Transcrição EP #62 – NFT e criptomoedas: o que a doação tem a ver com isso?

Artur: Pra quem tem a minha idade ou a da Roberta, quando alguém fala em dinheiro, o que vem à cabeça são notas de papel que a gente usa ou usava, né? Ou ainda usa? Só que cada vez mais raramente e quando se fala em arte, então, eu penso naquele quadro lindo, esculturas, coisas palpáveis. Mas, já faz um bom tempo que a gente usa muito mais cartões do que notas e há alguns anos só se fala no dinheiro cem por cento virtual. Vocês devem conhecer como criptomoedas. Para grande maioria das pessoas, em que eu me incluo, ainda é difícil enxergar as aplicações práticas das criptomoedas em coisas simples, como comprar e vender com elas, né? Como você faz, assim, pra pagar o moço ali? Na verdade, hoje você pode usá-las até pra comprar certificados digitais de obras de arte, os NFTs. O que não dá pra negar que essas e várias outras novidades digitais, parece que vieram pra ficar e são mais uma porta de entrada de recursos que podem servir pro terceiro setor, por que não? Com novas oportunidades de doar!

 

Eu sou o Artur Louback.

 

Roberta: Eu sou a Roberta Faria.

 

Artur: E o futuro das doações é o tema de hoje no…

 

Artur e Roberta: Aqui se faz, Aqui se Doa!

 

Artur: Está começando mais um novo episódio do Aqui se faz, Aqui se Doa, o seu podcast semanal sobre cultura de doação produzido pelo Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e da Ambev, além da divulgação luxuosa e especialíssima do Infomoney.

 

Roberta, não sei se você se acha assim, mais ou menos, no mesmo grupo do que eu, mas o tema de hoje faz eu me sentir um pouquinho velho. Ainda bem que nunca é tarde demais para aprender, se reinventar e olhar o mundo de outra forma. E, não só isso. Pra descobrir como usar essas novas ferramentas, alinhadas para o que a gente fala aqui, ajudar ao próximo, ser solidário, apoiar causas…

 

Roberta: É isso, Artur! É normal a gente se perder logo de cara com esses conceitos, até porque ninguém nasce sabendo e muitos deles vem criados, levados a frente por novas gerações, enfim, não fazem parte do nosso grupo, da nossa realidade às vezes. Mas aos poucos a gente vai descobrindo que tem muitas maneiras de usar essas ações para fazer o bem e até para alavancar o recebimento de recursos das instituições e causas que a gente apoia.

 

Artur: Pois é, são novas opções que vão surgindo que se somam às que a gente já tinha e também coisas novas, como o próprio Pix, igual a gente já falou aqui e porque não? Tudo o que tiver e puder somar como diz o técnico de futebol, “o que puder somar, aí, tá bem-vindo”.

 

Roberta: Com certeza! E só pra ninguém ficar boiando, a gente vai falar com um pouco mais de calma sobre essas tecnologias que o Artur citou, começando pelo conceito do blockchain, que você deve conhecer pelo menos de nome já que existe aí desde o início dos anos 1990, bem antes de a maioria das pessoas ter seu computador pessoal em casa. Ele nada mais é do que uma espécie de corrente de dados que permite rastrear o envio e recebimento de doações, geralmente financeiras. O nascimento dessa tecnologia tá diretamente conectado ao das criptomoedas 2008, ela que permite que o bitcoin e várias outras moedas possam funcionar.

 

Artur: É justamente o blockchain que tá na base da criação dos chamados NFTs, os tokens não-fungíveis, eu acho esse nome maravilhoso, que surgiram lá atrás em 2014, mas só foram explodir mesmo no ano passado, que as pessoas começaram a falar de forma mais recorrente. Vale dizer que a maioria das pessoas não faz a menor ideia do que é, mas faz de conta. Os tokens não-fungíveis, então, são tokens digitais criptografados, cada um representando algo único, por isso, em geral eles são comprados e vendidos como a principal forma de manter uma propriedade digital sobre uma obra de arte digital, uma música, um meme, entre outras coisas.

 

Outro dia eu ouvi uma definição que era boa: que o NFT é como se fosse o CPF da obra de arte. Interessante.

 

Roberta: No Brasil, assim como no resto do mundo, criptomoedas já são um mercado mais estabelecido, enquanto os NFTs ainda são relativamente novos, mas já vem sendo mais e mais comercializado com diversos projetos e empresas nascendo em torno deles. E já se tornaram comuns os leilões de obras de arte e objetos em NFT com parte da renda revertida em doações para instituições do terceiro setor.

 

Artur: No ano passado, aqui no Brasil, a empresa de moda infantil Pampili fez leilão do NFT de um tênis especial, com 70% dos recursos conseguidos, revertidos para o Movimento Saber Lidar, uma organização voltada para promover a saúde mental. E o mais legal é que essas vendas acontecem pro mundo inteiro, então o tênis foi vendido por sete mil dólares para um comprador na China.

 

Roberta: Não é um volume absurdo, mas se você pensar que um tenis custa menos de cem reais, alguém pagar por um tênis digital sete mil dólares é impressionante. A gente inclusive falou dessa história em um dos talks que rolou no quarto Encontro de Doar de 2021, lá no YouTube do Instituto MOL você confere uma entrevista com a Juliana Fleury, CEO voluntária do Movimento Saber Lidar que foi a organização beneficiada por esse leilão e conta como foi a experiência. A gente vai deixar o link na descrição aqui do podcast pra você conferir na sequência.

 

Além desse caso da Pampili, desde 2021 a gente tem visto várias outras experimentações nesse campo, teve o Jogo de Cartas Parallel que existe em NFT e com um leilão arrecadou mais de 260 mil dólares para a plataforma de aprendizagem online Khan Academy, a Havaianas fez um NFT doado para Ong Ipê, o Gerando Falcões fez uma parceria de obra de NFT com a BMW, que também gerou renda pra eles, a WWF fez uma coleção mundial de obras de arte inspiradas em animais em extinção também em NFT. A Ampara Silvestre fez uma campanha com obras de arte inspirada pela onça pintada e por aí vai. Tem um monte de casos bem interessantes pra quem quer se aprofundar.

 

Artur: Toda essa grana que se arrecada com as NFTs costuma ser recebida em criptomoeda. Hoje em dia, várias empresas permitem ter esse dinheiro na sua conta ou no seu cartão sem grandes dificuldades. Mas vale lembrar que o valor depende muito da cotação da criptomoeda em que você recebeu. Aliás, as criptomoedas como um todo têm enfrentado quedas consideráveis nos últimos anos. Os movimentos de subida e descida são muito mais agressivos, em geral, do que dos investimentos tradicionais. E, como esse mercado é muito volátil, podem haver grandes alterações em um curto prazo, então não pode dar mole.

 

Muitos conceitos logo aí programa, né? E ainda vai ter mais! Então vamos dar uma pausinha e vamos ouvir aqui a Rafa Carvalho, a nossa Wikipedia do podcast que vai nos  contar o que são as tais criptomoedas.

 

Rafa Carvalho: Oi pessoal! Vou começar com um quê de mistério… Olha, foi em 2008 que um programador, uma programadora ou um grupo de programadores misteriosos, não se sabe ao certo, criou o conceito da Bitcoin, a primeira moeda virtual de que se tem notícia. Ele, ela ou esse grupo se apresentou na época sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto. Embora tenha sido revolucionário na criação dessa tecnologia, até hoje não se sabe quem foi esse fundador, e sua identidade segue sendo fonte de várias especulações.

Que as criptomoedas são dinheiro virtual quase todo mundo já sabe, mas será que você entende o que isso significa na prática? Eu explico melhor: hoje, é claro, as criptomoedas não se resumem mais ao Bitcoin, embora ele continue sendo uma das mais importantes. Elas já se multiplicaram e são inúmeras pelo mundo. Basicamente, se qualificam como cripto quaisquer moedas que existam digitalmente e usem criptografia pra fazer suas transações. Elas foram criadas como sinônimo de transações rápidas, seguras e anônimas. As criptomoedas e a tecnologia blockchain estão interligadas desde o nascimento do dinheiro digital. É por meio do blockchain que as transações são registradas e validadas online, então ele serve como uma espécie de espinha dorsal das criptomoedas.

Dá pra dizer que as criptomoedas já “pegaram” aqui no Brasil há alguns anos, a ponto de o próprio Banco Central já estar estudando o lançamento de uma moeda virtual oficialmente brasileira. Inclusive, pode ser que o real digital, como foi chamado, veja a luz do dia até o final deste ano, vamos ficar de olho! 

Mas, vale lembrar que nem tudo são flores no mundo das moedas digitais. Por serem extremamente voláteis, as criptomoedas são consideradas por especialistas um investimento de alto risco. Nos últimos anos, surgiram várias novas oportunidades de doações em cripto, mas qualquer instituição precisa estar muito atenta aos riscos. Elas são sim uma oportunidade bastante promissora pro terceiro setor, mas é importante estudar bastante e ser cauteloso antes de entrar de cabeça. Receber ou investir em cripto é como entrar no mercado de ações. Por sua alta volatilidade e instabilidade, pode ser que você tenha alguma surpresa desagradável pelo caminho, então é bom ter isso em mente.
Eu sou Rafaela Carvalho, e toda semana eu ajudo a desvendar um termo importante para a cultura de doação. Até mais!

 

Roberta: E eu já estava aqui pronta pra investir nas criptomoedas, mas com todas essas informações da Rafa, acho que preciso conhecer um pouco mais desse mundo antes de começar.

 

Artur: É isso mesmo, Roberta. Inclusive muita gente já conhece as criptomoedas ou NFTs, mas tem receio de entrar nisso por falta de conhecimento. Pra entender um pouco melhor o que significa entrar pra esse universo, nada melhor do que bater um papo com alguém que também acabou de começar nele.

 

Roberta: Agora a gente dá as boas-vindas à Dayana Trindade, uma artista plástica mato-grossense que lançou há poucos meses sua primeira coleção em NFT. A gente conversou um pouquinho com ela, que contou como nasceu o projeto Mulheres Brasileiras, em que a artista vende as obras tanto em sua versão física quanto digital. Dayana, você explica pra gente?

 

Dayana: A Mulheres Brasileiras tem uma coleção hoje de duas obras, uma feita em papel canson. E eu fiz uma fotografia com alta resolução, ela foi tokenizada. Uma obra é a “Lupita” e a outra é a “Negritude”. A outra obra foi fotografada sob a luz negra. Eu sempre uso tinta acrílica neon, quando você projeta em luz negra, tem um efeito visual muito lindo. Eu escolhi a imagem em luz negra para colocar essa obra em NFT. Oferecer a obra dentro de uma ferramenta digital pode proporcionar ao colecionador uma exclusividade, e é isso que eu quero oferecer com o NFT.

 

Artur: E a Dayana contou também qual ela considera a maior vantagem do formato NFT pro seu trabalho e pra sua rentabilidade como artista. Vamos ouvir?

 

Dayana: É uma grande vantagem para o artista, que pode ampliar o leque de possíveis compradores, porque ele vai ter um maior alcance da população. Então não fica restrito só à região onde eu moro, ao estado, ao país. Isso pode estar acessível pra qualquer lugar no mundo. E não tem essa questão de fazer o transporte, enviar a obra, embalar. Uma pessoa na Índia… ela tem que percorrer os quatro cantos do mundo até chegar a obra física até aquela pessoa.

 

Roberta: Que massa ouvir isso, que muita gente esteja encarando os NFTs como uma oportunidade de fazer novos negócios e atingir novos públicos não só no Brasil, mas no mundo todo. Essa sempre foi uma das principais vocações do digital e a gente vê que muitas ações relacionadas ao terceiro setor também podem aumentar o alcance com essas novas ferramentas — mas, lembrando que é importante ter cautela e estudar muito bem as oportunidades antes de investir nisso pra não se meter em encrenca e não criar algo que vai gerar mais prejuízo do que benefício, inclusive nos termos de impacto ambiental.

 

Artur: Sem dúvida, Roberta. O movimento está tomando proporções razoáveis, como nos exemplos de leilões em NFTs para causas sociais que a gente citou lá atrás… 260 mil dólares é dinheiro, né? Pelo menos no universo brasileiro, é bastante dinheiro. E aos pouquinhos vamos ouvindo mais e mais iniciativas criativas por aqui mesmo e acho que é um caminho sem volta. São instituições que enxergam ótimas oportunidades de tocar novos públicos e ampliar suas fontes de recursos, algo que tem sido uma necessidade constante.

 

Roberta: Olha, parece que você estava descrevendo o anúncio recente feito pelo Instituto Dadivar. O projeto sempre teve como proposta reunir várias instituições sociais e fortalecer os laços entre elas, as marcas e o público. Agora, eles estão lançando as bases para se tornar um hub digital de venda de tokens e recebimento de doações em blockchain. O nosso entrevistado de hoje é o Lucas Cardeal, CEO e fundador da empresa de tecnologia e blockchain, Lunes Plataforma, um dos principais responsáveis por esse novo projeto.

 

Artur: A Roberta entrevistou o Lucas, eu não participei dessa entrevista, e você confere agora esse papo cheio de aprendizados para quem, como eu, quer entender mais esse universo cripto!

 

Roberta: Lucas, seja bem-vindo ao nosso podcast! Obrigada por aceitar nosso convite!

 

Lucas: Oi Roberta, eu que agradeço pelo convite, de verdade!

 

Roberta: Querido, queria que você começasse falando um pouco pra gente sobre como você chegou nesse assunto, sobre seu currículo, como foi parar no blockchain, criptomoedas, NFTs… E hoje é esse seu foco lá na Lunes?

 

Lucas: Bom, eu fui parar no mercado de cripto em 2010, a primeira vez, foi meu primeiro contato. Foi um contato um pouco doloroso, tinha uma outra empresa, em um setor um pouco mais tradicional e eu estava procurando investimentos e achei a criptomoeda, né? Na época o bitcoin tinha só um pouco mais de um ano que tinha sido criado e eu acabei comprando alguns bitcoins e acabei perdendo a carteira..

 

Roberta: Uau, então você ficou rico? Não?

 

Lucas: Calma, vai devagar. Eu acabei perdendo a minha carteira, né? Não sabia guardar de forma adequada e tive um problema com meu computador, tive que formatar e acabei perdendo a carteira. Não tinha salvado as palavras-chave e simplesmente perdi meus bitcoins.

 

Roberta: Caramba, que raiva!

 

Lucas: E enfim, foi bastante doloroso. Era bastante barato, não tinha gastado muito, a bitcoin não era nem um real na época, né? Não chegava a isso. E aí, depois disso eu continuei acompanhando o mercado, vendo as tentativas de uso do bitcoin em games, plataformas digitais e os “falsetes” começaram a surgir bastante. Mas eu só acompanhando de longe e em 2010 eu já tinha parado com aquele negócio, já estava trabalhando em outro negócio na área de tecnologia que é a luz hoje, né? As startups se tornaram uma luz… E aí eu comecei a tentar entrar no mercado cripto ativo, só que eu queria começar certo. Aí em 2015 eu comecei a pesquisar o mercado, estudar, aí eu conheci o blockchain por trás do bitcoin. Eu demorei cinco anos pra tentar entender como é que o bitcoin funcionava, né?

 

Roberta: E você entendeu? A gente tá até agora assim…Não importa quantas matérias eu leio sobre o assunto, eu esqueço no minuto seguinte do que tava falando. Vamos ver se hoje você me ilumina.

 

Lucas: É porque é um pouco disruptivo, né? Uma mudança de forma de pensar. E não é que é difícil, é literalmente uma quebra de linha de pensamento e você tem que estar exposto àquela informação muitas vezes pra você começar a absorver.

E aí eu comecei a estudar bastante, procurar muito artigo… primeiro eu entrei em um fórum chamado Bitcoin talk que existe até hoje, que é um fórum bem hardcore de cripto ativo, de bitcoin, né? E lá tinham várias discussões e eu fui entrando nas discussões, entendendo e compreendendo melhor.

A tecnologia eu via que aqui não resolvia vários problemas da minha startup, que na época a gente fazia quadrinhos e estava fazendo uma plataforma de streaming e a gente tinha alguns quadrinhos próprios e tinha também um processo de desenvolvimento de jogos independentes e na construção da plataforma me deu ali o start: pô, vou fazer uma criptomoeda pra colocar dentro da plataforma pra fazer gamificação na plataforma. E aí, não tinha o objetivo de ser uma criptomoeda como ela é hoje, no modelo de negócio que ela tem hoje. Foi bem interessante essa jornada, quando eu entendi que o blockchain, ele está “disruptando” vários mercados… naquela época não estava sendo aplicado como é hoje e eu já tinha visualizado algumas coisas, pra mim foi uma abertura, uma expansão de pensamento e com isso fui mergulhando, mergulhando e hoje a Lunes é o maior projeto de blockchain da América Latina, a maior empresa de tecnologia blockchain da América Latina, e enfim, a gente tá construindo bastante coisas legais aqui dentro.

 

Roberta: Lucas, uma pergunta totalmente leiga, mas como que o cripto ativo vira de fato dinheiro tradicional, digamos, pra uma organização conseguir pagar contas ou comprar coisas?  Eu pergunto por exemplo, no caso do fundador da Ethereum que fez uma doação que ficou super conhecida durante o auge da pandemia, que ele doou um bilhão na criptomoeda da Ethereum… não, nem era. Era outra moeda, né? Era um valor X para uma fundação filantrópica. Como que essa fundação vai lá e fala: pô, valeu por esse seu um bilhão de moedas, agora como que eu transformo isso em dinheiro para comprar respiradores para um hospital? Tem uma casa de câmbio, algo assim?

 

Lucas: Exatamente. Hoje você tem várias casas de câmbio online, onde você pode verificar onde aquele ativo está listado. Toda vez que você cria um cripto ativo você vai naturalmente criar uma demanda de busca, quanto mais a comunidade cresce, mais as pessoas irão adquirir esse ativo. Então normalmente você lista esse ativo depois de criado, você lista ele em uma casa de câmbio e nessa casa de câmbio começam as negociações. E isso vai ganhando escala. Quanto mais aquele cripto ativo vai entregando proposta de valor, mais lastro e mais procura as pessoas vão ter sobre ele.

Bom, o foco é, quanto mais ele resolve problema, mais lastro ele tem. Então quanto mais ele evolui na forma de solucionar um determinado problema, mais pessoas buscam porque elas tem aquele problema e usam o ativo pra isso.

 

Roberta: E aí valoriza a moeda…

 

Lucas: É. Então, todo cripto ativo, ele deve ter um sistema econômico bem desenhado, no modelo de negócios ele precisa ter um lastro.

 

Roberta: Não é só inventar uma moeda, assim, né?

 

Lucas: Exato. Você tem que construir todo um mecanismo para que ele vá começar de 0,1 e vai crescendo, conforme as pessoas vão adotando isso e vai gerando mais liquidez, isso vai aumentando. Quanto mais a comunidade cresce em torno daquele cripto ativo, mais forte ele fica, mais pessoas buscam por ele e aí você tem o ponto de demanda e oferta e o mercado vai regulando e a equipe que vai fazendo um bom trabalho, naturalmente as pessoas vão trocando por dinheiro tradicional, por cripto ativo, porque as pessoas precisam daquele  ativo pra resolver um problema dele.
Existe o cripto ativo, aqui no topo, e dentro dele você pode quebrar em duas caixinhas: as criptomoedas e os tokens que são ativos digitais. Toda criptomoeda é um cripto ativo, mas nem todo cripto ativo é criptomoeda, entendeu? Então, por exemplo, …

 

Roberta: Entendi. O NFT, por exemplo, ele não é uma criptomoeda…mas é uma cripto ativo.

 

Lucas: Exatamente, é um cripto ativo. Então, eles têm tecnologias similares, mas as aplicações são distintas.

 

Roberta: Lucas, agora mudando um pouco pra NFT, a gente citou aqui no começo do programa o caso do leilão da Pampili – marca de sapatos infantil que fez um tênis virtual e um leilão desse tênis virtual e também teve um caso da Havaianas que também fez um produto assim e que foram algumas iniciativas de, com esses leilões gerar doação de criptomoedas pra causas

Só que, nos dois casos, a arrecadação ainda foi bem abaixo do esperado, e se for colocar na ponta do lápis, digamos que talvez nem tenha compensando, digamos, o investimento de criar o item, criar toda promoção em torno disso, né? Todo o evento… Tem também outra crítica que apareceu, por exemplo, tem uma marca chamada Pantys, que também fez NFTs relacionadas a doação e teve uma aceitação péssima das suas seguidoras porque se entende que a criação de NFTs tem um impacto ambiental por conta do carbono gerado e que não compensa também a doação, é mais fácil ou eu teria um impacto mais positivo simplesmente fazer a doação sem usar a NFT. Como você enxerga essas primeiras incursões assim, o que deu certo já, o que tem que ser melhorado pras próximas?

 

Lucas: Nossa, vamos lá! Na verdade são duas perguntas, duas boas perguntas. A primeira é, quando você vai fazer a formatação, que é algo que eu vejo muito, quando vai fazer a formatação do projeto, ela não foi adequada, certo? Muitos desses fracassos, e não digo fracasso da NFT, mas fracassos da forma como foi formatado. O que a gente precisa saber é o que é verdade e o que é ruído no mercado, o que é especulação, às vezes é muito desagradável até, que traz uma má impressão pras pessoas de dinheiro fácil e isso você estimula a ganância dos indivíduos e com isso os indivíduos perderem dinheiro, né? Você tem que separar esse ruído da tecnologia aplicada pra gerar realmente valor, agregar valor pra sociedade. Então, a maioria desses projetos eles são formatados por pessoas que não entende de cripto economia, eles entendem que tem um hype no mercado, acha que só fazer, como qualquer outro projeto… como eu falei, se você entra no mercado de cripto ativo com a mentalidade do mercado tradicional e você não entender o conceito, voce não vai conseguir formatar um produto ou serviço adequado e com isso, ele não vai ter tração, não vai alcançar os objetivos iniciais, entendeu? ao que ele tá proposto resolver.

Então, essa questão é um ponto que eu vejo muito. Por exemplo, em um processo de formatação a gente busca entender todo projeto, buscar o máximo de valor possível e como a gente vai conectar as comunidades que já existem no mercado de cripto ativo que apoiam esse tipo de projeto. Muitas vezes que é a comunidade base, muitas vezes um projeto é criado e essas comunidades não são inclusas nesse projeto.

 

Roberta: Só pra surfar na onda e acaba não gerando efeito…

 

Lucas: Exatamente, tem muito disso. Um especialista que lê duas, três horas, o cara que ouviu um podcast… literalmente você tem que mergulhar, porque por exemplo, NFT. o que é NFT é a evolução de registros de patentes, uma evolução absurda disso e as possibilidades são infinitas, de verdade. Se a gente fosse tratar só de NFT e suas possibilidades, a gente faria um podcast específico disso. Esse é um ponto que responde a primeira pergunta.

A segunda pergunta, em relação a parte ecológica, impacto social que faz um ativo de NFT… Infelizmente a maioria das pessoas não conhece, ainda mais os críticos. Às vezes a pessoa vai criticar sem entender profundamente como as coisas funcionam. Não existem só redes que tem alto consumo de eletricidade, por exemplo. Vou dar um exemplo da rede da Lunes, quando formatamos a Lunes nós pensamos: precisamos criar uma rede que não tenha um gasto energético alto, que ela seja escalonável e não gere impacto no meio ambiente. Nós nascemos em um formato que, toda nossa rede hoje, rodando 24 horas por dia, há quatro anos, ela gasta menos que um site online.

 

Roberta: Excelente! Eu tô com mais um milhão de dúvidas, então a gente vai precisar fazer outros episódios pra esclarecer tudo que falta, ou vocês podiam fazer um curso, fica aí a sugestão, blockchain, cripto ativos, NFTs, criptomoedas para o terceiro setor porque tem muita gente querendo aprender.

Lucas, obrigada por ter vindo e por toda a aula e ideias que você deixou e mais, aula boa é assim quando a gente sai com mais perguntas do que a gente tinha quando entrou. Então, valeu, foi muito legal.

 

Lucas: Obrigado, muito obrigado pela recepção e forte abraço para vocês!

 

Roberta: Quase eu ia esquecendo aqui, falta uma última coisa que é a nossa Rodada Relâmpago. É bem simples, eu vou te fazer cinco perguntas e você responde com a primeira coisa que vier à sua cabeça, tá bom? Qual foi a sua doação mais recente para alguma causa ou organização?

 

Lucas: Mais recente foi para uma causa de um garotinho com câncer fora do Brasil.

 

Artur: Qual é a sua causa do coração?

 

Lucas: Poxa, eu tenho tantas causas que eu gostaria de gastar mais tempo, mas eu acho que crianças órfãs.

 

Roberta: O que você doa e que não é dinheiro?

 

Lucas: Tempo. Eu gosto de ensinar, ajudar as pessoas, dentro do que eu posso, passando conhecimento pra elas gratuitamente pra ajudar a melhorar a vida delas. Faço palestras em escolas, faculdades. Eu gosto disso.

 

Artur: Cite uma organização ou um projeto que você admira e/ou apoia:

 

Lucas: Hospital do Câncer Infantil

 

Roberta: Agora, conta pra gente como você convenceria alguém a doar

 

Lucas: Acho que é um passo pra gente, de alguma forma, impactar de forma imediata uma mudança no nosso mundo. A gente tem uma mudança a longo prazo que é educando nossas crianças, só que o resultado vem a longo prazo e a curto prazo a doação é uma ação imediata, então de alguma forma você consegue mudar, talvez não o mundo inteiro, mas o que está ao seu redor. Isso é importante. Se todo mundo fizer o seu trabalho, o mundo fica bem melhor.

 

Artur: Ótimo, muito bom! Obrigado, Lucas, volte sempre!

 

Lucas: Estou à disposição, é só convidar.

 

Roberta: Beleza, a gente se vê em breve.

 

Roberta: Artur, acho que toda essa conversa sobre moeda digital e certificado virtual pra uma série de produtos já estava preparando terreno pro nosso próximo quadro. Quer fazer as honras?

 

Artur: Mas é claro, Roberta! Já estava até com saudade da Duda Schneider e nosso papo semanal sobre produtos sociais. Vamos ouvir que dica ela trouxe desta vez?

 

Duda Schneider: Oi gente, eu sou a Duda Schneider e esse é nosso quadro Merchan do Bem. Hoje vamos falar de uma marca e de uma Ong que já apareceram por aqui antes e fazem bonito com os produtos sociais: é a Havaianas e a Gerando Falcões.

A Havaianas que já tem em seu currículo a coleção em parceria com o Instituto Ipê e a coleção Pride, acaba de lançar a Quebrada Cria! Quatro pares de sandálias com lindas artes criadas por artistas da favela e que são vendidos em mais dos 250 mil pontos de venda no país e com 7% do valor de venda revertido para a Gerando Falcões. Além de ter um potencial enorme de doações, – em 2021 a coleção Pride doou mais de 2,4 milhões de reais, a coleção também fortalece artistas de comunidades de todo o país que criaram as quatro estampas inéditas e que estão lindíssimas.

A marca também vai vender esses modelos com valor mais acessível nas regiões onde vivem esses artistas, oferecendo assim mais visibilidade e ampliando a presença das obras nas favelas. E se você, assim como eu também está apaixonado por esse projeto, corre no site da Havaianas ou na loja mais próxima de você para garantir sua nova sandália e dar mais um passo para um futuro melhor.

Por hoje é isso, pessoal! Espero que tenham gostado e até a próxima!

 

Roberta: Hoje eu senti que aprendi muito em tão pouco tempo! E na verdade, eu fiquei com mais dúvida ainda. Como diz o filósofo “quanto mais eu sei, mais eu vejo que não sei coisa nenhuma”… E você, Artur? Começou com aquele ótimo exemplo da Dayana sobre como os NFTs estão impactando o mundo da arte. Depois o Lucas veio com uma aula sobre o uso dessas tecnologias para doações. Onde a gente vai parar?

 

Artur: Não sei se a ideia é muito parar, não, né?  O pessoal que tá inventando essas coisas acho que não tá querendo muito parar, tá querendo seguir. Enfim, eu acho que o que é mais legal aqui, e eu não tenho muita autoridade pra falar sobre isso, mas o negócio da diversificação e de você conseguir buscar novas pessoas pra participar desse movimento, eu acho que é muito interessante. Eu não tinha visto até hoje nenhum movimento financeiro inovador surgir já atrelado à essa questão do impacto social. E eu tenho notado que esse movimento, talvez até pela idade, pela geração, que tá comandando esse movimento, ele já vem com um propósito embutido. Toda a ação que eu tenho visto, grande de NFT tem alguma relação com um impacto social seja pra fomentar a produção artística, seja pela associação com Ongs. Outro dia, um amigo meu estava falando de uma ação muito legal que foi feita na Stock Car e o dinheiro foi todo pro instituto do Ingo Hoffmann, que é um ex-corredor, e é uma ação a princípio que era de um lugar que não tem obrigação de ser isso, né?  No automobilismo, não é por natureza um setor social. Então, enfim, eu vejo com bons olhos, com todos aquele cuidado que tem que ter com novos tipos de investimento, né? Quando a gente fala de finanças sempre pode ter uma mente maligna querendo se aproveitar.

 

Roberta: Eu acho que tem dois pontos aqui, que são bem interessantes pras Ongs levarem pra casa e refletirem, um é que os NFTs apesar de exigirem esse investimento, conhecimento, em ter mão de obra especializada como o Lucas falou da Lunes, que saiba o que está fazendo pra construir uma proposta, sim tem uma possibilidade quando isso estiver mais acessível na vida das pessoas de que isso barateie muito. A criação de produtos sociais que podem gerar renda relevante, né? A gente sabe, quem convive com o terceiro setor, como é difícil você conseguir organizar um leilão, por exemplo. O custo que é organizar um leilão, o custo que é de aquisição ou de passar o chapéu pra conseguir obras de arte ou pra criar produtos especiais. Esse caso da Stock Car, por exemplo é isso, né? O Instituto Ayrton Senna já fez tantos leilões de materiais, capacetes, por exemplo, aí na Stock Car eles fizeram esses materiais virtuais e gerou venda, gerou renda e é muito mais fácil, digamos assim, produzir capacetes virtuais do que o objeto em si, físico e também permite que chegue no mundo inteiro. Então isso é uma oportunidade que pode ser muito forte pra frente. Mas, uma coisa que o Lucas falou quando ele falou de blockchain que eu acho que é algo pra gente ficar muito atento é que ele diz que o grande ponto do blockchain é a transparência pro doador saber que o recurso que ele investiu tá chegando lá na ponta da causa que ele quer. E isso exige da gente que trabalha com cultura de doação um desafio tremendo de educar as pessoas pra entender que chegar na causa não significa necessariamente chegar na ponta, porque a organização precisa pagar conta de luz, funcionários e mais um universo inteiro de despesas institucionais pra fazer o seu trabalho. Então, toda vez que a gente ouve falar de blockchain vem com essa: “ah, a gente vai usar isso pra quebrar a desconfiança do doador, porque ele vai ver onde o dinheiro dele vai parar  e talvez o dinheiro dele vá parar no salário de um funcionário que é essencial pra que essa organização funcione e não na mão de uma pessoa beneficiada, na forma, por exemplo de um medicamento. Talvez tenha que pagar um enfermeiro antes de  chegar no medicamento, então isso exige da gente um pensamento bem crítico de como a gente vai conscientizar pro valor institucional das organizações na hora de pedir doações, quem nem tudo é pra ponta e tudo bem, isso faz parte do trabalho.

 

Artur: E se você tiver alguma história bacana, alguma colocação, alguma crítica sobre o que a gente falou, sobre blockchain, criptomoedas e NFT pode mandar lá no nosso Instagram @institutomol ou no nosso perfil do LinkedIn ou escrever, pra essa ferramenta tão antiga, né? o email! contato@institutomol.org.br, nós adoramos receber seu recado e vamos responder qualquer coisa que você mandar, porque nós adoramos o diálogo.

 

Roberta: E se você conhece um colega, um amigo, que não ouve podcasts, não gosta do formato, avisa que o Aqui se Faz, Aqui se Doa também está na nossa biblioteca em texto! Estamos publicando as transcrições dos episódios no nosso site. É só entrar em institutomol.org.br e buscar na nossa biblioteca. E o link fica na nossa descrição também!

 

Artur: E por hoje é isso pessoal, semana que vem estamos de volta! Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior, da Morro do Conselho Participações e Ambev. A produção é de Leonardo Neiva, e o roteiro final e direção é de Vanessa Henriques, e a arte é da Glaucia Ribeiro, todas do Instituto MOL. As colunas são de Rafaela Carvalho e Duda Schneider, da Editora MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts. Até mais!

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