by Instituto MOL
ROBERTA: Salve, salve nação doadora!
Tá no ar o seu podcast favorito sobre cultura de doação, produzido pelo Instituto MOL com apoio do Movimento Bem Maior e divulgação do Observatório do 3º Setor!
Aqui, você fica por dentro dos assuntos do momento na filantropia e na cultura de doação,
a partir de informações, pesquisas e entrevistas com importantes personagens do setor no Brasil.
Tudo de forma clara e objetiva, sem enrolação
Eu sou Roberta Faria
ARTUR: Eu sou Artur Louback
E, semana sim, semana não, a gente te convoca a vir junto nessa conversa, pra inspirar mais e mais pessoas e empresas a doar! Doar com propósito, com consciência e com o coração!
Afinal,
ROBERTA/ARTUR: aqui se faz,
aqui se doa!
SOBE SOM
ROBERTA: Olá, estamos de volta!
E neste episódio vamos tratar de um assunto que nunca vai deixar de ser urgente e essencial em qualquer país do mundo. Afinal, é a política que define os rumos da sociedade, da educação, da economia, do combate a problemas como a fome e a desigualdade…
Mesmo que isso nem sempre fique tão claro no nosso dia a dia.
Não dá pra esquecer que a gente veio de um ano com eleições bastante atribuladas aqui no Brasil, em que a autoridade máxima, o presidente do país, foi eleito com uma margem de menos de dois por cento dos votos. Pra se ter ideia, foi a eleição mais apertada pro cargo na história da nossa democracia.
Então, não é nenhum exagero dizer que a gente vive num país bastante dividido politicamente… O que dificulta que ações, legislações e avanços em diversas áreas saiam do papel.
E nada vai nos dar uma medida melhor da nossa política do que o Congresso Nacional. Especialistas inclusive apontam que os senadores e deputados eleitos no ano passado formam a versão mais conservadora da instituição de toda a democracia brasileira… o que não é pouca coisa.
ARTUR: O ponto que vamos analisar hoje é uma consequência direta dessas escolhas políticas. Ou seja, o que um Congresso mais conservador significa para o terceiro setor no Brasil?
E como um Poder Legislativo mais à direita e um Executivo mais à esquerda podem se alinhar pra fazer avançar a filantropia e a cultura de doação no país?
Complexo, né? Quem vai estar com a gente hoje pra debater o assunto difícil e cheio de nuances que é a política nacional e seu impacto no terceiro setor, é o diretor-executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos, a ABCR, nosso parceiro Fernando Nogueira.
Doutor em administração pública e governo pela FGV, ele já teve passagens importantes por instituições do terceiro setor, como o Gife, e também já esteve no cargo de coordenador de projetos de inovação pública, na Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia de São Paulo.
Ou seja, já participou de diferentes lados dessa equação de que estamos falando.
ROBERTA: E esse é um ponto super central sempre que a gente fala em políticas públicas pro terceiro setor, Artur. Afinal, estamos sempre ressaltando aqui a importância do advocacy por uma série de causas, que impacta nossos agentes políticos e incentiva a criação de políticas públicas relevantes.
E o advocacy, como a gente sabe, significa reivindicar direitos, fazer pressão mesmo e estabelecer linhas de diálogo com as várias instâncias do poder público.
Criar essas pontes nunca é uma coisa fácil, muito menos óbvia. Ainda mais num país como o Brasil, em que as ONGs ainda são vistas com desconfiança por parte da população e da classe política.
Com um Congresso mais conservador, algumas notícias ilustram bem as barreiras que certas causas encontram. Em alguns casos, a luta é menos por avanços do que pra conter retrocessos…
ARTUR: Roberta, não chega a ser uma surpresa ouvir algumas dessas notícias, até porque as últimas formações do Congresso já tinham uma inclinação conservadora e de extrema-direita, até antes do governo Bolsonaro.
Não à toa são tantas tentativas de retrocesso quando o tema é o meio ambiente, por exemplo. Afinal, a Frente Parlamentar da Agropecuária, mais conhecida como bancada ruralista, é o grupo mais forte do Congresso já faz algum tempo…
E ele segue super fortalecido.
Claro que existem outras instâncias tão importantes nessa balança quanto o Poder Legislativo, representado pelo Congresso.
A questão do marco temporal, por exemplo, acabou definida por outro Poder. O marco temporal se baseia na ideia de que os povos indígenas só têm direito de ocupar terras que já ocupavam ou disputavam em outubro de 1988, quando foi promulgada nossa Constituição.
O projeto foi aprovado na Câmara e estava sendo discutido no Senado. Só que o Supremo Tribunal Federal, órgão máximo do Poder Judiciário, derrubou a tese, por considerar inconstitucional.
Vale lembrar: muitos especialistas e lideranças indígenas acreditam que o marco ameaça a sobrevivência de povos indígenas e áreas florestais, gerando conflitos, violência contra indígenas e um caos jurídico no país.
ROBERTA: Por outro lado, Artur, o Congresso também pode e acaba ditando muitos pontos do Poder Executivo. Até porque o Presidente precisa do apoio de um número expressivo de parlamentares pra governar. É sobre essa relação que a Luiza Lima, coordenadora de políticas públicas do Greenpeace, vai falar a seguir:
LUIZA LIMA: “O governo precisou reconstruir boa parte dessas políticas e de parte dos ministérios, que estavam de fato desmontados por dentro e remontar essa relação com o Congresso Nacional, que não tem sido simples. E aí a gente tem enfrentado dificuldades inclusive na relação, porque a bancada ruralista, como bem colocado, ela é fortíssima e tem conseguido junto com as demais forças do Congresso Nacional, com grande apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira, que tem muito poder e quer mais sempre manter esse poder muito nas mãos dele, de conseguir barrar coisas muito do Poder Executivo, como por exemplo enfraquecer Ministérios como do Meio Ambiente e Povos Indígenas. E outros projetos que avançaram na Câmara dos Deputados, como o projeto do Marco Temporal, que agora tá no Senado Federal, e que ataca fortemente os direitos indígenas”
ROBERTA: Como já apontou a colega Paula Fabiani, diretora-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, o IDIS, num artigo na Folha de S. Paulo, a filantropia é sim uma ação política. Num contexto em que o ativismo e a defesa de causas sofrem hostilidades, defender nossos direitos deve ser prerrogativa do terceiro setor, mesmo que nossas ações sejam apartidárias.
Por isso, organizações filantrópicas como o Politize! e o Pacto pela Democracia estão aí pra atuar justamente nessa intersecção, promovendo a educação política, a defesa de práticas democráticas e de direitos humanos cruciais pra vida em sociedade.
Um ótimo exemplo é o movimento ONGs pela Democracia. No ano passado, a mobilização uniu uma série de instituições do terceiro setor pra dialogar com a população sobre a importância do voto consciente, ocupando as ruas e redes em várias cidades do Brasil durante o segundo turno das eleições.
Ou em 2020, quando mais de 70 instituições, incluindo organizações da sociedade civil, se uniram na campanha Brasil pela Democracia, em resposta a manifestações antidemocráticas e ataques a instituições que aconteceram na época.
“No passado, muita gente precisou deixar as divergências de lado e se unir para construir uma democracia forte. Resistência e luta são a base do noso estado democrático de direito. Por isso ele é sólido e resistiu bravamente a todas as ameaças a que foi submetido. E vai continuar resistindo, porque a vida e a democracia são nossos bens mais valiosos. E toda vez que elas estiverem ameaçadas, a gente vai se juntar para defendê-las.”
ARTUR: Essa fala sobre resistência, que apresentou o movimento Brasil pela Democracia, vale ainda hoje. Até porque, no momento, o terceiro setor segue sendo alvo de parlamentares e grupos dentro do Congresso, como o que formou a atual CPI das ONGs no Senado.
Mas por que será que a proteção do meio ambiente e dos direitos indígenas, além de questões como os direitos LGBTQIA+ ou o aborto, aparecem sempre no centro dessas disputas conturbadas entre o terceiro setor e a política, especialmente no Congresso? A Luiza, do Greenpeace, vai nos explicar um pouco melhor esse fenômeno.
LUIZA LIMA: “As pautas socioambientais, isso também não é de hoje, elas são também bastante centrais nessas negociações. Elas têm bastante relevância dentro do Congresso Nacional e do governo Executivo porque são pautas bastante de disputa. E quando a gente vê de fato setores muito poderosos dentro do Brasil, com muito recurso financeiro, muito dinheiro para fazer avançar suas pautas, ganhando sempre, sempre conseguindo muito mais, seja através de políticas nacionais, com recursos do Plano Safra, com desonerações de impostos, seja tentativas constantes com que esse setor, boa parte dele ainda tem, de apostar em desregulamentação da nossa legislação de forma a conseguir afrouxar as medidas de proteção socioambientais hoje existentes. Então essa sim foi uma pauta de disputa. A gente tem visto ela com mais veemência agora, talvez inclusive pela pior razão que poderia acontecer. A pauta socioambiental ganhou, a meu ver, mais protagonismo na sociedade brasileira durante o governo Bolsonaro diante do tamanho fracasso, diante da tamanha tragédia que foi o governo pra essa pauta. Então acho que a sociedade acordou pra olhar pra isso diante da crise climática que a gente está enfrentando.”
ARTUR: Essa fala da Luiza é importantíssima, porque nos recorda que todo tema e toda causa tem um contexto diferente, assim como uma resistência maior ou menor dependendo da composição política.
E a ação política das ONGs pode ocorrer por meio de diálogos com parlamentares ou representantes do Executivo, mas também de outras formas importantes, até fora das paredes do Congresso Nacional.
Em março, um grupo de organizações lideradas pelo Conectas recorreu ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. A intenção era questionar projetos de lei que mudavam a legislação brasileira sobre terrorismo, podendo gerar perseguição política e ideológica.
Já em maio, o movimento Avaaz posicionou filas de mochilas vazias no gramado em frente ao Congresso Nacional. Um ato simbólico lembrando as vítimas de violência em escolas pelo Brasil e em defesa da regulação das redes sociais contra fake news, que teriam motivado parte desses ataques..
ROBERTA: Depois desses exemplos, está chegando a hora de passar a palavra a uma autoridade quando o assunto é organizar o terceiro setor e fomentar políticas públicas em torno de causas filantrópicas. Estou falando do Fernando Nogueira, diretor-executivo da ABCR e nosso entrevistado de hoje no podcast.
No cargo desde janeiro, quando nosso colega João Paulo Vergueiro deixou a presidência da associação, o Fernando tem uma longa trajetória na filantropia, com passagens por instituições como o Gife, a Fundação Kellogg e o Comitê para Democratização da Informática. Pelo Instituto Doar, ele também liderou o comitê de seleção do Prêmio Melhores ONGs de 2017 a 2022.
Além de administrador de empresas, doutor em administração pública e governo e professor e pesquisador da FGV, o Fernando trabalhou por 3 anos na Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia da Prefeitura de São Paulo. Durante o ano de 2022, ele prestou serviços à ABCR como consultor de gestão estratégica. Vamos ouvir a entrevista que o Artur fez com ele.
ARTUR: Oi, Fernando! Muito obrigada pela presença
FERNANDO: Eu agradeço pelo convite. É muito bom estar falando em um podcast que eu escuto e admiro muito.
ARTUR: Passando a pauta, vamos falar dessa configuração atual do nosso Congresso. As últimas eleições escolheram uma configuração legislativa bastante conservadora, apesar da mudança crucial no Executivo. Hoje, você considera que está mais fácil ou mais difícil avançar em termos de políticas públicas para o terceiro setor? O que mudou nessa relação?
FERNANDO: Esse Congresso tem algumas coisas novas, mas também tem todo um histórico por trás. Historicamente a sociedade civil e suas lideranças buscam fazer esse diálogo, mas a gente observa dois movimentos contrários e tensionados. De um lado, o novo governo federal tem buscado diálogo com sociedade civil, do outro lado temos parte dos congressistas que são contrários à participação das ONGs, vemos isso de forma clara, como na CPI das ONGs. É sintomático que, mesmo nesse governo, ressurgiu o tema da desconfiança e se colocou uma CPI das ONGs. Ainda sim temos muitos espaços de diálogo.
ARTUR: Fernando, a gente nota um diálogo muito truncado das ONGs com o Congresso. Rola uma polarização muito grande nesses setores, sempre foi assim ou é algo recente?
FERNANDO: Não é algo novo. Hoje observamos que a movimentação do Congresso acontece em 2 planos: por um lado, há um discurso de negociação e outro de negação da importância do terceiro setor, com deputados que, inclusive, espalham fake news em suas redes sociais. Voltando ao passado, chegamos à ditadura militar que alimentou a ideologia dos “inimigos internos” que os militares precisavam combater, ou seja, esquerdistas, sindicatos, e outros que representavam uma “ameaça à paz”. Eu não tenho dúvida que a grande adição a essa lista nos últimos 15 ou 20 anos foram as ONGs e a sociedade civil organizada. As organizações eram menos organizadas nos anos 60, mas hoje em dia recebem mais protagonismo, o que gera desconfiança.
ARTUR: Você vê possibilidades de diálogos construtivos para organizações sociais com parlamentares ou a gente está num momento ainda de firmar as bases desse novo momento democrático?
FERNANDO: O diálogo é uma luta em busca constante. ABCR, junto com várias outras organizações, está envolvida em diálogos em torno de temas da reforma tributária e aí a gente busca diálogo claro com quem tem proximidade com a sociedade civil, mas é importante também buscar o diálogo com quem está contra algumas propostas que beneficiam a sociedade civil, mesmo aqueles que fizeram declarações que a gente não concorda de jeito nenhum, mas é importante buscar diálogo e levar informação informação de qualidade, baseada em pesquisas e evidências. Talvez a gente não consiga convencer todo mundo ou a gente sabe que é difícil mudar posições, mas faz parte do jogo democrático e é muito importante que a gente construa esse diálogo.
ARTUR: Nessa formação atual do Congresso a gente percebe que eles são sensíveis a questão da filantropia ao terceiro setor ou quando se atuam tem que ir diretamente nesses parlamentares, como um trabalho de formiguinha?
FERNANDO: Um pouco dos dois, com contatos individuais e percebemos um esforço amplo da sociedade civil. Historicamente nas últimas legislaturas tem sempre frentes parlamentares do terceiro setor. Logo logo teremos uma frente parlamentar de defesa da sociedade civil.
ARTUR: Fernando, você acha que pelo radicalismo contra as organizações sociais o assunto, de alguma forma, vem mais à tona e muitas vezes fica mais fácil de discutir? A CPI das ONGs pode ser uma oportunidade de esclarecimento de que as ONGs são honestas e mostrar como elas funcionam?
FERNANDO: Sim, é uma forma de mostrar nossa transparência e dialogar no macro. O nosso setor é invisibilizado, quando se lembra das ONGs é durante uma denúncia, atenção emergencial, mas doação, filantropia e ONGs não são assuntos comuns do dia a dia, então é importante iniciativas que tentam desenvolver uma comunicação ampla para inserir esse assunto não é no dia a dia, mas, principalmente, longe das polarizações, mostrando fatos, números e histórias da diferença que as ONGs fazem na vida das pessoas e da sociedade.
ARTUR: Você nota uma evolução na questão do advocacy e da capacitação de pessoas dentro das organizações? Há uma luta interna de busca pelo diálogo, de busca de colocar as pautas das associações para lutar por esse diálogo, por colocar pautas ao colocar o assunto mais na pauta do dia a dia da mídia também tudo como que se nota desde que você está nesse setor a evolução?
FERNANDO: Advocacy e incidência política é sempre um desafio porque as mudanças são muito lentas, é um assunto, para exemplificar, que surgiu quando eu estava na faculdade há 20 anos, são esforços de anos, às vezes décadas, você precisa ter conhecimento técnico, diálogo, contatos políticos e financiamento para produzir e manter presença em Brasília. É um grande desafio. Organizações, como nós da ABCR, têm estado cada vez mais atentas e buscando consolidar os seus programas, mas também os filantropos e os investidores sociais estão mais atentos à necessidade de financiar. É necessário manter esse esforço para mudar, por exemplo, a legislatura.
ARTUR: Agora, na atual gestão do poder executivo, notamos um esforço de formar um grupo com lideranças do setor social para aumentar essa interlocução e levar as pautas e necessidades do dia a dia, você nota um avanço no diálogo diretamente com o executivo e com os ministérios?
FERNANDO: Existe um esforço institucional do governo. Na Secretaria geral da presidência existe uma diretoria para participação, existe também uma vontade de retomar várias propostas que vinham do Marco regulatório das organizações da sociedade civil, implementar, de fato, maior instância de diálogo e maiores canais no diálogo direto com cada Ministério, que envolvem a área social, como saúde, educação e esporte, eles têm retomado esse diálogo, mas ainda com muitos desafios. Talvez por causa das demandas de reorganização do próprio governo, muitas políticas públicas tenham ficado paralisadas ou precisaram ser retomadas quase do zero, então muitos servidores públicos estão dedicados a isso, então as práticas de diálogo com a sociedade civil ficam em segundo plano. Mas existe a vontade de dialogar mais, isso é evidente.
ARTUR: Você falou da questão da reforma tributária, esse é um desafio maior do setor, uma luta antiga e histórica e que, agora, parece estar se encaminhando para algum lugar. É uma pauta ampla que envolve Congresso, ministérios, poder executivo e outros. Imagino que a interlocução seja ampla, as pessoas que estão ali trabalhando no advocacy tem que circular em muito gabinetes. Além dessa pauta, qual outra citaria aqui que vocês já conseguiram colocar na fila de discussão/negociação ou que já virou o projeto de lei?
FERNANDO: Falando pela ABCR, levantamos muito a bandeira da reforma tributária, principalmente o ITCMD, o famigerado imposto sobre doação, que tem boas chances dele acabar, o que é uma bandeira histórica. Outro que está em discussão é um projeto de lei conhecido como Marco Bancário sobre a relação das organizações da sociedade civil com o sistema financeiro. As pessoas muitas vezes não sabem sobre a dificuldade que é abrir uma conta, e ter acesso a serviços financeiros básicos, as taxas são muito altas.
Essa é uma das razões de organizações da sociedade civil não serem reconhecidas como fonte legítima de receita, nós, da ABCR, junto à senadora Mara Gabrilli estamos liderando essa bandeira. A senadora tem um projeto de lei da criação do Marco Bancário das nações para colocar a doação como uma das formas de pagamento dentro do sistema financeiro nacional. É algo novo, lançado em 2020, mas esperamos ver avançar quem sabe nesse ou no próximo ano.
ARTUR: Perfeito! Vamos a última pergunta. Nesse cenário de tanta polarização, existem outros campos políticos que estão interessados ou abertos ao diálogo com as organizações da sociedade civil?
FERNANDO: A própria sociedade civil é muito plural. A gente precisa lembrar que ela também representa todos os espectros ideológicos de posicionamentos que a gente vê refletido no Congresso. Existe um certo alinhamento do grupo que está atualmente no governo com um recorte da sociedade civil, de lutas históricas e muita proximidade com o movimento sindical e outros movimentos populares, mas muitos setores da sociedade civil não estão alinhados ao centro esquerda, às vezes estão à direita.
A gente sempre vai ter algum nível de diálogo com qualquer senador, deputado, enfim, por mais diferente que seja o espectro ideológico. Em diálogos republicanos a gente espera que exista o mínimo de critério técnico para fazer distribuição dessas emendas que isso não seja feito de forma simplesmente a conceder algum poder político ou até financeiro legal ou ilegal. Sempre esperamos que o diálogo seja construído da forma mais transparente e efetiva possível.
ARTUR: Fernando, estamos caminhando para o final do nosso tempo. Quero deixar as portas abertas para você vir sempre que quiser ao nosso podcast.
FERNANDO: Eu queria deixar um último recado. Além de agradecer muito a oportunidade para falar sobre esse tema que a ABCR está muito envolvida, outro tema que estamos pessoalmente dedicados e que fura bolhas ideológicas, que é o Dia de Doar. Essa data internacional há 10 anos foi trazida ao Brasil por nós, e é um movimento amplo, convidamos todos a participarem dessa grande campanha de doação dia 28 de novembro.
ARTUR: Muito bem lembrado, Fernando! A gente é muito parceiro da luta pelo Dia de Doar no ano passado, a gente fez uma cobertura ampla aqui no podcast e esse ano faremos novamente. Fica aí o convite para quem quiser participar do movimento, para que ele se torne cada vez maior.
ROBERTA: Fundamental essa conversa, Artur! Quanto mais conhecermos a política e o fazer político do nosso país, mais ferramentas vamos ter pra agir junto aos nossos representantes em defesa de causas centrais pro debate público. E, falando em ferramentas, acho que já podemos abrir nossas dicas de hoje do quadro “Pra Saber Mais”.
Nossa primeira sugestão engloba muito bem essa necessidade de conhecimento que acabei de citar numa ferramenta que pode ser muito útil pro dia a dia das organizações. O Legislatech é uma plataforma desenvolvida pelo NucleoTech, braço tecnológico do Núcleo Jornalismo, feita pra monitorar a Câmara dos Deputados, o Senado, o Poder Executivo, assembleias legislativas e governos regionais.
Dá pra pesquisar assuntos do seu interesse, vasculhar documentos oficiais e até criar alertas personalizados, que vão te manter antenado nas novidades e no desenrolar das discussões. A plataforma é paga e sai por 500 reais ao ano, mas tem um período de teste de uma semana pra avaliar se vale a pena investir no sistema.
ARTUR: Muito bom, Roberta! E, seguindo por esse caminho de absorver informações relevantes pra organizações do terceiro setor na política, outra sugestão é dar uma olhada no Relatório Criminalização Burocrática, publicado em 2022 pela Abong, a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais. É um estudo super completo e meticuloso que detalha os ataques à sociedade civil por parte de instituições públicas e governamentais, dificultando a captação de recursos e até botando em dúvida a atividade de determinados indivíduos e organizações. E, talvez, o mais importante, mostrando caminhos possíveis pra se defender e reivindicar direitos.
Agora, indo da leitura pro cinema… Existem vários documentários e longas de ficção que exploram essa dura relação entre política, o ativismo da sociedade civil e a defesa de causas relevantes. Um deles é o filme norte-americano “Milk: a voz da igualdade”, estrelado por Sean Penn. Vencedor de dois Oscars, o longa conta a trajetória do ativista pelos direitos dos homossexuais Harvey Milk, o primeiro homem assumidamente gay eleito para um cargo público nos Estados Unidos. O filme está disponível no streaming do Telecine. E, se quiser conhecer ainda melhor essa história, vale a pena dar uma olhada no documentário “Os Tempos de Harvey Milk”, também vencedor do Oscar. O problema é que o filme não é tão fácil de encontrar hoje na internet.
ROBERTA: E, encerrando o “Pra Saber Mais” de hoje, aí vai outra dica audiovisual. Desta vez, estou falando da TED Talk do ativista e filantropo norte-americano Dan Pallotta. No vídeo, ele fala sobre como precisamos mudar nossa visão a respeito do terceiro setor, passando a focar a atenção em instituições que propõem e criam soluções, pautam o debate democrático e influenciam a criação de políticas públicas que ajudam a mudar nossa sociedade para melhor. Ou seja, um pouco de tudo que temos falado por aqui.
Ele esteve conosco em 2020, no Seminário Doar, o link de todas as indicações estão na descrição do episódio.
ROBERTA: E o episódio de hoje do podcast vai ficando por aqui. Esperamos que essa conversa sobre política, Congresso e o terceiro setor tenha sido não só inspiradora, mas esclarecedora sobre como participar ativamente da formulação de políticas públicas para a sua causa do coração.
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ARTUR: Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior. O episódio teve produção e roteiro de Leonardo Neiva, com roteiro final e direção de Ana Ju Rodrigues e Vanessa Henriques, assistência de gravação de Vitória Prates, arte da Glaucia Ribeiro e divulgação de Júlia Cunha, todas do Instituto MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts.
Esse episódio usou áudios da TV Cultura, da Rede Globo, da Rádio CBN, do jornal O Povo e da Oxfam Brasil
Até a próxima!