o maior ciclo de promoções de diplomatas homens e mulheres negras da história incluindo a promoção da primeira mulher negra a condição de Embaixadora e de uma mulher negra a condição de Ministro de segunda classe que é uma condição que habilita essa mulher negra a exercer a chefia de representações diplomática, o ministério da relações exteriores tinha até bem pouco tempo atrás, pela primeira vez na história, três diplomatas negros. Atualmente o MRS tem dois diplomatas negros servindo em Washington e nenhuma dessas pessoas que entrou na carreira diplomática através de programa de vocação para diplomacia. Ele entrou na carreira diplomática saindo da pobreza. Sim, claro o programa vocação dele por mais que ele não seja um programa de enfrentamento, pobreza é um problema de enfrentamento do racismo. Você não sai da pobreza. O enfrentamento ao racismo é uma coisa e o enfrentamento da pobreza é outra coisa. O fato de um contingente importante das pessoas que está em condição de pobreza ser constituído por pessoas negras, não faz com que as ações de mitigação da pobreza sejam automaticamente, por atenderem majoritariamente pessoas negras, ações de enfrentamento do racismo. O enfrentamento ao racismo, ele não se identifica pela pessoa que é atendida e sim pela causa que está levando aquela pessoa ser atendida. Isso é importante de se entender porque muitas pessoas falam: “Ah, eu estou fazendo enfrentamento ao racismo, porque das 100 pessoas que a minha instituição atende 90 pessoas são negras”. Não, não tá fazendo! A não ser que você tenha diagnosticado que aquele contingente de pessoas é alvo de discriminação e tenha qualificado que discriminação que aquela pessoa está sendo alvo e tenha uma formulação de uma ação para diminuir o efeito daquela discriminação. E você consegue fazer uma comparação de que aquela pessoa que você está atendendo dentro daqueles 90 estão tendo um resultado acima do que as pessoas que você não está atendendo.

Aí agora, simplesmente chegar e falar o seguinte: “olha eu rodeio em questionário e 90% das pessoas no meu projeto são negras”. Eu tô fazendo frente, e  pode inclusive estar fazendo reprodução do racismo, sim!


Artur: Perfeito! e novamente a gente cai né na questão de equalizar oportunidades, né? Isso é uma questão que até não precisa ser a causa racial gente outras causas de exclusão e opressão no setor social que passam por isso, né? Você cria uma camada mais que a pessoa tem que ultrapassar para conseguir chegar na linha de largada junto com os outros, né? Isso por si só é uma barreira, né? Um comentário muito rápido, eu acho que é oportuno aqui, muito se ouve falar entre a elite branca do capitalismo, não só no Brasil, mas em outros lugares essa questão da meritocracia, né? Virou uma moda falar diz que quem se esforça, quem quer, não importa as barreiras que tem que enfrentar chega lá e pra mim o racismo é a maior expressão da anti meritocracia que existe, né?  Você restringir a competição a 10%, a 5% da população é um negócio anticapitalista se pensar assim, né? Se você quer os melhores seria a melhor você botar 100% da população lutando para conseguir alcançar melhores resultados, né?

 

Giovanni:  É bem interessante a gente olhar concordo com você, porque o Brasil não é uma sociedade capitalista. Na realidade o capitalista brasileiro, ele quer apropriação privada do núcleo e a estatização do prejuízo… não é uma sociedade capitalista há uns anos atrás houve uma discussão sobre o chamado rolezinho, né? Grupos de jovens, normalmente da periferia, que ia centros comerciais, shopping centers ou áreas mais valorizadas, em grupo… e passou num jornal, exibido na hora do almoço havia passado na mesma emissora pela manhã e foi reproduzido à tarde nesse jornal, o que  seria o perfil do rolezinho, do participante do rolezinho? E aí a matéria mostrava um boneco, sendo vestido com as marcas que as pessoas participavam do rolezinho utilizavam, aí aparecia lá tênis Mizuno, boné John John, camiseta tal e isso, ficou estigmatizado como perfil do rolezinho ou seja, numa sociedade capitalista, as marcas trabalham para que elas alcancem o maior mercado consumidor possível. Claro que a marca está presente em todos os segmentos sociais. O que é que distingue uma pessoa com maior poder aquisitivo de uma pessoa com menor poder aquisitivo em relação ao consumo de uma determinada marca é a qualidade do produto que aquela marca está vendendo, então você tem a mesma marca alcançando um consumidor com poder aquisitivo mais baixo, com um produto que seja mais acessível um produto de entrada. Vamos pegar por exemplo.. bem, eu tô fazendo aqui um monte de propaganda, né? A Mercedes Benz. Ela tem os veículos dela segmentados por classe: Mercedes Classe C, Mercedes Classe. A … então você tem uma segmentação por classe, ela desenvolve produtos para vários consumidores. O que aconteceu com a possibilidade de pessoas pobres conseguirem acessar o tênis da Mizuno e o bonezinho da John John, a criminalização dessas marcas porque o capitalista brasileiro ele quer se distinguir, não pela qualidade do produto mas sim pela marca que ele consome. Nós temos uma fixação com marca, então ostentar a marca, ele quer ostentar o tênis Mizuno e isso aí é anti capitalista, porque na ideia da empresa, em resumo ela quer atender a maior quantidade de pessoas, ou seja, marcas foram punidas, porque conseguiram, numa sociedade capitalista, ampliar sua participação no mercado. É uma distorção que nós temos na sociedade brasileira, e isso se aplica quando pessoas negras começam a consumir uma determinada marca. É uma distorção, como você bem falou, que não é capitalista, não é isso se fala muito pouco, né? Eu acho importante a gente falar aqui que o rico brasileiro prefere preconceito a dinheiro. Isso é importante você falar é? Exatamente exatamente e outra coisa precisa ser falada também que é a maior arma do capitalismo se desenvolver a democracia não tem a menor dúvida disso, né? Isso é bem importante é sempre pontuar 

 

Artur: Bom, Giovanni, o papo está riquíssimo, mas eu queria agora ir para uma pergunta.

faço questão de fazer porque eu me faço todos os dias…  quando você deita a sua cabeça no travesseiro e acessa a sua intimidade, você consegue sonhar de fato com o Brasil ou o mundo menos racistas e com oportunidades possibilidades mais igualitárias para a população negra e para população em geral, os oprimidos em geral?

 

Giovanni: Eu não consigo sonhar, mas eu consigo acreditar que nós vamos conseguir, eu acredito nisso, porque eu tenho 59 anos e ao longo desse a minha existência, eu vi a sociedade brasileira evoluir numa direção positiva, Artur. Por ser dessa geração, principalmente na década de 70, eu ainda fui conduzido à porta dos fundos. Tá certo? Eu sou de uma geração que pagou para entrar pela porta da frente e visitar amigos. Eu vivi a transição da porta dos fundos para a porta da frente. Hoje, por exemplo, eu não vou dizer que isso não aconteça, mas eu vou usar como parâmetro as minhas filhas. 

Eu tenho uma filha de 31 anos uma filha de 14 anos, não é que as minhas filhas não possam passar por isso, mas elas quando saem de casa para visitar um amigo ou uma amiga, as minhas filhas são duas jovens de classe média que estudaram em boas escolas no Rio de Janeiro, escolas de classe média e classe média alta, o círculo social delas é um circo social de classe média, classe média alta e são duas meninas negras – uma mulher jovem negra e uma adolescente negra, então, quando as minhas filhas se deslocam para visitar pessoas do seu circulo de relações, nos seus respectivos condomínios pode acontecer delas serem alvos de discriminação e, entre aspas, algum uma pessoa que trabalha lá possa indicar para ela a porta dos fundos e elas saberão lidar com essa situação.

Eu sou de uma geração que eu já saía de casa sabendo que eu ia arrumar confusão, porque eu já saía de casa pensando nisso, que iam  tentar me mandar entrar pela porta dos fundos. O meu pai me ensinou a não entrar com volume, bolsas, mochilas e sacolas em agências bancárias, ele me ensinou a evitar esse risco e ele tinha uma técnica para isso. Nós moramos no Rio de Janeiro numa rua que era próxima de uma concentração grande de bancos e ao lado dessa concentração de bancos, concentração é essa que contemplava os três bancos, meu pai tinha um supermercado e antigamente os supermercados tinham uma área chamada guarda volume. Você tinha um guarda volumes, você chegava lá era como uma chapelaria, você entregava os seus volumes, eles davam um cartãozinho e deixava lá guardado, meu pai me ensinou a privilegiar as agências bancárias dessa região ali de Botafogo e antes de entrar na agência bancária passar no supermercado e deixar todos os meus volumes no mercado e ir ao banco, exclusivamente com cada um de cheque em conta a ser paga, pra eu minimizar o atrito eu com segurança com porta giratória. 

 

Eu aprendi isso como uma medida de autoproteção e sim, é um conjunto de coisas que pessoas na minha geração. E aí, por isso que eu às vezes sou um pouco contundente quando eu vejo principalmente pessoas brancas da minha geração tomando conhecimento da existência do racismo e se esquecendo que essas pessoas conviveram a vida inteira com isso e foram privilegiadas com isso e sem nenhum sentido de autocrítica, e o que é pior, muitas vezes se propõe a discutir o racismo com a postura de vir nos dizer como que nós devemos combater o racismo!
Eu tenho uma crença que nós vamos continuar a evoluir porque eu olho para as minhas filhas e às vezes com uma agenda de enfrentamento ao racismo diferente da minha agenda e eu olho para os meu pais e me vejo com uma agenda de enfrentamento ao racismo diferente da agenda de enfrentamento do racismo que meu pai, que falava seis idiomas e entrava pela porta dos fundos e da minha mãe, que  tocava Beethoven e Bach no piano, entrar pela porta dos fundos…e vejo eles com a agenda de enfrentamento racismo melhor da minha avó materna materna, em especial, cuja memória da existência é muito forte pelos relatos que meu pai fazia que tinha como preocupação não apanhar. Houve uma evolução positiva. Só que também o racismo se transformou e o racismo, não é um fenômeno social estático. Ele é um fenômeno social dinâmico. Então, hoje nós temos racismo algoritmo reconhecimento facial com prática e discriminação o racismo ele também é dinâmico. Eu Acredito sim que nós vamos melhorar. Vamos superar, mas é preciso ficar atento para as novas formas de discriminação para que nós não caiamos na ilusão de uma superação de formas arcaicas de discriminação, dentre elas os extermínio, a morte de pessoas, revista de pessoas, expulsão de pessoas de avião, revista de vexatória de pessoas em supermercado, que nós vamos estar superando o racismo, quando nós deixamos simplesmente quando e se alcançar, entre aspas, o objetivo ambicioso de pararem nos matar ou de equipararem a quantidade de consultas de pré-natal de mulheres negras grávidas a de mulheres brancas grávidas.

 

Artur: Giovanni, sem palavras para agradecer pela sua participação aqui. O Fundo Baobá, você e os seus tem aqui um tapete estendido, para quando vocês quiserem chegar a casa de vocês, esse podcast… não precisa nem avisar quando vierem nos visitar.

 

Giovanni: Artur, eu que agradeço a você, agradeço a oportunidade, ao Instituto MOL  por esse momento. O Baobá tem as suas redes sociais, o nosso trabalho pode ser conhecido através das nossas redes sociais. Nós temos metas ambiciosas e pretendemos dobrar o nosso endowment até 2026 e aumentar nossa autonomia no sentido de impactar no campo e a aliança com iniciativas como essa que vocês lideram, pra nós é fundamental, então é um privilégio estar aqui com você.

Artur: Muito obrigado, querido e até a próxima.

 

Roberta: É Artur. O racismo é inegável no Brasil. Agora, cabe ao terceiro setor pensar como lidar com esse problema social, assim como já faz com tantos outros.  O papo por aqui está chegando ao fim, mas sabemos que esse é um tema que não se esgota rápido assim. Para você que ficou interessado no tema, pega a caneta para anotar algumas dicas que vamos trazer aqui no quadro “Pra saber Mais”.

Artur: É isso aí, Roberta. E como você já mandou a real sobre a necessidade de o terceiro setor olhar para dentro e arrumar a casa, uma dica perfeita é a cartilha de Combate ao Racismo Institucional feita pela Associação Brasileira de Ongs. Lá tem muita dica legal de como fazer a diferença neste sentido. (chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://abong.org.br/wp-content/uploads/2020/11/Cartilha-Racismo-Institucional.pdf

Roberta: A Abong criou um site com muitas reflexões sobre o racismo que vale a pena ser conferido nessa busca por referências para se desconstruir mesmo. Porque só a informação para acabar com qualquer tipo de preconceito. (https://abong.org.br/somostodasantirracistas/

Artur: O observatório do terceiro setor criou uma lista com seis organizações que lutam contra o racismo no Brasil. O Fundo Baobá, obviamente que estava lá e não é atoa que trouxemos o Giovanni para falar conosco, né gente. Mas temos também o Geledés, Instituto da Mulher Negra, que citamos uma fala aqui também. E ô, se quiserem saber a lista completa, vamos deixar o link para depois vocês entrarem lá. E quem sabe vocês não nos enviam mais organizações e a gente não cita em outros episódios uma lista feita só pelos nossos ouvintes? (https://observatorio3setor.org.br/noticias/6-organizacoes-que-lutam-contra-o-racismo-no-brasil/ )

Roberta: Amei a ideia, Artur.
E, nosso tempo já acabou por aqui, mas antes da gente dizer até mais, disso, eu quero pelo menos citar que, apesar de o racismo estar sim impactando o terceiro setor, a população negra tem um longo histórico com a filantropia, com a criação de irmandades negras. Vou só citar a Sociedade Protetora dos Desvalidos. A instituição baiana é responsável pela criação da prática hoje conhecida como crowdfunding ao ser a primeira instituição a trabalhar com fundo mútuo no Brasil. Os negros escravizados na época se uniam em irmandades, ajudavam uns aos outros para resistir à opressão. Essa história de força pode ser lida na coletânea “Filantropia de Justiça Social, Sociedade Civil e Movimentos Sociais no Brasil”, organizada pela Graciela Hopstein. O material está na internet também e vale a pena ser lido. 

(chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.fundacaoabh.org.br/wp-content/uploads/2018/11/Filantropia-de-Justic%CC%A7a-Social.pdf

Artur: Ah, por hoje é só e me despeço com aquele pedido de feedback… para você deixar a sua avaliação, um comentário aqui na plataforma, nas nossas redes sociais, @ institutomol. 

Roberta: Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior. Esse episódio teve produção e roteiro de Tatiana Lagôa. O roteiro final e direção são de Ana Ju Rodrigues e Vanessa Henriques, assistência de gravação de Vitória Prates, arte da Glaucia Ribeiro e divulgação de Júlia Cunha, todas do Instituto MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. 

 

ATÉ MAIS!

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