by Instituto MOL
ROBERTA: Salve, salve nação doadora!
Tá no ar o seu podcast favorito sobre cultura de doação, produzido pelo Instituto MOL com apoio do Movimento Bem Maior e divulgação do Observatório do 3º Setor!
Aqui, você fica por dentro dos assuntos do momento na filantropia e na cultura de doação,
a partir de informações, pesquisas e entrevistas com importantes personagens do setor no Brasil.
Tudo de forma clara e objetiva, sem enrolação
Eu sou Roberta Faria
ARTUR: Eu sou Artur Louback
E, semana sim, semana não, a gente te convoca a vir junto nessa conversa, pra inspirar mais e mais pessoas e empresas a doar! Doar com propósito, com consciência e com o coração!
Afinal,
ROBERTA/ARTUR: aqui se faz,
aqui se doa!
SOBE SOM
ROBERTA: Olá, estamos de volta!
E o assunto de hoje está diretamente conectado a muitos dos temas que viemos tratando ao longo dessa temporada do podcast. Tem a ver com a importância de incentivos econômicos pro terceiro setor, pra que todo o ecossistema filantrópico no Brasil se desenvolva da forma mais saudável e sustentável possível.
Mas, por uma série de problemas, também pode ser outro gargalo fundamental, que faz crescer ainda mais a distância entre as organizações sociais aqui no Brasil, ampliando uma desigualdade que já não é pequena.
Já adivinhou do que estamos falando? Não? Então vamos deixar de mistério…
O tema de hoje são os editais, esse mecanismo de financiamento crucial pra manter e desenvolver os projetos de boa parte das ONGs no Brasil. Vindos do setor público ou privado, eles têm sido uma fonte fundamental de captação de recursos.
Quer dizer, ao menos para as organizações que têm acesso a eles.
ARTUR: É isso, Roberta! De forma geral, os editais pro terceiro setor são documentos que estabelecem uma série de regras pra selecionar projetos que vão ser fomentados dentro de uma determinada área.
E não tem momento melhor pra abordar o assunto do que agora. Afinal, nós sabemos que o último trimestre do ano costuma ser uma verdadeira mina de oportunidades pras organizações.
É nesse período que se concentra a grande maioria dos editais de fomento a projetos sociais e organizações da sociedade civil. Então, é aquela hora de ficar atento às oportunidades que melhor se encaixam no perfil do seu projeto.
Mas e aí, o que fazer? É o que muita gente que trabalha no terceiro setor acaba se perguntando na hora de inscrever sua organização ou projeto num edital.
Afinal de contas, a gente já falou por aqui sobre a enorme desigualdade de recursos e infraestrutura que as ONGs enfrentam no país. É uma questão que tem a ver com a região onde a organização atua, com a causa que ela defende, com os indivíduos e empresas que dão apoio a ela, entre vários fatores.
E mais recursos costumam se traduzir numa maior infraestrutura, planejamento, organização, mais colaboradores assalariados, experiência… Enfim, uma série de questões que aumentam ainda mais esse gap, porque ampliam a desigualdade na própria captação de recursos.
ROBERTA: Pegou no ponto, Artur! E aí, é claro, entra a questão dos editais. Porque eles representam sim uma oportunidade financeira incrível pra sua ONG ou causa do coração, mas também podem significar uma série de dificuldades.
Vou relembrar aqui um dado importante que trouxemos lá atrás, no episódio sobre a descentralização das doações no Brasil.
A pesquisa feita pela Iniciativa PIPA apontou que mais de 60% das organizações do terceiro setor no Brasil são bem pequenas, com no máximo dez membros.
E o pior: quase metade dessas organizações conta com até 5 mil reais pra funcionar ao longo de um ano inteiro.
Agora, vamos questionar um pouquinho.
Quem você acha que vai ter mais tempo, recursos, pessoal e preparo pra inscrever um projeto num edital?
Uma ONG que capta milhões de reais ao ano, com visibilidade, planejamento e dezenas de colaboradores que têm na filantropia sua principal atividade…
Ou uma organização super pequena, em que todo mundo trabalha de forma voluntária e a maior preocupação é se manter funcionando?
ARTUR: Olha, Roberta, a resposta pode ser fácil, mas também é triste e muito preocupante. E é um problema extremamente complexo num país com a dimensão do Brasil, com desigualdades tão profundas quanto as que a gente encontra todos os dias.
E, como essa é uma questão muito abrangente, achamos que, pra dar conta dos vários ângulos que queríamos falar, o ideal era trazer representantes de diferentes instituições que atuam diretamente com o assunto.
Então, hoje não vamos ter um entrevistado principal. Ou melhor, vamos ter várias conversas super ricas e inspiradoras pra apontar os melhores caminhos pra sua causa ou instituição.
ROBERTA: A Iniciativa PIPA, que fez a pesquisa sobre desigualdade entre as instituições, que eu mencionei agora há pouco, também lançou faz pouquíssimo tempo um levantamento sobre o acesso a editais.
O estudo, chamado “Pequenas ONGs e a Captação Via Editais”, foi realizado entre março e julho numa parceria com a plataforma Phomenta. E os resultados confirmam um pouco do que a gente vem falando.
Quase 60% das organizações nano, em que todos os colaboradores são voluntários, não captaram via editais nos últimos dois anos.
Em comparação, pouco mais de 17% das instituições de porte grande e médio não captaram nesse mesmo período.
E, pra além da questão de captar ou não, há uma diferença muito importante em relação aos valores. A pesquisa mostrou que o volume de recursos conseguidos por editais é diretamente proporcional ao tamanho da instituição.
Então, se dois terços das ONGs de médio e grande porte tiveram acesso a mais de 50 mil reais em recursos via editais, somente menos de um terço das mini e menos de um quinto das nano-organizações alcançou esse montante.
ARTUR: São números que ilustram muito bem essa disparidade, Roberta. Agora, quem vai falar um pouco sobre esses resultados é uma pessoa que esteve diretamente engajada nessa pesquisa. Vamos ouvir o Rodrigo Cavalcante, CEO da Phomenta:
RODRIGO CAVALCANTE: “As principais descobertas que a gente encontrou nessa pesquisa foi que… A primeira, apesar de uma dedicação próxima de tempo pros editais entre os diferentes tipos e tamanhos de organizações, a gente viu que, quanto menor a organização e menos formalizada, maior a taxa de insucesso. A segunda questão foi que, pra captar recursos, é necessário recursos. Ou seja, as organizações com mais pessoas remuneradas, dedicadas à captação, possuem maior êxito na captação. O terceiro ponto foi que as organizações dedicam um tempo valioso na escrita e submissão de projetos que poderiam estar alocados na missão ou no impacto da organização. E muitas vezes a devolutiva do processo do edital vem com um não, sem qualquer tipo de feedback, não permitindo que a organização possa aprender ou melhorar pra uma próxima tentativa.”
ARTUR: Essa fala do Rodrigo é preciosíssima, porque mostra que, mesmo quando as organizações dedicam tempo e esforços valiosos pra se inscrever em editais, as menores e com menos recursos já largam em desvantagem.
Mais que isso, falta também um retorno que permita que elas se aprimorem e se especializem na escrita de um próximo projeto. Dadas as devidas proporções, é como naquela música: “O de cima sobe e o de baixo desce”…
Mas afinal, quais as principais barreiras que as ONGs menores encontram na hora de participar de um edital?
RODRIGO CAVALCANTE: “A primeira barreira é a questão da documentação. Muitas organizações não são formalizadas, no que a gente vai chamar de projetos sociais ou coletivos. Ou organizações pequenas que têm uma dificuldade de ter toda a documentação completa, regularizada, em dia. E muitos editais vão construir uma lista muito extensa de documentação ou mesmo não vai permitir que organizações não formalizadas se inscrevam. Mas felizmente a gente tem percebido que essa realidade tem mudado, e cada vez mais financiadores, editais têm apoiado organizações não formalizadas, que a gente chama de coletivos. A segunda barreira, como eu tinha comentado, é a falta de recursos. E a organização acaba ficando num ciclo eterno, onde ela não tem recurso pra estruturar uma área de captação, contratar pessoas, produzir materiais e outras coisas pra estruturar. E, como ela não tem essa estrutura, ela não consegue captar recursos.
RODRIGO CAVALCANTE: “A terceira barreira é a própria questão da linguagem. Tanto a linguagem do edital, muito distante da linguagem da pessoa, que está ali no território na ponta. Então ela lê aquele edital, que tem regras com várias páginas e uma linguagem muito difícil, que muitas vezes ela não consegue compreender, como também a dificuldade de se comunicar dentro de padrões esperados no setor.”
ARTUR: Depois de entender os principais problemas, o que precisa mudar pra transformar esse cenário? Vêm aí algumas dicas valiosas do Rodrigo pra empresas e instituições públicas que querem fazer editais mais abrangentes e inclusivas.
RODRIGO CAVALCANTE: “O primeiro deles são processos de editais mais educativos. Então, como incluir, antes ou durante o processo de editais, formações, capacitações onde a gente prepara as organizações tanto pra gente escrever o projeto, como descrever objetivos, construir indicadores e mesmo como acessar e regularizar alguns documentos. Dessa forma, a gente também vai fazer um processo de educação que vai permitir a essa organização criar essa capacidade e ter iniciativa no futuro pra outros processos que ela vai tentar.
Segunda dica ou ação seriam processos mais simplificados e com etapas eliminatórias, em que organizações que não atendem pré-requisitos esperados são eliminadas logo no começo. Então a gente evita que organizações sigam num processo de inscrição, mandem toda a documentação, planilha de orçamentos e outros tantos documentos pra que no final ela seja eliminada porque a cidade de atuação e aplicação do projeto não atende o pré-requisito do edital. Então isso pouparia muito tempo dessas lideranças e pessoas da organização que poderia estar sendo alocado pro impacto.
Uma terceira ação, e aí é mais um sonho e talvez uma provocação do setor, seria a gente ter processos unificados. Então imagine diferentes financiadores, onde uma organização consegue se inscrever, submeter o projeto e ao mesmo tempo estar participando de diversos projetos. Isso pouparia muito tempo das organizações e seria muito valioso pra que elas conseguissem dedicar menos tempo a esses processos e de fato colocassem na ponta, na geração de impacto a qual ela pretende dentro do campo.”
ROBERTA: Essas mudanças seriam ainda mais importantes num momento que, como o Artur lembrou, concentra boa parte dos editais voltados pro terceiro setor.
E são várias as fontes que você ou sua organização podem procurar na busca por editais abertos e que tenham a ver com o avanço da causa que você defende. Por exemplo, muitas organizações nacionais e internacionais que se dedicam à oferta de editais, como a Brazil Foundation, o Fundo Brasil de Direitos Humanos, a própria ONU, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Ford Foundation…
E temos também exemplos bem perto de nós! O Movimento Bem Maior, nosso parceiro aqui no Instituto MOL, também tem um edital, o Futuro Bem Maior, que está em sua quarta edição. Na última rodada foram selecionadas 45 organizações sociais e coletivos de todo o Brasil, com o objetivo de impulsionar os processos de gestão e ampliar o impacto nos territórios onde atuam.
Além do apoio financeiro, as organizações selecionadas participam de uma jornada completa com capacitações e assessorias individuais.
E um ponto que vale sempre estar atento são os editais do governo, lançados por secretarias e projetos de nível municipal, estadual ou órgãos federais. Aí basta buscar leis de incentivo ou instituições mais alinhadas ao trabalho da sua ONG, como secretarias de cultura, do esporte, voltadas para os direitos de crianças e adolescentes, entre muitas outras.
Muitas empresas públicas ou privadas também costumam lançar editais de fomento. É o caso da Petrobras, que tem um programa anual super forte de incentivo a iniciativas socioambientais. A Eletrobras e o BNDES costumam oferecer editais em várias áreas diferentes, como a esportiva ou sociocultural. E empresas como o Itaú, a Claro, Banco do Brasil, Magazine Luiza, entre outras, também lançam editais com frequência.
A seguir, vamos ouvir a Ana Valéria Araújo, que é advogada especializada em direitos indígenas e na defesa dos direitos socioambientais. A Ana é superintendente do Fundo Brasil de Direitos Humanos, que lança todo ano um edital pra apoiar projetos de pequeno porte no combate à violência institucional e discriminação.
ANA VALÉRIA: “O apoio às pequenas organizações, ou às organizações de pequeno porte, não é só importante, mas é parte da missão do Fundo Brasil de Direito Humanos, que, como eu já tive oportunidade de comentar, reconhece serem elas atores estratégicos e fundamentais no enfrentamento das desigualdades e na promoção de transformações sociais, que são o nosso objetivo. Depois de quase 17 anos de operação, temos uma enorme experiência, diria um profundo conhecimento sobre a forma como as organizações na base da sociedade trabalham, o que nos garante a condição de identificar atores estratégicos e relevantes nos diversos temas que pretendemos apoiar. Também o compromisso que temos de ouvir de forma permanente as organizações pra entender as dinâmicas do campo e as prioridades a serem atendidas reforça essa nossa condição. Temos uma relação fundada na confiança, na capacidade das organizações que a gente apoia e buscamos garantir ferramentas que sejam simplificadas e do mais amplo acesso pra que elas possam buscar apoio e recursos.”
ARTUR: Além do edital geral que o Fundo realiza todos os anos, eles também organizam programas temáticos, em parceria com outros financiadores no campo dos direitos humanos.
E, como a Ana acabou de reforçar, tem sempre um olhar voltado pra projetos menores, com know-how e alcance local, em comunidades descentralizadas, periféricas, e que atuam em temas com maior dificuldade de conseguir recursos. O objetivo é quebrar a lógica dos editais atuais no Brasil, que a Ana vai destrinchar um pouquinho agora.
ANA VALÉRIA:“A tendência do investidor social é colocar recursos nas organizações que se conhece, nos modelos com que se está acostumado, nas organizações que se confia. E isso, na prática, significa manter a maioria dos recursos nas organizações maiores, mais bem estruturadas ou naquelas que estão mais próximas do ponto de vista geográfico, que são de fácil acesso. Ou seja, normalmente concentradas no Sul e no Sudeste, onde se concentra também a maioria dos institutos e fundações do campo de investimento social privado.”
“O não reconhecimento das pequenas organizações como sujeitos relevantes e capazes acaba por os tornar meio que invisíveis nas escolhas por investimentos de recurso. E, quando não os invisibiliza, cria empecilhos grandes que dificultam o seu acesso. E daí que eu acho que temos sim um quadro de desigualdade também na distribuição do recurso disponível que acaba por reproduzir e pode de certa forma contribuir para a manutenção das desigualdades estruturais que temos no país hoje.”
ARTUR: Hoje, algumas instituições e plataformas também já surgiram pra facilitar essa busca por editais e projetos, uma atividade que pode acabar ocupando tempo e esforços importantes.
Uma das principais é o Prosas, que conecta projetos sociais, patrocinadores e cidadãos. Por lá, você encontra uma seção totalmente dedicada a editais de vários tipos, abertos por todo o Brasil. Uma mão na roda pra quem precisa dessas informações todas num mesmo lugar.
O Thiago Alvim, que é sócio-fundador e diretor-executivo do Prosas e da Nexo Investimento Social, é quem vai falar com a gente sobre o projeto.
THIAGO ALVIM: “Antes de criar o Prosas, eu trabalhei no terceiro setor e cansei de encontrar aquele edital perfeito faltando 24 horas pra acabar as inscrições. E aí virava a noite pra elaborar a proposta. Mas, com tão pouco tempo, a proposta não ficava da forma como devia. Então uma das tentativas nossas com a plataforma é trazer muitos editais pra um mesmo lugar, pra facilitar essa consulta, fazer com que a informação chegue fácil pras organizações. E essa concentração no segundo semestre tem muito a ver com a dinâmica orçamentária das organizações. Então às vezes o primeiro semestre, que acabou de liberar ali, quando é recurso direto, quando a organização teve o orçamento do ano aprovado, aí ela vai começar a pensar sua estratégia e acaba que os editais vão amadurecer ao longo do ano.”
“Mas eu reforço pra todo mundo que trabalha com captação a perspectiva de que trabalhar a captação tem que ser um trabalho de ano inteiro. Ele vai ser concretizado no final do ano, mas o trabalho tem que ser feito ao longo do ano inteiro, em várias oportunidades, aprovando previamente os projetos que precisam ser aprovados pra chegar no final do ano só concretizando as oportunidades de captação.”
ROBERTA: E nada mais importante do que ouvir diretamente da boca da representante de uma dessas pequenas organizações quais as dificuldades do dia a dia.
A Ana Maria Pereira é coordenadora do Instituto Feminista Jarede Viana, uma organização de Maceió, Alagoas, que luta pelos direitos e contra o preconceito direcionado a mulheres negras.
A instituição nasceu lá em 2009, com um incentivo importante do governo. Mas esse apoio foi diminuindo com o tempo, e elas precisaram buscar outras formas de captação pra desenvolver trabalhos com mulheres e jovens em vulnerabilidade ou vítimas de violência.
ANA MARIA: “Para atingir esses objetivos, obviamente que a gente precisa de suporte financeiro. Um suporte financeiro seja a partir de edital ou captação a partir de pessoas jurídicas, físicas. Mas eu diria que as sociedades, principalmente as organizações de pequeno porte, têm grandes problemas em relação a editais, porque os editais, além de serem muito complexos para alguns grupos, nós conhecemos organizações que não têm nenhuma pessoa formada de nível superior. Se tem, tem uma, duas. E obviamente que, para esses editais mais complexos, é necessário uma qualificação técnica.”
“Eu tenho percebido que ultimamente os editais privados de instituições que tem pessoas que já atuaram no campo da militância, por exemplo, o Fundo Elas, têm uma linguagem muito mais acessível. E também fazem editais que são muito mais flexíveis na hora da utilização do recurso. Óbvio que nós temos que prestar conta de tudo que nós fazemos. Olha, aconteceu um imprevisto, agora não dá pra fazer isso aqui. Vamos resolver o que tem mais urgente. Aí a gente vai lá e tem um recurso que dá pra resolver algo que aconteceu de forma inesperada e nós precisamos dar conta. Mas recursos captados via editais de governo ou estado, ou seja, federal, estadual ou municipal, eles trazem um nível de complexidade que a gente acredita que não é pra nenhuma instituição de pequeno porte ou médio porte passar.”
ROBERTA: Esse trabalho de busca por editais, que a organização já vem desenvolvendo há alguns anos, também trouxe experiências e aprendizados importantes. São alguns deles que a Ana vai compartilhar com a gente neste momento.
ANA MARIA: “É necessário fazer monitoração dos editais, monitoração das plataformas. Vai lá na plataforma e dá uma olhada pelo menos uma vez por semana. Abriu o edital, olha pra que território aquele edital está sendo direcionado. É pro Amazonas? É pra região Nordeste? É pra Minas Gerais e São Paulo? Pra quais cidades? Identificou isso, olha a pauta. Em que é que essa instituição ou fundo investe? Quais são as principais pautas desse fundo? Por exemplo, raça, gênero, enfrentamento à violência, alimentação, enfrentamento à fome. A partir do momento que você identifica esse panorama do edital, você também precisa olhar pra dentro da sua organização. Minha organização tem a ver com esse edital, eu tenho algum histórico nesse processo? Está dentro da nossa missão? E estando, você conectou ali, vai embora inscrever. Se vai dar certo ou não, isso só o tempo dirá, o resultado. Mas ninguém perde escrevendo projeto, cada dia a gente aprende um pouco.Muitas vezes é aprendendo e errando, e errando e aprendendo que nós vamos construindo.”
“E fazer esse monitoramento não é algo tão difícil porque são poucos editais. O que é difícil realmente é passar, porque nós temos instituições de pequeno porte do ponto de vista financeiro, mas que são grandiosas do ponto de vista da capilaridade e das ações desenvolvidas. Então nós só precisamos que os grandes empresários, as empresas de médio porte, a sociedade civil mesmo, ali com seu CPF, e os governos olhem com mais carinho pra esses atores que fazem diferença sim na construção de um Brasil melhor.”
QUADRO “PRA SABER MAIS”
ARTUR: Muito bom! Essa fala da Ana traz algumas sugestões super valiosas pra quem quer inscrever um projeto num edital, mas não sabe por onde começar nem como buscar o programa mais adequado. Inclusive, ela me inspirou a trazer uma dica importante. Vamos aproveitar pra abrir nosso quadro “Pra Saber Mais” de hoje com ela?
Falo então de dois conteúdos do Observatório do Terceiro Setor com mais detalhes sobre a melhor maneira de elaborar um projeto pra um edital. Um deles é uma palestra com o ex-diretor-executivo da ABCR, a Associação Brasileira de Captação de Recursos, o João Paulo Vergueiro, em que ele fala sobre o que se deve fazer e o que evitar ao escrever um projeto. A outra é uma lista com dez dicas pra criar uma proposta de sucesso pra sua organização.
Como sempre, os links para todas as dicas que vamos dando por aqui você encontra na descrição do episódio.
ROBERTA: Perfeito, Artur. E a gente não poderia deixar de citar mais uma vez as plataformas que reúnem esses editais, fazem a ponte com as organizações e basicamente facilitam a vida de quem trabalha no terceiro setor. Claro, tem a plataforma Prosas, de que já falamos bastante. Também vale a pena sempre dar uma checada na seção de editais do site da ABCR, porque tem muita coisa legal e atualizada por lá.
ARTUR: O site Idealist tem uma parte toda voltada pra diferentes formas de captar recursos. E a plataforma Êxitos, criada pela Rede Filantropia, é outra que reúne fontes de captação, como editais, premiações e leis de incentivo. Essa precisa de uma assinatura paga, mas dá pra fazer um teste de sete dias pra testar se funciona pra você.
Se tiver vontade de se aprofundar na captação de recursos como um todo, pra entender melhor a atividade, aí vão duas indicações de leituras. A primeira é o livro “Captação de Recursos”, do Fernando Aguiar Camargo, que tem experiência em administração e governança corporativa. E também vale dar uma olhada no “Guia Prático de Captação de Recursos”, do empreendedor social norte-americano Darian Heyman. Esse você encontra pra baixar gratuitamente no site da Rede Filantropia.
ROBERTA: Fechando o “Pra Saber Mais” desse episódio, a gente super recomenda que você leia a pesquisa “Pequenas ONGs e a Captação Via Editais”, da Iniciativa PIPA com a Phomenta, que serviu como base pra boa parte da discussão de hoje. Lá você vai entender mais a fundo o que falamos sobre a desigualdade de recursos na filantropia brasileira. E vale a pena escutar a conversa que tivemos sobre descentralização de doações, no episódio 89 aqui do podcast e ainda descendo mais um pouco o feed, tem o episódio 46, “Como unir projetos e financiadores?” em que a gente tem um papo bem legal com o Thiago Alvim, fundador e diretor executivo do Prosas, plataforma que auxilia justamente os dois lados a fazer essa ponte de forma mais prática e eficiente. Tem tudo a ver com o tema de hoje!
ARTUR: E Roberta, vou te dizer: fiquei muito feliz com o resultado dessa nossa conversa, com tanta gente ligada a esse universo de editais pro terceiro setor. A gente tá sempre falando de captação e formas de financiamento das atividades sociais, mas é importante se aprofundar em temas como esse, que fazem tanta diferença pro dia a dia de quem vive essa luta.
ROBERTA: Aaah, e mais um episódio do podcast já vai se aproximando do final. Mas não fica triste não. O programa pode ter terminado, mas essa nossa conversa sobre editais pro terceiro setor está só começando. E dá pano pra manga, viu!
Pra continuar acompanhando esses e outros temas do universo da filantropia, é fácil. Corre pra seguir nosso Instagram e LinkedIn, lá no @institutomol. Se quiser fazer uma crítica sobre o episódio ou dar sugestões pros próximos, manda seu comentário por lá e compartilha com seus contatos. E, se curtiu o papo, não deixa de enviar suas opiniões e elogios. É esse feedback de vocês que ajuda a gente a melhorar cada vez mais o programa. Também não esquece de distribuir aquelas estrelinhas no Spotify pra que mais gente possa ouvir e participar da conversa…
ARTUR: Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior. O episódio teve produção e roteiro de Leonardo Neiva, com roteiro final e direção de Ana Ju Rodrigues e Vanessa Henriques, assistência de gravação de Vitória Prates, arte da Glaucia Ribeiro e divulgação de Júlia Cunha, todas do Instituto MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts.
Até a próxima!