by Instituto MOL
ROBERTA: Salve, salve nação doadora!
Tá no ar o seu podcast favorito sobre cultura de doação, produzido pelo Instituto MOL com apoio do Movimento Bem Maior.
Aqui, você fica por dentro das conversas do momento na filantropia e da cultura de doação, com informações, pesquisas e entrevistas com importantes personagens do setor no Brasil, tudo de forma clara e objetiva, sem enrolação
Eu sou Roberta Faria.
ARTUR: Eu sou Artur Louback
E, semana sim, semana não, a gente te convoca a vir junto nessa conversa, pra inspirar mais e mais pessoas e empresas a doar! Doar com propósito, com consciência e com coração!
Afinal,
ROBERTA/ARTUR: Aqui se faz, Aqui se doa!
ROBERTA: Olá, estamos de volta!
E o papo de hoje é sobre um tema que a gente já apontou lá no primeiro episódio desta temporada, sobre as tendências da filantropia, da cultura de doação e do setor social como um todo para 2023: o uso da rede social LinkedIn!
Uma plataforma com muito potencial para o setor e que vem despontando como a principal rede social para conectar organizações sociais e doadores, pessoas e empresas…
Mas seu uso ainda gera muitas dúvidas, principalmente ao terceiro setor, que é menos acostumado a fazer seu próprio marketing. Como começar? Que estratégia seguir? Como criar conexões que doam? Como não passar vergonha criando casos de auto-glorificação pouco confiáveis, como fazem alguns usuários?
ARTUR: Alguns. Poucos. Não estamos falando de ninguém ouvindo aqui.
E pra falar sobre isso, convidamos uma figura que entende do assunto, afinal a gente….
ROBERTA: Não entende.
ARTUR: Convidamos a Bia Diniz, fundadora e diretora-executiva do Cruzando Histórias e que recentemente foi nomeada Top Voice em equidade de gênero no LinkedIn. É um bom indicativo saber que existe essa categoria, ficamos muito felizes com isso.
No quadro Pra Saber Mais, a gente traz dicas e inspirações sobre o tema para mergulhar no assunto e refletir sobre as oportunidades que essa rede de contatos profissionais oferece ao terceiro setor.
ROBERTA: Mas antes, vamos falar um pouco sobre números que expressam esse potencial e entender porque a gente precisa estar atento às oportunidades que a plataforma oferece. Eu sei, gente. Eu também sou 40+ e toda vez que alguém fala “Tem uma rede social nova”, nós queremos nos jogar para trás com tanta preguiça em pensar no processo de aprender a usar uma plataforma…
ARTUR: Fale por você. Pra mim é super natural
ROBERTA: Tá bom, jovem tiktoker. Sabemos que encontrar tempo na rotina para se tornar um criador de conteúdo – o que agora é exigido a quase todas as profissões – não é algo fácil. Porém, temos números para provar que esse esforço pode valer a pena.
O último levantamento de usuários do LinkedIn, apontou que a rede tem mais de 900 milhões de usuários no mundo todo. Mais de quatro vezes a população inteira do Brasil.
ARTUR: Se fosse um país, o LinkedIn seria o terceiro maior do mundo. Imagina que país, ein? Todo mundo com uma camisa bacana ou um salto alto.
ROBERTA: E, se todo mundo está no LinkedIn, organizações e profissionais do terceiro setor também estão… Ou deveriam estar. Não basta só estar, mas também agir ativamente.
Pra apoiar essa conversa, nós fomos buscar números, relatórios e cases sobre o tema, e mostrar que muito mais do que conexões profissionais – para substituir o antigo “Envia meu currículo” – a rede tem potencial de criar comunidades com interesses em comum pela transformação social e gerar dinheiro para sua organização.
Dados recentes da organização norte-americana Classy em parceria com o LinkedIn apontaram que ele é a plataforma de mídia social de maior conversão para organizações sem fins lucrativos.
O estudo ouviu mais de mil doadores dos Estados Unidos com contas ativas na rede e revelou que 71% dos doadores seguem pelo menos uma organização sem fins lucrativos na plataforma e 28% visitam a rede, no celular ou no computador, diariamente.
E a mesma pesquisa, revela que os membros do LinkedIn são 56% mais propensos do que o usuário médio da Internet a doar para uma organização sem fins lucrativos.
ARTUR: No relatório Donor Engagement Report LinkedIn, a gente vê que a plataforma impulsiona também outras formas de doação a organizações sociais, como o trabalho voluntário.
31% dos entrevistados responderam que encontraram oportunidades de voluntariado na rede, e outros 14% afirmam que postariam em seus perfis pessoais sobre as causas que apoiam.
ROBERTA: E um outro insight interessante, vem do relatório State of Modern Philanthropy, diz que: campanhas postadas no LinkedIn antes momentos importantes de doação, como Giving Tuesday, por aqui o nosso Dia de Doar, ou na véspera de Natal ou Ano Novo…e também em games de incentivo à doação realizados nas empresas onde trabalham, a publicação capta 10 vezes mais doadores para a organização do que em outras redes. Ou seja, as oportunidades estão aí.
MARC TAWIL: Na minha visão, as oportunidades para organizações do terceiro setor, e também as marcas que têm projetos sociais no LinkedIn, estão mais aquecidas do que nunca. E por um motivo simples: as pessoas que estão do outro lado da tela exigem isso. O momento do terceiro setor, que é um momento organizado, um momento necessário, visto que o Estado brasileiro não tem recursos, capacidade e capacitação para atender todo mundo, é um momento muito, muito relevante aqui.
Além disso, quando a gente fala das empresas que têm projetos sociais, são as empresas que na verdade estão tendo uma pequena, às vezes um pouco maior, consciência da devolutiva que elas precisam fazer. Se elas recebem da sociedade, elas têm que devolver. E infelizmente nem todas têm essa consciência. Mas pras que tem, você pode verbalizar isso, você trabalhar seu marketing de causa é essencial. E quando você faz isso? No LinkedIn, para milhões e milhões de pessoas que esperam isso de você, elas já te vêem como um ganho de qualidade. Você se diferencia automaticamente dos outros.
ROBERTA: Provavelmente a captação de recursos e prospecção de apoiadores não é a primeira coisa em que a gente pensa quando fala numa rede como o LinkedIn. Mas essa visão está mudando.
A gente acabou de ouvir o Marc Tawil: é comunicador, empreendedor, escritor, filantropo e estrategista de comunicação, número 1 no LinkedIn Top Voices. Ele já esteve conosco aqui no podcast, na primeira temporada.
Essa conexão que ele faz da rede com o terceiro setor não é uma coisa isolada. Muito pelo contrário. O tema está tão em alta que o próprio LinkedIn tem uma área específica para apoiar organizações e também pessoas que trabalham com impacto social.
VÍDEO PROMOCIONAL LINKEDIN: “Todos os dias, você gera algum impacto na sua comunidade. Mas talvez você esteja procurando novas maneiras de envolver seus apoiadores. Quem sabe em busca de novas ideias para captação de recursos ou de ajuda para trazer às pessoas adequadas a bordo. O Centro de Recursos do LinkedIn para Organizações Sem Fins Lucrativos pode ajudar você a fazer tudo isso e muito mais.”
ARTUR: Esse é um dos lançamentos mais recentes da rede social. No fim de janeiro, o LinkedIn for Nonprofits, área voltada para empreendimentos sociais e organizações do terceiro setor, anunciou seu novo hub de recursos.
A ideia do projeto é ajudar organizações e profissionais da área a usar a plataforma da melhor forma. Algo bastante necessário já que, apesar dos números expressivos de usuários, apenas 19% das organizações sociais no LinkedIn acreditam estar utilizando a plataforma em todo seu potencial, segundo uma pesquisa da própria rede.
Ou seja, 4 a cada 5 organizações relatam que não usam a maior rede profissional do mundo como poderiam.
ROBERTA: Infelizmente, o hub ainda não tem uma versão em português. Mas, mesmo que ainda leve um tempinho pra que ele chegue à nossa língua, vale a pena tirar o inglês ou o espanhol do armário ou se arriscar no Google Tradutor pra dar uma olhada nos recursos disponíveis por lá.
São vários guias e webinars com recomendações das melhores práticas pro dia a dia na rede. E a gente vai disponibilizar todos eles pra vocês, aí na descrição do episódio e também lá no blog do Instituto MOL.
ARTUR: Roberta, muita gente tem dúvida na hora de usar recursos como o LinkedIn Live, manejar grupos, eventos e tudo mais. Mas nem sempre essa é a principal trava pra usar a rede no dia a dia da filantropia. Presta atenção na visão do Marc sobre o assunto:
MARC TAWIL: As travas, a meu ver, estão nas cabeças das pessoas. Estão nas cabeças das lideranças. As travas estão na mente daqueles que deveriam usar o seu poder para poder melhorar a sociedade, para poder ajudar o próximo, para poder trabalhar isso profissionalmente. Claro, você tem empresas, e empresas grandes hoje, com comitês raciais, comitês de vulnerabilidade, comitês de gênero. Mas o comitê não resolve. O comitê mesmo sozinho não resolve. Você precisa de empresas especializadas, você precisa de conversas especializadas, você precisa de consultorias especializadas e precisa de uma ponta que é a ponta que realmente vai fazer o negócio acontecer, que é a mão na massa. Então o comitê é importante para trazer uma consciência da marca, de quanto isso fica com os valores. Mas na hora de fazer, na hora de fazer mesmo, somente as ONGs realmente especializadas ou as empresas que estão trabalhando no terceiro setor, com as inúmeras identificações que elas têm além das ONGs. Porém, isso tudo só acontece quando a gente tem uma cultura de filantropia.
ROBERTA: E você, acha que está usando o LinkedIn da melhor forma para apoiar sua causa? Ou nunca tinha pensado que a rede pudesse ajudar?
Num mundo conectado e em constante atualização, em que fazer avançar a cultura de doação ainda é um desafio gigante, não podemos deixar oportunidades e ferramentas como essas de lado.
ARTUR: E, pra continuar esse papo, nada melhor do que chamar alguém que acaba de ser eleita LinkedIn Top Voices em Equidade de Gênero,
Os Top Voices, pra quem não sabe, são vozes que a própria rede seleciona entre seus maiores destaques nesse assunto.
A Bia Diniz com certeza é uma voz que a gente tem que ouvir. Com uma ação super destacada em defesa da equidade de gênero na rede social, ela está à frente da ONG Cruzando Histórias, que apoia, desenvolve e conecta mulheres para o mercado de trabalho.
A Roberta teve uma conversa muito legal com ela, que a gente ouve agora:
ROBERTA: Olá, Bia, seja bem-vinda! Ficamos muito felizes de ter você aqui pra falar de todo o potencial do LinkedIn no terceiro setor e na cultura de doação, e também de como você, com seu trabalho, transforma esse potencial em realidade na vida das pessoas e na sua organização.
BIA: Prazer, Roberta! Estou super feliz por estar aqui. Sou ouvinte do podcast, admiro muito a MOL. Acompanho de perto seu trabalho e do Rodrigo nas redes sociais, estou muito contente por poder contribuir no papo, ainda mais sobre esse tema. Sempre me falam “Lá vem a Bia trazer a palavra do LinkedIn”, e é isso mesmo.
ROBERTA: Muito bom! Estamos mesmo precisando ouvir a palavra do LinkedIn, eu inclusive. Sou uma péssima usuária, entro de vez em nunca, não consegui criar esse hábito, mas sei que pode fazer uma grande diferença.
Queria começar por aí. Muita gente vê o LinkedIn como uma rede para adquirir visibilidade, conexões profissionais, conseguir um emprego…E essa de fato é a face mais visível da rede. Mas, quando o papo é chamar atenção e angariar apoiadores para uma causa ou projeto, esse caminho já fica um pouco mais confuso. De acordo com a sua própria experiência na rede, por onde começar? Como definir um perfil mais adequado na rede?
BIA: O melhor momento para começar é agora. Hoje tenho uma visibilidade na rede, mas isso não foi do nada. Esse é um conselho que dou para as mulheres que passam pelo Cruzando Histórias e para amigos empreendedores sociais. O LinkedIn é um terreno muito fértil de oportunidades para nossas causas, e os grandes doadores ou importantes figuras dentro das empresas estão no LinkedIn. Lá é uma vitrine de construção da nossa autoridade sobre o assunto.
Falando da minha experiência, eu saí de um caixa de R$ 0,00 para R$ 1.000.000 com o Linkedin.
ROBERTA: O Linkedin te deixou milionária?
BIA: Não o meu caixa pessoal, mas o do Cruzando Histórias, minha ONG. Nós vivíamos de doação de pessoas próximas e não conseguiamos expandir, encontrar novos modelos de negócios e bater na porta das empresas. Tudo era muito novo e distante para o Cruzando Histórias.
Uma pessoa que trabalhou para o LinkedIn me procurou e disse: “Sua história é muito incrível, você precisa estar no LinkedIn contando ela e conhecendo pessoas”. Essa mulher me deu as primeiras dicas de como montar um perfil campeão. E, vale dizer, que, na época, eu era muito crítica da plataforma, lá só tem gente fazendo sucesso e sendo promovida, não achava que tinha espaço para mim ou mesmo para o terceiro setor como um todo.
Mas essa mulher foi insistente e decidi tentar. Montei o perfil e ela disse: “Começa a postar duas vezes por semana as histórias da sua ONG” Mas histórias do que?, questionei ela. “Das mulheres que você atende, eventos que produz, até mesmo das conversas que tem aí”. Eu gosto de comunicação e comecei a postar. Mas acho que o grande pulo do gato é se conectar com muita gente, porque se você ficar esperando que as pessoas te descubram e passem a valorizar seu conteúdo, isso vai ser muito demorado.
Ontem mesmo dei uma mentoria sobre isso. Nós temos 100 convites por semana para fazer no LinkedIn, use eles de forma estratégica. Por exemplo, eu buscava empresas que gostaria de ter como apoiadora da Cruzando Histórias, e ia me conectando com gerentes, diretores e pessoas da área de Responsabilidade Social e RH. Mandava os convites e me apresentava no privado.
São dois movimentos: publicar conteúdo e fazer conexões e, podemos acrescentar um terceiro, que é interagir com essas pessoas. Comentar os posts, puxar conversa e dar seu ponto de vista nos assuntos. Meu número foi crescendo, os conteúdos foram ganhando visibilidade e, com isso, fui ganhando mais reuniões dentro das empresas. Com essa abordagem orgânica e de formiguinha, eu e a Marisa, que é meu braço direito na ONG, conseguimos adentrar esses espaços e a Cruzando Histórias passou a captar recursos com empresas.
Quando eu digo “Sai do R$ 0,00 para R$ 1.000.000” não quer dizer que eu fiquei milionária, longe disso, nem mesmo a organização, mas saí de um caixa em que vivíamos de voluntariado e de doações de pessoas próximas, o que não é suficiente para a sustentabilidade da ONG, para alcançar a marca de R$ 1.000.000 captados, e, eu credito ao Linkedin todas as oportunidades que a Cruzando teve nos últimos dois anos.
É super possível que mais empreendedores sociais estejam lá contando o que fazem e mostrando seus projetos porque acredito, como uma grande otimista, que as empresas querem comprar bons projetos e se colocarmos no Linkedin, esfregando na cara deles, quem sabe não nos notam, não?
ROBERTA: E esse tempo do R$ 0,00 ao R$ 1.000.000 foi de dois anos. Então, como você se organiza? Algo que ouvimos muito, e é a desculpa que dou a mim mesma, é da falta de tempo para postar na rede. Essa postagem precisa ser entendida como um trabalho, não é algo para se fazer nas horas vagas pós-expediente. Pode nos falar um pouco mais sobre a sua rotina? Quantas horas são gastas?
BIA: Sou empreendedora social e mãe, então não é fácil criar uma rotina de produção de conteúdo. No começo eu fazia nas minhas horas vagas, levava o celular para o banheiro e, de lá, fazia um post no LinkedIn. Há quase um ano não é mais assim.
Ano passado teve o primeiro programa do LinkedIn de aceleração para os creators. 100 brasileiros escolhidos, eu inclusiva, passaram por mentorias e oficinas remuneradas para aprender a melhorar nosso conteúdo e posicionamento, mas, até eu chegar aí, eu fazia no tempo que eu tinha, e de forma muito intuitiva.
Quando isso se tornou algo sério decidi criar um calendário editorial. É uma planilha com ideias de conteúdos e quando eles serão publicados. Assim vou organizando, por exemplo, se vou postar 3 vezes por semana, quais são os assuntos importantes para mim? Qual projeto quero vender agora? Qual tema está em alta?
Em um planejamento de 15 ou 20 dias, deixo os conteúdos pré-produzidos, e, o que vejo de interessante na internet que tem relação com o que quero falar, vou jogando no Trello. Hoje também entendo melhor a questão do horário de publicação que funciona melhor para o LinkedIn e para o meu perfil.
A produção de conteúdo para o LinkedIn é uma das minhas atividades e eu gasto umas 15 horas de LinkedIn por semana. Mas, pra mim, isso dá muito resultado.
ROBERTA: Eu acredito. A palavra do LinkedIn é espalhada por meio de casos incríveis, como o seu. A dificuldade vem muito de onde começar e do conteúdo. Muito da reclamação vem do excesso de histórias de sucesso que passam a impressão de que nada dá errado nunca ou apenas uma auto-promoção. Na sua experiência, que tipo de conteúdo gera conexão real com a causa? São as histórias dos beneficiados, os bastidores, vale expor a vulnerabilidade? O que funciona melhor?
BIA: Histórias reais. Sejam suas ou dos beneficiários. O jeito que eu escrevo é o mesmo do que eu falo, histórias de verdade é o conteúdo que eu mais gosto de fazer, mas não é o único que eu faço. Eu acabei de me tornar Top Voice em Equidade de Gênero e o próprio LinkedIn me passou um calendário editorial para o mês de março e eu organizei para encaixar essas pautas.
Criar conteúdo para um projeto ou cliente exige estudo e se torna algo mais técnico, mas eu sempre tento mesclar com algumas histórias. Esse é o conteúdo que eu gosto de consumir. Não sei se é uma receita de sucesso para todos, mas vamos lá: produza o que você gosta de ler, não consigo desconectar uma coisa da outra. Quanto mais genuíno e verdadeiro, mais conexões.
Uma dica infalível é pegar o que está viral nas redes sociais e trazer sua perspectiva. Eu faço isso pontualmente, mas se é um tema em alta que eu tenho algo a dizer sobre eu também exponho. É uma certeza que você terá um alcance maior, tanto de cliques quanto de comentários, o que se tornam conversas no privado, reuniões e projetos no futuro.
É possível ir por muitas linhas, eu mesmo ainda estou no processo de tentativa e erro, o que é importante, e eu encorajo, é fazer. Antes feito do que não feito. Recentemente, uma amiga empreendedora social, a Ariane da Soul Bilíngue, me disse: “Bia, nós temos que ser vistos para sermos lembrados. Tinha uma empresa que eu estava cansando com o follow-up no e-mail, mas recebi retorno deles por um post que eu fiz no meu perfil e agora vamos fechar negócio”. Esse é um bom exemplo, a Ariane é alguém que conheci pelo LinkedIn e hoje ela também consegue prospectar empresas e parcerias pelo LinkedIn.
ROBERTA: Bia, quando conversamos com estrategistas sobre conteúdo sempre falam que pessoas querem ouvir histórias de pessoas e interagir com outras pessoas. Mas como você lida com o perfil da sua ONG, a Cruzando Histórias? Existe uma separação entre a Bia, pessoas física, e a organização?
BIA: Eu lutei muito por essa divisão. Eu preciso ter minha marca e a Cruzando ter a dela? Só que, no final, eu sou a fundadora da Cruzando Histórias, foi algo que saiu de dentro de mim, e eu percebi o quão exaustivo era separar essas duas coisas.
Escuto muito que no mundo dos negócios não dá para ter o sentimento materno com a organização, mas eu vejo a Cruzando Histórias como uma filha minha, que lutei muito por ela, como mando para o mundo sem participar? Eu sou a cara da Cruzando.
Mas é importante dizer que, dentro do LinkedIn, o perfil pessoal tem muito mais alcance do que e mais chance de conversão do que a página da organização, porque o LinkedIn quer monetizar a página da ONG, pagando anúncios, por exemplo, e o perfil pessoal não tem isso.
Então, no meu perfil pessoal, eu tento linkar o máximo possível a Cruzando Histórias, com link na bio e marcando nos posts. Eu acelero a página da organização pelo meu perfil, porque eu posto quase todos os dias, não tenho dificuldade em encontrar assuntos para falar, mas na Cruzando os posts são 2-3 vezes por semana, e me marcamos nas postagens, o que ajuda a aumentar o alcance. Batemos as pautas também: “Essa semana vamos falar sobre assédio. Tem post na página da Bia e na Cruzando”.
ROBERTA: Bia, nós vemos muitos influenciadores que continuam em evidência porque abraçam polêmicas, e o medo de ser cancelado é grande para muita gente. Como você lida com isso?
BIA: Eu escolho as minhas brigas, não entro em polêmicas por likes. Pontualmente, eu falo sobre um assunto quente, mas só se fizer sentido para mim e para minha organização. Mas existem questões e causas pessoas que eu não me calo, como na época das eleições. Eu me posicionei em todas as minhas redes sociais, não só no LinkedIn, e fui bastante criticada e alertada, porque dependo de empresas para fazer negócios e tirar os projetos do papel, mas foi a hora que eu falei “Isso é maior do que a Cruzando Histórias”. Não quis que parecesse que eu não tenho posicionamento político com medo de perder algo com fulano de tal. Se fulano de tal acha que eu estou errada, eu é que não quero andar do lado dele.
Nós, do terceiro setor, somos ativistas. Temos uma clareza do que acreditamos, então ficar calado por cumplicidade com algum doador ou empresa, eu me sentiria mal.
ROBERTA: Isso aí! Neutro só detergente. Bia, para finalizar, eu queria saber da sua experiência exclusivamente com doações. Nós vimos pesquisas mostrarem que, de todas as redes sociais, os posts do LinkedIn são os que mais convertem doações. Essa é a sua experiência?
BIA: Eu amo doar! Eu sou a louca da doação, sempre movimentei muitas campanhas na minha vida pessoal, mesmo antes de ter a Cruzando Histórias, para outros projetos que acredito. Na vida adulta, ou você é voluntário, ou é doador, ou é os dois. Se quisermos construir um mundo melhor e ver mudanças de verdade, aqueles são os únicos dois caminhos, não tem terceira via possível.
Sou uma doadora de carteirinha. Queria ter mais dinheiro para poder ajudar mais projetos…
ROBERTA: Sim! Uma pena você não ser uma mega herdeira ou ter uma fortuna para distribuir porque você faria muita coisa boa.
BIA: Sim, é uma pena mesmo. Quando começou a pandemia, fazia um ano que eu tinha pedido demissão do meu emprego público sem garantia nenhuma que a Cruzando Histórias daria certo. Eu entrei em uma recessão de dinheiro muito difícil e, com a pandemia, o cenário piorou. A revista em que eu produzia conteúdo deixou de existir e eu dava aula para uma rede que deixou de existir, foi quando eu olhei e pensei: “Essa pandemia vai durar”. Eu tinha R$ 217 reais na minha conta e eu doei tudo. Nunca tive tanta certeza na minha vida e, se eu tivesse mais, teria doado também.
O que eu quero dizer com isso é: a gente precisa falar que doa, precisa pedir doação e contar pra quê que a gente tá precisando de doação para fazer com que as pessoas doem. Nós temos uma força de doação muito grande que não é cutucada.
Eu vivo pedindo doação, e falo: “Fulano, você não quer um mundo melhor? Não acha lindo o que eu, Edu Lira e outros empreendedores sociais fazem?. Então doa!”. Tem coisa melhor do que ir na farmácia e, no final da sua compra, por R$ 6 pegar uma revista e, assim, também estar doando? O trabalho de vocês é incrível!
ROBERTA: Obrigada, Bia. Que demais!
BIA: Cara, eu acho incrível. Eu tenho tudo da MOL, baralho, revista, calendário, tudo que é revertido em doação eu compro, faço preferência por produtos assim. Porque assim sua compra vai beneficiar alguém lá na ponta, e isso é incrível.
ROBERTA: Hoje em dia tem uma série de opções de produtos assim.
BIA: Sim! Vocês tem até o e-book sobre produtos sociais até para termos ideia do que fazer na nossa própria organização. Em resumo, peça doação! Fala isso para todos, porque se não pedirmos nunca vamos ganhar.
Um exemplo recente foi o seguinte: eu faço aniversário em março e eu recebi muitas mensagens de parabéns pelo Linkedin, e todas agradeci demais, e falei: “Aproveitando que é meu aniversário, você pode fazer um PIX de doação para o Cruzando Histórias? A gente quer levar mais orientação de carreira para as mulheres no centro de São Paulo. O PIX é tal.” E, em um dia, consegui R$ 2.540 reais. Eu acredito no grande potencial de doação.
Foi pelo Linkedin, por exemplo, que a Ambev encontrou a Cruzando Histórias. Ano passado, eles lançaram uma cerveja produzida exclusivamente por mulheres para ajudar mulheres e nós recebemos uma grande doação da Ambev para rodar um projeto de impacto social no Rio de Janeiro. Está aí um exemplo de doação por pessoa jurídica que nos encontrou via Linkedin.
ROBERTA: Em setembro, você participou da primeira turma de especialistas acelerados pelo LinkedIn aqui no Brasil. O que essa experiência te trouxe de conhecimento e know-how para atuar na plataforma? Você já vem usando de alguma forma o hub de recursos do LinkedIn for Nonprofits? Como? O que vem por aí que vai facilitar a nossa vida?
BIA: Estou louca para saber, Roberta. Quando eu souber eu conto! Estou stalkeando e tentando entender o que está acontecendo. Até comentei que os meninas do Cruzando Histórias eu quero marcar uma reunião presencial na sede do Linkedin e esse é o top 1 assunto que quero tratar. Nós temos muitos outros recursos, o Google oferecendo US$ 10.000 por mês para investir em anúncios, a Meta também já ofereceu alguns recursos para organizações sociais, eu mesma fiz dois treinamentos lá, então estou esperando o LinkedIn lançar novidades ansiosamente.
ROBERTA: Bia, muito obrigada por esse papo! Sair com várias ideias e querendo fazer uma mentoria com você aí para virar uma captadora mais eficiente no Linkedin. Tenho certeza que essa conversa vai ajudar muita gente a abrir a cabeça sobre todas essas possibilidades e vão lá seguir a Bia para aprender com ela como se faz, eu vou fazer isso agora. Obrigada, querida!
BIA: Obrigada você, Roberta. Me coloco à disposição de todos os empreendedores sociais que estão escutando. Eu tenho um grupo no WhatsApp que se chama “Biscoito do impacto”, em que eu trago os empreendedores sociais para produzir conteúdo no Linkedin e a gente troca likes e comentários entre nós. Me chamem no privado tirando as dúvidas.
Vou marcar uma mentoria coletiva de LinkedIn para empreendedores sociais em breve, provavelmente deve acontecer a cada dois meses. Lá na CH as portas estão sempre abertas, se for um empreendedor de impacto e tiver querendo se posicionar melhor no Linkedin não tenha dúvida em me procurar que eu tô super disponível para ajudá-los a entrar nessa e também alavancar resultados usando LinkedIn.
ROBERTA: Arrasou, Bia! Linkedin, patrocina e contrata a Bia para cuidar da área de impacto.
Artur, papo bom é assim, né? A gente mal vê o tempo passar e logo já acabou. Mas se você, como a gente, ficou com esse gostinho de “quero mais”, não pense que o assunto ficou por aqui. Agora é aquele momento que a gente já ama fazer, com dicas quentinhas sobre o tema do episódio. Está começando o “Pra Saber Mais”.
ARTUR: E vou começar aqui sugerindo a coleção de guias feitos numa parceria da plataforma de angariação de recursos Classy com o LinkedIn for Nonprofits, que a gente citou lá no começo do episódio.
São documentos muito úteis pra ajudar sua organização a navegar pelos mares da rede social. Tem um guia passo a passo para criar o perfil, se conectar com apoiadores, atrair recursos e até contratar talentos usando a rede. Os links estão todos disponíveis na descrição do episódio. O material está em inglês. Usem o Google Tradutor, ele traduz PDF, e, se uma escola de inglês quiser nos patrocinar, vamos sortear algumas bolsas!
ROBERTA: Uma dica um pouco mais lúdica é o documentário “Batkid Begins”, disponível no streaming HBO Max. Ele conta a história do pequeno Miles Scott, um jovem com câncer que tinha o sonho de estar ao lado do Batman por um dia. Através da internet e das redes sociais, a organização norte-americana Make-a-Wish conseguiu mobilizar a cidade de San Francisco pra tornar esse sonho realidade. É uma excelente inspiração sobre a força do storytelling na hora de atrair apoiadores de uma causa nas redes sociais, com resultados impressionantes. Sem contar que o filme é super emocionante!
ARTUR: E por fim, mas não menos importante, vou fazer um jabazinho nosso. Para quem curtiu as dicas do Marc Tawil hoje, vale a pena escutar o episódio do nosso podcast com ele.
Ali o Marc passa toda sua experiência sobre comunicar causas e fazer com que o público se engaje com uma organização. Então, se você curtiu o assunto, dê uma olhada lá no episódio 34 do nosso podcast.
ROBERTA: E pra encerrar, uma última coisa que a gente já citou no episódio, a newsletter do Cruzando Histórias, é algo enviado via Linkedin, não por e-mail. Vale a pena assinar tanto para conhecer as histórias inspiradoras de mulheres, quanto para se familiarizar com esse formato e criar uma para a sua organização. O link para assinar vai estar na descrição também.
Essa e outras sugestões com certeza vão ajudar a gente a completar esse panorama super vasto que a Bia trouxe.
Arthur, uma coisa que eu fiquei pensando depois da entrevista foi a revelação de passar 15 horas por semana se dedicando ao LinkedIn. Essa é a minha principal trava, na verdade. Pensar em como enfiar mais uma tarefa diária na minha vida e essa sempre foi a minha desculpa número um.
Porque, de fato, é um trabalho, mas não remunerado, que você presta para uma grande empresa de tecnologia. Mas, as histórias da Bia mostraram para mim uma outra perspectiva, é sim um trabalho não remunerado pelo LinkedIn, mas que pode ser remunerado por outras empresas parceiras que podem encontrar o seu projeto.
ARTUR: Eu tenho uma questão, que não sei se é discordante ou concordante. Pra mim, a grande questão é: gastar 15 horas com um pragmatismo sabendo onde você pode chegar faz parte do jogo, porém, meu grande problema é que, no caso do Linkedin e de outras redes sociais, as regras não são tão claras.
Eu não sei muito bem como funciona o algoritmo, eventualmente posto coisa que não chega a ninguém. A questão dos Top Voices é outro problema, além das de nicho sociais, os critérios de escolha não são claros, de diversas áreas fica a impressão de ter sido algo meio aleatório e, mesmo assim, você precisa dessas pessoas para alavancar mais os seus posts.
Minha crítica é que as coisas são muito pouco controláveis, o que vale para a maior parte das redes sociais, elas têm o controle de tudo e podem manipular o jogo como quiser, e, às vezes, você gasta 15 horas e não tem o benefício.
ROBERTA: Ah, mas depois do papo com a Bia, foi a perspectiva que mais mudou para mim. A produção de conteúdo para o Linkedin precisa ser encarada como um trabalho, não é algo para as horas vagas.
A Bia começou fazendo nas horas vagas, mas hoje são, talvez, 15 horas que antes ela gastasse com outras formas de prospecção, parcerias e que agora ela dedica a produção de conteúdo, interação e buscar parcerias dentro da rede. Se você esperar terminar o expediente para fazer isso, o dia não acaba nunca, né? É preciso se planejar para que isso vire uma tarefa mesmo. Você tem que fazer com foco, como a Bia falou, escolha com quem você quer se relacionar, que tipo de conteúdo você vai produzir pra chamar atenção das pessoas que você quer atingir, isso vira um trabalho, como um trabalho de mídia e comunicação em outras áreas. Você se organiza para isso, se disciplina e você consegue resultados.
Acho que essa também é uma visão tem que conhecer isso que você tá falando é também parte do nosso desconhecimento. Precisamos estudar mais sobre como funcionam as regras e os truques e aprender com quem já faz pra gente ter metas claras e, pelo que parece, esse esforço tá valendo a pena. Acho que produzir conteúdo só de vez em quando realmente não deve trazer grandes resultados, é preciso levar a sério, como a Bia fez, para conseguir chegar em algum lugar mais longe.
ARTUR: Acho que sim e acho que não. Existe dúvida se há resultado quanto mais você se dedica. O Linkedin ainda é a rede que me parece mais direta e reta. As pessoas estão ali porque querem que as conexões virem negócios e dinheiro, já nas outras redes as coisas são um pouco mais duvidosas. Além disso, o nível de criação de narrativas exageradas ou não reais existe em todas as redes, ali tem um tipo de perfil que é muito comum de pessoas, muitas vezes, ficarem numa auto-referência, tomando os créditos de outros envolvidos. Isso é uma coisa comum que me incomoda, mas, enfim, isso é algo mais subjetivo.
Mas tem que participar, né? O dinheiro está ali mesmo. Com esse pragmatismo que a Bia encara é algo super funcional, mas, ainda assim, eu noto um movimento do Linkedin de pasteurizar bastante o conteúdo, tem muitos posts que eu vejo ali que parece que foi um robô que escreveu, me parece estranho e é, justamente, porque as pessoas não têm 15 horas para dedicar ou elas terceirizam isso ou fazem correndo para cumprir. Na minha visão, o que perde a verdade também perde a intenção.
ROBERTA: Uma coisa legal que a Bia falou é que os posts que mais dão resultado são esses em que ela conta histórias reais de pessoas atendidas pela organização mostrando situações difíceis que são enfrentadas, a vulnerabilidade e o comum são valorizadas.
Para uma produção de conteúdo mais rica, é um caminho a se pensar. Não vamos falar só sobre a nossa organização, por exemplo, mas fazer uma curadoria de notícias do setor. Você lê muitas notícias sobre a sua causa certo, então conhece esse campo melhor do que ninguém, porque não dividir as mais interessantes no Linkedin? Assim, você não precisa construir esse conteúdo inteiro, mas compartilhar os links com comentários seus.
E, claro, contar histórias de pessoas que representam a causa. Quanto mais reais e vivas, com mais elementos para se identificar, foto, vídeo e voz torna mais rico o encontro e, quanto mais verdadeiro e genuíno maior a chance de se conectar emocionalmente com as pessoas e não ser mesmo só um post do chat GPT, que será curtido automaticamente, mas sem o engajamento e uma transformação social que é o que, de fato, buscamos.
ARTUR: Se você tem outras opiniões sobre isso, concorda ou discorda, fala com a gente pelo Linkedin mesmo, Instituto MOL. Se curtiu o episódio vai lá e deixa seu like e comentário e compartilha com as pessoas.
ROBERTA: O nosso podcast é um dos mais ouvidos do terceiro setor na categoria Non Profits da Apple Podcast e, no Spotify, passamos dos milhares de ouvintes e aparecemos nas indicações da plataforma.
ARTUR: No nosso momento Uber, dá cinco estrelas aí pra gente.
ROBERTA: Mas pode dar estrelas verdadeiras também, a gente gosta de ouvir críticas.
ARTUR: Mas, sem brincadeira, se você puder dar essa moralzinha aí pra gente, assim chegamos a mais pessoas, o que torna o papo mais rico e diverso, dia em que ganharmos um hater significa que a gente tá bombando.
Esse podcast é uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior. Esse episódio teve produção de Leonardo Neiva. O roteiro final e direção são de Ana Ju Rodrigues e Vanessa Henriques, arte da Glaucia Ribeiro, do Instituto MOL. A edição de som é do Bicho de Goiaba Podcasts.
Esse episódio usou áudios do LinkedIn.
Até a próxima!